LORPAS ORÇAMENTAIS
Nos tempos do Estado Novo, pouco dado a gastos, Portugal
combateu “comunistas” em Angola, Moçambique e Guiné, durante treze anos.
Testemunhei pessoalmente a “forretice” quando após uma situação operacional
complicada, em 1968, gastei mais munições do que era suposto gastar. Um helicóptero
reabasteceu-nos, mas o remoque - inconsequente é verdade, pois, perceberam o
aperto dos fedelhos de 20 anos - também veio. Só com “forretice” desta se
conseguiria aquele “verdadeiro milagre”, tão empolado na propaganda, do
Portugal pluricontinental e multirracial do Minho a Timor. Seis anos depois,
tudo ruiu. O desfecho só causaria espanto a quem nunca por lá andara e vivia
na, e da, propaganda anticomunista primária. A esses, como se verá, admiradores
confessos da teoria da conspiração, nunca lhes passou pela cabeça saber as
circunstâncias da morte dos deputados “comunistas encriptados” – pertenciam à
ala liberal do regime - em circunstâncias estranhas a 25/7/1970 na Guiné.
Em Abril de 1974 a Nação
rejubila com o fim da guerra. A intolerância instala-se no País. Superando
dificuldades extremas, colocadas pelas várias intolerâncias em confronto, as
FA’s, cumpriram, religiosamente, as promessas feitas, garantindo as condições
para eleição da Assembleia Constituinte. A Madeira, viu corporizado na lei o
reconhecimento à Autonomia. O erro, exclusivamente madeirense, deixem os
“cubanos” fora disso, esteve em esquecermos que só há Autonomia se mandarmos no
dinheiro.
Na Madeira, orçamento, no velho conceito de controlo das despesas,
com que eu fora confrontado em 1968, foi coisa que caiu em desuso. A última vez
que alguém teve a ousadia de questionar um eleito pela despesa pública
excessiva que autorizara no concelho, foi o então Min das Finanças Aníbal
Cavaco Silva, quando, em S. Vicente, alvitrou a prisão do Pres. da Câmara. Vá
lá saber-se porquê, já 1º Min., esquecida aquela afirmação, o mesmo Cavaco
Silva, veio inaugurar o BANIF surgido, qual Fénix, das cinzas da Caixa
Económica. Responsabilidades do desastre da CEF, custos da criação do Banif e,
agora, a sua falência são coisas que a propaganda do poder esquece, como
esqueceu no passado o acidente dos deputados na Guiné. Tudo isto tem a mão de
uma “máfia no bom sentido” pois a propaganda do poder apenas fala daquilo que
lhe interessa ludibriando o Zé Pagode que pagou, vai continuar a pagar, tudo
isto.
Desenganem-se aqueles que pensam que os orçamentos regionais durante 38
anos tiveram alguma aderência à realidade, no que ao controlo da despesa
respeita. Nunca foram além de um mero amontoado de números para alimentar
discussões esotéricas na ALM, nos jornais e TV. A propaganda, na sequência do
anticomunismo primário dos anos 60 do Portugal do Minho a Timor, criou mitos
que nos vão sair caros. O primeiro foi o inimigo externo – “os cubanos” – logo
seguido de afirmações loucas, estilo Trump, de que a Madeira é uma prostituta
fina que Lisboa tem de sustentar. O tempo passou, o proxeneta já não vive dos
dotes da jovem por mais cremes antirrugas que ela aplique.
Com este histórico
somos chegados aos orçamentos de 2017 nas versões nacional e regional. Vou
primeiro ao orçamento regional. Nele encontramos, na linha de todos os anteriores,
a verba de € 6 081 173,00 para várias Festas a que devemos juntar €
3 965 136,13 para o futebol profissional. Foi assim desde 1978, nunca
faltou dinheiro para as actividades lúdicas.
Os orçamentos são, muitas vezes,
da responsabilidade de lorpas que imaginam que a propaganda esconde a
incompetência. Trágico é que, ao baterem no fundo, levam muita gente atrás.
Esse dia chegaria, era questão de tempo. A prova está na retórica à volta da construção
do novo hospital onde, por um lado, o governo em funções quer que Lisboa
financie na totalidade o hospital e, por outro, o Dr. Alberto joão,
especialista em propaganda desde jovem, e ainda inconformado com a sua substituição
na liderança do partido, insurge-se contra o OE para 2017 e ao modo com o poder
regional reagiu à fronda.
Vá lá, renovados e não renovados, juntem-se todos,
pode ser, novamente, no Trapiche. Deixem-se de inconstitucionalidades e outras
barbaridades e reconheçam que, quase todos por acção, alguns, poucos, por
omissão, enquanto “compagnons de route” da retórica propagandística do Dr.
Alberto João, roubaram o futuro aos madeirenses. Entendam-se e expliquem-se.
Aos madeirenses é motivo de preocupação enquadrar o pensamento de alguém que
aos 20 anos esqueceu as mortes dos deputados da ala liberal e apresenta, aos 70,
discursos próximos de Mr Trump.
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