terça-feira, 27 de dezembro de 2016

PROCURAM-SE ELITES



Nos largos milhares de anos, para não dizer milhões, em que o Homem habita a terra, num século pouco ou nada “acontece”. Porém, se quisermos perceber o nosso dia-a-dia, convém conhecermos aquilo que está para trás. 

No início do séc. XX, a revolta das massas era motivo de preocupação. Hoje, elas continuam a existir. Votam, marcam presença nas manifestações, enfrentam as polícias, mas já não são os seus interesses que as fazem movimentar. As elites instrumentalizam-nas em função das suas estratégias de poder. Reformas impopulares acontecem ao arrepio da opinião pública e a distinção entre direita e esquerda esbate-se. Dois factos, na década de 80, corporizam a mudança: o esmagamento da greve dos mineiros britânicos, por Margaret Thatcher; o aniquilamento da greve dos controladores aéreos americanos, por Ronald Reagan. Adeus luta de classes. Adeus conquistas sociais, reduzidas, ou mesmo abolidas. A queda do comunismo acelerou a “união de facto” entre as elites, oriundas do desmoronamento dos partidos comunistas a Leste, com os liberais de Reagan e Thatcher. 

A Ordem Mundial existente desde 1946, ao sucumbir, não afectou apenas a Europa. Os efeitos chegaram a todo o lado. Os Países do 3º Mundo ligados à URSS, deixaram de receber apoio. Ficaram isolados perante as instituições mundiais com as transferências das suas “elites” para os braços do ex-inimigo. Ficaram na dependência dos tecnocratas do FMI e outros. A propagação do modelo neoliberal no Mundo, tornava cada vez mais evidentes as desigualdades. A capacidade de crescimento da economia chinesa viabilizava esta realidade. Quem havia de dizer que a China, com bandeira vermelha e ideologia comunista, no início do séc. XXI seria a força estabilizadora do capitalismo liberal! A América Latina, feudo do Império Americano, também sofreu consequências. Inicialmente tudo correu bem, as teses tecnocratas vingaram, mas os hábitos destes países, onde tudo é permitido fazer aos que mandam, fizeram-nos voltar à cepa torta, com a fuga de capitais que lançou as populações na miséria. 

Desintegrados, os partidos comunistas, dissidentes da social-democracia e liberais de esquerda também engrossaram as doutrinas neoliberais que se tornaram dominantes, para não dizer únicas. O risco de implosão torna a crise política e cultural inevitável no quadro actual. Os movimentos de contestação do início do séc XX, hoje sem audiência junto das elites políticas viram-se para os nacionalismos exacerbados e intolerância religiosa, criando terreno fértil ao populismo de direita e esquerda. É neste terreno fértil que aparecem os nada recomendáveis Nigel Farage, Boris Johnson, no Reino Unido; Donald Trump nos EUA; Marine Le Pen em França; Geert Wilders na Holanda; Putin na Rússia. 

Foi na Europa que, durante 70 anos, capitalismo e comunismo se digladiaram. Vivemos as sequelas dessa morte e as dores de parto de uma Nova Ordem – seja ela qual for. O empobrecimento que a globalização e o progresso técnico trouxeram são efeitos do neoliberalismo e da cultura em que o dinheiro é rei. O Brexit – gerado na imprudência das elites - alastra para os EUA, com Donald Trump – a quem podemos aplicar o nosso “orgulhosamente sós” do Dr. Salazar – um homem feliz por garantir ao dinheiro a primazia sobre todo o resto. 

Assim sendo, nós Europeus, vemos um projeto que uniu muitas vontades desde 1951 correr o risco de desaparecer, estando de momento nos “cuidados intensivos” sob a vigilância da Líder Alemã, a quem ainda deixam a Leste o herdeiro de Ivan, o Terrível, com que Trump tão bem se entende. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

TIRANIA NÃO, OBRIGADO


Diz-se que o Mundo só avança tendo à frente um capataz. Porém, os critérios pelos quais avaliamos os capatazes são determinados pelos filtros que os mitos instalados em nossa cabeça nos impõem. 
A Libertação do Continente Americano uniu EUA e Cuba entre 1895 e 1898, na luta contra Espanha. Em 1924 o Pres. Gerardo Machado assumiu o poder. Quis uma Constituição à sua medida e, forçando-a, foi reeleito em 1929 e destituído em 1933. A Revolução dos sargentos, em Setembro, apoiada pelos EUA, fez emergir Fulgêncio Baptista, que, saneando oficiais, rapidamente chegou a General. Homem forte do regime, pactuou com vários Presidentes até que, em 1940, fez parte do Governo. Entre 1940/44, enquanto Baptista enriquecia, Cuba apoiou os Aliados e aprovou uma Constituição “progressista”. Em 1944, Baptista, parte para a Florida. Regressa a Cuba em 1948, com o estatuto de Senador e potencial candidato às eleições de 1952. Prevendo a derrota, socorreu-se do golpe militar. A Constituição foi mandada às malvas. Cuba transformou-se no lupanar do vizinho rico, tendo a corrupção e os negócios mafiosos tomado conta da Ilha. Foi ajudado financeira e militarmente pelos EUA e matou milhares de opositores. Hoje, na opinião pública, este é o tirano bom. Havia mais uns quantos iguaizinhos a ele por aquelas paragens nos anos 40/50. Ao ditador bom, Baptista, seguiu-se o mau. Fidel, O Comunista. 
As condições de vida e de trabalho na zona, resumo-as num depoimento elucidativo, mas desfasado 30 anos da queda de Baptista. Um diplomata Português que, a convite de um fazendeiro visitou uma propriedade, na Venezuela dos anos 80, escreveu: “ Aí por volta do meio-dia… depois de estar suficientemente bebido…[o proprietário] resolveu ir buscar uma metralhadora e começou a disparar contra os homens que trabalhavam sobre um calor insuportável. Não queria acreditar no que via e pensei o que seria daquela gente se…um Fidel Venezuelano tomasse o poder”. Vou falar-vos de “escravos” e se o depoimento diz muito sobre as condições propícias para a “doutrinação comunista”, também é o retrato das condições de vida, sob os ditadores amigos do Tio Sam. 
O mito do comunismo serviu às mil maravilhas para fazer acreditar aos “escravos” de Baptista – o ditador bom – que valia a pena sofrer e lutar. Mortes, perseguições e medo foram as armas de Fidel – o ditador mau – rumo aos amanhãs do sol brilhante. A primeira geração, transida de medo, abdicou de ter voz. O Poder punia. A geração seguinte, à conta do Internacionalismo Proletário, combateu em Angola a mando da URSS. Os filhos, embalados no mito propalado por pais e avós, já eram o Homem Novo, eles não conheciam a exploração do homem pelo homem, o mercado nem a Liberdade. Na escola, “eu” não usavam. Diziam “nós”, ou camaradas. Há três gerações neste percurso, a dos sacrifícios, a da utopia e a do desmantelamento. A actual juventude cubana já não acredita no Robin Hood que rouba aos ricos para dar aos pobres. O mito ruiu. Os Cubanos renderam-se ao mercado, ao consumo e ao dinheiro. 
O Internacionalismo Proletário, preocupação do Ocidente em geral e, dos EUA em particular, ao ser aceite por Fidel, acarretou o embargo económico à ilha. Terminava assim uma amizade de anos, com custos para os Cubanos. Findo o comunismo, a reconciliação parecia lógica. Eis que surge o arrogante e ignorante Mr Trump que, rendido às qualidades dos herdeiros do comunismo, junta-se-lhes. Faz o percurso de Fidel, 57 anos depois. Espantemo-nos! Winston Churchill disse: Os americanos estão sempre tentando fazer a coisa certa, após terem tentado todas as outras alternativas.” Esperemos que o Mr Trump seja uma alternativa pois coisa certa não é. A política, assente em valores, que levou Churchill a dizer: “Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Deputados”, hoje não podemos contar com ela. Os dirigentes estão voltados para si próprios e, para os seus interesses pessoais ou de pequeno grupo. Trump e Putin são o exemplo acabado disso. Move-os os negócios e os “mercados”, aos quais tudo sacrificam. O Ser Humano, para eles, nada vale. Preparam-se para instalar uma Tirania onde vigorará o Estado Social à moda comunista. Trabalhem, não reivindiquem, pois, se não o fizerem, serão lançados no desemprego.  
Homens, ricos, pobres, brancos, negros, amarelos ou mesmo roxos – é essa a cor do sofrimento de todos nós, quando a fome e o medo nos tocam – apenas têm, como Dirigente que a todos acolhe, o PAPA FRANCISCO. Os outros, unidos pelo dinheiro, limitam-se a criar mitos na Comunicação Social, de acordo com os seus interesses, para nos fazerem adeptos das suas causas. 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

JUSTIÇA E DIREITO




Justiça é algo que está para além do Direito. Todos nós conhecemos a Justiça do Rei Salomão que, perante a reclamada dupla maternidade de uma criança, não teve dúvidas na sentença. Nesse tempo, El-Rei, emanação de Deus, era todo-poderoso. 

Hoje, a vida colectiva rege-se por outras normas. Os súbditos passaram a cidadãos e têm uns quantos direitos que convém exercerem, sob pena deles estiolarem. A Liberdade sofreu aperfeiçoamentos ao longo do tempo. Ater-me-ei à situação do nosso País na vigência da Constituição de 1976. Aos partidos políticos cabe-lhes implantar um Estado de Direito em que eleitores e eleitos se revejam nele, credibilizando as Instituições que o corporizam e, garantindo condições dignas ao corpo de profissionais, não eleitos, que fazem funcionar a máquina do Estado. 

A Segurança de Pessoas e Bens é uma das principais funções do Estado. É frequente surgirem, na comunicação social, factos que nos deixam sérias dúvidas quanto a isso. Se, por um lado, não quero uma polícia sem lei, também não quero ver condenado um agente da autoridade que, ao perseguir uma viatura em fuga, atirou matando um adolescente que acompanhava o pai em provável latrocínio, por outro lado, não é de bom presságio, termos visto durante dias nas televisões, as populações assustadas com a proximidade do cidadão Pedro Dias para depois, as mesmas televisões, lhe darem uns minutos de fama em que zurziu a GNR. Tribunais e polícias são essenciais na protecção de Pessoas e Bens, pelo que os dois casos nos deixam perplexos. Não sou juiz nem polícia, mas tenho o direito/dever de me preocupar com estas anormalidades que, em nada prestigiam o Estado de Direito. 

Vai sendo tempo de, perante uma notícia, nos interrogarmos sobre ela. Quase todos os dias lêem-se, ou ouvem-se, coisas destas: os tribunais não funcionam, demoram nas investigações e são um entrave à economia. A um ritmo assustador, também surgem notícias de casos de criminalidade complexa que, pelo seu volume, ameaçam os fundamentos do Estado. 

Aqui chega a nossa hora de pensarmos. Pior, muito pior, do que os dois casos de eventual conflito entre Polícias e Tribunal, são outros mais sofisticados, por isso, ainda mais perigosos, a que há anos vimos assistindo, perante o silêncio cúmplice da comunicação social. A situação protagonizada pelos cidadãos licenciados em Direito, exercendo Advocacia e, cumulativamente, a função de deputados é aberrante. Eles não se coíbem de, à porta do Tribunal, captarem a simpatia da opinião pública para os acusados, correligionários de partido, cuja imagem há que salvaguardar. Assim, prestam um péssimo serviço ao Estado. 

Pois, eu sei, estas coisas escapam-nos. Quem devia alertar-nos, os média, vá lá saber-se porquê, preferem mostrar-nos o Pedro Dias a ser preso ou produzir um texto contra o abominável sistema de justiça que não funciona, fazendo coro com o Sr. Advogado/Deputado que à porta do Tribunal dissera o mesmo. É assim que os meios de comunicação agem não indo ao fundo das questões e criando factos que apelam à emoção. 

A mesma escola que formou os Srs. Deputados/Advogados, também formou outros licenciados em Direito que fazem a sua vida profissional, exclusivamente, nos Tribunais, estando proibidos de exercer actividades remuneradas fora deles. Eu, humilde cidadão a quem apenas resta votar, preciso viver num Estado que funcione. Não se escondam os detentores do Poder Legislativo por detrás do Judicial, como parece estar a acontecer. Retirei da entrevista da Srª Drª Manuela Paupério, no Público do dia 3 Dez., isto: “…há processos que enxameiam os tribunais sem necessidade, como as dívidas das portagens e de telemóveis. Por outro, retiraram-se dos tribunais litígios relativos a contratos em que o Estado é parte e em que a arbitragem até está estabelecida como sendo obrigatória.” Lido o excerto, ficamos de cabelos em pé. Acresce que a criminalidade complexa, afogada em dinheiro, alastra pelo País e também nos preocupa a todos. Os investigados nesses processos, dispõem de dinheiro para pagarem principescamente a advogados. Nada a opor. Não podemos é calar-nos perante o comportamento abúlico de deputados e partidos que assistem impávidos e serenos à destruição do Estado, sem qualquer respeito por quem o serve e menos ainda pelos eleitores. 

Consumada a destruição vem a tirania. Temos de estar atentos a esta comunicação social que, não sendo capaz de nos alertar para os verdadeiros problemas, vai fazendo o jogo dos poderosos. Só assim, informados, podemos exigir responsabilidades aos eleitos que, pelos vistos, andam distraídos há anos. 

sábado, 10 de dezembro de 2016

JOÃOZINHO BALANTA E OS SOVOKS




Dia 12 de Dezº de 1967, embarquei no Funchal com destino a Bissau. Outros militares já vinham de Lisboa, fôramos mobilizados em rendição individual. Iríamos cumprir os dois anos de comissão, na BAC 1, uma unidade Guineense, em tudo igual às unidades metropolitanas e, por isso, as praças, eram guineenses. Logo fomos despachados para o interior, o último a partir fui eu, nos primeiros dias de Janeiro. 
Recordo o caso de Joãozinho Balanta que reputo exemplar. 
A incorporação de homens a partir da população nativa respeitava os costumes. A primeira consequência é que a remuneração auferida pela tarefa desempenhada na tropa era um elemento de distinção, pela positiva, na comunidade de origem. Ganhavam a condição de ”abastados”. Andaria pelos seus trinta e poucos anos e a sua filosofia de adesão à tropa, resume-se nisto: Tropa manga (crioulo para muito) de bom. Tropa tem tudo, tem bianda (arroz), doutor, mezinhas (medicamentos) e patacão (dinheiro). Frase textual dele: “tropa” não tem mulher, mas com patacão, Joãozinho, compra bajuda (mulher jovem). Se bem pensou, melhor executou. No fim de Janeiro de 1968, veio a Bissau de férias. Regressou um mês depois acompanhado pela bajuda que o patacão disponível lhe permitiu negociar com os pais. A volumosa bajuda transformou-se numa dor de cabeça para mim. Joãozinho tinha de ir para o seu posto de sentinela, e quando isso acontecia… Lá tive de refazer as coisas e convencer os soldados – alguns deles também com mulheres e filhos - que o Joãozinho, à noite, ficava em casa. 
Dos quatro obuses, dois foram transferidos de quartel. Coube em sorte ao Joãozinho e a mim próprio, sermos transferidos. A distância entre os dois quartéis andaria pelos 9 a 10 Kms. Porém, as minas eram uma arma temível e, para reduzir a hipótese de encontros desagradáveis, saía tropa dos dois quartéis, e a meio caminho, encontravam-se. Fazia-se, tão rapidamente quanto possível, o transbordo das pessoas, seus bens – a minha gente transportava a família as galinhas e todos os outros seus pertences ocupando muito espaço nas viaturas - e ainda os obuses e munições. Já no quartel de destino Joãozinho vem queixar-se do furriel da Cavalaria. O furriel “pegara a bajuda pela “bunda”. Lá argumentei com o risco de demorarmos e o “pessoal bandido” poder aparecer. Logo ouvi: não meu alferes se era preciso empurrá-la pela bunda, o nosso furriel chamava o furriel da Artilharia. Ali tinha eu pela frente um “brioso militar” que não admitia um desvio aos mitos com que lhe tinham enchido a cabeça! Começavam no cartaz da propaganda JUNTOS VENCEREMOS e acabava nos cobres a mais com que ele se exibia na tabanca. O Joãozinho representa o cidadão comum. Aquele que aceita as regras de quem manda e procura adaptar-se da maneira que lhe pareça mais lógica, pois a vida são dois dias. Entre o mato na guerrilha, onde tinha amigos e familiares com vidas difíceis, a opção dele pela “tropa” era inteligente. Garantia tudo, até patacão. 
Vi-o recriado no “Manelhinho Povo Superior” décadas mais tarde. O slogan colonial, JUNTOS VENCEREMOS, apelando à Paz e união foi substituído pela “guerra” e divisão com a criação do mito dos “Cubanos” contra o Povo Superior”. O dinheiro fez a sua aparição e “enricou” as populações rurais nas “obras” retirando-as da “escravatura” e dando-lhes “pugressu”. Foi uma Festa! Porém, o mito sumiu-se. As Obras pararam! 
Finda a guerra os guineenses reconciliaram-se. Pobres, como sempre haviam sido, voltaram às tabancas. A bolanha não fugira, era só voltar a plantar arroz e criar animais para sobreviverem. Ao pobre Manelhinho, as coisas ficaram bem mais difíceis. A água de rega só existe na propaganda! Voltar a produzir é quase impossível. A ficção dos subsídios engana ao criar ilusão de “riqueza” como, na Guiné, o patacão em 1968. Muitos, não voltaram à terra, e escolheram o Hotel Estrela para dormirem ou as Ilhas do Canal e Venezuela para emigrarem. A mentira continua e, há um ano, que a propaganda promete uma lei que nos fará ricos a todos! Aos Manelhinhos ninguém tem coragem de revelar a verdade dizendo: Mentimos. Somos mesmo pobres. 
Porém, há pior. É o caso do homem comum soviético – O SOVOK – que tendo a cabeça cheia de propaganda estalinista não vê nada para além disso. Caiu o comunismo, mas eles queriam o Estaline de volta. Preocupa-me que entre os infelizes Manelinhos apareçam tantos exemplares de SOVOKS, obnubilados admiradores da “obra” em acelerada degradação.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

LORPAS ORÇAMENTAIS

Nos tempos do Estado Novo, pouco dado a gastos, Portugal combateu “comunistas” em Angola, Moçambique e Guiné, durante treze anos. Testemunhei pessoalmente a “forretice” quando após uma situação operacional complicada, em 1968, gastei mais munições do que era suposto gastar. Um helicóptero reabasteceu-nos, mas o remoque - inconsequente é verdade, pois, perceberam o aperto dos fedelhos de 20 anos - também veio. Só com “forretice” desta se conseguiria aquele “verdadeiro milagre”, tão empolado na propaganda, do Portugal pluricontinental e multirracial do Minho a Timor. Seis anos depois, tudo ruiu. O desfecho só causaria espanto a quem nunca por lá andara e vivia na, e da, propaganda anticomunista primária. A esses, como se verá, admiradores confessos da teoria da conspiração, nunca lhes passou pela cabeça saber as circunstâncias da morte dos deputados “comunistas encriptados” – pertenciam à ala liberal do regime - em circunstâncias estranhas a 25/7/1970 na Guiné. 

Em Abril de 1974 a Nação rejubila com o fim da guerra. A intolerância instala-se no País. Superando dificuldades extremas, colocadas pelas várias intolerâncias em confronto, as FA’s, cumpriram, religiosamente, as promessas feitas, garantindo as condições para eleição da Assembleia Constituinte. A Madeira, viu corporizado na lei o reconhecimento à Autonomia. O erro, exclusivamente madeirense, deixem os “cubanos” fora disso, esteve em esquecermos que só há Autonomia se mandarmos no dinheiro. 
Na Madeira, orçamento, no velho conceito de controlo das despesas, com que eu fora confrontado em 1968, foi coisa que caiu em desuso. A última vez que alguém teve a ousadia de questionar um eleito pela despesa pública excessiva que autorizara no concelho, foi o então Min das Finanças Aníbal Cavaco Silva, quando, em S. Vicente, alvitrou a prisão do Pres. da Câmara. Vá lá saber-se porquê, já 1º Min., esquecida aquela afirmação, o mesmo Cavaco Silva, veio inaugurar o BANIF surgido, qual Fénix, das cinzas da Caixa Económica. Responsabilidades do desastre da CEF, custos da criação do Banif e, agora, a sua falência são coisas que a propaganda do poder esquece, como esqueceu no passado o acidente dos deputados na Guiné. Tudo isto tem a mão de uma “máfia no bom sentido” pois a propaganda do poder apenas fala daquilo que lhe interessa ludibriando o Zé Pagode que pagou, vai continuar a pagar, tudo isto. 
Desenganem-se aqueles que pensam que os orçamentos regionais durante 38 anos tiveram alguma aderência à realidade, no que ao controlo da despesa respeita. Nunca foram além de um mero amontoado de números para alimentar discussões esotéricas na ALM, nos jornais e TV. A propaganda, na sequência do anticomunismo primário dos anos 60 do Portugal do Minho a Timor, criou mitos que nos vão sair caros. O primeiro foi o inimigo externo – “os cubanos” – logo seguido de afirmações loucas, estilo Trump, de que a Madeira é uma prostituta fina que Lisboa tem de sustentar. O tempo passou, o proxeneta já não vive dos dotes da jovem por mais cremes antirrugas que ela aplique. 
Com este histórico somos chegados aos orçamentos de 2017 nas versões nacional e regional. Vou primeiro ao orçamento regional. Nele encontramos, na linha de todos os anteriores, a verba de € 6 081 173,00 para várias Festas a que devemos juntar € 3 965 136,13 para o futebol profissional. Foi assim desde 1978, nunca faltou dinheiro para as actividades lúdicas. 
Os orçamentos são, muitas vezes, da responsabilidade de lorpas que imaginam que a propaganda esconde a incompetência. Trágico é que, ao baterem no fundo, levam muita gente atrás. Esse dia chegaria, era questão de tempo. A prova está na retórica à volta da construção do novo hospital onde, por um lado, o governo em funções quer que Lisboa financie na totalidade o hospital e, por outro, o Dr. Alberto joão, especialista em propaganda desde jovem, e ainda inconformado com a sua substituição na liderança do partido, insurge-se contra o OE para 2017 e ao modo com o poder regional reagiu à fronda. 
Vá lá, renovados e não renovados, juntem-se todos, pode ser, novamente, no Trapiche. Deixem-se de inconstitucionalidades e outras barbaridades e reconheçam que, quase todos por acção, alguns, poucos, por omissão, enquanto “compagnons de route” da retórica propagandística do Dr. Alberto João, roubaram o futuro aos madeirenses. Entendam-se e expliquem-se. Aos madeirenses é motivo de preocupação enquadrar o pensamento de alguém que aos 20 anos esqueceu as mortes dos deputados da ala liberal e apresenta, aos 70, discursos próximos de Mr Trump. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

POR QUEM OS SINOS DOBRAM



O Homem é um ser belicoso basta pensarmos nos irmãos Caim e Abel para nos apercebermos desta triste realidade. Há momentos em que se pára para pensar no sofrimento que se autoinflige. Foi por isso que, no fim da 1ª Guerra Mundial, vencedores e vencidos, criaram a Sociedades das Nações. Porém, os bons propósitos não levaram a nada e, em 1945, terminada outra guerra, ainda mais devastadora, o arquétipo da PAZ gerou a ONU. 

O título fui buscá-lo ao livro de Ernst Hemingway, onde ele nos fala da Guerra Civil Espanhola, da sua violência e do sofrimento de homens que apenas queriam viver os seus sonhos. Deixo-vos duas citações do pastor e poeta Inglês John Donne …”a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti”.    "Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade". Não foi apenas na literatura que a Guerra Civil espanhola foi abordada. Pablo Picasso, no seu GUERNICA, também imortalizou o sofrimento humano. Leiam-me como equidistante de falangistas e comunistas, pois apenas estou focado nos Seres Humanos, combatentes ou não. Todos temos direito a sonhar

Um escaldante ambiente político-social, depois da renúncia de Miguel Primo de Rivera, levou Afonso XIII a abdicar face ao resultado das eleições municipais, em Abril de 1931. A questão religiosa agudizava-se com incêndios de igrejas, e o ambiente social deteriorava-se. Nas eleições de 1933, os anarquistas com “a greve do voto” dão a vitória à direita. Os PDT’s (Pensadores Disto Tudo), à direita, conspiravam para tomar o Poder pela força, à esquerda, procuravam capitalizar em votos o descontentamento, resultante da repressão feita nas Astúrias em Outº de 1934. A 16 Fev. 36, a esquerda conquistava o Poder nas urnas. Em Julho um golpe militar provocava a derrocada do Estado. 

As aviações, alemã e italiana, dão a Franco vantagem decisiva na guerra. Ensaiaram-se as técnicas alemãs de Blitzkrieg, para tomar Badajoz, em Agosto de 1936. Os Republicanos, legitimados pelo voto, pediram ajuda às democracias. Léon Blum – socialista Francês e, à época, 1º Min. de um governo de Frente Popular - responde positivamente, mas em breve, pressionado, recua. Assim sendo, a ajuda militar à Rep. Espanhola só chegou em Novº de 1936, através das Brigadas Internacionais o que, foi fundamental para que Madrid não caísse nas mãos de Franco. O Komintern teve um papel importante na mobilização desta gente. Os Republicanos tentam a internacionalização do conflito, apresentando Espanha como vítima de agressão nazi- fascista. Porém, grassava a pusilanimidade nas relações entre os Estados Europeus e na conferência de Munique a 29/9/38, na ânsia de evitarem a guerra, Ingleses e Franceses, aceitaram as exigências Alemães sobre a Checoslováquia, esvaziando assim a argumentação Espanhola. Os defensores da Liberdade – a alternativa aos dois totalitarismos que haviam incendiado Espanha - em Munique, renderam-se a Hitler.

Os PDT’s totalitários que se defrontaram em Espanha, obnubilados pelo Poder e intolerantes, apenas admitiam que se fosse Franquista ou Comunista. Em Fevº de 1939 meio milhão de “espanhóis vermelhos” fogem da perseguição franquista que se arrastaria até 1950. Porém, a sorte esteve com as vítimas da intolerância de nazis e comunistas em Espanha. As Brigadas Internacionais, a encarnação de uma luta romântica e idealista, incorporavam – além dos combatentes puros que permitiram à propaganda de Franco rotulá-los a todos de comunistas - companheiros escritores-combatentes (Hemingway, Malraux, Bernanos etc.) que deixaram relatos lancinantes do sofrimento humano, combatentes ou não. Os idealistas apenas combatentes – também os havia do lado de Franco - foram apanhados pela 2ª guerra que, em nome da Liberdade, eliminaria o nazismo. Churchill não hesitou em dizer, em junho de 1941, após a invasão nazi à Rússia, o seguinte: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns.” Nestes idealistas estávamos todos e cada um de nós. A memória que guardamos deles oscila entre o mito construído pela tradição comunista e o esquecimento das trajectórias individuais.

Comecei por citar um poeta Inglês. Termino com o Portuguesíssimo Rómulo de Carvalho:

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança. 

Aos PDT’s de hoje, pede-se que nos deixem sonhar. Não nos vendam mitos como o dos “mercados” que ninguém explica, mas que nos impõem com forte propaganda e alguma ameaça.

sábado, 19 de novembro de 2016

RISCOS INCOMENSURÁVEIS


Ao falarmos de Revolução, pensamos de imediato em França e Rússia. Mas dia de 8 Nov. p.p., ocorreu a mais recente revolução, com fortes implicações Planetárias, baseada na vontade soberana do cidadão eleitor Americano. Como em todas as revoluções, conhecemos a sua génese, mas desconhecemos os resultados. Donald Trump é um personagem que não exibe atributos que o indigitem para o exercício do cargo de Pres. dos EUA. Ele é ignorante, um demagogo populista a quem tudo se desculpou, desde fugir aos impostos até insultar as mulheres. Apesar de tudo isto, Trump ganhou as eleições.
Nas democracias ocidentais, os eleitores tendem a estabilizar os votos nas diversas organizações partidárias. São depois as pequenas oscilações dos grupos de cidadãos não fidelizados aos partidos, desiludidos com os partidos e os abstencionistas que determinam os vencedores.
Às vezes, somos levados a imaginar que, nos EUA, a população branca – White Anglo Saxonic  People (WASP)  – está situada da classe média para o topo, mas a realidade é bem mais intrincada. Trump beneficiou desta realidade social na sua campanha. O grupo WASP representa 61% da população, os negros 12% e, os hispânicos 18%. Faltam os afro-americanos e os ameríndios. A maior % de pobreza está localizada entre os hispânicos e afro-americanos. Porém, os 61% de WASP na população americana, faz com que 41% dos pobres sejam brancos. Esta é uma “nova minoria”, a juntar às minorias étnicas. Ela, a partir dos anos 80 do séc XX, entrou em contra-mão com as tendências do mundo desenvolvido. O abuso de álcool, drogas e suicídios são sinais depressivos e de enorme frustração desta minoria. A situação com os hispânicos é diferente. Trabalham em sectores não exportáveis – limpeza, segurança, transportes, serviços domésticos – estão protegidos da concorrência externa. Eles, embora imigrantes, temem, isso sim, a chegada de outros que venham disputar-lhes os postos de trabalho. Obra comum de Republicanos e Democratas, a deslocalização das indústrias para o exterior levou a este barril de pólvora nos EUA que, por enquanto, deu apenas esta “revolução nas urnas”.
Ao contrário daquilo que muitos de nós pensamos, nos seus milhões de anos no Planeta, o Homem foi sempre belicoso. O séc XVII, na Europa é exemplo disso. A intolerância religiosa servia às mil maravilhas para alimentar os egos bélicos dos Primos e Primas Aristocratas. Os refugiados, gerados neste cadinho político-social, encontram o fim do pesadelo no território da América do Norte. Os brancos anglo-saxónicos, mercê destas circunstâncias, tornam-se o grupo étnico maioritário, liderando um espaço de tolerância e Liberdade. As pelejas Europeias repercutiram-se naquele vasto território durante um séc. A 4 de Julho 1776, os EUA ganham a Independência. Oitenta e cinco anos depois o fim da escravatura lança os EUA na guerra civil entre Confederados – esclavagistas - e Unionistas – Estados do Norte. Nas eleições Presidenciais de 1860, o Republicano Abraham Lincoln opôs-se ao alargamento da escravatura e, na transição, o Democrata James Buchanan, corrobora a ilegalidade da secessão. Quatro anos e mais de 600.000 mortos depois, acabava a Guerra Civil Americana, nascia o Império Americano.
Republicanos e Democratas, na esteira de Lincoln e Buchanan, impuseram as regras imperiais, do México à Patagónia. Umas vezes pela diplomacia, outras pela força. A Europa no séc. XX, envolveu-se em dois conflitos com repercussões Mundiais. As FA’s Americanas intervieram com elevados custos financeiros e Humanos. Se em 1865 a dinamite fora a surpresa do progresso científico para fins bélicos, em 1946 tínhamos a bomba atómica. Falei já dos custos, mas também houve o benefício de, Democratas e Republicanos, alcandorarem o Império Americano a um estatuto idêntico ao do Império Romano de há 2.000 anos. O mediterrâneo é, agora, o Mundo, onde os “bárbaros” ameaçam as “fronteiras de Washington”.
Podem os EUA demitirem-se da confiança em que se viram investidos em 1946? O grande progresso da ciência não ocorreu só nas armas. A componente não bélica aproveitada pelo Mundo dos negócios - Bussiness as Usual – causou distúrbios Planetários. O isolacionismo populista e demagógico gerado pela eleição de Trump deita por terra tudo quanto se conseguiu negociar com os EUA sobre alterações climáticas e, provavelmente, sobre o controlo das armas atómicas. São, ou não, incomensuráveis estes riscos para os Seres Humanos? Em minha opinião são.
A Humanidade está inquieta, pois fica-lhe a sensação de que o futuro se resumirá à destruição da Vida na Terra ou, em alternativa, uma nova forma de escravatura, ao gosto de Republicanos e Democratas, em benefício dos omnipresentes “mercados”.      
       


domingo, 13 de novembro de 2016

                      TEREMOS ELITES?


Excertos do texto de Carlos Peixoto 10/01/2013. “ Um Portugal de cabelos brancos.

Os portugueses estão a desaparecer. O envelhecimento da população é uma evidência incontornável. Portugal é o País da União Europeia que mais sofre com esta tragédia social. […] 
A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha. O último ano em que houve substituição de gerações foi em 1982. […] Assustador porque o envelhecimento dos portugueses e o incremento do seu índice de dependência provocam um aumento penoso dos encargos sociais com reformas, pensões e assistência médica. Assustador porque se torna quase impossível que esses encargos sejam suportados pelo cada vez menor número de contribuintes activos. Assustador porque já temos enormíssimas dificuldades em manter a sustentabilidade do sistema de segurança social, do Serviço Nacional de Saúde ou a educação tendencialmente gratuita, de defesa e de segurança interna. 

[…] Em anos de fogosidade e crescimento, o défice da Segurança Social não parou de aumentar, tornando-se já insustentável, porque as contribuições não chegam para pagar as pensões. […] Mas como a guerra contra o envelhecimento é assunto pouco dado a protocolos e como os problemas estão todos ligados, o governo está também a pensar uma reforma do Estado que já há muito se impunha. […] Ao maior partido da oposição, como alternativa tendencial de poder, não basta manifestar uma qualquer birra por não ter sido chamado à discussão sobre a reforma das funções do Estado antes de outros. […] O PS dever ter iniciativa e dizer agora o que não disse nos últimos anos. Deve explicar, como explicará o governo, qual o Estado que quer e pode manter para as gerações seguintes. Os portugueses não podem esperar que a oposição finja que está tudo bem, que proclame que a peçonha vem da troica e que o que está em jogo não teve importância ou se resolve com mezinhas ou com tacticismo político-partidários. […] 
O país não aprecia que quem teve e pode vir a ter responsabilidades governativas se deleite ou se regale com a deterioração geracional de Portugal. 
Precisamos, todos, de mudar a nossa mentalidade, de renovar, de apostar no incremento da natalidade. Se assim não for, envelhecemos e apodrecemos com o país” Advogado e deputado do PSD


Lido isto, pensei: cantas bem mas não me encantas. Já lá vão dois anos e a Reforma do Estado ficou-se pelo brutal aumento de impostos. 


Excertos do texto de António Figueiredo e Silva 28/04/2013 A PESTE GRISALHA


Eu sou um trazedor da peste grisalha cuja endemia o seu partido se tem empenhado em expurgar, através do Ministério da Saúde e outros valorosos meios […] 
A dimensão do nome que o titula […] deve ser inversamente proporcional à inteligência que o faz blaterar […] Sr. Carlos Peixoto quando defecar que “ a nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha” se esqueceu do papel higiénico para limpar o estoma e de dois dedos de testa para aferir a sua inteligência. […] Ainda estou para saber como é que um homolitus de tão refinado calibre conseguiu entrar no círculo governativo. Os intelectuais que o escolheram deviam andar atrapalhados no meio do deserto onde o sol torra, a sede aperta a miragem engana e até um dromedário parece gente […] Sabe sr. Carlos Peixoto, quando uma pessoa que se preza está em posição cimeira, deve pensar, medir e pesar muito bem a massa específica das “sentenças”, ou dos grunhidos, […]que vai bolsar cá para fora. É que, milhares de pessoas de apurados sentidos não apreciam o cheiro pestilento do vomitado, como o sr. também sente um asco sem sentido e doentio, à peste grisalha. […] 
Pela parte que me toca, essa maleita não o deve molestar, porque já sou portador de uma tonsura bastante avantajada, […] para que o sr não venha a sofrer dessa moléstia, é meu desejo que não chegue a ser contaminado pelo vírus da peste grisalha e vá andando antes de atingir esse limite e ficar sujeito a ouvir bacoradas […] creio que o partido de que faz parte, o PSD, irá por certo sofrer graves consequências decorrentes da peste grisalha na época da colheita eleitoral. 
Pode contar comigo para a poda. Atentamente. 


Um mês depois, lida a Carta Aberta pensei: Cá estamos perante uma versão futebolística da política onde as máquinas da propaganda tentam condicionar os árbitros. 

Teremos, elites? É uma dúvida legítima na cabeça de cada um de nós, perante as infrenes doses de propaganda com que as máquinas partidárias nos assolam. Não se resignem, naquela proverbial solução: eles é que mandam. Nós também lavramos “sentenças” e delas pode sempre resultar a escolha de um membro de Elite ou de um Demagogo. A escolha implica analisar, objectivamente, os factos esquecendo a propaganda. Os tempos estão propícios para a proliferação de Trumps se nos deixarmos enlear nas teias da propaganda.    

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

                                         QUATRO ANOS PASSARAM


As pessoas gostam de propaganda e abominam pensar sobre coisas sérias que são escritas. Sou um Cidadão Português, cumpri a minha parte naquilo que respeita a Servir o Bem Comum, estive três anos no Serviço Militar Obrigatório e, quatro como militante activo do PPD/PSD. Nunca me pronunciei, publicamente, sobre a RAM de 1980 a 96. A partir daí, atrevi-me a desafinar a orquestra da propaganda que em uníssono nos enchia os ouvidos com: “DEUS no Céu, EU aqui”. Não escapei aos insultos de gente, “corajosa”, mas sem nome, nos comentários on line naquilo que eu escrevia no DN. Num órgão de propaganda, propriedade de uma Sociedade por Quotas, aí com nome, os insultos choveram. Há muito que eu “adivinhava” a tragédia que desabou sobre a Madeira em 2012. Dizê-lo desafinava da orquestra da propaganda. 

O Alemão – KLAUSS FRIEDRICH – na coluna do cidadão, na edição de 13/02/2012 teceu rasgados elogios à gestão financeira, ao tempo, seguida na Madeira. Tentei, a 13/03/2012, recorrendo ao sarcasmo, alertar os meus concidadãos para aquela publicidade enganosa. Leia aqui: http://edicao.dnoticias.pt/hemeroteca?page=80. A 19/05/2012 a revista do Expresso, escrevia: Uma ilha à beira do naufrágio. Em 18/09/2012, com o sarcasmo inicial, dei por encerrado o episódio Klauss Friedrich. Leiam: http://edicao.dnoticias.pt/hemeroteca?page=71. Entre 2012 e 2015 houve muita turbulência no partido e na RAM. Este link http://www.fenixdoatlantico.blogspot.pt/2015/11/opiniao.html, contém “O Fascismo e o Cais Novo”, da autoria do ex-Presidente do Governo falando, da velocidade da moeda e do emprego que criou. Nele lastima que não se reconheçam os méritos para o aumento da capacidade de acostagem, resultante das obras no aterro. Tem algo de Calimero, é lamuriento o texto. 

As duas últimas participações públicas do Dr. Alberto João – Jornada intergeracional social-democrata, no Trapiche e, a sessão na CM do Porto Santo – carecem de contraditório. Esquecido o tom lamuriento de 2015, comparecendo num acto público ao lado do seu sucessor, o Dr. Alberto João transmitiu, aos filiados e à população em geral, uma sensação de Paz. Há, por não ter sido exaustivo, alguns sinais de alerta. Para ele que significa mais Autonomia? Avaliando pelo que, no passado, lhe vimos e ouvimos seria, neste momento em que aprovaram um hospital para Sintra, recusando o do Funchal, a hora exacta de recorrer aos tempos dos insultos na Central de Propaganda, sediada na tal sociedade por quotas? Quanto à dívida histórica estamos conversados. Só ele, o mestre da demagogia, e o seu homónimo Vieira acreditam naquilo. 

A sessão no Porto Santo foi um hino, à irresponsabilidade. Mesmo antes do Newton ter feito as contas dele, no séc XVIII, já o Homem sabia que os objectos “caem p‘ra baixo”. Não caberá nas funções dos eleitos a preocupação com a segurança das populações? Onde reside então a injustiça de chamarem a contas o Pres. da Câmara? O melhor veio depois, quando narrou o episódio de 1978 assim: “Está a ver estes 10 cm que reservou para a agricultura? Aqui ficam os hotéis. A agricultura? Fica para o interior da ilha”. A “borla marítima” ganhava estatuto e prometia muito dinheiro aos contemplados. Privatizou-se os resultados, tornaram-se públicos os prejuízos. Do pouco que produzia a ilha, os pobres agricultores, retiravam parte do seu sustento. Hoje têm trabalho nos hotéis no Verão e assistem à propaganda de aviões que vão garantir 100% no Inverno. Ir à praia, esqueçam, ela pertence aos privados contemplados com a ”BORLA MARÍTIMA”. 

Sou do tempo em que o partido era comparado a um exército, um por todos e todos por um. Comprovados os erros da propaganda e das decisões erradas, tomadas nos seus 37 anos de governo, que geraram, como eu previ, o Tsunami de 2012. Hoje, só um cego não vê gente a dormir pelas ruas e ninguém também ignora o desemprego e a emigração como fuga ao desastre. Foi bonito de ver o ex- Pres e o actual - herdeiro do descalabro - juntos no Trapiche. Os factos provam que as premissas e mitos em que se fundamentou o Dr. Alberto João deram errado. Contrariando a prática de anos está na hora de abandonar o papel de menino que tendo dado um pontapé na bola, partiu o vidro, mas garante que não foi ele. Tudo aquilo foi obra de um extraterrestre para o comprometer. 

Juntem os trapinhos, para o bem do partido e da Madeira, mas não contem comigo para estar calado, quando a propaganda demagógica aparecer seja onde for e que eu me aperceba. Não vale a pena insultarem-me, pois está provado que não deu nada no período de 1996 a 2012.

domingo, 30 de outubro de 2016



DEMOCRACIA E DEMAGOGIA


A soberania do Povo, a menos má das formas de governação conhecidas, por vezes, é atacada por um vírus terrível que pode levá-la à morte. A governação dos Povos acarreta alguma demagogia e ela é desculpável enquanto não ganha dimensão patológica. Quando, aparece alguém possuidor de um discurso fácil e emotivo que arrebata multidões, ameaçando as regras da governação, incutindo a ideia de que resolve os medos vividos pelo homem comum no seu quotidiano, temos um demagogo perigoso nessa sociedade. Aí chegados, acautelemo-nos. 
Há circunstâncias históricas propícias a estas ocorrências. O Mundo, neste momento, reedita os anos trinta do séc. XX. Na actual campanha eleitoral para a Presidência dos USA, na sua linguagem de lupanar, o demagogo Trump já fez estragos no seu País, com sequelas no Mundo, que chegam e sobram. Trump assume, para pior, na linguagem e na mensagem, aquilo que de mau fez o Padre Couglin, a partir de 1926. Era a moda, na época, o recurso à rádio para propagar as ideias. Exímio orador, esse Católico Irlandês, e em tempos de primazia dos brancos anglo-saxónicos, esqueceu o melting pot americano que incluía, desde a Revolução, tensões várias onde se destacava o Ku Klux Klan e o seu terror. Apoiou, inicialmente, o New Deal. Instalada a tempestade perfeita nos USA e no Mundo, o anti-comunista Couglin, que usara a rádio para a mensagem Religiosa, entrou no anti-semitismo e pregava que os operários deveriam, em nome Deus, combater a ganância dos banqueiros. Anos, muitos milhões de mortos e destruição, depois, construiu-se, em 1946, a Paz dos Vencedores, como já acontecera em 1919. 
Hoje as condicionantes político-financeiras recriam a Grande Depressão. Trump, na peugada de Couglin, que usara a rádio, recorre, despudoradamente, à TV e às mais sofisticadas técnicas de propaganda para entrar no coração dos eleitores. Dizendo aquilo que agrada aos brancos anglo-saxões desempregados, esquece que os muros que quer construir para “afugentar” os “ladrões de empregos”, vindos do exterior, vão acordar fantasmas adormecidos desde há muito, gerando conflitos graves no País e na vizinhança. Convinha não esquecer que do México à Patagónia, desde o tempo do Presidente Monroe, vigorou o quero posso e mando dos USA, mas a estas mentes, cuja ambição é o poder, a destruição e o sofrimento nada lhes diz. O seu émulo é Putin, um aventureiro surgido da implosão do regime soviético que, não hesita em eliminar as pessoas de quem não gosta à boa maneira do KGB donde veio. Putin foi trazido à colação, durante a campanha para ajudar Trump a denegrir a adversária, pouco se importando este com os interesses do Estado. 
A Paz de 1946, ressalvando uns casos localizados, pode dizer-se que durou 43 anos. Em 1989 tudo mudou. As pessoas motivam-se e lutam por aquilo em que acreditam. Pode ser uma simples rixa por causa da equipa de futebol e, subindo na hierarquia, chegaremos até ao combate ao totalitarismo. A Liberdade, imortalizada no nosso hino da Maria Fonte, – lá ia a intrépida Lutadora de pistola à cinta a tocar a reunir – merece que lutemos por ela contra todos os Trumps e Putins deste Mundo. O Pe. Couglin tinha sobre Trump uma importante vantagem. Era um homem culto, cujo erro terá sido invocar o nome de Deus para atirar os Homens uns contra os outros. Banqueiros contra desempregados, Católicos contra Judeus e comunistas contra não comunistas. Admitia Couglin que o mal estava com os banqueiros. Dizia ele: “não deixem o trabalho ser capaz de dizer que ele é levado para as fileiras do socialismo pela ganância desmedida…” Hoje sabemos que não é rigorosamente assim, entre os totalitarismos de Hitler e Estaline há muitas outras alternativas. Aos demagogos também se lhes conhecem boas ideias. 
Infelizmente, como no tempo de Hoover e Roosevelt, uma grave crise abateu- sobre todo o sistema financeiro. É o tempo ideal para surgirem os Trumps. Hoje, a Mensagem Cristã doutrora, deve ser analisada nas suas duas componentes. Na vertente Religiosa, foi assumida pelo próprio Papa Francisco que coloca o Homem no Centro do furacão, que ganha cada vez mais força e, começa a desabar sobre as nossas cabeças pedindo, aos dirigentes que decidem a Guerra e a Paz, que pensem em quem sofre. A outra componente, totalmente terrena, tem que ver com a “ganância dos banqueiros”. A luta, comunismo anti-comunismo, em breve, estará circunscrita à luta entre “ganância” e “trabalho”. As nuvens que pairam no ar são negras. Oxalá ainda estejamos a tempo, ao contrário de 1939, de evitar o pior, com mais uma devastação de consequências imprevisíveis. Curiosamente, esta disputa entre a “ganância” e os interesses dos Homens humildes tem dois Portugueses em posições de destaque. À “ganância” de Durão Barroso opõe-se o Humanismo de António Guterres. 
Todos aplaudiríamos a vitória de Guterres, mas, confesso-vos, não estou nada optimista.           

domingo, 23 de outubro de 2016

OITENTA ANOS SÃO PASSADOS




Na primeira página da edição do dia 22 de Out., do DN local, lê-se: “Prédio da ILMA “reverte” para os trabalhadores”. O fecho daquela unidade foi a sentença de morte num projecto para a Madeira. 

Dia 20, 5ª feira, perfizeram-se oitenta anos sobre a passagem do navio Luanda pelo Funchal para embarcar, na sequência da revolta do leite, 52 presos da PVDE (antecessora da PIDE), com destino a Cabo Verde. Colhiam-se as tempestades dos ventos semeados durante o tempo de Liberdade vivido entre 1910 e 1926. As elites de então, digladiando-se em retóricas parlamentares, deixaram degenerar a vida colectiva. Teixeira Gomes, em 1925, num jantar em Belém, falando para políticos e militares avisava: «enquanto certos políticos da nossa terra teimarem em pensar com o estomago e digerirem com os miolos, isto não tem concerto possível. E o pior é que já é muito tarde para tê-lo, porque quer os senhores queiram, quer não isto (acentuou, voltando-se à direita para o General Carmona e tocando-lhe nos galões) vai-lhes  directamente parar às mãos». Ele anunciava a Ditadura que surgiria meses depois. Num País instabilizado e inserido num Mundo conturbado, a vida colectiva deteriorara-se e urgia disciplinar o País. As liberdades foram cerceadas, mas os projectos em nome dos quais se haviam sacrificado as populações, resistiriam no tempo. 

A Madeira, na década de 30, conheceu três revoluções. Em 1939 surge o pesadelo da 2ª guerra, tornando ainda mais difíceis as condições de vida das populações. O Governador Civil de então dizia: “a fome é sempre má conselheira e uma ameaça à ordem pública”. Fiel às suas palavras, fez distribuir, gratuitamente, milho a desempregados. A ordem pública de então, hoje disciplina cívica, deve preocupar quem manda. O Turismo foi altamente penalizado, até pela redução dos barcos que nos visitavam. Só melhorou quando se ocuparam hotéis e outras residências com pessoas evacuadas de prováveis zonas de conflito, como Gibraltar. Predominava no grupo a juventude feminina - as “gibraltinas” - que revolucionaram os costumes da Madeira! O dinheiro derramado por estas pessoas teve um efeito positivo numa economia onde ele escasseava. A Madeira, ao contrário do Continente, não beneficiou do dinheiro da venda de volfrâmio aos Países beligerantes! 

Finda a 2ª guerra, o Estado Novo, durante 29 anos, (treze dos quais em guerra em três frentes africanas, não discuto se bem ou mal. Tenho opinião sobre isso, mas não vem ao caso agora) prosseguiu aquilo a que ele chamava a “valorização dos recursos locais”. O dinheiro - esse malvado – era escasso e criteriosamente repartido. Lembro-me que, na Guiné, “apertadinhos” com a girandola que vinda da mata nos caía em cima, gastámos mais granadas de obus do que aquelas que a parcimónia mandava. Não escapei ao reparo da hierarquia, ainda que muito leve. Obedecendo a estas regras, com sérias limitações de dinheiro, valorizavam os recursos dentro de um Plano, com Objectivos claramente expostos. Queriam turismo de qualidade. Cumpriram. Por isso deixaram o Madeira Palácio, o Sheraton, e a Matur. Seguiram, com algum atraso, as obras da captação de água para o regadio e abastecimento público. A pequena indústria agro-alimentar, que tanto fizera sofrer os madeirenses, também foi contemplada com legislação que a adaptaria às novas realidades. 

Com a implantação da Constituição de 1976, a Madeira ganhou a capacidade de gerir os seus recursos. A escassez de dinheiro acabou. Recorrendo, de início, à chantagem, juntando-se-lhe depois as ajudas Europeias e o crédito bancário, a abundância de dinheiro foi uma realidade até ao estoiro final. A conciliação do turismo de qualidade – herança do passado – com a produção agrícola criadora de riqueza implicava cautela, pois, vendendo o turismo paisagem, ela devia ser uma prioridade. Embriagados pelo dinheiro abundante, ganhar eleições foi objectivo único. A Europa afogou-nos em dinheiro! Faltou-nos “prudência e tino”, a Suíça é montanhosa e tem vacas, bem ao contrário daquilo que afirmava a propaganda – o acidentado da ilha impossibilitaria a criação de gado – na qual se escondeu um enorme falta de vontade política para agir. A água escassa, passou a ter como prioridade o turismo e a propaganda tudo isto escond(eu)ia. A subsistência das populações rurais ainda não está em perigo, mas o abandono a que votaram a formação dos preços dos bens agrícolas regionais reflecte-se num Mercado dos Lavradores vazio, acelerando a diabolização da produção regional. 

Qual o projecto de futuro que têm as nossas elites, apenas subordinadas à retórica “eleiçoeira” da 1ª República? Ao cair, o Estado Novo, deixou futuro. Face a esta realidade apetece reproduzir de Teixeira Gomes: «enquanto certos políticos da nossa terra teimarem em pensar com o estomago e digerirem com os miolos, isto não tem concerto possível.» Será o fim da Autonomia.

domingo, 16 de outubro de 2016

FLAGRANTES DA VIDA REAL





Passando os olhos na edição de 12 de Outº do DN local, lemos: fraude ensombra saúde; suicídio preocupa PSP, 40 polícias e familiares a serem seguidos; ladrões limpam €100.000; roubado por arrumador de carros. Infelizmente, notícias destas são frequentes no nosso quotidiano e envolvem desobediência, até agressões a polícias. A história das cartas de condução e os mortos em Aguiar da Beira são os mais recentes sinais de perigo do vulcão cívico, ainda adormecido, e que, ameaçando o País, ninguém quer identificar. A isto podemos juntar o “flamejante Agosto” a que só os Açores escaparam. Porém, a cereja no topo do bolo, há anos alvo de toda a atenção dos jornais e TV’s, com consequências arrasadoras nos nossos bolsos, são os escândalos financeiros, envolvendo figuras públicas da política e da finança


Todos estes factos entram-nos em casa de um modo fugaz, não deixando tempo para pensar, menos ainda para relacioná-los. As máquinas de propaganda fazem o resto. Jornais, jornalistas e comentadores – alguns muito pouco isentos – aproveitam e, esquecendo umas notícias e empolando outras, criam a sua verdade sobre os acontecimentos, procurando mobilizar os cidadãos para o voto num ou noutro sentido, sem minimamente irem ao cerne das questões. Entristece-me ver que aqueles que, em função dos sintomas, deviam alertar para a patologia que está a instalar-se na sociedade portuguesa, não o façam. Há um “vírus” comum que liga as ocorrências narradas. Falo da incapacidade de quem manda para impor a sua Autoridade que, num Estado Democrático, tem de ser a LEI. 


A Segurança dos Cidadãos é uma das principais razões para a criação do Estado. Cabe-lhe assegurar – é legítimo o uso da força dentro das regras legais contra os atentados a Cidadãos e seus bens – que na cabeça de nenhum Português paire qualquer dúvida quanto a isto. Podem chamar-me ave agoirenta, profeta da desgraça ou outra qualquer adjectivação. Podem tapar o sol com a peneira, enganando alguns durante muito tempo, mas não podem enganar-nos o tempo todo. Os cidadãos têm de ser confrontados com as suas responsabilidades. À arma do voto cabe-lhe essa função. A propaganda com que lhe enchem a cabeça esconde-lhes este alvo, apesar de ele ser o mais importante do Estado de Direito. Aqui reside a diferença para o Estado caído em 1974. Não sentíamos então a insegurança que hoje nos atinge. O mal não está na Liberdade. A pusilanimidade dos eleitos é que nos trouxe a isto. Eles próprios se escondem nos interstícios da Lei e, nada fazem para mudá-la. Quem nunca deu conta de eleitos escondendo-se atrás dos Tribunais, ajudando-nos a confirmar que eles não funcionam? Eles, os eleitos, têm a faca e o queijo na mão! Para quando a alteração deste estado de coisas. 


Analisemos o caso daquele militar da GNR que perseguindo um carro suspeito que desobedeceu à ordem de parar, ele disparou e (bala fora da arma é como pedra fora da mão) matou uma criança “escondida” que acompanhava o pai num assalto. O militar há muito está suspenso com o vencimento reduzido e obrigado a pagar uma choruda indemnização. A isto junta-se-lhe o caso de Aguiar da Beira. Os elementos daquela Força Militar, face a estes e outros casos semelhantes, sentir-se-ão motivados para cumprir a missão que lhe cabe na defesa de pessoas e bens? Os agentes da PSP, agredidos nas festas de verão, aqui na Madeira, como se sentirão? Não admira que, estes homens, cuja missão é garantir-nos a segurança, careçam de apoio psiquiátrico. Eles têm direito a serem respeitados por nós e por aqueles que elegemos. Estas questões não podem passar-nos ao largo, pois, bem vistas as coisas, delas depende a sã convivência entre todos nós. 


Os partidos, os eleitos, os candidatos a eleições, os jornais e jornalistas interessados numa vivência em Liberdade não podem continuar a entreter-nos com falsas questões que apenas usam o marketing para levarem os eleitores a “comprarem-lhes o produto”. Os cidadãos estão desiludidos e no crescendo que as coisas levam, convém olhar para História dos anos 20/30 do séc passado, e recordar António Granjo e Sidónio Pais, entre outras calamidades no domínio do social. Já ninguém suporta o controlo da opinião pública pelas centrais de propaganda, quando cada vez mais nos sentimos angustiados pela insegurança reinante. 


Digam-nos como pretendem resolver este cadente problema, pois podemos suspeitar de que haja por aí alguém “escondidinho”, a apostar no quanto pior melhor. Os “salvadores da pátria” apostam nestas águas turvas.    

sábado, 8 de outubro de 2016

VEM AÍ A BÓSNIA?
         


A parasitagem da nossa vida colectiva por: galopins – executores de estratégias alheias; caciques – angariadores de votos; influentes – negociadores dos votos conseguidos na base já foi por mim analisada. Três factos fizeram-me regressar ao tema. As consequências provocadas na vida colectiva pelo novo modo de lidar com os parasitas no pós-Abril; o aviso do Sr. PR a 5 de Outubro, “A razão de ser da desconfiança e da descrença das pessoas relativamente aos políticos tem a ver com o cansaço perante casos a mais de princípios vividos a menos”; as manifestações públicas de galopins, caciques e influentes visando as eleições autárquicas.
        

Temos profissões mal-amadas. Militares, Polícias e Bombeiros são três exemplos disso. Civicamente mal formados, muitos de nós dizem: para quê tantos generais; os polícias só servem para passar multas; os bombeiros só querem vinho e criar barriga. O mito da Pátria e a Defesa da Nação suplantavam a falta de civismo. O controlo da parasitose era feito subtilmente e o incentivo ao profissionalismo deixado à escolha do cidadão. Os salários na função pública, com algumas beneses, eram mais baixos que no privado. A hierarquia era muito bem vincada a começar pelo fim dos pareceres para as chefias que terminavam assim: “A Bem da Nação, V. Exª superiormente decidirá”. O sistema não sendo perfeito, permitia distinguir entre responsabilidade profissional e política. Um exemplo ajuda. Imagine-se que o influente A quer construir uma estrada para valorizar um terreno do cacique X. Até 1974, as coisas faziam-se à sorrelfa, sem expor os profissionais a um escrutínio público, onde responsabilidade profissional e politica se confundissem. Os funcionários eram respeitados. Quem optava por profissões, civicamente mal-amadas, o Poder impunha-se, fazendo-as respeitar. A partir de Abril, mais grave que os propagandeados saneamentos políticos, foram os saneamentos profissionais.


Galopins e caciques voltaram a legitimar o poder pelo voto. Profissionais capazes vão sendo progressivamente afastados. Travavam o progresso, dizia-se, e a imediata invocação da pletórica e demagógica liberdade nem deixava pestanejar os ingénuos cidadãos. O Poder confunde-se com os partidos. O caso acima narrado, em Liberdade, teria agora esta solução: o influente eleito com os votos angariados pelos caciques e galopins, em grandes parangonas na TV e Jornais, anuncia ao Mundo: a Lombada dos Inteligentes vai ter uma estrada. Livre-se algum profissional de colocar qualquer questão que trave a estrada! Como mais vale prevenir que remediar, o melhor é colocar no cargo alguém que, rifando a profissão, dê parecer favorável. Não nos podemos admirar quando o político diz: baseie-me num parecer, ao que o técnico responde: trabalhei sobre aquilo que me pediram. Adeus brio profissional! Não me parece que nenhum Tribunal seja capaz de deslindar isto. Aqui na RAM todos conhecem casos destes que vão do mar à serra, um fartote Graças a Deus!    


A opinião pública começa a dar conta, nos anos 90, da infestação de galopins e caciques, oriundos das jotas, no aparelho do Estado. O mérito, que se reconhecia aos Servidores do Estado, hoje quedam-se pelo medo de perder o emprego se ousar dizer NÃO a um destes “vigilantes”. Quarenta anos depois, mercê da acção desta gente, o Estado desmorona-se. Transformaram-no num centro de negócios que é coutada dos influentes. Sintomáticos os avisos do Prof. Marcelo, cito um no início do texto. Os interesses colectivos, com destaque para a segurança de pessoas e bens, são descurados. A lassidão grassa e ninguém age. Estando a população em estado choque, na sequência dos incêndios, e, perante uma proibição de foguear, o comandante dos bombeiros desobedeceu. Nada lhe aconteceu. A luz vinda do alto ilumina as mentes que se insurgem contra a PSP. Colhemos assim os frutos de 40 anos de gestão feita por elites que foram tratando dos seus interesses particulares, pelos métodos que descrevi.


As lutas fratricidas nas jotas são a base do poder nos partidos e no Estado. A propaganda partidária vai directa à emoção, como se de futebol se tratasse, esquecendo a razão. O nosso dia-a-dia pouco lhes diz. Ganhar eleições, sim, motiva-os. Cheirando já a eleições, galopins e caciques ocupam as redes sociais com insultos mútuos. Desprestigiado o Poder, com polícias a quem ninguém obedece, e outros profissionais desmotivados, as lutas fratricidas, no interior de cada partido, podem degenerar. Nestes 40 anos financiou-se a compra votos. Trocando votos por armas teremos mesmo uma Bósnia. A emoção que já se sente nas redes sociais não pressagia serenidade.