INVESTIMENTO
PRODUTIVO
É
verdade que as melhorias financeiras sentidas pelas pessoas, resultantes das
alterações introduzidas pela “geringonça” no sistema financeiro, têm pés de
barro. Já todos ouvimos os adversários da “geringonça” alertarem para a falta
de investimento. Não dizem, mas subentende-se, investimento produtivo. Aqui
começa a confusão.
É como o dono da padaria faz para saber a que preço vende o pão, um bem de
primeira necessidade. No passado o governo tabelava os preços mas, reduzida a
fiscalização, a padaria baixava o peso, logo, o preço subia. Por um lado, o enganado
Zé nem dava conta que o pão subira, por outro, com esta habilidade, o governo
viabilizava, economicamente, a padaria. Mas pior que estas “sociedades” do
passado, por quotas, digamos assim, são as actuais Sociedades Anónimas
Desportivas. Na padaria pagava-se a água e a luz – bens fornecidos por entidades
públicas – gastas no fabrico do pão. As Sociedades Anónimas Desportivas,
admitindo que pagam água e luz, ainda recebem generosas ajudas para promoção de
espectáculos desportivos. Alimentando as emoções das pessoas, dirigentes
políticos e desportivos, em entendimento perfeito durante anos, retira(ra)m do
Orçamento Regional – cuja receita é os impostos que pagamos – maquias chorudas.
Este ano, após redução das verbas gastas nos tempos áureos em que se investia
na “bola” para tirar os jovens da droga, balela em que ninguém acreditou, ficaram
4 milhões de euros, para a promoção de espectáculos futebolísticos. Vivendo em
conúbio, políticos e dirigentes desportivos, têm discursos complementares. Os
dirigentes desportivos, com “o-meu-clube-é-melhor-e-maior-que-o-teu” galvanizam
as emoções dos adeptos. Ouvimos há dias o treinador do Vitória de Setúbal dizer
que a Câmara ajuda o clube. Aqui, foram três clubes, para que todos os adeptos
ficassem contentes. Foram votos e mais votos. Agora, mal habituados, uns
dirigentes desportivos não querem reduções de verbas, um deles – CSM – quere-as
todas para si. A “briga” é pública e notória.
Pior,
muito pior do que aquilo que ficou descrito, são os investimentos inúteis e
geradores de mais despesa. Falo-vos concretamente do aterro da avenida do mar.
Ao investimento, propagandisticamente, alcunhado de cais oito, rebaptizado por
mim em “cazoito”, porque o belo transatlântico, sacador de votos aos eleitores incautos,
não atracará ali, juntam-se as despesas necessárias à limpeza dos inertes que o
mar depositou, e vai continuar a depositar, naquela foz. Comecei por vos falar
de um pecadilho cometido por uma Administração Pública que não estava sujeita a
escrutínio popular. Hoje, como acabaram de ver, estamos bem piores. Tudo se faz
com dinheiro de fartura para ganhar eleições e depois nós pagamos, dormindo na
rua e passando fome. Procurem saber por que razão os adversários da
“geringonça” não nos falam disto.
Situo
este texto no 24 de Abril, quando o pão tinha preço tabelado, e a tensão social
era forte. Passei, em seguida, à fase em que nunca faltava dinheiro. Ele
acabou. Disse-o o ex-Pres. do Governo. Ao Presidente em funções nunca lhe
ouvimos, de forma peremptória, tal afirmação, nem anunciar explicitamente,
medidas que adaptassem a vida colectiva à nova realidade. Andam muitos milhares
de madeirenses zangados e desorientados com tudo isto. A propaganda que, há
anos, esconde a realidade aos olhos dos eleitores, continua activa. Mas já é
ineficaz
A
desagregação social a que se assiste, reclama cautelas. As mesmas causas
costumam dar os mesmos efeitos. Foi num ambiente de descrença colectiva que,
nos anos 30, na Alemanha, trabalhando no anonimato, Hitler e seus sicários se
impuseram ao povo. A leitura de jornais e redes sociais, a quem não quiser
enterrar a cabeça na areia, assusta a analogia.
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