segunda-feira, 17 de abril de 2017

INDISCIPLINA CÍVICA


Durante largo tempo, a comunicação social escalpelizou a cadente questão da mudança de nome do aeroporto de Santa Catarina para CR7. Passado o ruído, rapidamente a atenção das pessoas foi desviada para outros factos.

Desta vez, o assunto é bem mais sério. A Comunicação Social deu-nos conta de actos de indisciplina cívica que, pondo em causa a segurança de pessoas e bens, a todos preocupa. Temos por adquirido que cabe ao Estado o uso da força, nos limites da lei, para nos garantir que nada de mal nos acontece. É essa disciplina cívica que leva o Estado a gastar dinheiro nas viaturas da PSP com a inscrição Escola Segura.

O mediático futebol, de repente, acordou para a violência que, grassando desde há muito, sempre se ignorara. Juntou-se-lhe o “clássico” das Férias de Páscoa em Espanha. Nenhum destes factos que agora extravasaram para a comunicação social é novidade. Enquanto eles se limitaram a aparecer em pequenas notícias dispersas não demos conta de nada. Quem não se recorda de ler/ver notícias de espectáculos futebolísticos onde ocorreram mortes? Quem nunca viu enquadramentos policiais de frequentadores de espectáculos futebolísticos como se de “guerreiros” se tratassem? Quem não se recorda de, em Páscoas anteriores, ter lido notícias de desacatos feitos por estudantes?

Dar o nome do Cristiano Ronaldo ao aeroporto, não interfere directamente connosco. Pode bem a questão ser tratada sem reflectirmos sobre ela. Diferente, muito diferente, é não reflectirmos sobre a formação dos nossos jovens, ou admitirmos que se coloquem em risco Pessoas e Bens. Nestes casos urge ir ao cerne da questão. Cabe, à Comunicação Social, para mais numa sociedade com apenas 43 anos de Liberdade de Expressão, uma função didáctica para que os cidadãos distingam o essencial do acessório.

Estaremos nós a garantir uma boa formação aos nossos jovens? Não lemos, não vimos, nem ouvimos notícias que, há anos, nos dão conta de bulling nas escolas, de papás indignados que, impunemente, ousam esbofetear Profs. por cometerem o “crime” de não deixarem os educandos usarem o telemóvel nas aulas? Quantas notícias vimos/lemos de professores com problemas do foro psíquico pelo desrespeito permanente de que eram vítimas nas escolas? A comunicação social, muita dela, deu estas notícias, outra (mais do que seria desejável) escondeu-as. Acho que nenhuma comunicação social – comentadores incluídos – fez pensar as pessoas sobre as consequências desta demissão de quem mandava. Gerámos e gerimos, em 43 anos, um sistema educativo, onde filhos e netos ficaram adolescentes – não assumem a responsabilidade dos seus actos – a vida inteira. Alguém, os eleitos por nós na companhia dos nomeados para coadjuvá-los na Administração Pública, deveria estar atento a este Interesse Colectivo que é formar Cidadãos responsáveis.

O futebol, nos nossos dias, beneficia de facilidades financeiras, impensáveis no passado. Vive em mancebia com a especulação financeira gerando negócios que, em última instância, podemos acabar pagando. Basta que as avultadas dívidas de muitos clubes à banca, obtidas na promiscuidade entre os poderes político e financeiro, se transformem em imparidades para sermos chamados a pagar. Os clubes fazem vida de ricos, e criam poderosas centrais de propaganda que, alimentando o mito do “amor à camisola” junto dos fervorosos adeptos, os levam a confundir desporto com espectáculo futebolístico. Foi notícia, não desmentida, que o responsável pela propaganda de um dos clubes do nosso futebol aufere um salário de € 5.000 mês. O felizardo, se calhar declara, para o IRS, o salário mínimo. Quem manda aceita e promove estas aberrações.


Não parece, eu sei, mas a sociedade da riqueza virtual em que vivemos está perigosa. Os jovens, a quem tudo facilitámos, tornaram-se irresponsáveis e, mais grave, ficaram sem futuro graças a pusilanimidade vigente. A sociedade do futuro estará ainda mais dividida entre aqueles que serão remunerados a partir da riqueza financeira – começando no Goldman Sachs, acabando no hiper-bem-pago director de comunicação do clube de futebol – com os profissionais das várias actividades, possuidores de formação superior, pagos pelo salário mínimo ou desempregados dependurados na magra reforma dos pais.  

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