segunda-feira, 3 de abril de 2017

O INSÓLITO ACONTECEU


Outro dia pela manhã, tocou-nos o telefone. A minha mulher atendeu e, do outro lado, uma voz feminina bastante perturbada, que marcara mal o número da sua médica, expôs as suas maleitas. Tentava a interlocutora explicar-lhe o equívoco mas a Srª. não atinava. Fomos capazes de avaliar o sofrimento daquele Ser Humano desesperado que falava para a “médica” na busca de uma solução para tanto sofrimento.

Há múnus particularmente expostos a que o sofrimento dos nossos iguais nos pese na consciência. Não podemos chegar ao extremo de exigir que um médico viva estes dramas pessoais tão intensamente que o afecte para o exercício da profissão, mas leva-nos a compreender a emoção com que, há tempos, falou para a RTP-M o Sr. Dr. Ricardo Alves, director dos serviços de psiquiatria.

O Poder Político, em todo o Planeta, controla a opinião pública. Há Países onde a Liberdade de imprensa há muito está instalada, mas até nesses – os EUA nesta fase Trumpiana, são um bom exemplo – os tempos não vão de feição. A mentira, a deturpação e invenção de factos alternativos, são a regra hoje. Num Portugal, nascido para a Liberdade de Imprensa em 1974, os cidadãos, para além dos fracos hábitos de leitura, tinham sérias dificuldades em distinguir entre “verdades ficcionadas” e a realidade. A situação na Madeira foi bem pior que no resto País. A sociedade por quotas, entre o GR e a diocese, que, durante anos, geriu o Jornal da Madeira em obediência aos ditames da política, revelou-se um péssimo contributo para formação cívica dos madeirenses.

Vivemos tempos novos. Um jornal usado anos a fio como órgão de propaganda do partido e seu governo, extinguiu-se. Andam novos “cheiros” no ar. Urge que os madeirenses se apercebam nas novas realidades e não se deixem envolver em manobras de propaganda em que apenas lhes vendem factos alternativos.

Aquele telefonema, manhã cedo, fez-me ler com mais atenção um direito de resposta do GR, saído dia 31 de Março no DN, bem como recordar a morte por paludismo, em Junho de 2012, de um nosso concidadão regressado de África. A opinião pública, em 2012, não teve direito a qualquer explicação para tão insólito acontecimento. Em 2017, a SRS honrou-nos com o tal comunicado onde se lê: ”…tranquiliza a população, reafirmando que o Serviço de Saúde da RAM presta serviços de saúde com segurança, qualidade e elevada responsabilidade…” A morte, há cinco anos, não teve direito a um “comunicado-soporífero” do GR. Hoje, avaliando os factos na base do tal comunicado, o GR alerta-nos para o mau jornalismo que através de falsas notícias nos leva a desconfiar de quem manda. Há uma diferença neste comunicado e aquele que, eventualmente, poderia ter surgido em 2012. O actual GR, timidamente, ameaça com o Tribunal, antes tê-lo-iam vigorosamente afirmado, ainda que, na prática, ficassem quietos.

Vai chegando a hora de relacionarmos factos, para que assim não nos resignemos a receber tudo aquilo que a propaganda nos impinge. Temos um morto por explicar e, agora surge um caso grave com a falta de medicamentos, pondo em risco vidas humanas.

A notícia, lida e relida atentamente, não contém o grau de alarmismo que transparece do comunicado. Esta ideia reforça-se conhecendo a opinião do Conselho Médico que vê: “ com alguma preocupação… múltiplas notícias que têm vindo a público… e respectiva reacção dos organismos responsáveis pela saúde”. Acrescentando: “cumprem todas as normas de boa prática clínica… e não tem conhecimento de nenhum caso em que a segurança do utente tenha estado em risco” termina dizendo: “repudiar qualquer tentativa de pressionar ou condicionar os Médicos quanto à sua liberdade e obrigação de contactar a Ordem sempre que as condições de trabalho não sejam as ideais” 


A Liberdade, se a prezamos, temos de a exercitar. Não fazê-lo é arriscarmos à sua “expropriação”. Os Homens são todos iguais nos seus defeitos e qualidades. Porém, a História alerta-nos para que, se queremos a Liberdade, não nos podemos resignar perante as verdades absolutas da propaganda emanada do Poder. É assim que surgem os Trumps e os Chávez, pescadores de águas turvas, para quem as pessoas apenas existem para os servirem independentemente de sofrerem com os seus desmandos.
P.S. Havendo curiosidade, sobre o texto de 2012, pode satisfazê-la lendo abaixo:  
http://www.dnoticias.pt/opiniao/artigos/329498-a-pena-de-pavao-MLDN329498

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