OS MIASMAS DOS ANOS TRINTA
Dia 7 de Maio de 2017 é data memorável para a
França, para a Europa e para o Mundo. Emmanuel Macron venceu as eleições,
derrotando Marine Le Pen. Todo o País exultou de alegria e com ele toda a
Europa do bom senso, pela derrota da candidata que, dividindo os Seres Humanos,
não hesitaria em atirá-los uns contra os outros.
Passada a euforia, nada melhor para reflectirmos
sobre a gravidade do momento que o feriado do dia 8. A França comemora o fim da
ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial. Não escrevi vitória sobre a Alemanha
porque acho que em 1945/46 houve apenas dois vencedores URSS e EUA. Os Europeus
Ocidentais apenas tiveram direito ao fim de um pesadelo. E não foi coisa pouca,
convenhamos!
Aqui chegado, e na reflexão a que me proponho, os
miasmas dos anos 30 sentem-se, convém prestar-lhes atenção. A maioria dos
órgãos de informação estão habituados, mercê da retórica política, a reduzir a
vida colectiva às questões económico-financeiras. Elas são importantes, sem
dúvida, mas as preocupações dos eleitos não se esgotam nisso. Uma moeda, seja o
euro ou outra qualquer, querendo ser “saudável”, impõe a quem manda, um deficit
nos 3% e a dívida pública não pode atingir percentagens loucas do PIB. O Euro
foi mal concebido, não passando de um Marco mais fraco, dando assim supremacia
à Alemanha em detrimento dos outros Países Europeus o que terá sido um erro.
Mas podemos sempre emendar a mão em todos estes aspectos. Porém, não se espante
com aquilo que vem a seguir, tudo isto são detalhes perante o perigo da guerra.
Ele existe e requer muita cautela, para não
regredirmos aos anos 30, onde, do caos social, emergiram uns falsos salvadores
nada interessados no bem-estar dos Seres Humanos. Eles estavam apenas motivados
pela ambição de mandar e o sofrimento Humano não lhes pesava nas consciências.
A realidade do pós-guerra alterou-se em 1989, com o desmantelamento da URSS. O
liberalismo, na sua vertente económica, vingou em termos planetários. Porém, há
mais vida para lá da economia. Nos Balcãs, após a morte do não alinhado
Marechal Tito, a Jugoslávia que, desde 1945, administrara Sérvios, Croatas e
Islâmicos em paz, desmorona-se. A 1ª saída foi a da Eslovénia em 1991. Foi uma
separação dolorosa e complicada em que lutando contra quem não via com bons
olhos a fragmentação Jugoslava, a Independência vingou com “mãozinha” Alemã.
Todos nos recordamos daquilo que foi a chamada Guerra da Bósnia de 1992 a 95. Hoje
a ex-Rep. da Jugoslávia está fragmentada em: Eslovénia, Croácia, Bosnia
Herzegovina, Servia, Montenegro, Kosovo e Macedónia. Os conflitos no seio
destas sociedades, normalmente, aparecem na comunicação social em notícias de
pé página e o Sr. Eurodeputado Paulo Rangel referiu-se-lhe no Público no dia 2
de Maio p.p.. Parecia preocupado, há razões para isso.
A primeira tarefa da Nova Europa é olhar para
aquilo que ocorre dentro das suas fronteiras onde a guerra existe e quase todos
a escondem. A luta contra Marine Le Pen, um elemento de peso na pirâmide da
demagogia e populismo em cujo vértice pontifica Donald Trump, tem de começar
por aqui. É fundamental esvaziar os vários “Trumps” que explorando a Religião e
crenças étnicas – a Jugoslávia é paradigmática – fomentam a divisão. As outras
questões, sendo difíceis, resolvem-se por arrasto. Serão Frau Merkel e Herr
Schaubel tão intransigentes que prefiram reforçar os “trumps” para não
negociarem com alguém que, vindo da área financeira, ousou defender as posições
gregas no relacionamento financeiro com o Eurogrupo? Macron tem de fazer sair a França do torpor económico em que está,
aliás acompanhada por todo Sul, de Portugal à Grécia. Terá de ultrapassar o
espinho da perda de influência europeia que, desde De Gaulle, custa aos
Franceses engolirem.
Um País que se vê remetido para
segundo plano pela Alemanha pode, em união de esforços com ela, almejar criar
condições para que a globalização económica e as mudanças profundas provocadas
nas sociedades mais desenvolvidas que daí advirão, ocorram numa ordem política
coerente não criando excluídos. Assim os Trumps estarão definitivamente derrotados.
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