SANTA BÁRBARA E OS TROVÕES
Na minha juventude era frequente ouvir-se: só se lembram de Santa Bárbara quando há trovoada. As trovoadas, quando acompanhadas por toneladas de água e raios, que fazem da noite dia, proporcionam algo que, sendo horrivelmente belo, atemoriza. O ribombar do trovão pode ser potenciado em situações de guerra. Vivi isso, na noite de 15/07/1968, em que perdi um amigo – o Juvenal Ávila Araújo.
Há riscos Naturais devastadores, como aquele que vivemos há pouco no Largo da Fonte, em dia de fortíssimo significado Católico. A 1 de Novembro – dia de Todos-os-Santos – de 1755, tivemos 10 mil mortos na orla costeira de Lisboa ao Algarve. Foram tantos quantos os ocorridos, nos treze anos de guerra colonial. O Marquês de Pombal perante o inevitável: e agora?!, consta que terá respondido: “enterram-se os mortos e cuidam-se dos vivos”. A morte é uma certeza para todos nós, cada um a encarará de acordo com os seus princípios religiosos e éticos. Respeitem os mortos e seus familiares, não empolem as emoções com retórica oca que, habilmente, ignorando os factos, visa exclusivamente objectivos eleitorais!
Há 262 anos, o Poder da Natureza, de uma só vez, arrebatou 10.000 vidas. Em treze anos de guerra colonial, perdemos o mesmo número de Cidadãos Aí morríamos por riscos imputáveis a humanos. Mas não assumíamos a distinção entre os Riscos Naturais e as tramóias que quem manda engendra para que, refugiando-se na Natureza, esconda as irresponsabilidades político-administrativas.
A retórica demagógica, permitindo urbanizações encosta acima, rendeu votos em catadupa ao Poder, entre 1978 e 2010. Nessa altura ninguém distinguia o Poder Local – Autarquias – do sufocante Poder Regional, detentor da chave do cofre, abrindo-o para a clientela, fechando-o para a oposição. O Funchal, pelo elevado número de votantes, foi beneficiado. A aluvião de 20 de Fevº, imune à demagogia eleitoral, fez-se sentir e, pela última vez, o Poder pôde esconder-se por detrás das Forças da Natureza, acusando de profetas da desgraça, quem alertara para incúria político-administrativa. Um exemplo, com pessoas reais, ajuda à compreensão.
Um casal, separado por um ribeiro da moradia com o nº 193 à Estª dos Marmeleiros, viu um espaço que lhe servia de horta destruído pela aluvião de 2010 ajudada pela incúria daquele vizinho. A referida moradia foi transaccionada e, contra todas as expectativas, o novo proprietário com mais vigor, fez do ribeiro lixeira. A 14/02/2017 a Srª D. Maria Alzira G. S. Marques foi informada de que a sua reclamação registada sob o número 6132 junto da CMF, fora enviada pelo Sr. Vereador do Urbanismo, para a Dir. Reg. de Planeamento, Recursos e Gestão de Obras Públicas. Em Abril a queixosa também denunciou àquela Dir Reg que o Sr Carlos Jardim ocupara a linha de água e colocara uma vedação no ribeiro fronteiro à moradia 193 na Estª. dos Marmeleiros. Em Maio recebeu um ofício da Dir. Reg do Eq. Social e Conservação donde retirei:” 3 – Além disso adverte-se que, nos termos do disposto na alínea e) do ponto 2 e, da alínea f) do ponto 3 do artigo 81 do decreto-lei nº 226-A/2007 de 31 de Maio, a ocupação de um linha de água com prejuízo de conservação constitui contra-ordenação grave, sendo que lançar ou depositar em ambiente hídrico qualquer substância ou produto sólido, liquido ou gasoso potencialmente poluente constitui contra-ordenação ambiental muito grave, pelo que iremos solicitar o apoio dos serviços da CMF na identificação do presumível infractor, para efeitos de notificação dos trabalhos de reposição das condições normais de escoamento fluvial que o mesmo seja obrigado a realizar, por razões de segurança de pessoas e bens”.
As fotos abaixo, disponibilizadas pela queixosa, elucidam sobre o estado do ribeiro.
A um mês do fim do Verão, a CMF pouco ou nada informa
sobre o andamento do processo. Este casal, como todos nós, gosta de viver. Tem
lutado pela sua segurança até onde lhe é possível. Não sei se são Cristãos,
Católicos ou não, ou professam qualquer outro credo. Dispensa o casal, aliás
todos nós, as máscaras pesarosas de quem manda, quando participam em funerais,
e outros actos públicos, em que se homenageiam os mortos. A segurança de pessoas e
bens está muito para além da conquista de votos, a única coisa que faz mover os
partidos. Vá lá, coloquem as pessoas primeiro. Assim parecem-se com o Maduro, uma vez chegados ao Poder, esquecem os interesses de quem vota e, tratam-nos a chicote.
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