BONS EXEMPLOS
A Suécia foi, ao longo da sua história, um
País muito castigado pelo consumo de álcool. Porém, hoje, tem leis rigorosas
sobre a sua comercialização e consumo. Há uns meses li que a Srª Ministra da
Educação da Suécia se demitira porque, quando conduzia, lhe foi detectado
álcool no sangue. A Srª, numa festarola de fim-de-semana, bebeu o suficiente
para que o seu teor de álcool estivesse para além dos limites legais. Na 2ª
feira apresentou o pedido de demissão e pediu desculpa ao Povo pelo seu
comportamento ter sido indigno do cargo.
O exercício de cargos públicos exige não apenas
comportamentos correctos, mas também exemplares. Foi o caso da Srª Min. que
referi. Nós também já tivemos casos destes em Portugal. Havendo mais, recordo os
casos do Srs. Drs. Sousa Tavares, pai, e António Vitorino, ainda que por
motivos diferentes do álcool. Infelizmente, na RAM, não é assim.
Criterioso nas escolhas, o autocrático Estado
Novo escolhia para desempenhar funções na hierarquia do Estado, homens da sua
confiança política, mas de comportamentos públicos exemplares. Esta regra foi
alterada com a autonomia. Os candidatos a Presidentes de Câmara passaram a
participar em Festas. Eram mais um elemento do Povo Anónimo vítima dos “Srs.
Distantes” doutrora. O exemplo deixou de contar e, mais grave, as populações continuaram
a ter medo das polícias e dos Tribunais vindos do Estado Novo. Na Suécia o
cidadão não teme a polícia, por cá o sentimento de medo manteve-se, muitos anos
para além do 25 de Abril. Continuámos convictos que eles apenas serviam de
escudo aos poderosos. Paradigmático – coisa nunca vista no Estado Novo – eleitos
insultaram os populares chamando-lhes “patas rapadas” e outros mimos com protecção
policial. Passados 40 anos, começam a verificar-se mudanças. As polícias
cumprem leis, não estão ao serviço de poderes autocratas. Aos tribunais
cabe-lhes fiscalizar o cumprimento das leis por parte dos cidadãos comuns, dos
polícias e dos eleitos.
Entre nós foi notícia, DN dia 18 p.p., que o
cidadão Carlos Teles fora encontrado pela PSP a conduzir com teor de álcool
acima do mínimo. Acontece que Carlos Teles é Presidente da Câmara da Calheta. Ao
contrário daquilo que ocorrera na Suécia, o Sr. Carlos Teles, Presidente da
Câmara limitou-se a declarar: “Assumo a minha responsabilidade enquanto
cidadão. Nada mais do que isso. A minha condição de autarca manter-se-á como
sempre”. Nem em sonho admite pedir demissão!
Carlos Teles estranhou a ocorrência,
fundamentando-a em dois pormenores nada despiciendos. O controlo policial
ocorreu a escassos da 100 mts de sua casa e às 4h da manhã. Entre 1978 e 2015,
aqueles dois pormenores teriam outros efeitos. Em comunicado, o partido
manifestaria o seu desagrado pelo comportamento da PSP, acusando o Comando
Regional e os agentes de estarem ao serviço do centralismo. O governo Regional
apresentaria uma queixa ao Governo Central, pelo abuso cometido contra um
autarca madeirense. Compreende-se a perplexidade do Sr. Carlos Teles quando, ao
fim de tantos anos em que se fez vista grossa, a mudança de hábitos tenha começado
com ele.
Esperemos
que, rapidamente, a palavra vergonha passe a constar do dicionário dos cidadãos
escolhidos pelos partidos para nós elegermos. Devem mantê-la no exercício das
funções para que forem eleitos, e ainda, findos os mandatos, terem vergonha de
se esconderem, quando são públicas e notórias as falhas da sua gestão.
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