CHAPÉUS E MUROS HÁ MUITOS
No caso madeirense, nem vos digo
nem vos conto. Nos últimos 30 anos, para quem tivesse dúvidas, foi um massacre
ouvir-se que acabara o tempo de os “cubanos” mandarem em nós. Nunca mais
andaríamos de chapéu na mão a mendigar benesses que sistematicamente nos
recusavam. Dos chapéus chegámos, em 2017, aos muros que também não eram
novidade entre nós. Conhecidos na “Madeira Velha” como muros de suporte de
terras, contribuíram para aumentar o escasso solo agrícola. Porém, a “regionalização”
brindou-nos com um novo conceito de Muro. O Muro da Destruição.
Na transição do séc. XIX para o
XX o arquitecto Ventura Terra estudou a cidade do Funchal e deixou-nos, no
Plano com o seu nome, aquilo que, em sua opinião, seria uma cidade vocacionada
para o Turismo. Previa o Plano a existência de dois Bairros o Ocidental, para
habitação de luxo, e o Oriental para as classes populares. Raúl Lino, duas
décadas depois, corporiza, naquilo que conhecemos como Avenida do Infante, o
Bairro Ocidental. Tudo isto ocorreu num período conturbado e que apenas cessa
com as obras de Fernão de Ornelas, já no pós-2ª Guerra.
A Constituição de 1976 consagrou
a Autonomia. Usando os novos poderes, a urbanização foi dos primeiros sectores
onde se fizeram sentir as consequências. A construção no Município do Funchal, subiu,
irresponsavelmente, encosta acima com o aplauso das populações que retribuíram
em votos a bonomia administrativa facultada pela Liberdade Inquinada de que
dispúnhamos. A factura revelar-se-ia bem pesada quando a água e o fogo marcaram
presença. Os votos proporcionados pelos eleitores contemplados pelas
autorizações de obras, iriam provocar-lhes lágrimas de fel nas enxurradas e
incêndios recentes. O caso do Funchal, com vários Planos aprovados e suspensos pela
edilidade, a gosto do freguês, para assim permitir “obrar” legalmente, foi mais
notório mas também ocorreu por toda a ilha. O caos urbanístico imperou.
Em 2005, surgiria o projecto do
Muro da Destruição, para o urbanismo Funchalense e a sustentabilidade económica
da Ilha. Na senda das práticas anteriores, lá tivemos mais do mesmo. A Câmara
então em funções aprovou o PUI e, assinando em 2009 o controverso contrato de
urbanização, criou um nó cego que nos garantiu aquela “Obra de Arte”.
Classifiquei o Savoy como Muro da Destruição, é isso que penso, mas pode também
ser uma notável de Obra de Arte. Já explico.
Lisboa nada tem a ver com isto.
Deixou-nos, como herança, um Turismo onde a paisagem era preservada e as
preocupações urbanísticas eram reais. Não sou arquitecto, mas acho que aquela
construção não tem proporcionalidade nenhuma. É uma aberração e vai contribuir
para acelerar ainda mais o aviltamento da paisagem. Porquê? Quantas camionetas
sairão, pela manhã, daquele acanhado espaço? Existem estacionamentos pela ilha
em quantidade e qualidade para tanto autocarro a juntar àqueles que já
circulam? Este é o cenário negro em que a Madeira, na peugada do Porto Santo,
se transformará na “solt machine” dos investidores turísticos. Competirá em preços
com Torremolinos, e aturará as bebedeiras europeias, como vimos no Algarve há
pouco.
Vejamos agora o cenário idílico.
Não podemos esquecer que uma Obra de Arte, quando surge, cria muitas
resistências. Basta lembrarmo-nos da Torre Eiffel. A contestadíssima Torre
acabou por conquistar o Mundo e identifica Paris em qualquer parte. É uma
hipótese a explorar. Já viram daqui por uns anos um Americano no Ohio profundo,
escolher a Madeira para férias por associar o Muro da Destruição à Madeira? Nesse
caso os preços das dormidas acompanharão os de Paris e seremos todos ricos a
partir do Turismo.
Voltando à terra. O Novo Savoy
não parece suscitar grandes encómios. A excepção mais significativa vem do
lobby do cimento argumentando com o emprego que cria. O PPD, com mais responsabilidades
em tudo isto, não se empolga no apoio. O PS, não assumindo um apoio inequívoco
ao projecto, também não o repudia.
A nós eleitores resta-nos os
cenários que citei. Qual dos dois cenários acham que nos proporcionarão? Digam-nos,
fazem favor, pois só assim poderemos votar em consciência a 1 de Outubro. Votos
emotivos já demos que chegue, na criação das zonas altas e outros desastres.
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