PROCURAM-SE ELITES
Nos largos milhares de anos, para não dizer
milhões, em que o Homem habita a terra, num século pouco ou nada “acontece”. Porém,
se quisermos perceber o nosso dia-a-dia, convém conhecermos aquilo que está
para trás.
No início do séc. XX, a revolta das massas era motivo de preocupação.
Hoje, elas continuam a existir. Votam, marcam presença nas manifestações,
enfrentam as polícias, mas já não são os seus interesses que as fazem
movimentar. As elites instrumentalizam-nas em função das suas estratégias de
poder. Reformas impopulares acontecem ao arrepio da opinião pública e a
distinção entre direita e esquerda esbate-se. Dois factos, na década de 80, corporizam
a mudança: o esmagamento da greve dos mineiros britânicos, por Margaret
Thatcher; o aniquilamento da greve dos controladores aéreos americanos, por
Ronald Reagan. Adeus luta de classes. Adeus conquistas sociais, reduzidas, ou
mesmo abolidas. A queda do comunismo acelerou a “união de facto” entre as
elites, oriundas do desmoronamento dos partidos comunistas a Leste, com os liberais
de Reagan e Thatcher.
A Ordem Mundial existente desde 1946, ao sucumbir, não
afectou apenas a Europa. Os efeitos chegaram a todo o lado. Os Países do 3º
Mundo ligados à URSS, deixaram de receber apoio. Ficaram isolados perante as
instituições mundiais com as transferências das suas “elites” para os braços do
ex-inimigo. Ficaram na dependência dos tecnocratas do FMI e outros. A
propagação do modelo neoliberal no Mundo, tornava cada vez mais evidentes as
desigualdades. A capacidade de crescimento da economia chinesa viabilizava esta
realidade. Quem havia de dizer que a China, com bandeira vermelha e ideologia
comunista, no início do séc. XXI seria a força estabilizadora do capitalismo
liberal! A América Latina, feudo do Império Americano, também sofreu
consequências. Inicialmente tudo correu bem, as teses tecnocratas vingaram, mas
os hábitos destes países, onde tudo é permitido fazer aos que mandam, fizeram-nos
voltar à cepa torta, com a fuga de capitais que lançou as populações na miséria.
Desintegrados, os partidos comunistas, dissidentes da social-democracia e
liberais de esquerda também engrossaram as doutrinas neoliberais que se
tornaram dominantes, para não dizer únicas. O risco de implosão torna a crise
política e cultural inevitável no quadro actual. Os movimentos de contestação
do início do séc XX, hoje sem audiência junto das elites políticas viram-se
para os nacionalismos exacerbados e intolerância religiosa, criando terreno
fértil ao populismo de direita e esquerda. É neste terreno fértil que aparecem
os nada recomendáveis Nigel Farage, Boris Johnson, no Reino Unido; Donald Trump
nos EUA; Marine Le Pen em França; Geert Wilders na Holanda; Putin na Rússia.
Foi
na Europa que, durante 70 anos, capitalismo e comunismo se digladiaram. Vivemos
as sequelas dessa morte e as dores de parto de uma Nova Ordem – seja ela qual
for. O empobrecimento que a globalização e o progresso técnico trouxeram são
efeitos do neoliberalismo e da cultura em que o dinheiro é rei. O Brexit –
gerado na imprudência das elites - alastra para os EUA, com Donald Trump – a
quem podemos aplicar o nosso “orgulhosamente sós” do Dr. Salazar – um homem feliz
por garantir ao dinheiro a primazia sobre todo o resto.
Assim sendo, nós
Europeus, vemos um projeto que uniu muitas vontades desde 1951 correr o risco
de desaparecer, estando de momento nos “cuidados intensivos” sob a vigilância
da Líder Alemã, a quem ainda deixam a Leste o herdeiro de Ivan, o Terrível, com
que Trump tão bem se entende.
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