PAREM A BALCANIZAÇÃO
Sei que, na Madeira, as pessoas gostam muito pouco de se
preocupar com as coisas sérias da vida. Andam naquela: para mim política é o trabalho,
a outra é dos políticos. Infelizmente, para muitos de nós, é muito mais sério
um penalty não marcado do que uma decisão do governo que lhes vai mexer no
bolso, ainda que só mais tarde. Preferem ouvir e seguir o populismo e a
demagogia, muitas vezes condimentados com espectáculos, – o futebol faz parte
dessa parafernália – preparados para lhes sacarem votos. Acordam, normalmente
tarde, por não ligarem às campainhas de alarme dos, propagandisticamente,
ridicularizados “profetas da desgraça”!
Aprovada a Constituição de 1976, surgiram a Assembleia e o
Governo Regionais. No curto período da Presidência do Sr. Engº Jaime Ornelas
Camacho não houve tempo para grandes decisões que marcassem o futuro da RAM.
Entre 17/3/1978 e 20/4/2015 é que aconteceram boas e más decisões que
condicionam, e condicionarão, a vida dos madeirenses durante muitos anos. No
discurso de posse, o termo procela, foi usado pelo Dr. Alberto João, para
definir a situação com que nos defrontávamos. A 9 de Abril de 2015, em vésperas
da posse do actual Governo, escrevi: “Tendo sido utilizada em 1978, no início
do ciclo que terminou a palavra procela, falta-me vocábulo para classificar a
tempestade medonha que aí vem.”
Vinte e um meses depois, refaço a análise, na certeza de que
à tempestade herdada já se juntam os próprios erros deste governo. Comecemos
pelo “pecado original”. A posição eleitoral avassaladora do PPD/PSD em 1976,
criou disfunções. Insignificantes na altura, hoje prejudiciais à sã vida
democrática. Não se marcaram fronteiras entre o partido e o governo. Daí
resultou a instrumentalização do governo pelo partido. Os funcionários levam
para o trabalho os problemas do partido, e vice-versa. Aprovaram-se mordomias
financeiras, com o argumento de que a democracia era cara. Entre várias temos o
financiamento público aos partidos regionais, onde se destaca o famoso jackpot.
Aquele escândalo foi, finalmente, percebido pela opinião pública o que
determinou a sua redução.
A retórica política criada em 1975, com o “cubano” como
inimigo externo, deu cobertura ao início da gestão pública regional, estreada
com o já mencionado pecado. É dessa altura a dívida, em boa hora contraída,
para a construção do aeroporto. Um compromisso financeiro louvável e necessário
para o futuro da Madeira. Tudo isto foi negociado no interior do nosso
Estado-Nação, onde a pressão do litígio mediático “cubanos”/“povo superior” se
fazia sentir. Tomou-se a nuvem por Juno, e passou por algumas cabeças a ideia
de que a ficção propagandística tinha pés para andar. O dinheiro da Europa só
agravou a situação. Era óbvia a necessidade de, independentemente dos
discursos, alguém que nos bastidores tivesse o retrato fiel da realidade. Isso,
pelos vistos, não aconteceu nunca. O há muito anunciado desastre financeiro
deu-se, com a assinatura do PAEF, – de calças na mão, expressão do próprio Dr.
Alberto João – a “rendição” aos “cubanos”. Os “compagnons de route”,
rebelaram-se. Os filiados, mudaram a chefia e os órgãos do partido. Os
cidadãos, por seu turno, escolheram este governo.
Heranças, como aquela que recebeu o Dr. Miguel Albuquerque,
são muito difíceis de gerir. Em minha opinião, logo no discurso de posse, deveria
ter imputado à anterior gestão o desvario financeiro e, em simultâneo, anunciar,
e praticar, sérias restrições financeiras nos gastos lúdicos e/ou supérfluos.
Não o tendo feito, provavelmente terá boas razões para isso, transmite aos
cidadãos uma ideia próxima daquela que os mais velhos recordam como “evolução
na continuidade” – saída de Salazar e entrada de Marcelo Caetano – de mau
augúrio. Marcelo herdou uma situação política complicada, com a ala liberal.
Porém, isso era uma brincadeira de meninos, se compararmos com a situação
caótica criada no partido pelas intervenções públicas do Dr. Alberto João,
agravadas por cobardes anónimos. A instabilidade do partido, rapidamente, passa
para toda a Vida Colectiva. Estará alguém, com mentalidade do Maduro, como mão
invisível a gerir tudo isto na esperança de que lhe caia o poder nos braços.
No link abaixo pode ler a reacção do jornalista Luís Filipe
Malheiro aos cobardes anónimos.
http://ultraperiferias.blogspot.pt/2016/12/boas-festas-corja-de-fdp-do-costume.html?spref=fb
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