sábado, 28 de janeiro de 2017

O PODER E OS HOMENS


Há Homens que, de modo indelével e sem armas, fazem revoluções que abarcam toda a Humanidade. Galileu foi um deles. Cristão do Sul da Europa, foi parte decisiva nas disputas entre geocentristas e heliocentristas. Amigo do Papa Urbano VIII, tudo preparou para que, através de documento por si elaborado, se ultrapassasse a disputa entre aquelas duas correntes. Infelizmente a disputa religiosa entre Protestantes e Roma, potenciada pela ignorância dos censores – geocentristas – levou o Tribunal da Inquisição a condenar Galileu. Abjurou às suas ideias, mas reza a lenda que ao sair da prisão disse: contudo, “ela move-se”. Na Europa daquele tempo, o Poder era a Igreja, pois o Poder Real tinha emanação Divina.
No séc. XIX, pós- Napoleão, surgem conceitos que tornam ainda mais complexa a relação entre o Poder e os Homens Comuns. Falo de Estado-Nação que cria os seus próprios dogmas e critérios esconsos para se relacionar com os Seres Humanos. Emily Hobhouse, Inglesa por nascimento, foi esquecida na história do seu País. O Gen. Lord Kitchener – Chefe de Estado-Maior do Exército Inglês na Guerra dos Boers – chamava-lhe a “mulher maldita”. A sua morte passou despercebida em Londres. Diferente foi a reacção na África do Sul, onde 20.000 pessoas a homenagearam com Honras de Estado jamais organizadas para um estrangeiro. Ela ajudou os Boers feitos prisioneiros em campos de concentração Ingleses, premonitórios dos campos nazis.
A Guerra dos Boers arrastou-se por 20 anos. Emily morreu em 1926, quando à Aristocracia Europeia fora já infligido mais um revés com a 1ª Guerra, e a 2ª vinha a caminho.
Além de Emily, ignorada pelos Ingleses e desconhecida do Mundo, um Inglês admirado no seu País e conhecido do Mundo – Winston Churchill – também participou na Guerra dos Boers, tendo sido feito seu prisioneiro. O Poder tem destas coisas, discrimina as pessoas em função dos mitos colectivamente instalados na sociedade. Na Inglaterra do sec. XIX, colocar Seres Humanos à frente dos interesses Imperiais, era arrojo a mais. Churchill estava do lado certo, na esteira de Lord Kitchener eram símbolos da Inglaterra Colonial. Churchill não se incomodou com os campos de concentração no Transval mas liderou uma guerra contra o totalitarismo de Hitler. Urge mantermos viva a mensagem da não-aceitação de totalitarismos, pela qual tantos deram a vida na 2ª guerra, e para isso precisamos reabilitar Emily Hobhouse que não se deixou sucumbir às represálias do Poder. Não devemos temer o Poder, mas também não devemos sancionar tudo aquilo que dele emana, sob pena de retroagirmos ao passado de má memória, onde um capataz, contra nossa vontade, se impunha.
Os Impérios Europeus terminaram na 2ª Guerra. O nosso prolongou-se até ao 25 de Abril. Mantidas as devidas proporções, a adesão popular ao 25 de Abril equipara-se à capitulação de Hitler. Em 1945, Hitler saiu derrotado. Saíram vencedores URSS e EUA. Aquele poder que hoje nos rege, saído da coragem de alguns militares que arriscaram a vida, física e profissionalmente, viram-se ostracizados rapidamente. As sequelas são gritantes no caso de Salgueiro Maia. Ele é uma espécie de Emily Hobhouse, aplaudido pela raia miúda, farta de guerra, foi ostracizado pelo Poder que, entretanto, distinguiu militares com condenações em Tribunal e histriónicos civis. Vá lá entender-se o Poder!
Hoje, o Poder Político em Portugal revela sintomas idênticos ao Santo Ofício com Galileu. Ao contrário da Inquisição, o Ministério Público consciente da sua ignorância na investigação de crimes financeiros, aceitou a colaboração do inspector tributário de Braga, Paulo Silva. Resultados ainda não existem, mas tal como Salgueiro Maia, parece próximo de nos fazer exultar de alegria com a condenação dos prováveis acusados. Acham que o Poder lhe agradece? Nem pensar, ele teve de queixar-se por se ter sentido prejudicado profissionalmente. O único elogio veio de Paulo Ralha, Presidente do Sindicato dos Impostos que disse: “Gostávamos que fosse encarado por toda a classe como um exemplo de abnegação. O país estaria muito melhor se houvesse muitas pessoas como ele”.

O mesmo poder nomeou como delegado do Gov. Reg na SDM, o Director Regional de Finanças. O Sr. Dr. João Machado esteve envolvido num processo de pagamentos a profissionais do futebol, através de offshore. Não sendo motivo de avaliação pelo Tribunal, sabe o Sr, e sabemos nós, que recorreram àquele expediente para que os “felizes contemplados” não pagassem IRS. Conclusão: duas situações diferentes têm soluções diferentes. Mas ambas coincidem na defesa dos interesses do dinheiro. Assim teremos em breve o terceiro totalitarismo sucessor de nazismo e comunismo, com a conivência das elites que elegemos. 

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