“PARTIDARITE” A MAIS INCOMODA
Há 35 anos que Portugal vive em Democracia sob a
égide dos partidos (excluí o período de 1974 a 1982 em que houve tutela militar),
tempo suficiente para uma análise.
A confiança dos eleitores nas elites, elemento
essencial num regime de partidos, anda hoje pelas ruas da amargura. Terão razão
os eleitores? Creio que têm muitas e sólidas razões para desconfiarem de quem,
alimentando a luta política na dicotomia direita esquerda, esqueceu os cidadãos
em benefício dos militantes. Tivemos deputados e governantes que se esconderam
por detrás dos Tribunais, apresentando-os como entraves à vivência democrática.
Deputados houve ainda, que perante leis que limitavam o exercício da advocacia,
não hesitaram em subvertê-la. Angariavam processos no âmbito da actividade
partidária e, despudoradamente, afirmavam aos eleitores incautos, que eram da
sociedade de advogados e não pessoais. Ninguém colocou os cidadãos, preto no
branco, perante esta dura realidade. Direita e esquerda foram cúmplices!
A quebra de confiança acentuou-se ainda mais, com
a ruptura do sistema financeiro. Foi o pânico geral. Todos os órgãos de
Fiscalização do Estado falharam e a malvada retórica esquerda-direita lançou
cortinas de fumo atribuindo-se, mutuamente, a responsabilidade pela desgraça
que, sem sermos tidos nem achados, nos caiu nos bolsos. Há acusações em Tribunal
e ninguém nos pode levar a mal que, perante certas riquezas repentinas, nos
mostremos incrédulos. Apetece-nos seguir o exemplo daquele procurador que, nos
EUA em 1936, interrogando Lucky Luciano sobre como conseguia viver num hotel
tão caro com os baixos rendimentos que declarara, obteve como resposta: "fiz um
bom negócio". Nem o procurador nem nós cidadãos, para quem tudo sobra quando
toca a pagar, acreditamos em certas inocências.
Há um mês, ficou à vista de todos os Portugueses nova
fragilidade do Estado. Os fogos de Verão causaram perdas incomensuráveis em
Pessoas e Bens. Tal como acontecera com os vários “fogos financeiros”, a catástrofe
de Pedrógão logo foi apropriada para a refrega direita-esquerda. Servirá para
alguma coisa? Os incêndios não são de direita nem esquerda. São apenas
incêndios.
Porém, a “partidarite aguda” que, como vimos acima,
há anos nos aflige, surgiu em todo o seu esplendor no caso dos paióis de
Tancos. A Instituição Militar saiu muito mal tratada de tudo aquilo. Causa asco
ouvirmos comentadores, como Marques Mendes, dizerem que os Militares podem ser
criticados pelas falhas, quando o seu objectivo era cavalgar a onda – como
acontecera com Pedrógão – do roubo de direita contra o roubo de esquerda.
Hoje, face a tudo aquilo que se lê, vê e ouve na
comunicação social, este episódio tem características de “inventona” –
repesquei o termo aos idos de 1975. Naqueles tempos difíceis, criavam-se casos
na comunicação social que justificavam, na opinião pública, determinados
comportamentos. Caberia aos militares fazer frente à conflitualidade emergente.
Foram os custos que a Instituição Militar suportou durante oito anos, por ter
ousado substituir um poder político incapaz de descolonizar, seguindo o exemplo
de outros Impérios Europeus. Quase meio século depois, há novamente dificuldades.
Direita e esquerda combatem-se ferozmente, mas convinha que deixassem as
casernas em paz. Definam-lhes a missão e deixem que FA´s a executem, castigando
nos casos em que isso se justifique.
Falando sobre o incêndio, após ter dito em cima do
acontecimento, que tudo aquilo que fora possível se fizera, o Pres. da Rep.,
afirmou: “Todos
os que assumimos, de uma forma ou de outra, poderes públicos, com humildade
temos de reconhecer que aquilo que é uma das funções dos poderes públicos, de
segurança das populações, não foi possível garantir cabalmente nestas
circunstâncias” . Foi mais longe
o Prof. Marcelo. São suas estas palavras: “Lançaria daqui um apelo, uma sugestão
que é um apelo, de uma trégua eleitoral e um pacto eleitoral naquelas áreas
atingidas. Para que se esqueça a campanha eleitoral. Ou se não for possível
esquecer a campanha eleitoral, que se não use na campanha eleitoral esta
tragédia em nenhum título, directa ou indirectamente. E que estes meses até
Outubro sejam vividos em conjugação de esforços”
Tem razão o Presidente da República. A diferenciação
entre direita esquerda não pode assentar na mera retórica que já nos maça. A
instrumentalização do Estado, FA´s incluídas, em circunstância alguma deve
ocorrer.
Aplauda-se o comportamento do Presidente da
República em exercício de funções. Nem em sonhos quero imaginar qual seria o
“Estado da Nação”, se ainda tivéssemos em funções o Prof. Alm. Dr. Aníbal
Américo António de Deus Cavaco Rodrigues Silva Thomáz.
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