terça-feira, 25 de abril de 2017

DEPOIS DE MIM, O DILÚVIO


Esta é uma frase atribuída a Luís XV, o Bem Amado, Rei de França. Sua Alteza sucedeu a Luís XIV, o Rei Sol, seu bisavô. Com a vetusta idade de 12 anos foi coroado em Reims.

Adolescente a governar não dá bom resultado. Uma de duas pode acontecer. São irresponsáveis, não assumem os seus actos; os adultos manipulam-nos. Na menoridade, Sua Alteza contou com a dedicação de várias pessoas. Durante oito anos o Duque de Orleães assumiu a condução dos negócios do Estado, e ao atear fogo nas relações com o Parlamento, pré-anunciava a Revolução. Acrescia a isto a adopção de leis inspiradas no pensamento do Escocês John Law, que levariam ao colapso económico da França. Esta bomba, igual a muitas outras que a História, mais tarde, registaria, tinha dispositivo retardador. Explodiu já com Sua Alteza no exercício pleno dos seus poderes, tendo levado à demissão do Duque de Bourbon.

Entre 1726 e 1743, os negócios de Estado estiveram entregues ao Cardeal Fleury. Foi o período de ouro do reinado de Luís XV, mas as guerras prosseguiam entre as famílias aristocráticas Europeias, a que se juntavam as divisões Religiosas. O reinado de Luís XV não pode ser separado da figura de Madame Pompadour. A pujança da Cultura Francesa daquela época ficou a dever-lhe muito. Amiga e confidente do Rei, nascida na burguesia endinheirada, conquistou inimizades na aristocracia. Durante o reinado de Luís XV as fronteiras Francesas nunca foram violadas, mas o monarca coleccionou várias derrotas externas que endividaram a França. Entristecido pelas derrotas, a que se juntavam as dificuldades internas nas disputas com o Parlamento, el-Rei, ou a sua amiga Madame Pompadour, terá proferido a célebre frase: “Depois de mim, o dilúvio”. À época associou-se-lhe a lenda dos quatro gatos. Um deles, magro e faminto, representava o povo – hoje, quando os Súbditos de outrora já são Cidadãos, um candidato a rei absolutista, chamaria de “patas rapadas” – vítima de todas as arbitrariedades. Um gato gordo, gerado no descalabro das leis inspiradas em John Law, simbolizava os financistas, onde se encontrava a família da Madame Pompadour que, algumas vezes, ocorreu às aflições das finanças públicas francesas. Um outro gato, possuindo apenas um olho, era o Governo. No topo tínhamos um gato cego que era el-Rei. Engalfinharam-se os quatros gatos, e o dilúvio aconteceu mesmo. Uma valente vassourada na aristocracia Europeia, protagonizada pela Rev. Francesa, mudou o Mundo.

Luís XV acreditava no poder de matriz aristocrática. Nunca lhe passaria pela cabeça, apesar das intrigas da corte, ainda por cima potenciadas pelas relações entre “primos” e “primas” por essa Europa fora, desacreditar publicamente os seus. Manter-se-ia fiel à imagem emanada da estátua equestre, comemorativa da vitória na Guerra da Sucessão Austríaca, mantendo os interesses de grupo. As disputas com o Parlamento eram as dores de parto daquilo que aí vinha, e que determinaria a mudança dos Súbditos em Cidadãos.

Duzentos e poucos anos, muitos milhões de mortos depois, estamos novamente numa encruzilhada. Pairam, sobre todos nós, umas criaturas com tanto de estranho como de sinistro, umas, dando a cara, outras, escondidas, mas todas elas procurando perverter os ganhos que a Humanidade conquistou neste dois sécs.

Os actuais candidatos a reis absolutistas, com as suas palavrinhas mansas de assassinos da voz meiga, em livros, TV, Jornais e redes sociais, procuram branquear a imagem de imbecilidade que carregam. O exercício do poder durante decénios acabou em fome e desemprego? Tudo isso, julgam os candidatos a reis absolutos, se ultrapassa com doses maciças de propaganda. Tem a palavra o Povo, lá irá escolher entre ser Cidadão ou Súbdito.  

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