domingo, 22 de janeiro de 2017

BONS EXEMPLOS


A Suécia foi, ao longo da sua história, um País muito castigado pelo consumo de álcool. Porém, hoje, tem leis rigorosas sobre a sua comercialização e consumo. Há uns meses li que a Srª Ministra da Educação da Suécia se demitira porque, quando conduzia, lhe foi detectado álcool no sangue. A Srª, numa festarola de fim-de-semana, bebeu o suficiente para que o seu teor de álcool estivesse para além dos limites legais. Na 2ª feira apresentou o pedido de demissão e pediu desculpa ao Povo pelo seu comportamento ter sido indigno do cargo.

O exercício de cargos públicos exige não apenas comportamentos correctos, mas também exemplares. Foi o caso da Srª Min. que referi. Nós também já tivemos casos destes em Portugal. Havendo mais, recordo os casos do Srs. Drs. Sousa Tavares, pai, e António Vitorino, ainda que por motivos diferentes do álcool. Infelizmente, na RAM, não é assim.

Criterioso nas escolhas, o autocrático Estado Novo escolhia para desempenhar funções na hierarquia do Estado, homens da sua confiança política, mas de comportamentos públicos exemplares. Esta regra foi alterada com a autonomia. Os candidatos a Presidentes de Câmara passaram a participar em Festas. Eram mais um elemento do Povo Anónimo vítima dos “Srs. Distantes” doutrora. O exemplo deixou de contar e, mais grave, as populações continuaram a ter medo das polícias e dos Tribunais vindos do Estado Novo. Na Suécia o cidadão não teme a polícia, por cá o sentimento de medo manteve-se, muitos anos para além do 25 de Abril. Continuámos convictos que eles apenas serviam de escudo aos poderosos. Paradigmático – coisa nunca vista no Estado Novo – eleitos insultaram os populares chamando-lhes “patas rapadas” e outros mimos com protecção policial. Passados 40 anos, começam a verificar-se mudanças. As polícias cumprem leis, não estão ao serviço de poderes autocratas. Aos tribunais cabe-lhes fiscalizar o cumprimento das leis por parte dos cidadãos comuns, dos polícias e dos eleitos.       

Entre nós foi notícia, DN dia 18 p.p., que o cidadão Carlos Teles fora encontrado pela PSP a conduzir com teor de álcool acima do mínimo. Acontece que Carlos Teles é Presidente da Câmara da Calheta. Ao contrário daquilo que ocorrera na Suécia, o Sr. Carlos Teles, Presidente da Câmara limitou-se a declarar: “Assumo a minha responsabilidade enquanto cidadão. Nada mais do que isso. A minha condição de autarca manter-se-á como sempre”. Nem em sonho admite pedir demissão!

Carlos Teles estranhou a ocorrência, fundamentando-a em dois pormenores nada despiciendos. O controlo policial ocorreu a escassos da 100 mts de sua casa e às 4h da manhã. Entre 1978 e 2015, aqueles dois pormenores teriam outros efeitos. Em comunicado, o partido manifestaria o seu desagrado pelo comportamento da PSP, acusando o Comando Regional e os agentes de estarem ao serviço do centralismo. O governo Regional apresentaria uma queixa ao Governo Central, pelo abuso cometido contra um autarca madeirense. Compreende-se a perplexidade do Sr. Carlos Teles quando, ao fim de tantos anos em que se fez vista grossa, a mudança de hábitos tenha começado com ele.


Esperemos que, rapidamente, a palavra vergonha passe a constar do dicionário dos cidadãos escolhidos pelos partidos para nós elegermos. Devem mantê-la no exercício das funções para que forem eleitos, e ainda, findos os mandatos, terem vergonha de se esconderem, quando são públicas e notórias as falhas da sua gestão.

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