terça-feira, 3 de janeiro de 2017

PAREM A BALCANIZAÇÃO


Sei que, na Madeira, as pessoas gostam muito pouco de se preocupar com as coisas sérias da vida. Andam naquela: para mim política é o trabalho, a outra é dos políticos. Infelizmente, para muitos de nós, é muito mais sério um penalty não marcado do que uma decisão do governo que lhes vai mexer no bolso, ainda que só mais tarde. Preferem ouvir e seguir o populismo e a demagogia, muitas vezes condimentados com espectáculos, – o futebol faz parte dessa parafernália – preparados para lhes sacarem votos. Acordam, normalmente tarde, por não ligarem às campainhas de alarme dos, propagandisticamente, ridicularizados “profetas da desgraça”!

Aprovada a Constituição de 1976, surgiram a Assembleia e o Governo Regionais. No curto período da Presidência do Sr. Engº Jaime Ornelas Camacho não houve tempo para grandes decisões que marcassem o futuro da RAM. Entre 17/3/1978 e 20/4/2015 é que aconteceram boas e más decisões que condicionam, e condicionarão, a vida dos madeirenses durante muitos anos. No discurso de posse, o termo procela, foi usado pelo Dr. Alberto João, para definir a situação com que nos defrontávamos. A 9 de Abril de 2015, em vésperas da posse do actual Governo, escrevi: “Tendo sido utilizada em 1978, no início do ciclo que terminou a palavra procela, falta-me vocábulo para classificar a tempestade medonha que aí vem.”
Vinte e um meses depois, refaço a análise, na certeza de que à tempestade herdada já se juntam os próprios erros deste governo. Comecemos pelo “pecado original”. A posição eleitoral avassaladora do PPD/PSD em 1976, criou disfunções. Insignificantes na altura, hoje prejudiciais à sã vida democrática. Não se marcaram fronteiras entre o partido e o governo. Daí resultou a instrumentalização do governo pelo partido. Os funcionários levam para o trabalho os problemas do partido, e vice-versa. Aprovaram-se mordomias financeiras, com o argumento de que a democracia era cara. Entre várias temos o financiamento público aos partidos regionais, onde se destaca o famoso jackpot. Aquele escândalo foi, finalmente, percebido pela opinião pública o que determinou a sua redução.

A retórica política criada em 1975, com o “cubano” como inimigo externo, deu cobertura ao início da gestão pública regional, estreada com o já mencionado pecado. É dessa altura a dívida, em boa hora contraída, para a construção do aeroporto. Um compromisso financeiro louvável e necessário para o futuro da Madeira. Tudo isto foi negociado no interior do nosso Estado-Nação, onde a pressão do litígio mediático “cubanos”/“povo superior” se fazia sentir. Tomou-se a nuvem por Juno, e passou por algumas cabeças a ideia de que a ficção propagandística tinha pés para andar. O dinheiro da Europa só agravou a situação. Era óbvia a necessidade de, independentemente dos discursos, alguém que nos bastidores tivesse o retrato fiel da realidade. Isso, pelos vistos, não aconteceu nunca. O há muito anunciado desastre financeiro deu-se, com a assinatura do PAEF, – de calças na mão, expressão do próprio Dr. Alberto João – a “rendição” aos “cubanos”. Os “compagnons de route”, rebelaram-se. Os filiados, mudaram a chefia e os órgãos do partido. Os cidadãos, por seu turno, escolheram este governo.

Heranças, como aquela que recebeu o Dr. Miguel Albuquerque, são muito difíceis de gerir. Em minha opinião, logo no discurso de posse, deveria ter imputado à anterior gestão o desvario financeiro e, em simultâneo, anunciar, e praticar, sérias restrições financeiras nos gastos lúdicos e/ou supérfluos. Não o tendo feito, provavelmente terá boas razões para isso, transmite aos cidadãos uma ideia próxima daquela que os mais velhos recordam como “evolução na continuidade” – saída de Salazar e entrada de Marcelo Caetano – de mau augúrio. Marcelo herdou uma situação política complicada, com a ala liberal. Porém, isso era uma brincadeira de meninos, se compararmos com a situação caótica criada no partido pelas intervenções públicas do Dr. Alberto João, agravadas por cobardes anónimos. A instabilidade do partido, rapidamente, passa para toda a Vida Colectiva. Estará alguém, com mentalidade do Maduro, como mão invisível a gerir tudo isto na esperança de que lhe caia o poder nos braços.  

No link abaixo pode ler a reacção do jornalista Luís Filipe Malheiro aos cobardes anónimos.
http://ultraperiferias.blogspot.pt/2016/12/boas-festas-corja-de-fdp-do-costume.html?spref=fb

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