sexta-feira, 28 de abril de 2017

TRIBUNAIS E PROPAGANDA


Em Venezuela, a partir de 1962, seguiu-se um período de dinheiro fácil até 1999, quando apareceu Hugo Chavez. Foram 37 anos abençoados pela gestão de Adecos e Copeianos com enriquecimento desmesurado das respectivas elites. O futuro parecia – mas não era – próspero! O 37 tem o seu quê de cabalístico, tudo tende a ruir ao fim desse prazo.

Aqui na Madeira, vivemos uma fotocópia, em versão único partido com ajudas. No seu verbo fácil, o “Chefe” inimputável dizia: “deixem o dinheiro comigo”. Mentiroso! Adecos e Copeianos ainda tinham o petróleo, este nem isso tinha, era só garganta e chantagem, como ouvimos a Francisco Balsemão num dos episódios da novela: LAVAGEM A SECO, em exibição às 5ªs feiras na RTP-M.

A dupla Hugo Chávez/Maduro manda há 18 anos, tantos quantos decorreram após o fim da riqueza. Por cá passaram apenas 5 e, há duas grandes diferenças a registar. Os madeirenses têm o direito/dever de estarem, religiosamente, atentos a elas para não correrem o risco de voltar a eleger um qualquer Chávez, por enquanto escondido, mas pronto a sair da sombra se sentir que está seguro em votos.

No início dos anos 90, o Juiz Ernesto Cunha do Tribunal de Contas, fazendo fé na máquina de propaganda do partido do poder, onde pontificava o poderoso líder parlamentar – Jaime Ramos –, tivemos sermão e missa cantada contra a intromissão do manga-de-alpaca do TdC que queria vasculhar as contas dos probos eleitos para ALM. Antecipando o Trump, que vê as suas prepotências legislativas travadas pelos Tribunais, por cá o TdC sempre foi apontado como um entrave ao progresso. Surgiram as viagens fantasmas e com elas a primeira lei branqueadora de uma infracção cometida por eleitos. Iniciava-se o jogo do gato e do rato, entre o GR e o TdC.  

Nas primeiras palavras que pronunciou, após a aceitação do programa de resgate, o Sr. Dr. Alberto João, grosso modo, disse: "Veremos, daqui a quatro anos, entre a RAM e o continente, quem melhor satisfez os seus compromissos". S. Exa. falou apoiado nos votos dos madeirenses. Porém, a viciação da vontade eleitoral, foi coisa frequente nele. Vou procurar, com um exemplo, explicar em que consiste viciar a vontade eleitoral. Félix Patassé foi Pres. da Rep. Centro-Africana de 1993 a 2003. Prometeu uma fábrica de notas em cada aldeia. Foi eleito. Mais tarde, recandidatou-se e nomeou Jesus Cristo, director de campanha. Usar a Igreja de Cristo para fins eleitorais foi recorrente, a fábrica de notas é: "deixem o dinheiro comigo".

Saído de cena há dois anos, após a mais que previsível borrasca acontecida em 2012, ficaram a marinar os erros, com eventuais crimes, na gestão financeira dos 37 anos. Além do Cuba Livre, ainda não arquivado graças à persistência de alguns madeirenses, temos, dispersos pela comunicação social, vários casos que, como cidadãos, nos devem preocupar. Desde logo o “brilhantismo” dos inquéritos parlamentares, com particular incidência para as conclusões sobre a Marina do Lugar de Baixo. Lidos os resultados, ficamos entre o sorriso de escárnio e a irritação, por sentirmos que nos querem tomar por tolos. Um certo conceito jurídico-administrativo – contrato programa – formalizou despesas públicas pouco transparentes. Temos essa situação num litígio entre o CSM e AFA, por causa de obras a mais, feitas no Campo de Stº António, ao que parece autorizadas verbalmente pelo então Pres. do GR, e o Relatório nº 15/2016-FC/SRMTC de auditoria de fiscalização concomitante à concessão de exploração á Escola Profissional de Hotelaria e Turismo da Madeira. Na alínea d) das determinações finais pode ler-se: “Determinar que as Secretarias Regionais da Economia, Turismo e Cultura e das Finanças e da Administração Pública, no prazo de seis meses, informem o Tribunal de Contas sobre as diligências por si efetuadas para acolhimento às recomendações constantes do relatório agora aprovado, mediante o envio de documentos comprovativos desses factos”. O prazo expirou dia 16 p.p. Há ruído no ar com audiências na ALM. Algo parece ter mudado. Ainda no segredo das comissões à porta fechada na ALM, a Sr.ª Sec. do Turismo admite ter havido erros. Não estávamos habituados a isto!

A irresponsabilidade, para não dizer inimputabilidade, governativa, da dupla Adecos e Copeianos em Venezuela, aqui, felizmente, deixou duas frentes de combate. Uma frente que lhe foi imposta, a dos Tribunais. Outra a da propaganda em que são exímios. É livro, é a novela semanal – LAVAGEM A SECO –, é 5 para meia-noite, romance histórico tudo serve para reabilitação.   

Escolhem os eleitores. Nunca ninguém disse que traria desemprego e noites ao relento, mas trouxe. Vão deixar-se encantar pelo produto lavado, encaixando na perfeição na moda do Trumpismo? Não se queixem depois.

terça-feira, 25 de abril de 2017

DEPOIS DE MIM, O DILÚVIO


Esta é uma frase atribuída a Luís XV, o Bem Amado, Rei de França. Sua Alteza sucedeu a Luís XIV, o Rei Sol, seu bisavô. Com a vetusta idade de 12 anos foi coroado em Reims.

Adolescente a governar não dá bom resultado. Uma de duas pode acontecer. São irresponsáveis, não assumem os seus actos; os adultos manipulam-nos. Na menoridade, Sua Alteza contou com a dedicação de várias pessoas. Durante oito anos o Duque de Orleães assumiu a condução dos negócios do Estado, e ao atear fogo nas relações com o Parlamento, pré-anunciava a Revolução. Acrescia a isto a adopção de leis inspiradas no pensamento do Escocês John Law, que levariam ao colapso económico da França. Esta bomba, igual a muitas outras que a História, mais tarde, registaria, tinha dispositivo retardador. Explodiu já com Sua Alteza no exercício pleno dos seus poderes, tendo levado à demissão do Duque de Bourbon.

Entre 1726 e 1743, os negócios de Estado estiveram entregues ao Cardeal Fleury. Foi o período de ouro do reinado de Luís XV, mas as guerras prosseguiam entre as famílias aristocráticas Europeias, a que se juntavam as divisões Religiosas. O reinado de Luís XV não pode ser separado da figura de Madame Pompadour. A pujança da Cultura Francesa daquela época ficou a dever-lhe muito. Amiga e confidente do Rei, nascida na burguesia endinheirada, conquistou inimizades na aristocracia. Durante o reinado de Luís XV as fronteiras Francesas nunca foram violadas, mas o monarca coleccionou várias derrotas externas que endividaram a França. Entristecido pelas derrotas, a que se juntavam as dificuldades internas nas disputas com o Parlamento, el-Rei, ou a sua amiga Madame Pompadour, terá proferido a célebre frase: “Depois de mim, o dilúvio”. À época associou-se-lhe a lenda dos quatro gatos. Um deles, magro e faminto, representava o povo – hoje, quando os Súbditos de outrora já são Cidadãos, um candidato a rei absolutista, chamaria de “patas rapadas” – vítima de todas as arbitrariedades. Um gato gordo, gerado no descalabro das leis inspiradas em John Law, simbolizava os financistas, onde se encontrava a família da Madame Pompadour que, algumas vezes, ocorreu às aflições das finanças públicas francesas. Um outro gato, possuindo apenas um olho, era o Governo. No topo tínhamos um gato cego que era el-Rei. Engalfinharam-se os quatros gatos, e o dilúvio aconteceu mesmo. Uma valente vassourada na aristocracia Europeia, protagonizada pela Rev. Francesa, mudou o Mundo.

Luís XV acreditava no poder de matriz aristocrática. Nunca lhe passaria pela cabeça, apesar das intrigas da corte, ainda por cima potenciadas pelas relações entre “primos” e “primas” por essa Europa fora, desacreditar publicamente os seus. Manter-se-ia fiel à imagem emanada da estátua equestre, comemorativa da vitória na Guerra da Sucessão Austríaca, mantendo os interesses de grupo. As disputas com o Parlamento eram as dores de parto daquilo que aí vinha, e que determinaria a mudança dos Súbditos em Cidadãos.

Duzentos e poucos anos, muitos milhões de mortos depois, estamos novamente numa encruzilhada. Pairam, sobre todos nós, umas criaturas com tanto de estranho como de sinistro, umas, dando a cara, outras, escondidas, mas todas elas procurando perverter os ganhos que a Humanidade conquistou neste dois sécs.

Os actuais candidatos a reis absolutistas, com as suas palavrinhas mansas de assassinos da voz meiga, em livros, TV, Jornais e redes sociais, procuram branquear a imagem de imbecilidade que carregam. O exercício do poder durante decénios acabou em fome e desemprego? Tudo isso, julgam os candidatos a reis absolutos, se ultrapassa com doses maciças de propaganda. Tem a palavra o Povo, lá irá escolher entre ser Cidadão ou Súbdito.  

segunda-feira, 17 de abril de 2017

INDISCIPLINA CÍVICA


Durante largo tempo, a comunicação social escalpelizou a cadente questão da mudança de nome do aeroporto de Santa Catarina para CR7. Passado o ruído, rapidamente a atenção das pessoas foi desviada para outros factos.

Desta vez, o assunto é bem mais sério. A Comunicação Social deu-nos conta de actos de indisciplina cívica que, pondo em causa a segurança de pessoas e bens, a todos preocupa. Temos por adquirido que cabe ao Estado o uso da força, nos limites da lei, para nos garantir que nada de mal nos acontece. É essa disciplina cívica que leva o Estado a gastar dinheiro nas viaturas da PSP com a inscrição Escola Segura.

O mediático futebol, de repente, acordou para a violência que, grassando desde há muito, sempre se ignorara. Juntou-se-lhe o “clássico” das Férias de Páscoa em Espanha. Nenhum destes factos que agora extravasaram para a comunicação social é novidade. Enquanto eles se limitaram a aparecer em pequenas notícias dispersas não demos conta de nada. Quem não se recorda de ler/ver notícias de espectáculos futebolísticos onde ocorreram mortes? Quem nunca viu enquadramentos policiais de frequentadores de espectáculos futebolísticos como se de “guerreiros” se tratassem? Quem não se recorda de, em Páscoas anteriores, ter lido notícias de desacatos feitos por estudantes?

Dar o nome do Cristiano Ronaldo ao aeroporto, não interfere directamente connosco. Pode bem a questão ser tratada sem reflectirmos sobre ela. Diferente, muito diferente, é não reflectirmos sobre a formação dos nossos jovens, ou admitirmos que se coloquem em risco Pessoas e Bens. Nestes casos urge ir ao cerne da questão. Cabe, à Comunicação Social, para mais numa sociedade com apenas 43 anos de Liberdade de Expressão, uma função didáctica para que os cidadãos distingam o essencial do acessório.

Estaremos nós a garantir uma boa formação aos nossos jovens? Não lemos, não vimos, nem ouvimos notícias que, há anos, nos dão conta de bulling nas escolas, de papás indignados que, impunemente, ousam esbofetear Profs. por cometerem o “crime” de não deixarem os educandos usarem o telemóvel nas aulas? Quantas notícias vimos/lemos de professores com problemas do foro psíquico pelo desrespeito permanente de que eram vítimas nas escolas? A comunicação social, muita dela, deu estas notícias, outra (mais do que seria desejável) escondeu-as. Acho que nenhuma comunicação social – comentadores incluídos – fez pensar as pessoas sobre as consequências desta demissão de quem mandava. Gerámos e gerimos, em 43 anos, um sistema educativo, onde filhos e netos ficaram adolescentes – não assumem a responsabilidade dos seus actos – a vida inteira. Alguém, os eleitos por nós na companhia dos nomeados para coadjuvá-los na Administração Pública, deveria estar atento a este Interesse Colectivo que é formar Cidadãos responsáveis.

O futebol, nos nossos dias, beneficia de facilidades financeiras, impensáveis no passado. Vive em mancebia com a especulação financeira gerando negócios que, em última instância, podemos acabar pagando. Basta que as avultadas dívidas de muitos clubes à banca, obtidas na promiscuidade entre os poderes político e financeiro, se transformem em imparidades para sermos chamados a pagar. Os clubes fazem vida de ricos, e criam poderosas centrais de propaganda que, alimentando o mito do “amor à camisola” junto dos fervorosos adeptos, os levam a confundir desporto com espectáculo futebolístico. Foi notícia, não desmentida, que o responsável pela propaganda de um dos clubes do nosso futebol aufere um salário de € 5.000 mês. O felizardo, se calhar declara, para o IRS, o salário mínimo. Quem manda aceita e promove estas aberrações.


Não parece, eu sei, mas a sociedade da riqueza virtual em que vivemos está perigosa. Os jovens, a quem tudo facilitámos, tornaram-se irresponsáveis e, mais grave, ficaram sem futuro graças a pusilanimidade vigente. A sociedade do futuro estará ainda mais dividida entre aqueles que serão remunerados a partir da riqueza financeira – começando no Goldman Sachs, acabando no hiper-bem-pago director de comunicação do clube de futebol – com os profissionais das várias actividades, possuidores de formação superior, pagos pelo salário mínimo ou desempregados dependurados na magra reforma dos pais.  

quarta-feira, 12 de abril de 2017

A FORÇA DE ACREDITAR


Acreditar é um verbo determinante para o Homem. É por acreditar que a vontade Humana se forma e leva as pessoas à acção. Porém, acreditar não implica eliminar um outro verbo: pensar. Eles convivem, e não são imunes à propaganda dos poderosos. Habilmente, a propaganda pode fazer-nos acreditar em mentiras que, sacrifiquem Valores Humanos. A Liberdade é um deles.

Portugal gostaria de esquecer o ano de 1961. A invasão do Estado da Índia e o início da Guerra Colonial em África, marcaram-no para sempre no nosso imaginário colectivo. O País viu-se obrigado a retirar efectivos da Índia para Angola e, o reconhecimento das virtudes militares do 2º Ten. Oliveira e Carmo, morto em combate na Índia, não fizeram esquecer às FA’s e à Nação o vexame do regresso dos prisioneiros. Coube-lhes enquadrar mancebos que, no cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, formatados desde crianças, a “dar a vida pela Pátria”, acreditavam nisso sem pestanejar. Fiéis aos seus Princípios Éticos, continuaram obedecendo ao Poder Político, até 1974. Treze anos de vida profissional eticamente irrepreensível não podiam levar a que a Instituição Militar assumisse erros da condução política.

A 25 de Abril de 1974, os militares proporcionaram ao Povo Português o reencontro com a História. Desde logo, manifestaram vontade de nos proporcionar um Estado de Direito que respeitasse a Pessoa Humana. Os Portugueses acreditaram. Os militares, apoiados na força das armas, em nome da Pátria, mudaram o Poder Político. O uso da força não é despiciendo, e as várias forças políticas surgidas, tentaram garantir esse apoio. Foi o tempo do PREC, de má memória.

Fiéis a si próprios, cumprindo a promessa de que regressavam aos quartéis, tutelaram o Poder Político até 1982. Extinto o Conselho da Revolução, tínhamos pela frente mar estanhado que nos levaria ao Estado de Direito respeitador da Lei e da Pessoa Humana. Saíam de cena os Militares.

A democracia, a partir daí, ficou entregue aos Partidos Políticos. A esquerda, com uma representação minoritária na Assembleia da República, nunca viu leis da sua autoria aprovadas e, aceites por nenhum executivo. Os dois poderes – Legislativo e Executivo – durante 33 anos, foram da responsabilidade de CDS, PPD/PSD e PS.

O Poder que tínhamos, em 1974, sucumbiu por erros políticos próprios. A falta de Liberdade permitiu escondê-los dos cidadãos. Hoje, vivemos em Liberdade e não augura nada de bom, aquilo que constatamos como praxis de um Estado de Direito. O Estado definha, e ninguém fala por ele. Há violência no futebol? Não há problema. Monta-se uma operação de propaganda, juntando Homens Públicos eleitos para funções de Estado com dirigentes de futebol, onde se discutem os efeitos – a polícia bateu, ou não, com força a mais – escondendo-se as causas. Pois nas causas, há acordo entre eleitos e dirigentes desportivos. Ambos acham que, em nome do clube, se permite arruaça. Prende-se um cidadão que atemorizou populações. Monta-se, à hora do telejornal, um evento propagandístico, onde uma Srª. advogada nos faz chorar, perante os métodos policiais violentos usados, contra aquele cidadão. Os seus honorários fizeram-na esquecer o susto das populações, pois ganhar dinheiro, está muito acima da sua condição de cidadã. Ninguém a confronta com o erro!

Assusta constatar aquilo a que chegámos. Temos leis que permitem castigar os “pilha galinhas”, mas não outros eventuais – escrevo assim pois os juízes também não sabem se eles são – criminosos. O Estado de Direito caminha para a implosão. Ficará apenas com dois Poderes o Legislativo e o Executivo, por total descrédito do Judicial. Os princípios éticos que, acredito eu e o País inteiro, são incutidos aos jovens cuja vida profissional se fará na área do Direito, seja exercendo advocacia no Tribunal, interpretando e aplicando a Lei nos Tribunais ou Legislando na Assembleia, volatilizaram-se.

Uma palavra de apreço aos Militares de Abril e outra aos muitos Homens e Mulheres que no sistema Judicial dão a cara por nós, sofrendo enxovalhos sistemáticos, vindos da pusilanimidade instalada.


Nós, cidadãos comuns, não nos podemos resignar. Não somos os culpados disto. E estamos a tempo de, como fizemos em 1974 com os militares, apoiarmos os desamparados e maltratados Tribunais. Os erros dos Tribunais são escrutinados, mas a propaganda dos poderosos não permite que se faça o mesmo aos donos do dinheiro.    

domingo, 9 de abril de 2017

CONSEGUIREMOS?


Em dois mil anos de história, só nos últimos seiscentos podemos falar de um Mundo Eurocêntrico. Nos primeiros mil e quatrocentos anos, os Europeus – bárbaros para a civilização Romana – foram adoptando muito daquilo que vinha de Roma. A Língua e a Religião marcaram de modo indelével a Europa e o Mundo. Recorreu-se à violência, motivando-se os guerreiros na obediência cega ao Poder da Fidalguia que recebia, como emanação divina, o Poder através de Bula Papal. A Magna Carta, em 1215, limitando o Poder, instituiu a Liberdade. A Nobreza era uma classe social castrense a quem o soberano reconhecia certas prerrogativas que podiam ser transmitidas por herança. Nos sécs. XIV e XV, com a guerra dos cem anos, os feudos da Idade Média perderam posição reforçando o Poder do Monarca. A França foi quem mais beneficiou, graças à humilde pastora Joana d`Arc, Santa da Igreja e heroína de França. Unindo os Franceses, criou as bases do futuro Estado Francês.

A Europa dos secs. XV e XVI, politicamente organizada à volta da Nobreza, divide-se, pela primeira vez, em Norte e Sul. Os Impérios Espanhol e Português deslumbram. Andavam os “sulistas” – não propriamente a beber uns copos e entretidos com mulheres – na luta com as ondas do mar e Martinho Lutero lá pelo Norte da Alemanha, põe em causa o Poder da Igreja de Roma. O abalo foi grande. Em 1525, dançavam os sulistas nas ondas do Atlântico e a Aristocracia Alemã – a Fidalguia já perdera importância – esmagava os camponeses causando centenas de milhares de mortos.

Dado que os territórios se transmitiam por herança, os poderosos Habsburgos – Carlos I de Espanha – possuíam territórios na Holanda e na Alemanha. Colocando o seu poder bélico ao serviço do Papa Leão X a acção não foi bem recebida pelos prosélitos de Lutero. Andámos nisto durante os sécs. XVI e XVII. Em França, o Bourbon Luís XIV, o Rei Sol, falecido em 1715, foi o último a gerir as sucessões das Coroas Europeias. Em Utreque, Filipe V é reconhecido como Rei de Espanha, mas Gibraltar passa para mãos inglesas.

No séc. XVIII, um furação com epicentro em França, abateu-se sobre a Aristocracia Europeia. Fez-se sentir na Independência das treze Colónias Inglesas na América, criando um conflito que opôs a Inglaterra à França, Espanha e Países Baixos. Seguiu-se a Revolução Francesa que, em solo Europeu, vibrava um novo golpe na Aristocracia. Napoleão emerge em França, assustando a Europa Aristocrática com o seu: “Amor pela Pátria é a primeira qualidade do homem civilizado”. O combatente passou a “povo fardado”.

No séc. XIX, a violência continuou. A revolução de 1848 nos Estados Alemães, visava criar uma estrutura de Estado-Nação. A esta revolução seguiu-se Bismarck, com o seu nacionalismo assente na aristocracia e na força e o 1º Min. da Prússia, tornou-se Chanceler do Império Alemão.  A guerra da secessão americana, a implantação colonial em África e Ásia são outras formas de violência no séc. XIX.

Impondo a todo o Continente Americano o slogan: América para os Americanos; o Império nascente, maioritariamente White Anglo Saxonic People, remeteu Espanha para a Europa. Chegávamos ao séc. XX.

Cansados de sécs. de guerras, face à destruição apocalíptica da Europa em 1945 e com a força de Homens que procuravam unir e não dividir os seus Povos, a Europa, acabada de sair de mais uma guerra, começou por unir-se economicamente num grupo de seis.

Lá estavam as desavindas França e Alemanha, juntas por uma boa causa: A PAZ. As duas aceitavam um valor vindo do séc. XIII inglês: A Liberdade. Seria a reconciliação definitiva? Assim pareceu, durante 60 anos.

Inglaterra, por razões ligadas ao Império – a Comunidade Britânica e a grande proximidade ao Império Americano, durante muito tempo com predominância demográfica WASP – só em 1973 entrou para a UE. Passados 44 anos os Reinos da Inglaterra e Gales assumiram, em referendo, a saída; a Escócia não parece convencida e a Irlanda, por enquanto, nada disse.

Um contágio virulento, vindo dos EUA, parece ter penetrado o subconsciente de muitos Europeus, particularmente os habitantes das Ilhas Britânicas. Há gente empenhada em rapidamente deitar ao lixo a História e os valores Europeus, que passaram para o Império Americano. Não admira que Mr. Trump, para amesquinhar a França, devolva a Estátua da Liberdade, doação Francesa em 1886. Difícil para Trump vai ser devolver o pensamento de Tocqueville e o respeito pela Pessoa Humana intrínseco, à Igreja e à Europa. A França e Alemanha são neste momento guardiões dos Valores Europeus. As Ilhas Britânicas, acompanhando Trump e a sua retórica imbecil, exacerbaram os velhos fantasmas que, em seiscentos anos, dividiram os Europeus.

Temos pela frente tempos difíceis, mas não podemos desanimar. Há violência nas cidades Europeias, mas isso não nos pode impedir de lutar pela Liberdade e pelo respeito da Pessoa Humana. 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

O INSÓLITO ACONTECEU


Outro dia pela manhã, tocou-nos o telefone. A minha mulher atendeu e, do outro lado, uma voz feminina bastante perturbada, que marcara mal o número da sua médica, expôs as suas maleitas. Tentava a interlocutora explicar-lhe o equívoco mas a Srª. não atinava. Fomos capazes de avaliar o sofrimento daquele Ser Humano desesperado que falava para a “médica” na busca de uma solução para tanto sofrimento.

Há múnus particularmente expostos a que o sofrimento dos nossos iguais nos pese na consciência. Não podemos chegar ao extremo de exigir que um médico viva estes dramas pessoais tão intensamente que o afecte para o exercício da profissão, mas leva-nos a compreender a emoção com que, há tempos, falou para a RTP-M o Sr. Dr. Ricardo Alves, director dos serviços de psiquiatria.

O Poder Político, em todo o Planeta, controla a opinião pública. Há Países onde a Liberdade de imprensa há muito está instalada, mas até nesses – os EUA nesta fase Trumpiana, são um bom exemplo – os tempos não vão de feição. A mentira, a deturpação e invenção de factos alternativos, são a regra hoje. Num Portugal, nascido para a Liberdade de Imprensa em 1974, os cidadãos, para além dos fracos hábitos de leitura, tinham sérias dificuldades em distinguir entre “verdades ficcionadas” e a realidade. A situação na Madeira foi bem pior que no resto País. A sociedade por quotas, entre o GR e a diocese, que, durante anos, geriu o Jornal da Madeira em obediência aos ditames da política, revelou-se um péssimo contributo para formação cívica dos madeirenses.

Vivemos tempos novos. Um jornal usado anos a fio como órgão de propaganda do partido e seu governo, extinguiu-se. Andam novos “cheiros” no ar. Urge que os madeirenses se apercebam nas novas realidades e não se deixem envolver em manobras de propaganda em que apenas lhes vendem factos alternativos.

Aquele telefonema, manhã cedo, fez-me ler com mais atenção um direito de resposta do GR, saído dia 31 de Março no DN, bem como recordar a morte por paludismo, em Junho de 2012, de um nosso concidadão regressado de África. A opinião pública, em 2012, não teve direito a qualquer explicação para tão insólito acontecimento. Em 2017, a SRS honrou-nos com o tal comunicado onde se lê: ”…tranquiliza a população, reafirmando que o Serviço de Saúde da RAM presta serviços de saúde com segurança, qualidade e elevada responsabilidade…” A morte, há cinco anos, não teve direito a um “comunicado-soporífero” do GR. Hoje, avaliando os factos na base do tal comunicado, o GR alerta-nos para o mau jornalismo que através de falsas notícias nos leva a desconfiar de quem manda. Há uma diferença neste comunicado e aquele que, eventualmente, poderia ter surgido em 2012. O actual GR, timidamente, ameaça com o Tribunal, antes tê-lo-iam vigorosamente afirmado, ainda que, na prática, ficassem quietos.

Vai chegando a hora de relacionarmos factos, para que assim não nos resignemos a receber tudo aquilo que a propaganda nos impinge. Temos um morto por explicar e, agora surge um caso grave com a falta de medicamentos, pondo em risco vidas humanas.

A notícia, lida e relida atentamente, não contém o grau de alarmismo que transparece do comunicado. Esta ideia reforça-se conhecendo a opinião do Conselho Médico que vê: “ com alguma preocupação… múltiplas notícias que têm vindo a público… e respectiva reacção dos organismos responsáveis pela saúde”. Acrescentando: “cumprem todas as normas de boa prática clínica… e não tem conhecimento de nenhum caso em que a segurança do utente tenha estado em risco” termina dizendo: “repudiar qualquer tentativa de pressionar ou condicionar os Médicos quanto à sua liberdade e obrigação de contactar a Ordem sempre que as condições de trabalho não sejam as ideais” 


A Liberdade, se a prezamos, temos de a exercitar. Não fazê-lo é arriscarmos à sua “expropriação”. Os Homens são todos iguais nos seus defeitos e qualidades. Porém, a História alerta-nos para que, se queremos a Liberdade, não nos podemos resignar perante as verdades absolutas da propaganda emanada do Poder. É assim que surgem os Trumps e os Chávez, pescadores de águas turvas, para quem as pessoas apenas existem para os servirem independentemente de sofrerem com os seus desmandos.
P.S. Havendo curiosidade, sobre o texto de 2012, pode satisfazê-la lendo abaixo:  
http://www.dnoticias.pt/opiniao/artigos/329498-a-pena-de-pavao-MLDN329498