segunda-feira, 24 de julho de 2017

O ”ÍNDIA” METIA ÁGUA


Há cerca de um sec. e meio, em tempo de monarquia, tinha o País quatro Partidos, Histórico, Regenerador, Reformista e Constituinte. Todos eles eram Católicos, Centralizadores, amavam a Liberdade e defendiam a Ordem e o Progresso. Organizavam-se a partir de galopins (homens cujo trabalho consistia em angariar votos a favor de um candidato) e caciques (os votos obtidos pelos galopins permitiam aos caciques garantir a vitória a um chefe partidário). Os Partidos, devidamente representados na Casa das Leis, o bom senso e a vontade de S. Alteza Real, no topo da pirâmide do Poder Político, garantiam a gestão dos Negócios do Estado.

Almeida Garret foi um cidadão comprometido com a causa do Sr. D. Pedro tendo arrostado as consequências dessa opção. É sobejamente conhecida a frase da sua autoria – «foge cão que te fazem barão! Mas para onde se me fazem Visconde?!» Discordava da atribuição de títulos nobiliárquicos a elementos da burguesia. Considerava mesmo que, antes os frades da velha monarquia do que os barões nascidos com o regime liberal. Esta sua opinião ficou bem expressa noutra frase célebre – «o barão mordeu o frade, devorou-o e escoiceou-nos depois!». Pela boca morre o peixe, diz o Povo. Foi isso que aconteceu ao nosso Garret. Morreu em 1854, com o título de Visconde e Par do Reino. Porém, a História não o repudiará!

Portugal, no fim do sec. XIX, atormentado por uma Europa em ebulição, precisava de galvanizar o Povo, envolvendo-o numa onda de forte Patriotismo. Episódio bem marcante foi a inauguração do navio “Índia” onde as “Forças Vivas” procuravam esse efeito. Na inauguração acotovelam-se os aristocráticos Marqueses, Condes, Viscondes e Barões com gente da burguesia que, adorando Títulos, os conseguira. Também lá estava representado “o barão que mordeu o frade”.

O barco fora comprado após profunda reflexão, obedecia aos mais avançados conhecimentos científicos da época. O “Índia”, custara muitos milhões, era a glória da nossa marinha e a imprensa exaltava-o. Ele era perfeito, apenas metia cinco polegadas de água por dia. Hoje, resta-nos agradecer ao inefável Eça de Queiroz que nos deixou a descrição dos factos que marcaram a Vida do Povo e nos trazem ensinamentos.

A Aristocracia com os seus marqueses, duques, condes e viscondes acabou. Restam-nos os partidos que parecem ter herdado os galopins e caciques vindos do passado. Basta ouvi-los ou lê-los a propagandear os respectivos interesses de grupo para nos interrogarmos: onde fica o Bem Comum neste arrazoado “clubístico”? Drs., Engºs., Prof., gente da imprensa e audiovisuais andam mortinhos por nos venderem gato por lebre. Se nos descuidamos enfiam-nos um Índia na propaganda. Queixam-se da Justiça? Alguém, quando quer votos, propõe alguma coisa de jeito sobre o assunto? Não são aristocratas, metam isso na cabeça! Quem vos garante o Poder é o Povo com os votos! Dão música, futebol e espectáculos vários. De coisas sérias nada! Não é, por isso, brilhante o panorama.

Porém, a realidade madeirense é bem pior. O “Índia” que temos à vista de todos chama-se Novo Savoy. Ostentam as obras em curso, uma importante diferença relativamente às polegadas de água que entravam no casco do barco. Todos vemos o monstro! Interessante é a retórica partidária com que cada partido tenta escapar às suas responsabilidades. Hábeis a usar a palavra, os Srs. Advogados assumem a defesa acérrima das “suas cores”. Herdeiros do velho amedrontamento das pessoas, é vê-los ameaçarem com Tribunal quem duvidar da Honra de S. Exªs. Ninguém duvida de vós. Sois Homens Públicos acima de qualquer suspeita! Quando invocais o dec. a alínea ou parágrafo tudo é pensado e repensado como, aliás, acontecera com a aquisição do velho “Índia”. É obra perfeita! Apenas precisamos entender porque fogem da única Obra gerada na Autonomia. Lisboa não foi tida nem achada para isto, o PPD/PSD-M Partido da Autonomia, o PS e o CDS, sempre no respeito pela lei, oferecem-nos esta “prenda” serôdia ao estilo do “Índia”. Terão honrado a Autonomia que tantas loas vos merece?


Já agora, digam-nos, como vão pôr cobro à crescente conflitualidade entre Câmaras e GR? O recurso a Tribunal com os advogados pagos pelo dinheiro dos impostos é uma constante. Há, na comunicação social, referência a uma possível maioria absoluta no Funchal. Acham que foram vantajosas para o Povo as maiorias de Cavaco Silva, José Sócrates ou Alberto João? Gostaram? Votem maioria absoluta! Mas se não gostaram e, ainda assim, votam maioria, não se queixem depois.  

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