quinta-feira, 24 de agosto de 2017

QUE É A PÁTRIA?


Um velho dicionário Francisco Torrinha, dos meus tempos de estudante, esclarece: “s. f. País em que nascemos; terra da naturalidade”. Conceito simples, mas só na aparência! Num País como o nosso, com fronteiras sem grandes alterações territoriais desde a sua Fundação, o imaginário colectivo vive povoado de Heróis e Mártires que tudo fizeram para nos garantirem este Legado. Não há aqui qualquer originalidade. Estamos, pelo contrário, na presença de um elemento comum a todas as Pátrias Europeias. Os heróis e mártires, resultantes do contubérnio entre Igreja e Poder Temporal, ganham maior fulgor naqueles casos em que as disputas territoriais se fizeram sentir com maior intensidade que em Portugal. Foi assim, desde o séc. XI, a vida colectiva na Europa.

A partir do sec. XV, nas disputas territoriais fora da Europa, implantou-se o modelo europeu como materialização dos apetites geo-estratégicos das Coroas do velho Continente. No sec. XIX com Napoleão e, mais tarde já no sec. XX, com a 1ª Guerra Mundial e a Revolução bolchevique na Rússia, o Mundo mudou. O “racismo” intrínseco ao sangue azul do passado, baia que garantira privilégios durante séculos, cedia o seu lugar a coisas tão simples como esta: Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.” Setecentos anos separam os heróis e mártires da frase acima transcrita dos Direitos do Homem e do Cidadão e, embora aos menos avisados escape, vivemos as sequelas deste confronto de ideias. É aqui que reside o nó górdio do nosso futuro colectivo.

O fio condutor que liga o passado ao presente, e à tentativa de perscrutar o futuro, encontramo-lo no modo como o Poder Político se organiza. Não sou consumidor de novelas, mas algumas vezes parei para apreciar algumas cenas da novela Portuguesa Madre Paula. Questionei-me onde andaria o espírito crítico das audiências ao verem tudo aquilo. Aos detentores do Poder Absoluto – O Sr. D. João V, no caso em apreço – não se lhes impõem limites morais, ao dicionário retira-se o vocábulo sacrilégio, e as populações submissas tudo isso suportaram naquele longínquo sec. XVIII. Infelizmente, em Portugal, ainda pior na Madeira, os apáticos cidadãos, frente ao ecrã da TV, acharão que sempre foi assim, de nada valendo lutar para que os poderosos nem sonhem julgar-se candidatos ao Poder Absoluto. Os candidatos ao exercício do Poder, não o afirmando, adoram não prestar contas a ninguém fazendo, tal qual D. João V, tudo que lhes vier à cabeça. É assim com Trump, Maduro, Putin, Eduardo dos Santos etc. Respeitar a Pessoa Humana é apenas coisa de comício eleitoral para esquecer, logo após a contagem dos votos. 

Pátria caiu em desuso! As interligações dos Estados no séc XXI confirmam-no de modo indelével. A velha desconfiança entre Estados Soberanos, cada um deles com seus heróis e mártires, foi substituída por juras de colaboração com vista à obtenção de benefícios comuns, passando a Pátria a posição secundária.

Aprendamos com o passado. Se em tempo de “sangue azul” tudo se impunha, não podemos reeditar, na versão sec. XXI, o “sangue dourado” dos “patriotas” que, substituindo a velha aristocracia, nos manipulam para nos sacarem os votos que os enriquecerão. Cada um de nós tem de pensar e agir renegando a velha condição de súbdito de qualquer Coroa do sec. XVIII.

Os eleitos são Cidadãos iguais a nós. Temos a obrigação de lhes impor leis, diferentes das leis do passado, que conferiam direitos, a quem mandava, ficando para “os outros” os deveres. Não os olhemos baixando a cabeça, respeitemo-los na exacta medida em que nos respeitarem. Os candidatos ao Poder Absoluto – estilo D. João V – são, nos nossos dias, todos iguais. Trump e Putin; Eduardo dos Santos e os Sauditas; Maduro e Temer estão todos de acordo quando chega a hora dos “negócios” ainda que daí resulte guerra fome e sofrimento para quem neles votou.    


  

terça-feira, 22 de agosto de 2017

SANTA BÁRBARA E OS TROVÕES


Na minha juventude era frequente ouvir-se: só se lembram de Santa Bárbara quando há trovoada. As trovoadas, quando acompanhadas por toneladas de água e raios, que fazem da noite dia, proporcionam algo que, sendo horrivelmente belo, atemoriza. O ribombar do trovão pode ser potenciado em situações de guerra. Vivi isso, na noite de 15/07/1968, em que perdi um amigo – o Juvenal Ávila Araújo.

Há riscos Naturais devastadores, como aquele que vivemos há pouco no Largo da Fonte, em dia de fortíssimo significado Católico. A 1 de Novembro – dia de Todos-os-Santos – de 1755, tivemos 10 mil mortos na orla costeira de Lisboa ao Algarve. Foram tantos quantos os ocorridos, nos treze anos de guerra colonial. O Marquês de Pombal perante o inevitável: e agora?!, consta que terá respondido: “enterram-se os mortos e cuidam-se dos vivos”. A morte é uma certeza para todos nós, cada um a encarará de acordo com os seus princípios religiosos e éticos. Respeitem os mortos e seus familiares, não empolem as emoções com retórica oca que, habilmente, ignorando os factos, visa exclusivamente objectivos eleitorais!

Há 262 anos, o Poder da Natureza, de uma só vez, arrebatou 10.000 vidas. Em treze anos de guerra colonial, perdemos o mesmo número de Cidadãos Aí morríamos por riscos imputáveis a humanos. Mas não assumíamos a distinção entre os Riscos Naturais e as tramóias que quem manda engendra para que, refugiando-se na Natureza, esconda as irresponsabilidades político-administrativas.

A retórica demagógica, permitindo urbanizações encosta acima, rendeu votos em catadupa ao Poder, entre 1978 e 2010. Nessa altura ninguém distinguia o Poder Local – Autarquias – do sufocante Poder Regional, detentor da chave do cofre, abrindo-o para a clientela, fechando-o para a oposição. O Funchal, pelo elevado número de votantes, foi beneficiado. A aluvião de 20 de Fevº, imune à demagogia eleitoral, fez-se sentir e, pela última vez, o Poder pôde esconder-se por detrás das Forças da Natureza, acusando de profetas da desgraça, quem alertara para incúria político-administrativa. Um exemplo, com pessoas reais, ajuda à compreensão.

Um casal, separado por um ribeiro da moradia com o nº 193 à Estª dos Marmeleiros, viu um espaço que lhe servia de horta destruído pela aluvião de 2010 ajudada pela incúria daquele  vizinho. A referida moradia foi transaccionada e, contra todas as expectativas, o novo proprietário com mais vigor, fez do ribeiro lixeira. A 14/02/2017 a Srª D. Maria Alzira G. S. Marques foi informada de que a sua reclamação registada sob o número 6132 junto da CMF, fora enviada pelo Sr. Vereador do Urbanismo, para a Dir. Reg. de Planeamento, Recursos e Gestão de Obras Públicas. Em Abril a queixosa também denunciou àquela Dir Reg que o Sr Carlos Jardim ocupara a linha de água e colocara uma vedação no ribeiro fronteiro à moradia 193 na Estª. dos Marmeleiros. Em Maio recebeu um ofício da Dir. Reg do Eq. Social e Conservação donde retirei:” 3 – Além disso adverte-se que, nos termos do disposto na alínea e) do ponto 2 e, da alínea f) do ponto 3 do artigo 81 do decreto-lei nº 226-A/2007 de 31 de Maio, a ocupação de um linha de água com prejuízo de conservação constitui contra-ordenação grave, sendo que lançar ou depositar em ambiente hídrico qualquer substância ou produto sólido, liquido ou gasoso potencialmente poluente constitui contra-ordenação ambiental muito grave, pelo que iremos solicitar o apoio dos serviços da CMF na identificação do presumível infractor, para efeitos de notificação dos trabalhos de reposição das condições normais de escoamento fluvial que o mesmo seja obrigado a realizar, por razões de segurança de pessoas e bens”.

As fotos abaixo, disponibilizadas pela queixosa, elucidam sobre o estado do ribeiro.











A um mês do fim do Verão, a CMF pouco ou nada informa sobre o andamento do processo. Este casal, como todos nós, gosta de viver. Tem lutado pela sua segurança até onde lhe é possível. Não sei se são Cristãos, Católicos ou não, ou professam qualquer outro credo. Dispensa o casal, aliás todos nós, as máscaras pesarosas de quem manda, quando participam em funerais, e outros actos públicos, em que se homenageiam os mortos. A segurança de pessoas e bens está muito para além da conquista de votos, a única coisa que faz mover os partidos. Vá lá, coloquem as pessoas primeiro. Assim parecem-se com o Maduro, uma vez chegados ao Poder, esquecem os interesses de quem vota e, tratam-nos a chicote.




            


 



quarta-feira, 9 de agosto de 2017

 21 DE AGOSTO, DIA DA CAROCHINHA


Esta data, no ano da graça de 2017, para os madeirenses em geral, e os Funchalenses em particular, é o dia da Carochinha. Ela encerra uma versão muito nossa da velha história da jovem que, tendo ido à missa, deixou o caldeirão ao lume e também um solene aviso ao glutão do seu príncipe encantado para que não lhe tocasse. Não resistiu o João. Tombou no caldeirão, como todos sabemos!

Este intróito provocará duas reacções nos leitores. Uns acharão uma perda de tempo prosseguir. Pois muito bem, parem a leitura. Outros, mais curiosos, gostarão de conhecer a fundamentação.

Consequência da “Revolução dos Militares Comunistas de 1974”, a Madeira teve uma cozinha colectiva totalmente nova. Maria “Vilhoa” que se habituara a cozinhar na “furna” a escassos metros do tugúrio que servia de habitação, ouve à exaustão que esse tempo de submissão e “Madeira Velha” não voltará. Um palavroso e bem preparado grupo de cozinheiros ficou à frente da “cozinha colectiva” – conceito que casa muito bem com comunismo – da “Madeira Nova”. Entre todos eles destacava-se o Chefe João. Tinha larga experiência anterior e conhecia, como ninguém, as desgraças da “Madeira Velha”. Era meio caminho andado para confeccionar os pratos bem ao paladar dos comensais.

O Grande Mestre da Culinária, cujos dotes foram várias vezes ratificados pela maioria dos comensais entre 1978 e 2015, enxotava a concorrência dos chefes menores cuja presença na elaboração das iguarias era imposição da malfadada “constituição comunista”. João, inicialmente, ignorou-os. O Mestre da Culinária, recorrendo aos assalariados que contratara directamente, confecciona manjares de deuses onde nem a quantidade de sal pode ficar à responsabilidade de gente menor. Boicotariam, podem crer, só pelo prazer de deixar mal quem mandava na cozinha.  

A roda da vida move-se. O Chefe, sempre pronto a servir ao Povo aquilo que de melhor havia na cozinha da “Madeira Nova”, não se poupou a esforços. Achava essencial o controlo total da cozinha. Tivemo-lo a chamar a si arruamentos e jardins para que um seu assalariado não ousasse levantar a crista. Esmagou como seu “poder regional”, tutelar do poder autárquico – com as consequências que se conhecem hoje, expressas nas litigâncias entre Câmaras e GR – para manter a sua hegemonia. Em 2005, com a voluntariosa participação do cozinheiro-chefe, inicia-se, finalmente, a confecção da Obra-prima da culinária político-administrativa-regional onde, livre da interferência de Lisboa, nem dinheiro foi pedido, a esplendorosa “Autonomia com todos” se mostrou. Iniciava-se a confecção do excelente prato: Savoy para Totós.

Um assalariado do poderoso Chefe João, sem que o dito invocasse o seu “poder de tutela”, recebeu na Câmara do Funchal o projecto de remodelação do Hotel Savoy, um ícone do Turismo da “Madeira Velha”. Sábios juristas, alguns acumulando com funções de vereadores, produziram pareceres na defesa dos interesses dos seus clientes. Mas, atentos ao Bem Comum, S. Exªs os seus Vereadores, e os partidos que a pertenciam, desdobravam-se em afirmações que nos sossegavam. Finalmente, a “cozinha colectiva”, com a participação dos cozinheiros que desde 1976 andam nisto – com excepção dos vermelhuscos amigos do Maduro – homenageia a Autonomia que, como sabemos, “é todos”.  

Dia 21 tem de ser o dia reconciliação dos Madeirense. Chefe João, pelo destaque que atingiu, deve presidir às cerimónias que não podem ficar aquém das Festas do PPD/PSD-M Partido da Autonomia Regional no Chão da Lagoa. Haverá foguetes e música a partir das oito da manhã, naquela obra-prima do Direito e da retórica política, não da arquitectura. À noite, com música clássica e fogo-de-artifício, e na presença de todos aqueles que contribuíram para isto, encerrar-se-ão as Festividades.

O João glutão da Carochinha, não resistiu à comida. Os nossos cozinheiros, gulosos por votos, criaram esta situação ridícula pela qual não querem responsabilizar-se. V. Exªs querem votos, querem? É pior engolir isto do que aquela do passarinho reencarnando Chávez. Tenham juízo, mas do bom. Do outro têm que sobra.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

QUANDO MADURO FICA “PODRE”



Chavez, com a Constituição de 1999, criou a República Bolivariana da Venezuela. O acrescento não foi ingénuo. Ele relembra a emancipação de Espanha, invocando a pessoa de Simón Bolivar.

George Washington e Simón Bolivar foram dois homens que marcaram a sedição das Colónias do Novo Mundo, contra os Impérios Europeus. Cavalgando o Iluminismo do sec. XVIII, as colónias britânicas separaram-se de Inglaterra. Simón Bolívar é considerado em alguns países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário, e libertador. Durante os seus 47 anos de vida, liderou a Bolívia, a Colombia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. É o “George Washington” da América do Sul.
George Washington foi anterior a Napoleão. Simón Bolivar, posterior ao “anti-Cristo”, já não assistiu à ratificação da Independência, em 1845. O período decorrido entre 1776 (Independência dos EUA) e 1845 foi suficiente para que na trilogia da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – surgisse a cizânia Republicana à volta do conceito de Igualdade.

No Novo Mundo, não eram aceites interferências das antigas potências coloniais nos seus assuntos. Recordavam o passado. Este princípio e a Doutrina Monroe (a América para os Americanos) suportou o expansionismo dos EUA sobre vastos territórios da Coroa Espanhola. Porém, os privilégios aristocráticos, abalados por Napoleão, só cessaram com a 1ª Guerra Mundial, onde os EUA participaram em nome da Liberdade. As jovens Nações Hispânicas ainda se debatiam com sérias dificuldades na criação das estruturas de Estado, nessa altura.

Muito pior que o ideário Republicano, foi a degenerescência da Igualdade para o Comunismo, na Rússia em 1917.

O Império Americano cujo expansionismo e controlo da “vizinhança” já vinha do passado, acautelou-se face à nova realidade. Os Somoza, na Nicarágua, entre 1936 e 1972; Rafael Trujillo, na Rep. Dominicana, de 1930 a 1961; Alfredo Stroessener no Paraguai, entre 1954 e 1989; Os Papa e Baby Doc, de 1957 a 1971, no Haiti, foram os “ditadores amigos” dos EUA. Todos eles eram Homens de Bem que repudiavam o comunismo e queriam o bem-estar do Povo Humilde. Fidel Castro, o comunista inveterado, também queria o Bem do Povo. Andamos nisto há cem anos!

Após a Independência a Venezuela passou por forte instabilidade. O fim do sec. XIX e os primeiros 20 anos do sec. XX, foram particularmente difíceis para o País, apesar de Venezuela, Brasil, Chile e Argentina terem tratamento diferenciado pela sua dimensão e importância estratégica no Continente Americano.

Em 1920, a Venezuela era o maior produtor de petróleo. Mas só em 1945 o Partido de Acção Democrática, com Rómulo Betancourt, trouxe estabilidade. Duraria até 1948. Os EUA, receando a acção do “perigoso comunista” Rómulo Gallegos, provocaram-lhe a queda, lançando Venezuela na confusão. A saga das receitas do petróleo, esconde muita porcaria, desde esses longínquos anos 50.

Em 1952, Perez Jimenez emerge em circunstâncias estranhas, arrebatando o Poder aos vencedores de eleições. Foi condecorado com a Legião de Mérito pelo embaixador dos EUA, em Caracas. Em 1958, na companhia da esposa e das filhas, fugiu para a Rep. Dominicana, do “amigo” Trujillo. Seguiram-se lideranças várias com o regressado Rómulo Betancourt, Raul Leoni e Rafael Caldera, até que Carlos Andrés Perez ganha eleições em 1973. Aproveitando um período de alta do petróleo e a boa relação com os EUA, Andrés Perez estabiliza a Venezuela. Porém, a riqueza findaria cinco anos depois. É este o drama venezuelano, viver em função da riqueza especulativa dos mercados. Em 1988, o mesmo Andrés Perez recorre ao FMI. O desemprego cresce, as greves também, e regressa a instabilidade. Perez é destituído num processo de corrupção. Neste ambiente social, chega ao poder Hugo Chávez. Saíam os “ditadores americanos e bons”, entravam os “comunistas e maus”.


Nos dias de hoje, isto não existe! Ditador é ditador, não os há bons e maus. As vítimas desta falsa dicotomia deixam-se embalar por uma imprensa que verbera os mortos e feridos, às mãos dos esbirros de Maduro, mas nada diz sobre os lobos com vestes de cordeiro, que alimentam a contestação na esperança de acenar com a falsa riqueza, da Goldman Sachs e afins. Precisamos de leis que nos protejam dos abutres que distribuem de forma desigual a riqueza gerada entre Trabalho e Capital. Já viram quais os amigos de Chávez no nosso País? Direita e esquerda apoiaram-no. Angola, com o seu MPLA da família Santos, contou com apoios de direita e esquerda. Hoje os tiranos bons e maus estão mancomunados para, através do sistema financeiro, nos fazerem escravos, de grupos bem pequenos, de gente muito rica.               

sábado, 29 de julho de 2017

TRUMP, MADURO E OUTROS


O Poder oprime e coarcta a Liberdade. Trump, Maduro e outros são os dirigentes que nos couberam em rifa neste sec. XXI, que não é mais nem menos conturbado que aqueles que o antecederam.

Organismos pertencentes à espécie Homo sapiens, há cerca de 70.000 anos, deram início à História. Ela é, por isso, o repositório das venturas e desventuras dos Seres Humanos, em todo esse lapso de tempo. Ao citar estes dados procuro confrontar o leitor com a relatividade do factor tempo. O Império Romano – minutos nos 70.000 anos, se o quisermos avaliar em termos de vida Humana – marcou-nos o futuro. Os Impérios Europeus, a partir do sec. XV, – outros tantos minutos – levaram ao resto do Planeta a concepção Europeia de Organização da Vida Colectiva. O Homo sapiens que hoje conhecemos tem uma natureza única e sagrada, que é fundamentalmente diferente da natureza de todos os outros seres e fenómenos. O bem supremo é o bem da humanidade.

As três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) estiveram desde sempre envolvidas em forte conflitualidade. Os Europeus levaram para o Novo Mundo as suas normas aristocráticas e, ao mesmo tempo, muita gente à procura do sossego que a conflitualidade religiosa europeia não lhes garantia. A vida não pára, diz-se. Se os 2.0000 anos decorridos desde o Império Romano até aos nossos dias são minutos, os cerca de 250 anos de Independência dos EUA, seguindo-se as Independências das restantes ex-colónias do Novo Mundo, são segundos. Para nós, cidadãos cuja vida se fica pelos 70/80 anos, contentamo-nos em perscrutar estes dois secs. e meio a que, pomposamente, chamamos História.

A influência Cristã na Europa Aristocrática, em contubérnio com o Poder Temporal, não pode ser menosprezada. A dualidade entre o Bem e o Mal está sempre presente. A diferença entre quem serve a Humanidade e quem serve um déspota fica patente em dois exemplos bem Portugueses. O Padre António Vieira serviu a Humanidade! O facínora obscurantista, Teles Jordão, pelo contrário, torturou em nome de D. Miguel I, o “temente a Deus”. As convulsões sociais – Revolução Francesa e a 1ª guerra Mundial – ditaram o fim da aristocracia, repercutindo na Igreja a convivência próxima com o Poder.

Impregnando o pensamento colectivo, a prática de quem manda, desde os tempos de súbditos de S. Majestade, ao de cidadãos ditos livres, o medo impôs a sua “lei”. Não quero imaginar-me em 1943, numa cidade Holandesa, acordado, altas horas, pela voz chorosa de uma criança judia a pedir protecção. Pais e avós tinham sido levados “pelos homens maus”, mas ela conseguira escapar. Não sei qual seria a minha reacção, penso que o leitor me acompanha. Uma coisa vos garanto, o choro daquela criança acompanhar-me-ia o resto da vida.

Condenaram-se, bem, os totalitarismos nazis e comunistas. Mas se queremos caminhar em Liberdade rumo ao Bem da Humanidade, não podemos calar as formas de amedrontamento com que Trump, Maduro e outros procuram levar a água ao seu moinho. O Bem da Humanidade, para eles, é fazer negócios, atropelando as leis e levando na voragem quem lhas recorda.

Maduro, herdeiro do Chavismo, um sistema populista que cavalgou os erros e a corrupção de Adecos e Copeianos, ganhou ele próprio eleições em 2013. Nos EUA temos quezílias com o Poder Judicial e com altos funcionários. Em Venezuela a semelhança com o totalitarismo é bem mais evidente. As milícias, elemento importante para impor o terror, suportam o tirano e prestam-lhe todas as honrarias. É com farinha deste saco que surgem os guardas de Treblinka e que tiranos, Estaline é um caso, são dados como exemplo quando deixam o poder. Setenta anos de comunismo deram aquele resultado, mas trinta, prova-o a "Madeira Nova", obnubilam muita cabeça. Os prosélitos de Estaline achavam que o ditador lhes garantiu a vitória na 2ª Guerra, por cá acreditam que derrotaram a "Madeira Velha". Num caso e noutro estão sem futuro.   

Falei do comportamento de dirigentes que queremos respeitadores da Lei, mas que tentam subvertê-las. Hoje o contubérnio não é entre o sangue azul e o Cristianismo. Ele existe entre as elites financeiras (Maduro cairia se a Goldman Sachs não lhe comprasse dívida) e os políticos. Os ditos “mercados financeiros” – não são religião, pois os dogmas que nos querem impor nada têm de sagrado – usam linguagem hermética para a qual temos de estar atentos. Maduro e a Venezuela provam-no à exaustão. Maduro cairá, mas os Venezuelanos vão sofrer para pagarem a dívida contraída.        .

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O ”ÍNDIA” METIA ÁGUA


Há cerca de um sec. e meio, em tempo de monarquia, tinha o País quatro Partidos, Histórico, Regenerador, Reformista e Constituinte. Todos eles eram Católicos, Centralizadores, amavam a Liberdade e defendiam a Ordem e o Progresso. Organizavam-se a partir de galopins (homens cujo trabalho consistia em angariar votos a favor de um candidato) e caciques (os votos obtidos pelos galopins permitiam aos caciques garantir a vitória a um chefe partidário). Os Partidos, devidamente representados na Casa das Leis, o bom senso e a vontade de S. Alteza Real, no topo da pirâmide do Poder Político, garantiam a gestão dos Negócios do Estado.

Almeida Garret foi um cidadão comprometido com a causa do Sr. D. Pedro tendo arrostado as consequências dessa opção. É sobejamente conhecida a frase da sua autoria – «foge cão que te fazem barão! Mas para onde se me fazem Visconde?!» Discordava da atribuição de títulos nobiliárquicos a elementos da burguesia. Considerava mesmo que, antes os frades da velha monarquia do que os barões nascidos com o regime liberal. Esta sua opinião ficou bem expressa noutra frase célebre – «o barão mordeu o frade, devorou-o e escoiceou-nos depois!». Pela boca morre o peixe, diz o Povo. Foi isso que aconteceu ao nosso Garret. Morreu em 1854, com o título de Visconde e Par do Reino. Porém, a História não o repudiará!

Portugal, no fim do sec. XIX, atormentado por uma Europa em ebulição, precisava de galvanizar o Povo, envolvendo-o numa onda de forte Patriotismo. Episódio bem marcante foi a inauguração do navio “Índia” onde as “Forças Vivas” procuravam esse efeito. Na inauguração acotovelam-se os aristocráticos Marqueses, Condes, Viscondes e Barões com gente da burguesia que, adorando Títulos, os conseguira. Também lá estava representado “o barão que mordeu o frade”.

O barco fora comprado após profunda reflexão, obedecia aos mais avançados conhecimentos científicos da época. O “Índia”, custara muitos milhões, era a glória da nossa marinha e a imprensa exaltava-o. Ele era perfeito, apenas metia cinco polegadas de água por dia. Hoje, resta-nos agradecer ao inefável Eça de Queiroz que nos deixou a descrição dos factos que marcaram a Vida do Povo e nos trazem ensinamentos.

A Aristocracia com os seus marqueses, duques, condes e viscondes acabou. Restam-nos os partidos que parecem ter herdado os galopins e caciques vindos do passado. Basta ouvi-los ou lê-los a propagandear os respectivos interesses de grupo para nos interrogarmos: onde fica o Bem Comum neste arrazoado “clubístico”? Drs., Engºs., Prof., gente da imprensa e audiovisuais andam mortinhos por nos venderem gato por lebre. Se nos descuidamos enfiam-nos um Índia na propaganda. Queixam-se da Justiça? Alguém, quando quer votos, propõe alguma coisa de jeito sobre o assunto? Não são aristocratas, metam isso na cabeça! Quem vos garante o Poder é o Povo com os votos! Dão música, futebol e espectáculos vários. De coisas sérias nada! Não é, por isso, brilhante o panorama.

Porém, a realidade madeirense é bem pior. O “Índia” que temos à vista de todos chama-se Novo Savoy. Ostentam as obras em curso, uma importante diferença relativamente às polegadas de água que entravam no casco do barco. Todos vemos o monstro! Interessante é a retórica partidária com que cada partido tenta escapar às suas responsabilidades. Hábeis a usar a palavra, os Srs. Advogados assumem a defesa acérrima das “suas cores”. Herdeiros do velho amedrontamento das pessoas, é vê-los ameaçarem com Tribunal quem duvidar da Honra de S. Exªs. Ninguém duvida de vós. Sois Homens Públicos acima de qualquer suspeita! Quando invocais o dec. a alínea ou parágrafo tudo é pensado e repensado como, aliás, acontecera com a aquisição do velho “Índia”. É obra perfeita! Apenas precisamos entender porque fogem da única Obra gerada na Autonomia. Lisboa não foi tida nem achada para isto, o PPD/PSD-M Partido da Autonomia, o PS e o CDS, sempre no respeito pela lei, oferecem-nos esta “prenda” serôdia ao estilo do “Índia”. Terão honrado a Autonomia que tantas loas vos merece?


Já agora, digam-nos, como vão pôr cobro à crescente conflitualidade entre Câmaras e GR? O recurso a Tribunal com os advogados pagos pelo dinheiro dos impostos é uma constante. Há, na comunicação social, referência a uma possível maioria absoluta no Funchal. Acham que foram vantajosas para o Povo as maiorias de Cavaco Silva, José Sócrates ou Alberto João? Gostaram? Votem maioria absoluta! Mas se não gostaram e, ainda assim, votam maioria, não se queixem depois.  

terça-feira, 18 de julho de 2017

“PARTIDARITE” A MAIS INCOMODA



Há 35 anos que Portugal vive em Democracia sob a égide dos partidos (excluí o período de 1974 a 1982 em que houve tutela militar), tempo suficiente para uma análise.

A confiança dos eleitores nas elites, elemento essencial num regime de partidos, anda hoje pelas ruas da amargura. Terão razão os eleitores? Creio que têm muitas e sólidas razões para desconfiarem de quem, alimentando a luta política na dicotomia direita esquerda, esqueceu os cidadãos em benefício dos militantes. Tivemos deputados e governantes que se esconderam por detrás dos Tribunais, apresentando-os como entraves à vivência democrática. Deputados houve ainda, que perante leis que limitavam o exercício da advocacia, não hesitaram em subvertê-la. Angariavam processos no âmbito da actividade partidária e, despudoradamente, afirmavam aos eleitores incautos, que eram da sociedade de advogados e não pessoais. Ninguém colocou os cidadãos, preto no branco, perante esta dura realidade. Direita e esquerda foram cúmplices!  

A quebra de confiança acentuou-se ainda mais, com a ruptura do sistema financeiro. Foi o pânico geral. Todos os órgãos de Fiscalização do Estado falharam e a malvada retórica esquerda-direita lançou cortinas de fumo atribuindo-se, mutuamente, a responsabilidade pela desgraça que, sem sermos tidos nem achados, nos caiu nos bolsos. Há acusações em Tribunal e ninguém nos pode levar a mal que, perante certas riquezas repentinas, nos mostremos incrédulos. Apetece-nos seguir o exemplo daquele procurador que, nos EUA em 1936, interrogando Lucky Luciano sobre como conseguia viver num hotel tão caro com os baixos rendimentos que declarara, obteve como resposta: "fiz um bom negócio". Nem o procurador nem nós cidadãos, para quem tudo sobra quando toca a pagar, acreditamos em certas inocências.

Há um mês, ficou à vista de todos os Portugueses nova fragilidade do Estado. Os fogos de Verão causaram perdas incomensuráveis em Pessoas e Bens. Tal como acontecera com os vários “fogos financeiros”, a catástrofe de Pedrógão logo foi apropriada para a refrega direita-esquerda. Servirá para alguma coisa? Os incêndios não são de direita nem esquerda. São apenas incêndios.

Porém, a “partidarite aguda” que, como vimos acima, há anos nos aflige, surgiu em todo o seu esplendor no caso dos paióis de Tancos. A Instituição Militar saiu muito mal tratada de tudo aquilo. Causa asco ouvirmos comentadores, como Marques Mendes, dizerem que os Militares podem ser criticados pelas falhas, quando o seu objectivo era cavalgar a onda – como acontecera com Pedrógão – do roubo de direita contra o roubo de esquerda.

Hoje, face a tudo aquilo que se lê, vê e ouve na comunicação social, este episódio tem características de “inventona” – repesquei o termo aos idos de 1975. Naqueles tempos difíceis, criavam-se casos na comunicação social que justificavam, na opinião pública, determinados comportamentos. Caberia aos militares fazer frente à conflitualidade emergente. Foram os custos que a Instituição Militar suportou durante oito anos, por ter ousado substituir um poder político incapaz de descolonizar, seguindo o exemplo de outros Impérios Europeus. Quase meio século depois, há novamente dificuldades. Direita e esquerda combatem-se ferozmente, mas convinha que deixassem as casernas em paz. Definam-lhes a missão e deixem que FA´s a executem, castigando nos casos em que isso se justifique.

Falando sobre o incêndio, após ter dito em cima do acontecimento, que tudo aquilo que fora possível se fizera, o Pres. da Rep., afirmou: “Todos os que assumimos, de uma forma ou de outra, poderes públicos, com humildade temos de reconhecer que aquilo que é uma das funções dos poderes públicos, de segurança das populações, não foi possível garantir cabalmente nestas circunstâncias” . Foi mais longe o Prof. Marcelo. São suas estas palavras: “Lançaria daqui um apelo, uma sugestão que é um apelo, de uma trégua eleitoral e um pacto eleitoral naquelas áreas atingidas. Para que se esqueça a campanha eleitoral. Ou se não for possível esquecer a campanha eleitoral, que se não use na campanha eleitoral esta tragédia em nenhum título, directa ou indirectamente. E que estes meses até Outubro sejam vividos em conjugação de esforços” 

Tem razão o Presidente da República. A diferenciação entre direita esquerda não pode assentar na mera retórica que já nos maça. A instrumentalização do Estado, FA´s incluídas, em circunstância alguma deve ocorrer.

Aplauda-se o comportamento do Presidente da República em exercício de funções. Nem em sonhos quero imaginar qual seria o “Estado da Nação”, se ainda tivéssemos em funções o Prof. Alm. Dr. Aníbal Américo António de Deus Cavaco Rodrigues Silva Thomáz.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

POLÍTICA À FREI TOMÁS


Ninguém ignora que devemos fazer aquilo que o frade diz, e não aquilo que ele faz. Paradigmático disto é o caso Savoy. Os próceres, das “confrarias partidarias”, apenas com jurisdição regional e local, prometeram desenvolvimento e progresso. Deram-nos um desastre muito bem representado na “Obra Feita” no Savoy. Disseram uma coisa, fizeram outra. Agora todos fogem daquilo como o diabo da cruz, parece que foi gerado sem pai nem mãe, ninguém acarinha, muito menos assume, o “monstrozinho”.

Há algum tempo que venho escrevendo sobre a degradação das Funções do Estado na sua importante vertente da Segurança de Pessoas e Bens. Em minha opinião, tribunais e polícias não têm, como é próprio de um Estado de Direito, a imagem valorizada junto da opinião pública. Os polícias erraram na Cova da Moura? Castiguem-nos. Mas mostremos também a nossa indignação em casos mediáticos como o protagonizado por Pedro Dias, procurado pela polícia durante os vários dias, em que assustou as populações a partir de Aguiar da Beira. No momento da entrega às autoridades, a sua advogada, apresentou-o como vítima de “perseguição policial”. Mentira, suspeitava-se dele ser responsável por mortes e as polícias apenas cumpriram o seu dever. Ninguém se lembrou de elogiar as Forças da Ordem, esperando que, a partir da prisão, o tribunal fizesse justiça. Felizmente começam a surgir indícios, embora ténues, de que os frades das “confrarias partidárias” com jurisdição nacional, estão a preocupar-se com a situação.

Desde o dia 17 de Junho, com estrondo, o País acordou para a realidade que temos. Dia 12 de Julho, na AR, ouvimos juras de “amor eterno” à Segurança de Pessoas e Bens. Sector com risco de “incêndio”, tão grande como os eucaliptos, é o futebol. Mortos, feridos, destruição de património de árbitros e seus familiares – também têm direito a que lhes protejam a vida e os bens – e ainda cenas de violência envolvendo polícias, ocupam os “exaltados patriotas ” – vermelhos, verdes, azuis e de todas as outras cores – em muitos programas de TV, toda a semana. O propósito, dizem, é, por um lado, esclarecer a opinião pública se a polícia usou violência excessiva e, por outro, quem foi mais prejudicado naquela “guerra” de fim-de-semana. Temos gente graúda da política e do dito desporto alimentando a fogueira sagrada da clubite aguda. As coisas pioraram ainda mais com a introdução da bruxaria nas “patrióticas” discussões e hoje dia 13, houve nove detidos por suspeita da fabricação de artefactos explosivos destinados às claques. Os riscos estão identificados.

Uma notícia deu conta que o PSD, frades laranja, dia 11 apresentara, uma proposta legislativa na “defesa da transparência e da integridade nas competições desportivas”, retirada no dia seguinte. Na notícia lê-se: “O presidente da Liga, Pedro Proença, pediu já uma audiência com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, com quem esteve na última semana na cerimónia do sorteio das competições da Liga, em Matosinhos, marcada pelo “boicote” do Benfica. Polémica amplificada pelo que a LPFP classificou de “caça às bruxas”, após episódio que visava a directora executiva da Liga, Sónia Carneiro, acusada de em 2012 ter tecido comentários “censuráveis” sobre o Benfica, no Facebook.” Há na notícia mais elementos onde é nítida a preocupação de quem, no PSD, elaborou o documento.

Apesar de ter sido retirada a proposta, o simples facto dela ter surgido é motivo de júbilo. Legislem e aprovem, de preferência por unanimidade, um documento que acabe com toda a opacidade à volta do futebol.

Porém, mais importante do que a qualidade da lei é a vontade dos eleitos em não subverte-la. A opacidade financeira gerada na promiscuidade entre a política e o futebol, tem o dinheiro dos impostos como aglutinador. A exposição pública, no clube e no partido, rende votos, mas descredibiliza qualquer um quando os tribunais são chamados a intervir por suspeitas de má utilização do dinheiro dos impostos.

Aqui chegados, restam-nos duas soluções: quem manda impõe-se e não pactua com a opacidade financeira que grassa no mundo da bola para conquistar votos; continuam a política do Frei Tomás. Dizer, sem dúvida, dizem, mas não fazem aquilo que dizem.    

domingo, 9 de julho de 2017

TIREMOS ILAÇÕES


Já várias vezes abordei o tema da degradação das Funções do Estado naquilo que à Segurança de Pessoas e Bens respeita. Alertei para os sintomas de uma pandemia que, gerada no exterior, revelava fortes sintomas internos e devia preocupar-nos. A propaganda dos clubes de futebol, há muito, incita as respectivas claques “à luta”. A agressividade que assim se introduz na vida colectiva, acho eu, deveria ter sido contida em limites razoáveis por quem manda. Temos mortos e feridos a lamentar.

Hoje tudo acontece à velocidade da luz. Em menos de um mês a pandemia mostrou-se em todo o seu esplendor, podendo falar-se em causas – falei delas no parágrafo anterior – e efeitos da inércia com que agiram aqueles que tinham poderes para salvaguardarem pessoas e bens.

Na fatídica noite de 17 para 18 de Junho todos assistimos ao horror dos incêndios de Pedrógão. Vimos homens impotentes perante a violência que num ápice se abatera sobre aquela zona. Afrontar a violência, gerada pelos homens com a guerra ou vinda da natureza, requer prevenção e treino. Mas quando ”elas assobiam” há sempre imprevisibilidade. Quem manda, isto é, aqueles em quem votámos e nada fizeram para pacificar o futebol, perante a dimensão do desastre, dão-nos agora, na AR, um espectáculo nada dignificante da democracia. Basta! Não há incêndios de direita nem de esquerda. Há pura e simplesmente incêndios! Direita e Esquerda, recorrendo à retórica oca na AR, procuram os mais espantosos argumentos para fugirem às suas responsabilidades. Seria muito mais útil pegarem no contrato do SIRESP estudarem-no, reconhecerem os erros e pedirem-nos desculpa. O Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal foi aprovado por António Guterres e redefinido por Durão Barroso. Deverá, conforme sugere a sigla, responder nas emergências. Logo, não se entende que o contrato insira isto: “ A ocorrência de um caso de força maior terá por efeito exonerar a Operadora da responsabilidade pelo não cumprimento pontual das obrigações emergentes do contrato, na estrita medida em que o seu cumprimento tenha sido impedido em virtude da referida ocorrência, e dará lugar (…) à reposição do equilíbrio financeiro ou, nos casos em que a impossibilidade de cumprimento se tornar definitiva ou a reposição do equilíbrio financeiro se revelar impossível ou excessivamente onerosa para entidade gestora, à rescisão do Contrato”

Falei em pandemia, cujos primeiros sintomas em Portugal foram pequenas erupções cutâneas, como o futebol e o consequente desprestígio das Forças de Segurança, factos ignorados pelos partidos e pelos eleitos em quem votámos. Porém, os acontecimentos de Pedrógão, chocando o País, ganharam o estatuto de escândalo e os partidos já não encolhem os ombros. Como tudo aquilo que puder dar errado dará, a pandemia atingiu as nossas relações com exterior. Pedrógão, como referi acima, provou que não há fogos de direita contra fogos de esquerda. No assalto ao paiol de Tancos é de todo impossível – por muita vontade que haja, e há, – enveredar por esses caminhos ínvios da direita e esquerda. Em 1915 o episódio conhecido por “movimento das espadas”, protagonizado pelos militares que discordavam do envio de um contingente para França, tem elementos em comum com o actual mal-estar dos militares. Não vou entrar, por uma análise às posições de “guerristas” e “antiguerristas” ou pelas ideias de Afonso Costa e Sidónio Pais. Vou deter-me nos 43 anos decorridos de 1974 até hoje. Eu sou uma excepção, no meio dos muitos milicianos que andaram por África, pois não mordo os calcanhares aos militares que mostram desagrado pelo modo como andam a ser tratados. Logo havia de acontecer comigo, eu até construí dois paióis! Mendiguei ferramentas pessoal tinha! Hoje parece que nem munições levam nas patrulhas. Será verdade?

A partidarização do Estado está a deixar-nos incapazes de percebermos aquilo que aconteceu. Estes profissionais que agora protestam são os sucessores daqueles que protagonizaram o movimento das espadas em 1915 ou nos enquadraram nas operações em África de 1961 a 1974. Foram os Jotinhas, alguns activos nos partidos, que não descansaram enquanto não extinguiram o Serviço Militar Obrigatório. Os negócios esperavam-nos, urgia mudar a lei. É vê-los aguerridos, na AR, querendo transformar o verdadeiro Interesse Nacional em mais um episódio de retórica. Bem Comum não podem ser os negócios de grupo.

Tenho esperança que o PR será capaz de fazer entender este princípio aos Portugueses, confrontando os partidos com os seus erros.            

quarta-feira, 5 de julho de 2017

CHAPÉUS E MUROS HÁ MUITOS


No caso madeirense, nem vos digo nem vos conto. Nos últimos 30 anos, para quem tivesse dúvidas, foi um massacre ouvir-se que acabara o tempo de os “cubanos” mandarem em nós. Nunca mais andaríamos de chapéu na mão a mendigar benesses que sistematicamente nos recusavam. Dos chapéus chegámos, em 2017, aos muros que também não eram novidade entre nós. Conhecidos na “Madeira Velha” como muros de suporte de terras, contribuíram para aumentar o escasso solo agrícola. Porém, a “regionalização” brindou-nos com um novo conceito de Muro. O Muro da Destruição.

Na transição do séc. XIX para o XX o arquitecto Ventura Terra estudou a cidade do Funchal e deixou-nos, no Plano com o seu nome, aquilo que, em sua opinião, seria uma cidade vocacionada para o Turismo. Previa o Plano a existência de dois Bairros o Ocidental, para habitação de luxo, e o Oriental para as classes populares. Raúl Lino, duas décadas depois, corporiza, naquilo que conhecemos como Avenida do Infante, o Bairro Ocidental. Tudo isto ocorreu num período conturbado e que apenas cessa com as obras de Fernão de Ornelas, já no pós-2ª Guerra.

A Constituição de 1976 consagrou a Autonomia. Usando os novos poderes, a urbanização foi dos primeiros sectores onde se fizeram sentir as consequências. A construção no Município do Funchal, subiu, irresponsavelmente, encosta acima com o aplauso das populações que retribuíram em votos a bonomia administrativa facultada pela Liberdade Inquinada de que dispúnhamos. A factura revelar-se-ia bem pesada quando a água e o fogo marcaram presença. Os votos proporcionados pelos eleitores contemplados pelas autorizações de obras, iriam provocar-lhes lágrimas de fel nas enxurradas e incêndios recentes. O caso do Funchal, com vários Planos aprovados e suspensos pela edilidade, a gosto do freguês, para assim permitir “obrar” legalmente, foi mais notório mas também ocorreu por toda a ilha. O caos urbanístico imperou.

Em 2005, surgiria o projecto do Muro da Destruição, para o urbanismo Funchalense e a sustentabilidade económica da Ilha. Na senda das práticas anteriores, lá tivemos mais do mesmo. A Câmara então em funções aprovou o PUI e, assinando em 2009 o controverso contrato de urbanização, criou um nó cego que nos garantiu aquela “Obra de Arte”. Classifiquei o Savoy como Muro da Destruição, é isso que penso, mas pode também ser uma notável de Obra de Arte. Já explico.

Lisboa nada tem a ver com isto. Deixou-nos, como herança, um Turismo onde a paisagem era preservada e as preocupações urbanísticas eram reais. Não sou arquitecto, mas acho que aquela construção não tem proporcionalidade nenhuma. É uma aberração e vai contribuir para acelerar ainda mais o aviltamento da paisagem. Porquê? Quantas camionetas sairão, pela manhã, daquele acanhado espaço? Existem estacionamentos pela ilha em quantidade e qualidade para tanto autocarro a juntar àqueles que já circulam? Este é o cenário negro em que a Madeira, na peugada do Porto Santo, se transformará na “solt machine” dos investidores turísticos. Competirá em preços com Torremolinos, e aturará as bebedeiras europeias, como vimos no Algarve há pouco.

Vejamos agora o cenário idílico. Não podemos esquecer que uma Obra de Arte, quando surge, cria muitas resistências. Basta lembrarmo-nos da Torre Eiffel. A contestadíssima Torre acabou por conquistar o Mundo e identifica Paris em qualquer parte. É uma hipótese a explorar. Já viram daqui por uns anos um Americano no Ohio profundo, escolher a Madeira para férias por associar o Muro da Destruição à Madeira? Nesse caso os preços das dormidas acompanharão os de Paris e seremos todos ricos a partir do Turismo.

Voltando à terra. O Novo Savoy não parece suscitar grandes encómios. A excepção mais significativa vem do lobby do cimento argumentando com o emprego que cria. O PPD, com mais responsabilidades em tudo isto, não se empolga no apoio. O PS, não assumindo um apoio inequívoco ao projecto, também não o repudia.


A nós eleitores resta-nos os cenários que citei. Qual dos dois cenários acham que nos proporcionarão? Digam-nos, fazem favor, pois só assim poderemos votar em consciência a 1 de Outubro. Votos emotivos já demos que chegue, na criação das zonas altas e outros desastres. 

quinta-feira, 29 de junho de 2017

HÁ PÚSTULAS NO PODER DO ESTADO


A Segurança de Pessoas e Bens é um dos principais deveres do Estado. O cumprimento dessa função implica por vezes o uso da Força. Nesse caso o Estado não pode vacilar. Fazendo-o, descredibiliza-se. As Polícias e os Tribunais são as Instituições com que o Estado Democrático conta para nos defender; cabendo às polícias a actuação sobre os prevaricadores, e a punição aos Tribunais.

Ao Estado Novo, respeitando a Revolução Francesa, a Igualdade causava-lhe mal-estar. Assumia-se, por isso, como o defensor do Povo impedindo que fosse contaminado pelos ideais igualitários do “comunismo”. O conceito de comunismo era amplo e lá cabia tudo aquilo de que o regime não gostasse. Nesse tempo, tribunais e polícia, por vezes, confundiam-se.
As dúvidas do Estado Novo caíram com a aprovação da Constituição de 1976 e confirmaram-se nas sete revisões que já leva. Hoje vivemos num País que aceita, na plenitude, os três Poderes Independentes, herdados da Rev. Francesa, e assentes na Vontade Popular expressa pelo Voto.

Em 1982, coincidindo com o fim do nosso Conselho da Revolução, Helmut Koll chega à liderança Alemã, mantendo-a até 1998. Apoiado pelos EUA, o homem meteu ombros à reunificação do seu Pais. A ideia desagradava a Franceses e Ingleses, que tinham razão. A prova de que estavam certos, tiveram nuns acertos de contas, vindos da 2ª guerra, que anteciparam a Independência da Croácia seguindo-se-lhe a guerra nos Balcãs. Koll, acompanhado pela “rapariga”, Frau Merkel, – expressão dele – vinda da Alemanha de Leste, criava uma Europa Alemã, impondo o euro. Helmut Koll foi um Chanceler notável para os Alemães, e deixou à “rapariga” a possibilidade de emendar a mão construindo uma Alemanha Europeia.

Na Ocidental Praia Lusitana, por esta altura, começava a acontecer o tenebroso divórcio entre eleitores e eleitos que, quebrando a confiança entre eles, pode levar à destruição do Estado Democrático.

Os governantes eleitos nunca nos consultaram sobre as negociações que mantinham para que Portugal aderisse à moeda única. Foi assim em muitos Países. Mas aos neófitos Portugueses, Gregos e Espanhóis, saídos há pouco dos “ideológicos” anos 30, as elites deveriam adoptar comportamentos que criassem nas populações hábitos de respeito pelo direito/dever de votar, a essência da democracia. Não foi isso que aconteceu. O dinheiro abundante criou um optimismo exagerado nos eleitores e, os eleitos, incumbidos de defenderem o Bem Comum, rapidamente apareceram ligados ao mundo dos negócios. Criava-se assim uma teia muito pouco transparente que, a prazo, traria consequências funestas.

Seres amorfos venderam-nos a retórica das poderosas máquinas de propaganda partidária. Exploraram a emotividade para conseguirem os votos que lhes garantiam o Poder. Os pusilânimes que elegemos abastardaram os Poderes do Estado! Polícia e Tribunais, até 1974, garantiam-nos, com as limitações conhecidas, a segurança de pessoas e bens. Hoje sentimo-nos inseguros. Por tudo isto, não admira que muitos Portugueses suspirem por Salazar. Compreende-se quem assim pensa.

O sistema financeiro foi abaladíssimo num processo estranho, em que ninguém acautelou os nossos interesses. Alijando responsabilidade e acenando-nos com o Estado de Direito, assente na Lei, tudo foi parar a Tribunal. Ao “incêndio” bancário, que nos queimou a todos, junta-se toda uma série de falências estranhas. Os eleitos criticam, mas não mexem uma palha! Os nossos eleitos são tão lerdos quanto os partidos que os “empregam”!

As pústulas começam a apresentar características preocupantes. Avessos à decisão, no âmbito das suas competências, calam e consentem que as Instituições – GNR, PSP e PJ – que defendem vidas e bens, sejam vilipendiadas bem como aos Tribunais que os próprios criticam e acham que não funcionam. Habituados a mobilizar as emoções do futebol, para as transformarem em votos, pactuam com todas as “máquinas de propaganda” dos clubes, por medo de afrontarem quem tem de prestar contas aos tribunais. Isto é: as claques. Ficam os eleitores entretidos a discutir os efeitos, porque abordar as causas obrigá-los-ia a decidir poria em causa a opacidade do negócio futebol, deixando a nu a promiscuidade com a política. A inoperância dos eleitos gera falsa conflitualidade que entope os Tribunais.

O Poder Judicial foi tomado de assalto. Resta-nos dizer aos eleitos que nos sentimos profundamente inseguros, porque nos destruíram a confiança.


sábado, 24 de junho de 2017

QUE FUTURO TEREMOS?

Tendes, logo abaixo, parte substancial de um texto da autoria de Roberto Loja, publicado no DN local no dia 19 p. p.  

“Para bem e para mal, o modelo de desenvolvimento turístico implementado na Madeira traz turismo em grupos (leia-se autocarros), e traz sazonalidade. Até que este paradigma seja mudado, convém que os administradores percebam várias coisas.
Que os turistas compram. […] e que às vezes os que compram nos surpreende.
Que o turismo mantém o pequeno comércio a funcionar. E isto é principalmente verdade nos meios menos urbanos. E sendo verdade, faz-me muita confusão a incapacidade dos administradores perceberem que é preciso que haja onde parar carros e autocarros. Nem que seja um espaço de carga e descarga, desde que seja possível “esconder” um veículo de 12 metros […].
Que o turismo procura conforto e segurança. Isto é, o lugar a visitar até pode nem estar junto ao local de paragem do autocarro, mas tem de ser um percurso relativamente curto, e tem de ser exequível, e seguro – principalmente em termos de trânsito. […]
Nas últimas semanas tenho assistido a dias de caos, em locais como Arieiro, Ribeiro Frio, Cabo Girão, Porto Moniz, na zona hoteleira do Funchal e no aeroporto. Em Santana, as novas regras parecem apontar para a vontade de deixar de ter autocarros na área da camara municipal. No Arieiro, a rotunda junto à base parece um parque de estacionamento – e quem lá para são sempre os mesmos. O Ribeiro Frio é um desastre à espera de acontecer, muito por culpa do estacionamento desordenado por falta de alternativas. No Porto Moniz, as docas de cargas e descargas parecem estacionamentos. No Cabo Girão, idem. Na zona hoteleira, há sistematicamente ligeiros estacionados em docas de autocarros, bem como na rotunda entre o Melia e o Porto Mare. A doca junto ao Monumental Lido é estacionamento a qualquer hora...”

Ficou aqui o retrato do quotidiano atribulado dos transportes de turismo. Aqueles larguíssimos metros cúbicos de construção na Avenida do Infante, destinados a manter o progresso da RAM, vão juntar mais autocarros àqueles que já temos. Alegrai-vos corações, pois o lobby do cimento, que acha importante o novo Savoy pelo emprego que criou, já está a fazer planos para “obrar” nos estacionamentos necessários por toda a ilha face ao acréscimo de turistas. Impávidos e serenos os madeirenses discutem a descida do CDN e a subida do CSM ao estatuto Europeu. A destruição do futuro desta terra, iniciado em 1978, nem sequer agora, com a desgraça bem à frente dos olhos, os incomoda.

A ocupação do território foi pervertida com dinheiro abundante e fácil. Salários principescos retiraram à agricultura – ela garantia, com a inteligente ocupação do território visando a sobrevivência da população, a manutenção de uma bela paisagem – mão-de-obra. A propaganda escondeu a desgraça com mais facilidade com que, hoje, esconde um autocarro. As inaugurações, baseadas nesta estratégia, sucederam-se e o circo eleitoral até teve direito a elefante com cornaca empoleirado e tudo.

Mas vão continuar nessa senda. O próximo sacrifício ao progresso será o Rib. Frio.


Um décimo da população já saiu do Norte, mas o êxodo vai continuar por muito que vendam a treta de que, acabadas as estradas inacabadas pela falência, as populações voltarão.