sábado, 29 de julho de 2017

TRUMP, MADURO E OUTROS


O Poder oprime e coarcta a Liberdade. Trump, Maduro e outros são os dirigentes que nos couberam em rifa neste sec. XXI, que não é mais nem menos conturbado que aqueles que o antecederam.

Organismos pertencentes à espécie Homo sapiens, há cerca de 70.000 anos, deram início à História. Ela é, por isso, o repositório das venturas e desventuras dos Seres Humanos, em todo esse lapso de tempo. Ao citar estes dados procuro confrontar o leitor com a relatividade do factor tempo. O Império Romano – minutos nos 70.000 anos, se o quisermos avaliar em termos de vida Humana – marcou-nos o futuro. Os Impérios Europeus, a partir do sec. XV, – outros tantos minutos – levaram ao resto do Planeta a concepção Europeia de Organização da Vida Colectiva. O Homo sapiens que hoje conhecemos tem uma natureza única e sagrada, que é fundamentalmente diferente da natureza de todos os outros seres e fenómenos. O bem supremo é o bem da humanidade.

As três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) estiveram desde sempre envolvidas em forte conflitualidade. Os Europeus levaram para o Novo Mundo as suas normas aristocráticas e, ao mesmo tempo, muita gente à procura do sossego que a conflitualidade religiosa europeia não lhes garantia. A vida não pára, diz-se. Se os 2.0000 anos decorridos desde o Império Romano até aos nossos dias são minutos, os cerca de 250 anos de Independência dos EUA, seguindo-se as Independências das restantes ex-colónias do Novo Mundo, são segundos. Para nós, cidadãos cuja vida se fica pelos 70/80 anos, contentamo-nos em perscrutar estes dois secs. e meio a que, pomposamente, chamamos História.

A influência Cristã na Europa Aristocrática, em contubérnio com o Poder Temporal, não pode ser menosprezada. A dualidade entre o Bem e o Mal está sempre presente. A diferença entre quem serve a Humanidade e quem serve um déspota fica patente em dois exemplos bem Portugueses. O Padre António Vieira serviu a Humanidade! O facínora obscurantista, Teles Jordão, pelo contrário, torturou em nome de D. Miguel I, o “temente a Deus”. As convulsões sociais – Revolução Francesa e a 1ª guerra Mundial – ditaram o fim da aristocracia, repercutindo na Igreja a convivência próxima com o Poder.

Impregnando o pensamento colectivo, a prática de quem manda, desde os tempos de súbditos de S. Majestade, ao de cidadãos ditos livres, o medo impôs a sua “lei”. Não quero imaginar-me em 1943, numa cidade Holandesa, acordado, altas horas, pela voz chorosa de uma criança judia a pedir protecção. Pais e avós tinham sido levados “pelos homens maus”, mas ela conseguira escapar. Não sei qual seria a minha reacção, penso que o leitor me acompanha. Uma coisa vos garanto, o choro daquela criança acompanhar-me-ia o resto da vida.

Condenaram-se, bem, os totalitarismos nazis e comunistas. Mas se queremos caminhar em Liberdade rumo ao Bem da Humanidade, não podemos calar as formas de amedrontamento com que Trump, Maduro e outros procuram levar a água ao seu moinho. O Bem da Humanidade, para eles, é fazer negócios, atropelando as leis e levando na voragem quem lhas recorda.

Maduro, herdeiro do Chavismo, um sistema populista que cavalgou os erros e a corrupção de Adecos e Copeianos, ganhou ele próprio eleições em 2013. Nos EUA temos quezílias com o Poder Judicial e com altos funcionários. Em Venezuela a semelhança com o totalitarismo é bem mais evidente. As milícias, elemento importante para impor o terror, suportam o tirano e prestam-lhe todas as honrarias. É com farinha deste saco que surgem os guardas de Treblinka e que tiranos, Estaline é um caso, são dados como exemplo quando deixam o poder. Setenta anos de comunismo deram aquele resultado, mas trinta, prova-o a "Madeira Nova", obnubilam muita cabeça. Os prosélitos de Estaline achavam que o ditador lhes garantiu a vitória na 2ª Guerra, por cá acreditam que derrotaram a "Madeira Velha". Num caso e noutro estão sem futuro.   

Falei do comportamento de dirigentes que queremos respeitadores da Lei, mas que tentam subvertê-las. Hoje o contubérnio não é entre o sangue azul e o Cristianismo. Ele existe entre as elites financeiras (Maduro cairia se a Goldman Sachs não lhe comprasse dívida) e os políticos. Os ditos “mercados financeiros” – não são religião, pois os dogmas que nos querem impor nada têm de sagrado – usam linguagem hermética para a qual temos de estar atentos. Maduro e a Venezuela provam-no à exaustão. Maduro cairá, mas os Venezuelanos vão sofrer para pagarem a dívida contraída.        .

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O ”ÍNDIA” METIA ÁGUA


Há cerca de um sec. e meio, em tempo de monarquia, tinha o País quatro Partidos, Histórico, Regenerador, Reformista e Constituinte. Todos eles eram Católicos, Centralizadores, amavam a Liberdade e defendiam a Ordem e o Progresso. Organizavam-se a partir de galopins (homens cujo trabalho consistia em angariar votos a favor de um candidato) e caciques (os votos obtidos pelos galopins permitiam aos caciques garantir a vitória a um chefe partidário). Os Partidos, devidamente representados na Casa das Leis, o bom senso e a vontade de S. Alteza Real, no topo da pirâmide do Poder Político, garantiam a gestão dos Negócios do Estado.

Almeida Garret foi um cidadão comprometido com a causa do Sr. D. Pedro tendo arrostado as consequências dessa opção. É sobejamente conhecida a frase da sua autoria – «foge cão que te fazem barão! Mas para onde se me fazem Visconde?!» Discordava da atribuição de títulos nobiliárquicos a elementos da burguesia. Considerava mesmo que, antes os frades da velha monarquia do que os barões nascidos com o regime liberal. Esta sua opinião ficou bem expressa noutra frase célebre – «o barão mordeu o frade, devorou-o e escoiceou-nos depois!». Pela boca morre o peixe, diz o Povo. Foi isso que aconteceu ao nosso Garret. Morreu em 1854, com o título de Visconde e Par do Reino. Porém, a História não o repudiará!

Portugal, no fim do sec. XIX, atormentado por uma Europa em ebulição, precisava de galvanizar o Povo, envolvendo-o numa onda de forte Patriotismo. Episódio bem marcante foi a inauguração do navio “Índia” onde as “Forças Vivas” procuravam esse efeito. Na inauguração acotovelam-se os aristocráticos Marqueses, Condes, Viscondes e Barões com gente da burguesia que, adorando Títulos, os conseguira. Também lá estava representado “o barão que mordeu o frade”.

O barco fora comprado após profunda reflexão, obedecia aos mais avançados conhecimentos científicos da época. O “Índia”, custara muitos milhões, era a glória da nossa marinha e a imprensa exaltava-o. Ele era perfeito, apenas metia cinco polegadas de água por dia. Hoje, resta-nos agradecer ao inefável Eça de Queiroz que nos deixou a descrição dos factos que marcaram a Vida do Povo e nos trazem ensinamentos.

A Aristocracia com os seus marqueses, duques, condes e viscondes acabou. Restam-nos os partidos que parecem ter herdado os galopins e caciques vindos do passado. Basta ouvi-los ou lê-los a propagandear os respectivos interesses de grupo para nos interrogarmos: onde fica o Bem Comum neste arrazoado “clubístico”? Drs., Engºs., Prof., gente da imprensa e audiovisuais andam mortinhos por nos venderem gato por lebre. Se nos descuidamos enfiam-nos um Índia na propaganda. Queixam-se da Justiça? Alguém, quando quer votos, propõe alguma coisa de jeito sobre o assunto? Não são aristocratas, metam isso na cabeça! Quem vos garante o Poder é o Povo com os votos! Dão música, futebol e espectáculos vários. De coisas sérias nada! Não é, por isso, brilhante o panorama.

Porém, a realidade madeirense é bem pior. O “Índia” que temos à vista de todos chama-se Novo Savoy. Ostentam as obras em curso, uma importante diferença relativamente às polegadas de água que entravam no casco do barco. Todos vemos o monstro! Interessante é a retórica partidária com que cada partido tenta escapar às suas responsabilidades. Hábeis a usar a palavra, os Srs. Advogados assumem a defesa acérrima das “suas cores”. Herdeiros do velho amedrontamento das pessoas, é vê-los ameaçarem com Tribunal quem duvidar da Honra de S. Exªs. Ninguém duvida de vós. Sois Homens Públicos acima de qualquer suspeita! Quando invocais o dec. a alínea ou parágrafo tudo é pensado e repensado como, aliás, acontecera com a aquisição do velho “Índia”. É obra perfeita! Apenas precisamos entender porque fogem da única Obra gerada na Autonomia. Lisboa não foi tida nem achada para isto, o PPD/PSD-M Partido da Autonomia, o PS e o CDS, sempre no respeito pela lei, oferecem-nos esta “prenda” serôdia ao estilo do “Índia”. Terão honrado a Autonomia que tantas loas vos merece?


Já agora, digam-nos, como vão pôr cobro à crescente conflitualidade entre Câmaras e GR? O recurso a Tribunal com os advogados pagos pelo dinheiro dos impostos é uma constante. Há, na comunicação social, referência a uma possível maioria absoluta no Funchal. Acham que foram vantajosas para o Povo as maiorias de Cavaco Silva, José Sócrates ou Alberto João? Gostaram? Votem maioria absoluta! Mas se não gostaram e, ainda assim, votam maioria, não se queixem depois.  

terça-feira, 18 de julho de 2017

“PARTIDARITE” A MAIS INCOMODA



Há 35 anos que Portugal vive em Democracia sob a égide dos partidos (excluí o período de 1974 a 1982 em que houve tutela militar), tempo suficiente para uma análise.

A confiança dos eleitores nas elites, elemento essencial num regime de partidos, anda hoje pelas ruas da amargura. Terão razão os eleitores? Creio que têm muitas e sólidas razões para desconfiarem de quem, alimentando a luta política na dicotomia direita esquerda, esqueceu os cidadãos em benefício dos militantes. Tivemos deputados e governantes que se esconderam por detrás dos Tribunais, apresentando-os como entraves à vivência democrática. Deputados houve ainda, que perante leis que limitavam o exercício da advocacia, não hesitaram em subvertê-la. Angariavam processos no âmbito da actividade partidária e, despudoradamente, afirmavam aos eleitores incautos, que eram da sociedade de advogados e não pessoais. Ninguém colocou os cidadãos, preto no branco, perante esta dura realidade. Direita e esquerda foram cúmplices!  

A quebra de confiança acentuou-se ainda mais, com a ruptura do sistema financeiro. Foi o pânico geral. Todos os órgãos de Fiscalização do Estado falharam e a malvada retórica esquerda-direita lançou cortinas de fumo atribuindo-se, mutuamente, a responsabilidade pela desgraça que, sem sermos tidos nem achados, nos caiu nos bolsos. Há acusações em Tribunal e ninguém nos pode levar a mal que, perante certas riquezas repentinas, nos mostremos incrédulos. Apetece-nos seguir o exemplo daquele procurador que, nos EUA em 1936, interrogando Lucky Luciano sobre como conseguia viver num hotel tão caro com os baixos rendimentos que declarara, obteve como resposta: "fiz um bom negócio". Nem o procurador nem nós cidadãos, para quem tudo sobra quando toca a pagar, acreditamos em certas inocências.

Há um mês, ficou à vista de todos os Portugueses nova fragilidade do Estado. Os fogos de Verão causaram perdas incomensuráveis em Pessoas e Bens. Tal como acontecera com os vários “fogos financeiros”, a catástrofe de Pedrógão logo foi apropriada para a refrega direita-esquerda. Servirá para alguma coisa? Os incêndios não são de direita nem esquerda. São apenas incêndios.

Porém, a “partidarite aguda” que, como vimos acima, há anos nos aflige, surgiu em todo o seu esplendor no caso dos paióis de Tancos. A Instituição Militar saiu muito mal tratada de tudo aquilo. Causa asco ouvirmos comentadores, como Marques Mendes, dizerem que os Militares podem ser criticados pelas falhas, quando o seu objectivo era cavalgar a onda – como acontecera com Pedrógão – do roubo de direita contra o roubo de esquerda.

Hoje, face a tudo aquilo que se lê, vê e ouve na comunicação social, este episódio tem características de “inventona” – repesquei o termo aos idos de 1975. Naqueles tempos difíceis, criavam-se casos na comunicação social que justificavam, na opinião pública, determinados comportamentos. Caberia aos militares fazer frente à conflitualidade emergente. Foram os custos que a Instituição Militar suportou durante oito anos, por ter ousado substituir um poder político incapaz de descolonizar, seguindo o exemplo de outros Impérios Europeus. Quase meio século depois, há novamente dificuldades. Direita e esquerda combatem-se ferozmente, mas convinha que deixassem as casernas em paz. Definam-lhes a missão e deixem que FA´s a executem, castigando nos casos em que isso se justifique.

Falando sobre o incêndio, após ter dito em cima do acontecimento, que tudo aquilo que fora possível se fizera, o Pres. da Rep., afirmou: “Todos os que assumimos, de uma forma ou de outra, poderes públicos, com humildade temos de reconhecer que aquilo que é uma das funções dos poderes públicos, de segurança das populações, não foi possível garantir cabalmente nestas circunstâncias” . Foi mais longe o Prof. Marcelo. São suas estas palavras: “Lançaria daqui um apelo, uma sugestão que é um apelo, de uma trégua eleitoral e um pacto eleitoral naquelas áreas atingidas. Para que se esqueça a campanha eleitoral. Ou se não for possível esquecer a campanha eleitoral, que se não use na campanha eleitoral esta tragédia em nenhum título, directa ou indirectamente. E que estes meses até Outubro sejam vividos em conjugação de esforços” 

Tem razão o Presidente da República. A diferenciação entre direita esquerda não pode assentar na mera retórica que já nos maça. A instrumentalização do Estado, FA´s incluídas, em circunstância alguma deve ocorrer.

Aplauda-se o comportamento do Presidente da República em exercício de funções. Nem em sonhos quero imaginar qual seria o “Estado da Nação”, se ainda tivéssemos em funções o Prof. Alm. Dr. Aníbal Américo António de Deus Cavaco Rodrigues Silva Thomáz.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

POLÍTICA À FREI TOMÁS


Ninguém ignora que devemos fazer aquilo que o frade diz, e não aquilo que ele faz. Paradigmático disto é o caso Savoy. Os próceres, das “confrarias partidarias”, apenas com jurisdição regional e local, prometeram desenvolvimento e progresso. Deram-nos um desastre muito bem representado na “Obra Feita” no Savoy. Disseram uma coisa, fizeram outra. Agora todos fogem daquilo como o diabo da cruz, parece que foi gerado sem pai nem mãe, ninguém acarinha, muito menos assume, o “monstrozinho”.

Há algum tempo que venho escrevendo sobre a degradação das Funções do Estado na sua importante vertente da Segurança de Pessoas e Bens. Em minha opinião, tribunais e polícias não têm, como é próprio de um Estado de Direito, a imagem valorizada junto da opinião pública. Os polícias erraram na Cova da Moura? Castiguem-nos. Mas mostremos também a nossa indignação em casos mediáticos como o protagonizado por Pedro Dias, procurado pela polícia durante os vários dias, em que assustou as populações a partir de Aguiar da Beira. No momento da entrega às autoridades, a sua advogada, apresentou-o como vítima de “perseguição policial”. Mentira, suspeitava-se dele ser responsável por mortes e as polícias apenas cumpriram o seu dever. Ninguém se lembrou de elogiar as Forças da Ordem, esperando que, a partir da prisão, o tribunal fizesse justiça. Felizmente começam a surgir indícios, embora ténues, de que os frades das “confrarias partidárias” com jurisdição nacional, estão a preocupar-se com a situação.

Desde o dia 17 de Junho, com estrondo, o País acordou para a realidade que temos. Dia 12 de Julho, na AR, ouvimos juras de “amor eterno” à Segurança de Pessoas e Bens. Sector com risco de “incêndio”, tão grande como os eucaliptos, é o futebol. Mortos, feridos, destruição de património de árbitros e seus familiares – também têm direito a que lhes protejam a vida e os bens – e ainda cenas de violência envolvendo polícias, ocupam os “exaltados patriotas ” – vermelhos, verdes, azuis e de todas as outras cores – em muitos programas de TV, toda a semana. O propósito, dizem, é, por um lado, esclarecer a opinião pública se a polícia usou violência excessiva e, por outro, quem foi mais prejudicado naquela “guerra” de fim-de-semana. Temos gente graúda da política e do dito desporto alimentando a fogueira sagrada da clubite aguda. As coisas pioraram ainda mais com a introdução da bruxaria nas “patrióticas” discussões e hoje dia 13, houve nove detidos por suspeita da fabricação de artefactos explosivos destinados às claques. Os riscos estão identificados.

Uma notícia deu conta que o PSD, frades laranja, dia 11 apresentara, uma proposta legislativa na “defesa da transparência e da integridade nas competições desportivas”, retirada no dia seguinte. Na notícia lê-se: “O presidente da Liga, Pedro Proença, pediu já uma audiência com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, com quem esteve na última semana na cerimónia do sorteio das competições da Liga, em Matosinhos, marcada pelo “boicote” do Benfica. Polémica amplificada pelo que a LPFP classificou de “caça às bruxas”, após episódio que visava a directora executiva da Liga, Sónia Carneiro, acusada de em 2012 ter tecido comentários “censuráveis” sobre o Benfica, no Facebook.” Há na notícia mais elementos onde é nítida a preocupação de quem, no PSD, elaborou o documento.

Apesar de ter sido retirada a proposta, o simples facto dela ter surgido é motivo de júbilo. Legislem e aprovem, de preferência por unanimidade, um documento que acabe com toda a opacidade à volta do futebol.

Porém, mais importante do que a qualidade da lei é a vontade dos eleitos em não subverte-la. A opacidade financeira gerada na promiscuidade entre a política e o futebol, tem o dinheiro dos impostos como aglutinador. A exposição pública, no clube e no partido, rende votos, mas descredibiliza qualquer um quando os tribunais são chamados a intervir por suspeitas de má utilização do dinheiro dos impostos.

Aqui chegados, restam-nos duas soluções: quem manda impõe-se e não pactua com a opacidade financeira que grassa no mundo da bola para conquistar votos; continuam a política do Frei Tomás. Dizer, sem dúvida, dizem, mas não fazem aquilo que dizem.    

domingo, 9 de julho de 2017

TIREMOS ILAÇÕES


Já várias vezes abordei o tema da degradação das Funções do Estado naquilo que à Segurança de Pessoas e Bens respeita. Alertei para os sintomas de uma pandemia que, gerada no exterior, revelava fortes sintomas internos e devia preocupar-nos. A propaganda dos clubes de futebol, há muito, incita as respectivas claques “à luta”. A agressividade que assim se introduz na vida colectiva, acho eu, deveria ter sido contida em limites razoáveis por quem manda. Temos mortos e feridos a lamentar.

Hoje tudo acontece à velocidade da luz. Em menos de um mês a pandemia mostrou-se em todo o seu esplendor, podendo falar-se em causas – falei delas no parágrafo anterior – e efeitos da inércia com que agiram aqueles que tinham poderes para salvaguardarem pessoas e bens.

Na fatídica noite de 17 para 18 de Junho todos assistimos ao horror dos incêndios de Pedrógão. Vimos homens impotentes perante a violência que num ápice se abatera sobre aquela zona. Afrontar a violência, gerada pelos homens com a guerra ou vinda da natureza, requer prevenção e treino. Mas quando ”elas assobiam” há sempre imprevisibilidade. Quem manda, isto é, aqueles em quem votámos e nada fizeram para pacificar o futebol, perante a dimensão do desastre, dão-nos agora, na AR, um espectáculo nada dignificante da democracia. Basta! Não há incêndios de direita nem de esquerda. Há pura e simplesmente incêndios! Direita e Esquerda, recorrendo à retórica oca na AR, procuram os mais espantosos argumentos para fugirem às suas responsabilidades. Seria muito mais útil pegarem no contrato do SIRESP estudarem-no, reconhecerem os erros e pedirem-nos desculpa. O Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal foi aprovado por António Guterres e redefinido por Durão Barroso. Deverá, conforme sugere a sigla, responder nas emergências. Logo, não se entende que o contrato insira isto: “ A ocorrência de um caso de força maior terá por efeito exonerar a Operadora da responsabilidade pelo não cumprimento pontual das obrigações emergentes do contrato, na estrita medida em que o seu cumprimento tenha sido impedido em virtude da referida ocorrência, e dará lugar (…) à reposição do equilíbrio financeiro ou, nos casos em que a impossibilidade de cumprimento se tornar definitiva ou a reposição do equilíbrio financeiro se revelar impossível ou excessivamente onerosa para entidade gestora, à rescisão do Contrato”

Falei em pandemia, cujos primeiros sintomas em Portugal foram pequenas erupções cutâneas, como o futebol e o consequente desprestígio das Forças de Segurança, factos ignorados pelos partidos e pelos eleitos em quem votámos. Porém, os acontecimentos de Pedrógão, chocando o País, ganharam o estatuto de escândalo e os partidos já não encolhem os ombros. Como tudo aquilo que puder dar errado dará, a pandemia atingiu as nossas relações com exterior. Pedrógão, como referi acima, provou que não há fogos de direita contra fogos de esquerda. No assalto ao paiol de Tancos é de todo impossível – por muita vontade que haja, e há, – enveredar por esses caminhos ínvios da direita e esquerda. Em 1915 o episódio conhecido por “movimento das espadas”, protagonizado pelos militares que discordavam do envio de um contingente para França, tem elementos em comum com o actual mal-estar dos militares. Não vou entrar, por uma análise às posições de “guerristas” e “antiguerristas” ou pelas ideias de Afonso Costa e Sidónio Pais. Vou deter-me nos 43 anos decorridos de 1974 até hoje. Eu sou uma excepção, no meio dos muitos milicianos que andaram por África, pois não mordo os calcanhares aos militares que mostram desagrado pelo modo como andam a ser tratados. Logo havia de acontecer comigo, eu até construí dois paióis! Mendiguei ferramentas pessoal tinha! Hoje parece que nem munições levam nas patrulhas. Será verdade?

A partidarização do Estado está a deixar-nos incapazes de percebermos aquilo que aconteceu. Estes profissionais que agora protestam são os sucessores daqueles que protagonizaram o movimento das espadas em 1915 ou nos enquadraram nas operações em África de 1961 a 1974. Foram os Jotinhas, alguns activos nos partidos, que não descansaram enquanto não extinguiram o Serviço Militar Obrigatório. Os negócios esperavam-nos, urgia mudar a lei. É vê-los aguerridos, na AR, querendo transformar o verdadeiro Interesse Nacional em mais um episódio de retórica. Bem Comum não podem ser os negócios de grupo.

Tenho esperança que o PR será capaz de fazer entender este princípio aos Portugueses, confrontando os partidos com os seus erros.            

quarta-feira, 5 de julho de 2017

CHAPÉUS E MUROS HÁ MUITOS


No caso madeirense, nem vos digo nem vos conto. Nos últimos 30 anos, para quem tivesse dúvidas, foi um massacre ouvir-se que acabara o tempo de os “cubanos” mandarem em nós. Nunca mais andaríamos de chapéu na mão a mendigar benesses que sistematicamente nos recusavam. Dos chapéus chegámos, em 2017, aos muros que também não eram novidade entre nós. Conhecidos na “Madeira Velha” como muros de suporte de terras, contribuíram para aumentar o escasso solo agrícola. Porém, a “regionalização” brindou-nos com um novo conceito de Muro. O Muro da Destruição.

Na transição do séc. XIX para o XX o arquitecto Ventura Terra estudou a cidade do Funchal e deixou-nos, no Plano com o seu nome, aquilo que, em sua opinião, seria uma cidade vocacionada para o Turismo. Previa o Plano a existência de dois Bairros o Ocidental, para habitação de luxo, e o Oriental para as classes populares. Raúl Lino, duas décadas depois, corporiza, naquilo que conhecemos como Avenida do Infante, o Bairro Ocidental. Tudo isto ocorreu num período conturbado e que apenas cessa com as obras de Fernão de Ornelas, já no pós-2ª Guerra.

A Constituição de 1976 consagrou a Autonomia. Usando os novos poderes, a urbanização foi dos primeiros sectores onde se fizeram sentir as consequências. A construção no Município do Funchal, subiu, irresponsavelmente, encosta acima com o aplauso das populações que retribuíram em votos a bonomia administrativa facultada pela Liberdade Inquinada de que dispúnhamos. A factura revelar-se-ia bem pesada quando a água e o fogo marcaram presença. Os votos proporcionados pelos eleitores contemplados pelas autorizações de obras, iriam provocar-lhes lágrimas de fel nas enxurradas e incêndios recentes. O caso do Funchal, com vários Planos aprovados e suspensos pela edilidade, a gosto do freguês, para assim permitir “obrar” legalmente, foi mais notório mas também ocorreu por toda a ilha. O caos urbanístico imperou.

Em 2005, surgiria o projecto do Muro da Destruição, para o urbanismo Funchalense e a sustentabilidade económica da Ilha. Na senda das práticas anteriores, lá tivemos mais do mesmo. A Câmara então em funções aprovou o PUI e, assinando em 2009 o controverso contrato de urbanização, criou um nó cego que nos garantiu aquela “Obra de Arte”. Classifiquei o Savoy como Muro da Destruição, é isso que penso, mas pode também ser uma notável de Obra de Arte. Já explico.

Lisboa nada tem a ver com isto. Deixou-nos, como herança, um Turismo onde a paisagem era preservada e as preocupações urbanísticas eram reais. Não sou arquitecto, mas acho que aquela construção não tem proporcionalidade nenhuma. É uma aberração e vai contribuir para acelerar ainda mais o aviltamento da paisagem. Porquê? Quantas camionetas sairão, pela manhã, daquele acanhado espaço? Existem estacionamentos pela ilha em quantidade e qualidade para tanto autocarro a juntar àqueles que já circulam? Este é o cenário negro em que a Madeira, na peugada do Porto Santo, se transformará na “solt machine” dos investidores turísticos. Competirá em preços com Torremolinos, e aturará as bebedeiras europeias, como vimos no Algarve há pouco.

Vejamos agora o cenário idílico. Não podemos esquecer que uma Obra de Arte, quando surge, cria muitas resistências. Basta lembrarmo-nos da Torre Eiffel. A contestadíssima Torre acabou por conquistar o Mundo e identifica Paris em qualquer parte. É uma hipótese a explorar. Já viram daqui por uns anos um Americano no Ohio profundo, escolher a Madeira para férias por associar o Muro da Destruição à Madeira? Nesse caso os preços das dormidas acompanharão os de Paris e seremos todos ricos a partir do Turismo.

Voltando à terra. O Novo Savoy não parece suscitar grandes encómios. A excepção mais significativa vem do lobby do cimento argumentando com o emprego que cria. O PPD, com mais responsabilidades em tudo isto, não se empolga no apoio. O PS, não assumindo um apoio inequívoco ao projecto, também não o repudia.


A nós eleitores resta-nos os cenários que citei. Qual dos dois cenários acham que nos proporcionarão? Digam-nos, fazem favor, pois só assim poderemos votar em consciência a 1 de Outubro. Votos emotivos já demos que chegue, na criação das zonas altas e outros desastres.