RISCOS INCOMENSURÁVEIS
Ao falarmos de Revolução, pensamos de
imediato em França e Rússia. Mas dia de 8 Nov. p.p., ocorreu a mais recente
revolução, com fortes implicações Planetárias, baseada na vontade soberana do
cidadão eleitor Americano. Como em todas as revoluções, conhecemos a sua génese,
mas desconhecemos os resultados. Donald Trump é um personagem que não exibe
atributos que o indigitem para o exercício do cargo de Pres. dos EUA. Ele é
ignorante, um demagogo populista a quem tudo se desculpou, desde fugir aos
impostos até insultar as mulheres. Apesar de tudo isto, Trump ganhou as eleições.
Nas democracias ocidentais, os
eleitores tendem a estabilizar os votos nas diversas organizações partidárias.
São depois as pequenas oscilações dos grupos de cidadãos não fidelizados aos
partidos, desiludidos com os partidos e os abstencionistas que determinam os
vencedores.
Às vezes, somos levados a imaginar
que, nos EUA, a população branca – White Anglo
Saxonic People (WASP) – está situada da classe média para o topo,
mas a realidade é bem mais intrincada. Trump beneficiou desta realidade social
na sua campanha. O grupo WASP representa 61% da população, os negros 12% e, os
hispânicos 18%. Faltam os afro-americanos e os ameríndios. A maior % de pobreza
está localizada entre os hispânicos e afro-americanos. Porém, os 61% de WASP na
população americana, faz com que 41% dos pobres sejam brancos. Esta é uma “nova
minoria”, a juntar às minorias étnicas. Ela, a partir dos anos 80 do séc XX,
entrou em contra-mão com as tendências do mundo desenvolvido. O abuso
de álcool, drogas e suicídios são sinais depressivos e de enorme frustração
desta minoria. A situação com os hispânicos é diferente. Trabalham em sectores
não exportáveis – limpeza, segurança, transportes, serviços domésticos – estão
protegidos da concorrência externa. Eles, embora imigrantes, temem, isso sim, a
chegada de outros que venham disputar-lhes os postos de trabalho. Obra comum de
Republicanos e Democratas, a deslocalização das indústrias para o exterior
levou a este barril de pólvora nos EUA que, por enquanto, deu apenas esta
“revolução nas urnas”.
Ao contrário daquilo que muitos de nós pensamos, nos seus
milhões de anos no Planeta, o Homem foi sempre belicoso. O séc XVII, na Europa é
exemplo disso. A intolerância religiosa servia às mil maravilhas para alimentar
os egos bélicos dos Primos e Primas Aristocratas. Os refugiados, gerados neste
cadinho político-social, encontram o fim do pesadelo no território da América
do Norte. Os brancos anglo-saxónicos, mercê destas circunstâncias, tornam-se o
grupo étnico maioritário, liderando um espaço de tolerância e Liberdade. As
pelejas Europeias repercutiram-se naquele vasto território durante um séc. A 4
de Julho 1776, os EUA ganham a Independência. Oitenta e cinco anos depois o fim
da escravatura lança os EUA na guerra civil entre Confederados – esclavagistas
- e Unionistas – Estados do Norte. Nas eleições Presidenciais de 1860, o
Republicano Abraham Lincoln opôs-se ao alargamento da escravatura e, na
transição, o Democrata James Buchanan, corrobora a ilegalidade da secessão. Quatro
anos e mais de 600.000 mortos depois, acabava a Guerra Civil Americana, nascia o
Império Americano.
Republicanos e Democratas, na esteira de Lincoln e Buchanan, impuseram
as regras imperiais, do México à Patagónia. Umas vezes pela diplomacia, outras
pela força. A Europa no séc. XX, envolveu-se em dois conflitos com repercussões
Mundiais. As FA’s Americanas intervieram com elevados custos financeiros e
Humanos. Se em 1865 a dinamite fora a surpresa do progresso científico para
fins bélicos, em 1946 tínhamos a bomba atómica. Falei já dos custos, mas também
houve o benefício de, Democratas e Republicanos, alcandorarem o Império
Americano a um estatuto idêntico ao do Império Romano de há 2.000 anos. O
mediterrâneo é, agora, o Mundo, onde os “bárbaros” ameaçam as “fronteiras de
Washington”.
Podem os EUA demitirem-se da confiança em que se viram
investidos em 1946? O grande progresso da ciência não ocorreu só nas armas. A componente
não bélica aproveitada pelo Mundo dos negócios - Bussiness as Usual – causou distúrbios Planetários. O isolacionismo
populista e demagógico gerado pela eleição de Trump deita por terra tudo quanto
se conseguiu negociar com os EUA sobre alterações climáticas e, provavelmente,
sobre o controlo das armas atómicas. São, ou não, incomensuráveis estes riscos
para os Seres Humanos? Em minha opinião são.
A Humanidade está inquieta, pois fica-lhe a sensação de que o
futuro se resumirá à destruição da Vida na Terra ou, em alternativa, uma nova
forma de escravatura, ao gosto de Republicanos e Democratas, em benefício dos
omnipresentes “mercados”.
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