sábado, 28 de janeiro de 2017

O PODER E OS HOMENS


Há Homens que, de modo indelével e sem armas, fazem revoluções que abarcam toda a Humanidade. Galileu foi um deles. Cristão do Sul da Europa, foi parte decisiva nas disputas entre geocentristas e heliocentristas. Amigo do Papa Urbano VIII, tudo preparou para que, através de documento por si elaborado, se ultrapassasse a disputa entre aquelas duas correntes. Infelizmente a disputa religiosa entre Protestantes e Roma, potenciada pela ignorância dos censores – geocentristas – levou o Tribunal da Inquisição a condenar Galileu. Abjurou às suas ideias, mas reza a lenda que ao sair da prisão disse: contudo, “ela move-se”. Na Europa daquele tempo, o Poder era a Igreja, pois o Poder Real tinha emanação Divina.
No séc. XIX, pós- Napoleão, surgem conceitos que tornam ainda mais complexa a relação entre o Poder e os Homens Comuns. Falo de Estado-Nação que cria os seus próprios dogmas e critérios esconsos para se relacionar com os Seres Humanos. Emily Hobhouse, Inglesa por nascimento, foi esquecida na história do seu País. O Gen. Lord Kitchener – Chefe de Estado-Maior do Exército Inglês na Guerra dos Boers – chamava-lhe a “mulher maldita”. A sua morte passou despercebida em Londres. Diferente foi a reacção na África do Sul, onde 20.000 pessoas a homenagearam com Honras de Estado jamais organizadas para um estrangeiro. Ela ajudou os Boers feitos prisioneiros em campos de concentração Ingleses, premonitórios dos campos nazis.
A Guerra dos Boers arrastou-se por 20 anos. Emily morreu em 1926, quando à Aristocracia Europeia fora já infligido mais um revés com a 1ª Guerra, e a 2ª vinha a caminho.
Além de Emily, ignorada pelos Ingleses e desconhecida do Mundo, um Inglês admirado no seu País e conhecido do Mundo – Winston Churchill – também participou na Guerra dos Boers, tendo sido feito seu prisioneiro. O Poder tem destas coisas, discrimina as pessoas em função dos mitos colectivamente instalados na sociedade. Na Inglaterra do sec. XIX, colocar Seres Humanos à frente dos interesses Imperiais, era arrojo a mais. Churchill estava do lado certo, na esteira de Lord Kitchener eram símbolos da Inglaterra Colonial. Churchill não se incomodou com os campos de concentração no Transval mas liderou uma guerra contra o totalitarismo de Hitler. Urge mantermos viva a mensagem da não-aceitação de totalitarismos, pela qual tantos deram a vida na 2ª guerra, e para isso precisamos reabilitar Emily Hobhouse que não se deixou sucumbir às represálias do Poder. Não devemos temer o Poder, mas também não devemos sancionar tudo aquilo que dele emana, sob pena de retroagirmos ao passado de má memória, onde um capataz, contra nossa vontade, se impunha.
Os Impérios Europeus terminaram na 2ª Guerra. O nosso prolongou-se até ao 25 de Abril. Mantidas as devidas proporções, a adesão popular ao 25 de Abril equipara-se à capitulação de Hitler. Em 1945, Hitler saiu derrotado. Saíram vencedores URSS e EUA. Aquele poder que hoje nos rege, saído da coragem de alguns militares que arriscaram a vida, física e profissionalmente, viram-se ostracizados rapidamente. As sequelas são gritantes no caso de Salgueiro Maia. Ele é uma espécie de Emily Hobhouse, aplaudido pela raia miúda, farta de guerra, foi ostracizado pelo Poder que, entretanto, distinguiu militares com condenações em Tribunal e histriónicos civis. Vá lá entender-se o Poder!
Hoje, o Poder Político em Portugal revela sintomas idênticos ao Santo Ofício com Galileu. Ao contrário da Inquisição, o Ministério Público consciente da sua ignorância na investigação de crimes financeiros, aceitou a colaboração do inspector tributário de Braga, Paulo Silva. Resultados ainda não existem, mas tal como Salgueiro Maia, parece próximo de nos fazer exultar de alegria com a condenação dos prováveis acusados. Acham que o Poder lhe agradece? Nem pensar, ele teve de queixar-se por se ter sentido prejudicado profissionalmente. O único elogio veio de Paulo Ralha, Presidente do Sindicato dos Impostos que disse: “Gostávamos que fosse encarado por toda a classe como um exemplo de abnegação. O país estaria muito melhor se houvesse muitas pessoas como ele”.

O mesmo poder nomeou como delegado do Gov. Reg na SDM, o Director Regional de Finanças. O Sr. Dr. João Machado esteve envolvido num processo de pagamentos a profissionais do futebol, através de offshore. Não sendo motivo de avaliação pelo Tribunal, sabe o Sr, e sabemos nós, que recorreram àquele expediente para que os “felizes contemplados” não pagassem IRS. Conclusão: duas situações diferentes têm soluções diferentes. Mas ambas coincidem na defesa dos interesses do dinheiro. Assim teremos em breve o terceiro totalitarismo sucessor de nazismo e comunismo, com a conivência das elites que elegemos. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

VI E LI


Vi, na TV, uma peça onde o Sr. Dr. Ricardo Alves falou da sua profissão e das condições em que a exercia no SRS. O médico teve dificuldade em conter a emoção ao falar dos doentes inseridos no terrível quadro que descreveu. Seguiram-se-lhe as habituais frases propagandísticas a conterem os estragos que dali poderiam advir para a opinião pública. Li, dia 24 no DN, um depoimento do Sr. Dr. Saturnino Silva que, tal qual Ricardo Alves, não traça um quadro nada simpático da psiquiatria que temos a uma semana da saída do seu director, Ricardo Alves.  

Da Caixa Sindical de Previdência e Abono de Família do Distrito do Funchal criou-se o SRS, Joia da Coroa da Autonomia. Apontado ao País como exemplo. Teve adesão plena da classe médica e dos utentes que recebiam uma compensação, nada despicienda, no caso das consultas fora do serviço público. Poderei ter alguma falha de pormenor – vou escrever de memória, corro o risco de errar. Não sou psiquiatra mas sou um cidadão interessado naquilo que se passa na sociedade em que me insiro. No tempo da “Caixa” a psiquiatria estava entregue aos Srs. Drs. Élvio Pereira, Nóbrega Fernandes e Saturnino Silva. O depoimento do Sr. Dr. Saturnino tem de ser lido – e projectado para o futuro – na perspectiva de quem acompanhou todo este processo desde a “Caixa” até esta demissão.

Nas palavras do Dr. Saturnino lemos que se criaram necessidades para as quais não havia resposta, fala-nos também de conflitos entre os médicos e a gestão, nos casos dos pagamentos das urgências. A quem está por fora, fica a sensação de que a adesão inicial da classe médica ao SRS, em todas as especialidades, desapareceu. As remunerações, interligando-as à deontologia, geram um cocktail explosivo a que ninguém escapa.

Atinge todos os cidadãos e, por isso, devia preocupar os partidos. O PPD/PSD mais que os outros, pois é governo desde 1976. A ALM cumpriria a sua função se, todos os deputados em uníssono, ouvissem/vissem a gravação do anterior Pres. do GR a reconhecer a dívida que o levara a assinar o PAEF. O bom senso, não o senso comum, aconselha o abandono da propaganda, já tivemos que chegue, e a não brincarem ao “hospital novo”, feito queijo em ratoeira de caça ao voto.
Assim, como estamos, com a população em estado de alarme social, os partidos, pelo seu descrédito, abrem portas a um populista – tipo Hitler na Rep. de Weimar – pronto a aproveitar a onda do descontentamento e a reeditar a noite das facas longas.

O Sr. Dr. Alberto João já se insurgiu contra o(s) cobardola(s) que, escondido(s) num blog, vê defeitos em todos excepto no actual Sec. da Saúde. Não chega aquilo que fez o ex-Pres. ele tem de denunciá-lo(s) para que lhes fechem o blog. 

domingo, 22 de janeiro de 2017

BONS EXEMPLOS


A Suécia foi, ao longo da sua história, um País muito castigado pelo consumo de álcool. Porém, hoje, tem leis rigorosas sobre a sua comercialização e consumo. Há uns meses li que a Srª Ministra da Educação da Suécia se demitira porque, quando conduzia, lhe foi detectado álcool no sangue. A Srª, numa festarola de fim-de-semana, bebeu o suficiente para que o seu teor de álcool estivesse para além dos limites legais. Na 2ª feira apresentou o pedido de demissão e pediu desculpa ao Povo pelo seu comportamento ter sido indigno do cargo.

O exercício de cargos públicos exige não apenas comportamentos correctos, mas também exemplares. Foi o caso da Srª Min. que referi. Nós também já tivemos casos destes em Portugal. Havendo mais, recordo os casos do Srs. Drs. Sousa Tavares, pai, e António Vitorino, ainda que por motivos diferentes do álcool. Infelizmente, na RAM, não é assim.

Criterioso nas escolhas, o autocrático Estado Novo escolhia para desempenhar funções na hierarquia do Estado, homens da sua confiança política, mas de comportamentos públicos exemplares. Esta regra foi alterada com a autonomia. Os candidatos a Presidentes de Câmara passaram a participar em Festas. Eram mais um elemento do Povo Anónimo vítima dos “Srs. Distantes” doutrora. O exemplo deixou de contar e, mais grave, as populações continuaram a ter medo das polícias e dos Tribunais vindos do Estado Novo. Na Suécia o cidadão não teme a polícia, por cá o sentimento de medo manteve-se, muitos anos para além do 25 de Abril. Continuámos convictos que eles apenas serviam de escudo aos poderosos. Paradigmático – coisa nunca vista no Estado Novo – eleitos insultaram os populares chamando-lhes “patas rapadas” e outros mimos com protecção policial. Passados 40 anos, começam a verificar-se mudanças. As polícias cumprem leis, não estão ao serviço de poderes autocratas. Aos tribunais cabe-lhes fiscalizar o cumprimento das leis por parte dos cidadãos comuns, dos polícias e dos eleitos.       

Entre nós foi notícia, DN dia 18 p.p., que o cidadão Carlos Teles fora encontrado pela PSP a conduzir com teor de álcool acima do mínimo. Acontece que Carlos Teles é Presidente da Câmara da Calheta. Ao contrário daquilo que ocorrera na Suécia, o Sr. Carlos Teles, Presidente da Câmara limitou-se a declarar: “Assumo a minha responsabilidade enquanto cidadão. Nada mais do que isso. A minha condição de autarca manter-se-á como sempre”. Nem em sonho admite pedir demissão!

Carlos Teles estranhou a ocorrência, fundamentando-a em dois pormenores nada despiciendos. O controlo policial ocorreu a escassos da 100 mts de sua casa e às 4h da manhã. Entre 1978 e 2015, aqueles dois pormenores teriam outros efeitos. Em comunicado, o partido manifestaria o seu desagrado pelo comportamento da PSP, acusando o Comando Regional e os agentes de estarem ao serviço do centralismo. O governo Regional apresentaria uma queixa ao Governo Central, pelo abuso cometido contra um autarca madeirense. Compreende-se a perplexidade do Sr. Carlos Teles quando, ao fim de tantos anos em que se fez vista grossa, a mudança de hábitos tenha começado com ele.


Esperemos que, rapidamente, a palavra vergonha passe a constar do dicionário dos cidadãos escolhidos pelos partidos para nós elegermos. Devem mantê-la no exercício das funções para que forem eleitos, e ainda, findos os mandatos, terem vergonha de se esconderem, quando são públicas e notórias as falhas da sua gestão.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

HERÓIS E MITOS


O conceito jurídico de Estado-Nação e as convicções, Pátria e Heroicidade, interligam-se. Um homem extraordinário que qualificamos como Herói, normalmente, merece tal distinção por actos praticados em combate. Esta tríade, - Estado-Nação, Pátria Heróis – que causou a destruição de pessoas e bens, nos sécs. XIX e XX, vai ser alvo da minha atenção.

Estado-Nação e Pátria são dois conceitos base para se formarem Países. Cada um tem o seu sistema de leis e o poder de fazer a Paz ou a Guerra. O Ensino – família incluída – incute, desde tenra idade, a dicotomia “Nós”-“Outros”. A diferença é criteriosamente burilada, acentuando as diferenças e escondendo as semelhanças. Assim se instala a acrimónia nas cabeças desde a juventude. Bem mais antigo que os conceitos anteriores é o arquétipo da Liberdade. Nem “Nós” nem os “Outros”, gostamos de ser escravos. Rebelamo-nos!

Em Abril de 1919, finda a 1ª Guerra, criou-se a Sociedade das Nações para que aí, em PAZ, se discutissem os litígios entre os Estados. Em 20 anos, fascismo e comunismo destruíram a Paz. O Mundo, nos anos 30 do sec. XX, viveu ameaçado por duas formas de totalitarismo. Foi então que, em nome da Liberdade, vários Estados-Nação se envolveram num conflito devastador. Derrotado o totalitarismo Alemão – o totalitarismo comunista saíra incólume – a 24 de Out. 1945 em S. Francisco, surge a ONU, e, com ela, nova promessa solene de que os conflitos armados passariam a resolver-se no quadro legal vigente na ONU. O Conselho de Segurança formado por: URSS, USA, Inglaterra, França e China, reflecte a vontade dos vencedores. Hoje, 27 anos após a queda do totalitarismo comunista, vivem-se, novamente, tempos difíceis. Acontece que muitos dos Chefes Políticos actuais, Mr. Trump é um deles, sem nunca terem ouvido um tiro, chegam a insultar quem foi feito prisioneiro em nome da Pátria. Assim se arrasa o conceito de Pátria e elimina a vontade de combater. Uma mão invisível parece orientar estes líderes que, numa penada, lançam sérias dúvidas na cabeça dos cidadãos. Pátria e Estado-Nação, tão incensados quando quem manda precisa apelar ao esforço colectivo, são ridicularizados de seguida quando os lideres apenas querem ganhar dinheiro. Estas contradições podem-nos conduzir a novas formas de escravatura.

No momento da posse do novo Secretário-Geral da ONU, surgiram críticas à Organização por ser demasiado cara para os resultados alcançados. Incrédulo, li comentários de jornalistas, diga-se, com alguma simpatia por Trump, apoiando esta monstruosidade. Cinco anos antes, havíamos visto as mesmas pessoas apoiarem chefes políticos, cujos gastos financeiros colocaram os cidadãos na dependência do FMI e de toda a parafernália financeira. Não se ralaram que, concidadãos seus, ficassem escravos de uma dívida para a qual não haviam contribuído. Num Mundo materialista em que vivemos não há vantagens na honestidade e nos princípios, jornais e jornalistas propagam as mensagens que lhes encomendam. A descrença instala-se na mente dos cidadãos pois sentem que o dinheiro está primeiro que as suas próprias vidas e bem-estar.

Os cidadãos de boa-fé – a maioria de nós – para quem a Paz representa muito, colocam esta interrogação: O objectivo dos Seres Humanos não é viver num Mundo isento de violência? É. Porém, não podemos ser ingénuos, temos de estar atentos face ao enorme risco de num ápice nos transformarem em escravos. A ONU, uma organização com pretensões a Governar o Mundo, pode ser um cavalo de Troia. Enferma dos mesmos defeitos dos Países e Regiões, cujos líderes, em nome do Povo, endividam ao FMI, Banco Mundial etc. A ONU, como os Estados, pode sucumbir, basta que Suas Altezas, os donos do dinheiro, só o libertem quando a totalidade dos caprichos dos poderosos sejam cumpridos. Os líderes dos Povos, – os cinco do Conselho de Segurança e os outros – vendem-nos. Vejam os líderes Angolanos em conúbio perfeito com os seus homólogos Portugueses prejudicando, em benefício próprio, os Zés Ninguém dos dois Países.


A democracia tem a sua base moral na verdade e na tolerância na liberdade e no respeito pela dignidade humana. Temos o dever de lutar contra esta forma de tirania. Paz sim, mas nunca com perda da Liberdade.   

sábado, 14 de janeiro de 2017

INVESTIMENTO PRODUTIVO


É verdade que as melhorias financeiras sentidas pelas pessoas, resultantes das alterações introduzidas pela “geringonça” no sistema financeiro, têm pés de barro. Já todos ouvimos os adversários da “geringonça” alertarem para a falta de investimento. Não dizem, mas subentende-se, investimento produtivo. Aqui começa a confusão.

É como o dono da padaria faz para saber a que preço vende o pão, um bem de primeira necessidade. No passado o governo tabelava os preços mas, reduzida a fiscalização, a padaria baixava o peso, logo, o preço subia. Por um lado, o enganado Zé nem dava conta que o pão subira, por outro, com esta habilidade, o governo viabilizava, economicamente, a padaria. Mas pior que estas “sociedades” do passado, por quotas, digamos assim, são as actuais Sociedades Anónimas Desportivas. Na padaria pagava-se a água e a luz – bens fornecidos por entidades públicas – gastas no fabrico do pão. As Sociedades Anónimas Desportivas, admitindo que pagam água e luz, ainda recebem generosas ajudas para promoção de espectáculos desportivos. Alimentando as emoções das pessoas, dirigentes políticos e desportivos, em entendimento perfeito durante anos, retira(ra)m do Orçamento Regional – cuja receita é os impostos que pagamos – maquias chorudas. Este ano, após redução das verbas gastas nos tempos áureos em que se investia na “bola” para tirar os jovens da droga, balela em que ninguém acreditou, ficaram 4 milhões de euros, para a promoção de espectáculos futebolísticos. Vivendo em conúbio, políticos e dirigentes desportivos, têm discursos complementares. Os dirigentes desportivos, com “o-meu-clube-é-melhor-e-maior-que-o-teu” galvanizam as emoções dos adeptos. Ouvimos há dias o treinador do Vitória de Setúbal dizer que a Câmara ajuda o clube. Aqui, foram três clubes, para que todos os adeptos ficassem contentes. Foram votos e mais votos. Agora, mal habituados, uns dirigentes desportivos não querem reduções de verbas, um deles – CSM – quere-as todas para si. A “briga” é pública e notória.

Pior, muito pior do que aquilo que ficou descrito, são os investimentos inúteis e geradores de mais despesa. Falo-vos concretamente do aterro da avenida do mar. Ao investimento, propagandisticamente, alcunhado de cais oito, rebaptizado por mim em “cazoito”, porque o belo transatlântico, sacador de votos aos eleitores incautos, não atracará ali, juntam-se as despesas necessárias à limpeza dos inertes que o mar depositou, e vai continuar a depositar, naquela foz. Comecei por vos falar de um pecadilho cometido por uma Administração Pública que não estava sujeita a escrutínio popular. Hoje, como acabaram de ver, estamos bem piores. Tudo se faz com dinheiro de fartura para ganhar eleições e depois nós pagamos, dormindo na rua e passando fome. Procurem saber por que razão os adversários da “geringonça” não nos falam disto.  

Situo este texto no 24 de Abril, quando o pão tinha preço tabelado, e a tensão social era forte. Passei, em seguida, à fase em que nunca faltava dinheiro. Ele acabou. Disse-o o ex-Pres. do Governo. Ao Presidente em funções nunca lhe ouvimos, de forma peremptória, tal afirmação, nem anunciar explicitamente, medidas que adaptassem a vida colectiva à nova realidade. Andam muitos milhares de madeirenses zangados e desorientados com tudo isto. A propaganda que, há anos, esconde a realidade aos olhos dos eleitores, continua activa. Mas já é ineficaz


A desagregação social a que se assiste, reclama cautelas. As mesmas causas costumam dar os mesmos efeitos. Foi num ambiente de descrença colectiva que, nos anos 30, na Alemanha, trabalhando no anonimato, Hitler e seus sicários se impuseram ao povo. A leitura de jornais e redes sociais, a quem não quiser enterrar a cabeça na areia, assusta a analogia.    

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

“CAZOITO”


Diz-se que foi a partir da queda da maçã, na cabeça de Newton, que o Homem procurou explicação para o fenómeno. Todos sabiam que os objectos caíam. Porém, só Newton foi curioso. Quis saber porquê. Passámos assim, do conhecimento empírico, ao científico.

O conhecimento empírico é próprio dos cidadãos humildes. Tivemos isso com os “engenheiros de 4ª classe” que, atempadamente, se atreveram a profetizar desgraças na “coisa” que “obraram”, para fotografia e votos, no Lugar de Baixo. O Poder Político e a sua propaganda, se não abrirmos os olhos, fazem-nos destas. Eles não se ensaiam para ridicularizar quem, afrontando-o, nos alerta para o desaire eminente. O Poder, estribado no conhecimento científico, não hesitou em ridicularizar os ignorantes “vilhões” com 4ª classe. A propaganda política criou as condições ideais para a vitória do Poder, pondo as pessoas a votarem contra os seus próprios interesses. Quem falhou? Erraram os Engºs nas contas? Cederam a pressões políticas para “milagrarem”? Como resultado imediato, temos o calote para pagarmos, ficando no ar minudências político-jurídicas que serão desvendadas no dia de São Nunca.

Na sequência da desgraça que foi o 20 Fev. 2010, um grande aterro surgiu no calhau à frente da Avenida. Arrogantes, e certamente convencidos do sucesso anterior, – eles saberão as razões do sucesso – os mesmos intervenientes, GR e Engºs, avançam para o porto Funchal. Verdades próprias de Torquemada – daquelas que lançam na fogueira qualquer José da Silva – foram engendradas pela máquina da propaganda para denegrir cidadãos cujo crime fora afirmar, com base em conhecimento científico, que vinha aí um desastre igual ao do Lugar de Baixo. Desta vez, de forma cientificamente sustentada, profetizou-se o fiasco. A profecia é visível por todos. A excepção, a confirmar a regra,  está com aqueles que recusam aceitar a evidência.  

Tal como em 2004, no Lugar de Baixo com os seus 100 milhões de despesa, são gastos 23 milhões sem que, novamente, a função proposta para o investimento seja atingida. Um “boneco propagandístico” exibiu um barco lindíssimo, acostado ao cais oito. Feita a inauguração tentaram utilizar o espaço na função propagandeada. Deu para o torto. Estando a RAM, a reciclar designações oficiais – CR7 não pode ser, pois isto foi um insucesso – proponho que a esta monstruosidade, em homenagem à pretensão inicial, mas de todo inconseguida, se atribua a designação de “cazoito”. Nos últimos tempos, anda por aí um grande surto de Alzheimer. Gente sem memória é aquilo que mais se encontra, nesta cidade. Porém, convém não exagerar. Aquele barcalhão, ali à mão de semear, por muito Alzheimer potenciado em montanhas de propaganda já não passa na opinião publicada com a facilidade de 2004. Cabe na cabeça de alguém que se esqueça os 23 milhões e o barco, para só se falar da Estética Praça?


O verdadeiro conflito com que aqui nos defrontamos, queiramos ou não, é entre a Liberdade e o Medo. Ela agita-nos, enquanto o medo nos tolhe. Quem ousa afrontar os poderosos tem razões para isso. Os alertas feitos por “Engºs da 4ª classe” ou, pessoas com mais formação, não devem cair em saco roto. A Democracia baseia-se na Verdade, na Tolerância, na Liberdade e no respeito pela Pessoa Humana. Estar atento a tudo isto é tarefa nossa, muito nossa, que não pode ser delegada nos partidos, meras máquinas eleitorais. Terão tido medo os Engºs. que planearam a Marina ou o Porto? Terão sido forçados, os midia, a fazer propaganda enganosa que nos prejudicou com 123 milhões para pagarmos, tal qual os guardas de Treblinka, há 70 anos prejudicaram os Judeus? Não nos deixemos embalar em falsas facilidades retórico-propagandísticas que nos levam a hostilizar quem nos defende das arbitrariedades do Poder.  

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

PAREM A BALCANIZAÇÃO


Sei que, na Madeira, as pessoas gostam muito pouco de se preocupar com as coisas sérias da vida. Andam naquela: para mim política é o trabalho, a outra é dos políticos. Infelizmente, para muitos de nós, é muito mais sério um penalty não marcado do que uma decisão do governo que lhes vai mexer no bolso, ainda que só mais tarde. Preferem ouvir e seguir o populismo e a demagogia, muitas vezes condimentados com espectáculos, – o futebol faz parte dessa parafernália – preparados para lhes sacarem votos. Acordam, normalmente tarde, por não ligarem às campainhas de alarme dos, propagandisticamente, ridicularizados “profetas da desgraça”!

Aprovada a Constituição de 1976, surgiram a Assembleia e o Governo Regionais. No curto período da Presidência do Sr. Engº Jaime Ornelas Camacho não houve tempo para grandes decisões que marcassem o futuro da RAM. Entre 17/3/1978 e 20/4/2015 é que aconteceram boas e más decisões que condicionam, e condicionarão, a vida dos madeirenses durante muitos anos. No discurso de posse, o termo procela, foi usado pelo Dr. Alberto João, para definir a situação com que nos defrontávamos. A 9 de Abril de 2015, em vésperas da posse do actual Governo, escrevi: “Tendo sido utilizada em 1978, no início do ciclo que terminou a palavra procela, falta-me vocábulo para classificar a tempestade medonha que aí vem.”
Vinte e um meses depois, refaço a análise, na certeza de que à tempestade herdada já se juntam os próprios erros deste governo. Comecemos pelo “pecado original”. A posição eleitoral avassaladora do PPD/PSD em 1976, criou disfunções. Insignificantes na altura, hoje prejudiciais à sã vida democrática. Não se marcaram fronteiras entre o partido e o governo. Daí resultou a instrumentalização do governo pelo partido. Os funcionários levam para o trabalho os problemas do partido, e vice-versa. Aprovaram-se mordomias financeiras, com o argumento de que a democracia era cara. Entre várias temos o financiamento público aos partidos regionais, onde se destaca o famoso jackpot. Aquele escândalo foi, finalmente, percebido pela opinião pública o que determinou a sua redução.

A retórica política criada em 1975, com o “cubano” como inimigo externo, deu cobertura ao início da gestão pública regional, estreada com o já mencionado pecado. É dessa altura a dívida, em boa hora contraída, para a construção do aeroporto. Um compromisso financeiro louvável e necessário para o futuro da Madeira. Tudo isto foi negociado no interior do nosso Estado-Nação, onde a pressão do litígio mediático “cubanos”/“povo superior” se fazia sentir. Tomou-se a nuvem por Juno, e passou por algumas cabeças a ideia de que a ficção propagandística tinha pés para andar. O dinheiro da Europa só agravou a situação. Era óbvia a necessidade de, independentemente dos discursos, alguém que nos bastidores tivesse o retrato fiel da realidade. Isso, pelos vistos, não aconteceu nunca. O há muito anunciado desastre financeiro deu-se, com a assinatura do PAEF, – de calças na mão, expressão do próprio Dr. Alberto João – a “rendição” aos “cubanos”. Os “compagnons de route”, rebelaram-se. Os filiados, mudaram a chefia e os órgãos do partido. Os cidadãos, por seu turno, escolheram este governo.

Heranças, como aquela que recebeu o Dr. Miguel Albuquerque, são muito difíceis de gerir. Em minha opinião, logo no discurso de posse, deveria ter imputado à anterior gestão o desvario financeiro e, em simultâneo, anunciar, e praticar, sérias restrições financeiras nos gastos lúdicos e/ou supérfluos. Não o tendo feito, provavelmente terá boas razões para isso, transmite aos cidadãos uma ideia próxima daquela que os mais velhos recordam como “evolução na continuidade” – saída de Salazar e entrada de Marcelo Caetano – de mau augúrio. Marcelo herdou uma situação política complicada, com a ala liberal. Porém, isso era uma brincadeira de meninos, se compararmos com a situação caótica criada no partido pelas intervenções públicas do Dr. Alberto João, agravadas por cobardes anónimos. A instabilidade do partido, rapidamente, passa para toda a Vida Colectiva. Estará alguém, com mentalidade do Maduro, como mão invisível a gerir tudo isto na esperança de que lhe caia o poder nos braços.  

No link abaixo pode ler a reacção do jornalista Luís Filipe Malheiro aos cobardes anónimos.
http://ultraperiferias.blogspot.pt/2016/12/boas-festas-corja-de-fdp-do-costume.html?spref=fb