sexta-feira, 14 de julho de 2017

POLÍTICA À FREI TOMÁS


Ninguém ignora que devemos fazer aquilo que o frade diz, e não aquilo que ele faz. Paradigmático disto é o caso Savoy. Os próceres, das “confrarias partidarias”, apenas com jurisdição regional e local, prometeram desenvolvimento e progresso. Deram-nos um desastre muito bem representado na “Obra Feita” no Savoy. Disseram uma coisa, fizeram outra. Agora todos fogem daquilo como o diabo da cruz, parece que foi gerado sem pai nem mãe, ninguém acarinha, muito menos assume, o “monstrozinho”.

Há algum tempo que venho escrevendo sobre a degradação das Funções do Estado na sua importante vertente da Segurança de Pessoas e Bens. Em minha opinião, tribunais e polícias não têm, como é próprio de um Estado de Direito, a imagem valorizada junto da opinião pública. Os polícias erraram na Cova da Moura? Castiguem-nos. Mas mostremos também a nossa indignação em casos mediáticos como o protagonizado por Pedro Dias, procurado pela polícia durante os vários dias, em que assustou as populações a partir de Aguiar da Beira. No momento da entrega às autoridades, a sua advogada, apresentou-o como vítima de “perseguição policial”. Mentira, suspeitava-se dele ser responsável por mortes e as polícias apenas cumpriram o seu dever. Ninguém se lembrou de elogiar as Forças da Ordem, esperando que, a partir da prisão, o tribunal fizesse justiça. Felizmente começam a surgir indícios, embora ténues, de que os frades das “confrarias partidárias” com jurisdição nacional, estão a preocupar-se com a situação.

Desde o dia 17 de Junho, com estrondo, o País acordou para a realidade que temos. Dia 12 de Julho, na AR, ouvimos juras de “amor eterno” à Segurança de Pessoas e Bens. Sector com risco de “incêndio”, tão grande como os eucaliptos, é o futebol. Mortos, feridos, destruição de património de árbitros e seus familiares – também têm direito a que lhes protejam a vida e os bens – e ainda cenas de violência envolvendo polícias, ocupam os “exaltados patriotas ” – vermelhos, verdes, azuis e de todas as outras cores – em muitos programas de TV, toda a semana. O propósito, dizem, é, por um lado, esclarecer a opinião pública se a polícia usou violência excessiva e, por outro, quem foi mais prejudicado naquela “guerra” de fim-de-semana. Temos gente graúda da política e do dito desporto alimentando a fogueira sagrada da clubite aguda. As coisas pioraram ainda mais com a introdução da bruxaria nas “patrióticas” discussões e hoje dia 13, houve nove detidos por suspeita da fabricação de artefactos explosivos destinados às claques. Os riscos estão identificados.

Uma notícia deu conta que o PSD, frades laranja, dia 11 apresentara, uma proposta legislativa na “defesa da transparência e da integridade nas competições desportivas”, retirada no dia seguinte. Na notícia lê-se: “O presidente da Liga, Pedro Proença, pediu já uma audiência com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, com quem esteve na última semana na cerimónia do sorteio das competições da Liga, em Matosinhos, marcada pelo “boicote” do Benfica. Polémica amplificada pelo que a LPFP classificou de “caça às bruxas”, após episódio que visava a directora executiva da Liga, Sónia Carneiro, acusada de em 2012 ter tecido comentários “censuráveis” sobre o Benfica, no Facebook.” Há na notícia mais elementos onde é nítida a preocupação de quem, no PSD, elaborou o documento.

Apesar de ter sido retirada a proposta, o simples facto dela ter surgido é motivo de júbilo. Legislem e aprovem, de preferência por unanimidade, um documento que acabe com toda a opacidade à volta do futebol.

Porém, mais importante do que a qualidade da lei é a vontade dos eleitos em não subverte-la. A opacidade financeira gerada na promiscuidade entre a política e o futebol, tem o dinheiro dos impostos como aglutinador. A exposição pública, no clube e no partido, rende votos, mas descredibiliza qualquer um quando os tribunais são chamados a intervir por suspeitas de má utilização do dinheiro dos impostos.

Aqui chegados, restam-nos duas soluções: quem manda impõe-se e não pactua com a opacidade financeira que grassa no mundo da bola para conquistar votos; continuam a política do Frei Tomás. Dizer, sem dúvida, dizem, mas não fazem aquilo que dizem.    

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