terça-feira, 30 de maio de 2017

A GUERRA APOQUENTA-NOS

A Europa, com a queda do muro de Berlim e o consequente fim do comunismo, sonhou alcandorar-se à condição de superpotência. Entusiasmada pela supremacia do mercado livre fomentou o desmembramento da ex-Jugoslávia na convicção de que era capaz de sozinha resolver aquele intrincado problema.

O peso da História na solução destas questões é grande. Um Estado fantoche criado por Hilter, abarcando a Croácia e a Bósnia, levou por diante uma política de genocídio contra os sérvios que, sob a liderança de Tito, saíram vencedores e, no pós-guerra, ficaram na “Cortina de Ferro”. Não foi de estranhar os ajustes de contas no fim do comunismo.

A independência da Eslovénia foi rápida e sem problemas de maior se compararmos com aquilo que vinha a caminho. Dois homens, Franjo Tujman e Radovan Karadzic, misturando de forma explosiva os conceitos de etnia e Estado, impuseram nos Balcãs um inferno que em nada serviu as pessoas. Incapazes de resolver o problema, os Europeus – Alemanha, França e Inglaterra –, pediram ajuda à NATO ou seja, aos Americanos.

A verdade que, à época, a propaganda nos contou, está longe de ser verdadeira. Passados anos já podemos fazer fé em depoimentos de não beligerantes que, postados no terreno, nos relatam o sofrimento de Seres Humanos cuja única ambição era viver em PAZ. Mas viram-se privados dela por teimosia dos mandantes. Estamos conversados sobre a Europa e seus erros.

Donald Trump é um homem que, julgo eu, se o submetessem a testes psicológicos prévios, revelaria incapacidade para o exercício do cargo para que os Americanos o elegeram. Personalidades destas caracterizam-se por, assentes numa pequena verdade, sustentarem enormes mentiras. É o caso das despesas europeias para suportar o esforço de defesa. Exigir o aumento das contribuições financeiras não pode significar a destruição do Património Comum que é a NATO. A organização pode conter o revisionismo russo, integrar pacificamente a China ao mesmo tempo que faz frente ao extremismo islâmico e aos nacionalismos.

Há vinte anos nos Balcãs, os poderosos, nada ralados com o sofrimento humano, levaram por diante as suas ambições de poder. A propaganda preparou-nos para a “condenação” Sérvia, na opinião pública. Mr. Trump, um exímio manipulador da comunicação social, nesta sua primeira saída dos EUA, ateou fogo à pradaria com a sua venda de armas à Arábia Saudita. Fiel às suas definições decretou que os Sauditas são Árabes “bons” em contraponto com Iranianos classificados como Árabes “maus”. O energúmeno municiou os “bons” sunitas – Arábia Saudita – na sua guerra religiosa contra os “maus” xiitas – Irão – apesar de, naquele Estado, os moderados terem acabado de chegar ao poder pelo voto popular. Votos, naquela cabeça, só contam aqueles que ele recolheu nos EUA. A legitimidade popular dos outros, em sua opinião, não conta para nada. Aquele voo mediático que ligou Árabes “bons” a Judeus – duas religiões há muito desavindas – faz crer aos incrédulos terráqueos que a PAZ está ali ao virar da esquina.

A Europa resolveu mal a questão dos Balcãs, mas esta Trumpice, pelo caminho que leva, será um desastre Bíblico. Vou esquecer Iraque e Yemen, ater-me-ei à Síria. Um Sírio tem todo o direito em querer pensar o seu País. Franceses, Alemães, Ingleses e Americanos “sabem” muito sobre a Síria. Só que isto já cansa os Sírios. O discurso geopolítico preocupa-se com a estabilidade regional. A isto segue-se a questão cultural centrada no Islão, no terrorismo e nos direitos das minorias. Finalmente entra em cena o discurso dos direitos humanos para quem os Sírios são vítimas de torturas e geram imensos refugiados. A direita ocidental assume como seus o discurso geopolítico e o cultural. Para a esquerda anti-imperialista a prioridade é o combate ao imperialismo e a política internacional.

Assad é um valioso peão na estratégia de domínio do Mundo pelos poderosos. Ele subordina as aspirações do Povo Sírio às mentiras da luta contra Israel. Estando o inefável Trump interessado, como diz, na PAZ, para quando ouvir este Povo sofredor que pensa e tem vontade própria? Os Sírios não acham piada nenhuma que, por acordo de amigos – Trump e Putin –, tenham de suportar Assad.         

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A REALIDADE EM 2017

A 23/05/2015 publiquei, no FN, o texto que abaixo, actualizo e reproduzo:

“Da Ficção à Realidade
Nos Velhos Marinheiros, Jorge Amado criou um personagem, […].
Falo de Vasco Moscoso de Aragão, Comandante de Longo Curso. Educado pelo avô, revelou-se um jovem adulto […] inadaptado. O coração empurra-o para uma prendada jovem que lhe diz querer para marido alguém que tenha um “título”. Neto, sem “título”, de um avô rico, ficou marcado entregou-se à esbórnia e ao sonho. […].
Aos amigos não escapou que algo o apoquentava. Revelou-lhes o segredo. […], não tardaram a conseguir-lhe um título. Num exame viciado, onde não faltaram registos e carimbos, o Brasil ganhava um COMANDANTE DE LONGO CURSO. Não viria, pensavam, mal ao Mundo pois ele nunca poria os pés num tombadilho. Para que nada faltasse a Vasco, […], D. Carlos I outorgou-lhe o Grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Comandante, condecorado, passou a exigir tratamento consentâneo ao novo estatuto. […]. O ferrabrás, contrariando as previsões foi chamado a comandar um barco. Jorge Amado, generoso, levou-o a bom porto, […]
Passemos da ficção Brasileira à realidade lusa, onde o cidadão Alberto João Jardim apresenta grandes afinidades com Vasco Moscoso Aragão. Na juventude, talvez influenciado pelo avô, e também por ser o tempo dos sonhos, imaginou e defendeu, um Portugal do Minho a Timor.
[…] Tão fanfarrão quanto Vasco e, com muito menos bom senso que ele, garante que apenas soube do fim da guerra e do 25 de Abril pelo telefone, apesar da Nação inteira haver rejubilado com o fim do impasse político que o País, ao tempo, vivia. O acérrimo defensor do Portugal, uno e valente, do Minho a Timor, num passe de mágica, divide as populações do agora diminuto espaço geográfico entre “CUBANOS” e “POVO SUPERIOR”. Estribado no voto popular ofende gravemente as FA´s; no seu órgão de propaganda, o JM, permite que gente da sua confiança afirme que as remunerações no Exército discriminam os madeirenses; numa acção de propaganda, o então Conselheiro de Estado, inaugurou a estátua ao Combatente Madeirense – uma sibilina redacção disfarçava, sem eliminar, a dicotomia “Cubanos” “Povo Superior” – em puro acto de promoção pessoal. Alertei, publicamente, para o facto na altura e, convidado para o acto inaugural, recusei lá ir. Estive, mais tarde, presente em cerimónias militares onde, os ex-combatentes como eu e militares no activo, prestaram as honras devidas aos que tombaram.
[…] A realidade lusa, porém, ultrapassa a ficção. O barco que o nosso fanfarrão comandante dirigiu durante anos […] não chegou a bom porto. A tripulação amotinou-se e correu o comandante quando ele acabara de espatifar o barco na restinga.
Já fora de funções, a Instituição Militar […] atribui-lhe a medalha do Patrono do Exército D. Afonso Henriques – 1ª Classe. Porquê tal distinção? Ela ficará bem entregue a quem, como ele, ofendeu as FA’s e se serviu dos combatentes da sua geração para autopromover-se? Merece-a quem, insultuosamente, recorreu ao vocábulo patriota para denegrir quem nada devia à Pátria quando em simultâneo instigava ao separatismo?
Caso ninguém assuma aquilo que parece ser um tremendo equívoco, como Cidadão Português nascido na Madeira, combatente em África, pergunto: onde coloco a minha emoção quando oiço o toque a mortos junto ao monumento da Mata da Nazaré – hoje colocado em frente do quartel, como eu preconizara na altura – em cerimónia que pretenda recordá-los? Qual a dignidade que devo atribuir ao acto? Será algo de putativo? Onde fica a memória colectiva, quando a 9 de Abril, recuando a 1918, homenageamos os Portugueses mortos em combate na batalha de LA LYS? Servirão os mortos apenas de motivo para umas “sessões solenes” promocionais de um candidato A PAI DA PÁTRIA?”
Dois anos depois, digo eu:
Quem, em 2015, imaginaria que a nossa realidade iria ultrapassar, ainda mais, a ficção do romancista brasileiro e, ficar estupefacto com aquilo que vê, lê e ouve.
Há pouco, o Dr. Alberto João disse que a mãe se recusou a viajar no túnel para o Porto Cruz. A Sr.ª “queria ver a paisagem”. Devia tê-la ouvido! Teria melhorado as estradas, sem destruir as vistas, e, nessa paz ambiental, trabalhariam madeirenses e passeariam turistas. Assim, só serviu para enriquecer o lobby da construção e levá-lo a mentir para nos convencer que túneis e vias rápidas levarão ao regresso das populações aos concelhos rurais.
Nem quero imaginar a reacção do avô se soubesse que, o sistema de assistência que criara para matar a fome provocada pela 2ª guerra e pela instabilidade social portuguesa, fora reactivado graças à acção irresponsável do neto que, em tempo de Paz e abundância de bens alimentares, criara desemprego e fome. Merecer-lhe-ia um valente puxão de orelhas!
Nem mãe nem avô poderão rever-se num descendente, hoje também avô, que continua adolescente sem querer responsabilizar-se por nada daquilo que fa(e)z.         

domingo, 21 de maio de 2017

JÁ LÁ VÃO DOIS ANOS


Não parece, mas é verdade. Hoje ocorre o segundo aniversário da morte do Acácio Pestana.

Cumpridos os “serviços mínimos” no funeral, a Direcção do CSM nunca mais recordou aquele que foi um jornalista desportivo em part-time, respeitado pelos amantes da bola, adeptos ou não, e do seu CSM. Admito que algo me possa ter escapado, e, se for o caso, desde já as minhas desculpas.

Foi bonito de se ver na RTP-M a comemoração dos 40 anos da subida do CSM à 1ª Divisão. A imagem e as palavras, precisas e concisas, do Sr. Adelino Rodrigues revelaram aquilo que fora o clube dos anos 40/50, onde a sua formação humanista, adquirida no Seminário, marcou o seu trabalho como dirigente. O Acácio Pestana – vimo-lo e ouvimo-lo na RTP-M na comemoração – tinha pelo Sr. Adelino Rodrigues uma profunda admiração, a formação humanista era-lhes comum. Não sabíamos na altura, mas hoje sabemos que, com esta subida, se encerrava a prevalência dos valores humanistas nas práticas desportivas.

Nestes 40 anos tivemos um primeiro período, até 1997, em que o dinheiro se tornou inesgotável para os clubes, com particular destaque para os três do Funchal. O GR, relativamente ao qual não há memória de ter faltado dinheiro para actividades lúdicas, suportou os custos da transformação dos clubes, de Instituições de Utilidade Pública que proporcionavam a prática desportiva aos jovens, em entidades promotoras de espectáculos desportivos.

Consciente de que era necessário reduzir a despesa com o futebol, a máquina de propaganda governamental não perdeu tempo e avançou com a ideia do Clube Único. Ideia financeiramente correcta mas inaceitável para os adeptos. A intoxicação feita pela máquina da propaganda governamental não surtiu o efeito desejado. Os sócios e adeptos dos clubes não aceitavam a ideia. Os do CSM foram os mais inconformados. O dia 25 de Maio de 1997 foi um dia fatídico. Admitiu-se que uma cabala montada no interior do CSM pretendia afastar o Dr. Alberto João da liderança do GR. Tudo porque ocorreu uma vaia nos Barreiros. Era normal, na comunicação social da época, quem compunha os quadros da bem remunerada máquina de propaganda ao serviço do poder, esquecer as opções clubísticas em troca do prato de lentilhas. O Acácio Pestana não transigiu, colocou as suas convicções à frente das mordomias. A prepotência não se fez esperar.

Na sequência do 25 de Maio iniciam-se os jantares dos sócios e adeptos do CSM liderados pelo Acácio. Acompanhei-o em muitos dos jantares mensais onde pontificava a frase: UNO, INDIVISÍVEL e INFUNDÍVEL. Recordo o jantar – seria da reconciliação – em que esteve presente o Dr. Alberto João, bem como daquilo que ouvi ao Acácio sobre os alertas que recebera vindos do PSD-M e da AFM para que não houvesse incidentes. Vi e ouvi também as recusas que o Acácio recebeu de gente que, desde a primeira hora, o acompanhara para se sentarem na mesa de honra ao lado do sócio 1.609.

Morto e enterrado, clubisticamente falando, o ideal humanista de Adelino Rodrigues e Acácio Pestana, tal como em 1977, nova realidade desabrocha. Um sistema financeiro desregulado permite criar a imagem de que tudo está bem neste negócio de milhões – Promoção de Espectáculos Futebolísticos – esquecendo a formação nos moldes Humanos da mente sã em corpo são. Espero, para bem de todos nós, que o CSM de Adelino Rodrigues e Acácio Pestana acabe por vencer. 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

HÁ PUSILANIMIDADE A MAIS


Nestes tempos conturbados em que vivemos, onde o velho conceito de Estado-Nação dá fortes sinais de estar a passar à História, urge pensar sobre as questões de segurança de pessoas e bens no interior das nossas fronteiras.

Sabemos como começa a indisciplina cívica. A dúvida é saber como acaba. Tem elevados custos, quer de ordem humana, – mortos, fome, desemprego, perseguições – quer patrimoniais. Bom, muito bom mesmo, é esvaziar a tempo e horas as tensões que, em momento oportuno, ficam incontroláveis.

Em 1915, cinco anos após a queda da Monarquia, os conflitos partidários geraram uma disputa entre o Poder Legislativo e o Executivo que, para além da péssima imagem que as elites deram de si próprias, culminou na eliminação de Manuel Arriaga, da vida pública. A 21/01/1920, a turbamulta tendo à frente dois conhecidos agitadores, “Ó, Ai, Ó, Linda” e o “Pintor” impediu que o Governo de Fernandes Costa fosse tomar posse a Belém. Os agitadores faziam parte de associações de marginais que, explorando a pobreza, manipulavam o povo. A 19/10/1921 ocorreu a noite sangrenta em que a sedição ditou a morte de vários Homens Públicos. Nas eleições realizadas em Nov. de 1925, dos dois milhões de recenseados votaram menos de trezentos mil. Teixeira Gomes – PR em exercício – pedia a dignificação do Parlamento, mas infelizmente, para ele e para o País, saiu-nos em sorte o enorme escândalo Alves dos Reis envolvendo o Banco de Portugal. A perturbação social agudiza-se quando, a 01/01/1926 rebenta uma bomba no Paço Patriarcal, acirrando a disputa com a Igreja. A 26/05/1926, antes de partir para Braga, Gomes da Costa, disse ao jornalista Manuel Múrias: “Revolto-me! Você sabe o que significa isto de um militar como eu dizer que se revolta? Significa que eu […] chorei […] lágrimas de raiva e desespero pelos desesperos da Pátria amordaçada pelas quadrilhas partidárias, ao sentir o ulular das clientelas vorazes que se esfaimam a roer os ossos de Portugal, Malditos!” Estava aí revolução que, depois de exilar Gomes da Costa para os Açores, implantou o Estado Novo.

Nenhum Estado sobreviveria à indisciplina reinante em 1926. Ela justificava o uso da Força. O medo das polícias e de todo o aparelho repressivo do Estado instalou-se com Salazar e deveria ter terminado em 1974. Prometeram-nos um Estado que, fundamentado em leis, garantiria segurança de pessoas e bens e, incluso, nos protegeria das arbitrariedades de quem manda.

Desde logo as arbitrariedades não foram erradicadas. A Paróquia da Ribeira Seca, freguesia de Machico, ilha da Madeira, foi ocupada em 1985 por forças policiais durante 18 dias e 18 noites. Estava em causa um processo onde se quis “ver” crime, num litígio do âmbito do Tribunal Eclesiástico. O Estado deixou-se aviltar. O medo continuava a impor-se. Desde 1974 a comunicação social serviu a propaganda, e muito pouco a cidadania. Os efeitos de tudo isto já se sentem, mas é preciso estar atento para vê-los.  

A promoção de espectáculos de futebol, exacerba paixões. A TV dá-nos imagens violentas, onde é frequente vermos polícias “atacando” indefesos cidadãos. Os nossos eleitos, caso a pusilanimidade não os tolhesse, demarcar-se-iam das paixões clubísticas e não permitiriam que, normalmente, saiam enxovalhados aqueles que têm por missão garantir a segurança de pessoas e bens. Porém, a comunicação social e os eleitos querem-nos a discutir se a PSP ou a GNR bateram, ou não, com muita força. Assim não se aborda a razão profunda do negócio do futebol que, como se sabe, está assente na especulação financeira.

Em 1915, um diferendo entre o Poder Legislativo e o Executivo fez de Pimenta de Castro um fora de lei. Em 1925, os cidadãos desinteressaram-se da coisa pública e Teixeira Gomes tinha a noção do desprestígio do Estado. No ano da graça de 2017 temos todos estes ingredientes instalados na nossa sociedade e, diz-nos a experiência, as mesmas causas levam aos mesmos efeitos.

A pusilanimidade dos nossos eleitos atinge os alicerces do Estado de Direito. Estão muito a tempo de darem um murro na mesa, assumindo, na plenitude, as funções para que foram mandatados pelos nossos votos. O Dr. Salazar não voltará, mas tendo em conta a demissão dos eleitos na defesa do real Interesse Colectivo, corremos o risco de, em breve, termos instalada uma ditadura em que o Dr. Salazar ganhará o estatuto de menino do coro. Basta pensarmos que ao vencedor do Festival da Canção – Salvador Sobral – não foi permitido usar uma camisola chamando à atenção para o Problema Humano dos Refugiados. O HOMEM e o seu sofrimento não puderam ser lembrados. Mas se na camisola se referisse a marca de um negócio planetário, o cantor seria generosamente recompensado. Este Mundo não é para Seres Humanos.    

quarta-feira, 10 de maio de 2017

OS MIASMAS DOS ANOS TRINTA


Dia 7 de Maio de 2017 é data memorável para a França, para a Europa e para o Mundo. Emmanuel Macron venceu as eleições, derrotando Marine Le Pen. Todo o País exultou de alegria e com ele toda a Europa do bom senso, pela derrota da candidata que, dividindo os Seres Humanos, não hesitaria em atirá-los uns contra os outros.

Passada a euforia, nada melhor para reflectirmos sobre a gravidade do momento que o feriado do dia 8. A França comemora o fim da ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial. Não escrevi vitória sobre a Alemanha porque acho que em 1945/46 houve apenas dois vencedores URSS e EUA. Os Europeus Ocidentais apenas tiveram direito ao fim de um pesadelo. E não foi coisa pouca, convenhamos!

Aqui chegado, e na reflexão a que me proponho, os miasmas dos anos 30 sentem-se, convém prestar-lhes atenção. A maioria dos órgãos de informação estão habituados, mercê da retórica política, a reduzir a vida colectiva às questões económico-financeiras. Elas são importantes, sem dúvida, mas as preocupações dos eleitos não se esgotam nisso. Uma moeda, seja o euro ou outra qualquer, querendo ser “saudável”, impõe a quem manda, um deficit nos 3% e a dívida pública não pode atingir percentagens loucas do PIB. O Euro foi mal concebido, não passando de um Marco mais fraco, dando assim supremacia à Alemanha em detrimento dos outros Países Europeus o que terá sido um erro. Mas podemos sempre emendar a mão em todos estes aspectos. Porém, não se espante com aquilo que vem a seguir, tudo isto são detalhes perante o perigo da guerra.

Ele existe e requer muita cautela, para não regredirmos aos anos 30, onde, do caos social, emergiram uns falsos salvadores nada interessados no bem-estar dos Seres Humanos. Eles estavam apenas motivados pela ambição de mandar e o sofrimento Humano não lhes pesava nas consciências. A realidade do pós-guerra alterou-se em 1989, com o desmantelamento da URSS. O liberalismo, na sua vertente económica, vingou em termos planetários. Porém, há mais vida para lá da economia. Nos Balcãs, após a morte do não alinhado Marechal Tito, a Jugoslávia que, desde 1945, administrara Sérvios, Croatas e Islâmicos em paz, desmorona-se. A 1ª saída foi a da Eslovénia em 1991. Foi uma separação dolorosa e complicada em que lutando contra quem não via com bons olhos a fragmentação Jugoslava, a Independência vingou com “mãozinha” Alemã. Todos nos recordamos daquilo que foi a chamada Guerra da Bósnia de 1992 a 95. Hoje a ex-Rep. da Jugoslávia está fragmentada em: Eslovénia, Croácia, Bosnia Herzegovina, Servia, Montenegro, Kosovo e Macedónia. Os conflitos no seio destas sociedades, normalmente, aparecem na comunicação social em notícias de pé página e o Sr. Eurodeputado Paulo Rangel referiu-se-lhe no Público no dia 2 de Maio p.p.. Parecia preocupado, há razões para isso.

A primeira tarefa da Nova Europa é olhar para aquilo que ocorre dentro das suas fronteiras onde a guerra existe e quase todos a escondem. A luta contra Marine Le Pen, um elemento de peso na pirâmide da demagogia e populismo em cujo vértice pontifica Donald Trump, tem de começar por aqui. É fundamental esvaziar os vários “Trumps” que explorando a Religião e crenças étnicas – a Jugoslávia é paradigmática – fomentam a divisão. As outras questões, sendo difíceis, resolvem-se por arrasto. Serão Frau Merkel e Herr Schaubel tão intransigentes que prefiram reforçar os “trumps” para não negociarem com alguém que, vindo da área financeira, ousou defender as posições gregas no relacionamento financeiro com o Eurogrupo? Macron tem de fazer sair a França do torpor económico em que está, aliás acompanhada por todo Sul, de Portugal à Grécia. Terá de ultrapassar o espinho da perda de influência europeia que, desde De Gaulle, custa aos Franceses engolirem.


Um País que se vê remetido para segundo plano pela Alemanha pode, em união de esforços com ela, almejar criar condições para que a globalização económica e as mudanças profundas provocadas nas sociedades mais desenvolvidas que daí advirão, ocorram numa ordem política coerente não criando excluídos. Assim os Trumps estarão definitivamente derrotados. 

sábado, 6 de maio de 2017

ESTADO A DIREITO


É a envolvente social dos adolescentes, na idade da ficção, que gera os sonhos. Sugiro-vos a leitura do texto abaixo para que, no final, cada um decida se estamos perante um sonho ou um pesadelo. A diferença é tão ténue! Porém, impregnada de valores morais.

Eu sou a Maria Boa Vida, tenho treze anos, vivo na Lombada dos Abençoados 3º Impasse à direita. Vivo com os meus pais e irmãos, a escassos metros da casa do meu avô. Ando na escola, e quero ser muito rica quando for grande.

Acho lindo o estado a direito em que vivemos. À Liberdade celebrada no fim de Abril seguem-se agora três semanas de festividades da flor. Comparar todo este bem-estar com os tempos tenebrosos que o meu avô descreve, em que não havia estrada nem luz, aqui em cima é a diferença entre o dia e a noite. Ele diz que vinha da escola a pé com os sapatos rotos, seguia pela vereda, entrava no trainel da levada e subia as “passadas” até chegar a casa. O pai, quando não venho no autocarro, traz-me no seu carro até à nossa garagem! Gosto de viver neste estado a direito.

O meu pai quando nasceu, quase que morria e, a minha avó passou muito mal por falta de médico. Graças ao estado a direito, assente na Liberdade e ao empenho de pessoas como os Srs. Drs. Alberto João e Miguel Sousa, entre outros, acabou a noite escura e, veio o sol da Autonomia. Retenho uma vaga ideia de ver o Sr. Dr. Miguel Sousa nos comícios, pondo a “Madeira em marcha”. Foi notável aquilo que se fez.

Vivo o ideal da Autonomia, daqui não me afasto. Não perco, às 5ªs. feiras, na RTP-M, o notável trabalho de divulgação daquilo que foi a luta para garantir o progresso da Madeira e Porto Santo. Foi lindo, ouvirmos o Dr. Miguel de Sousa explicar como perante a falta de dinheiro recorreu à Caixa Económica do Funchal para resolver o problema. Grande sabedoria teve aquele Senhor! Mas o Sr Dr. Alberto João não lhe ficou atrás, quando foi preciso dar vida à “Força de acreditar” do BANIF. Ai aquela conversa com os Srs. Horácio Roque e Joe Berardo no bar do Sheraton não me sai da cabeça! Era assim a união entre os grandes defensores da Autonomia, onde é de elementar justiça incluir o Sr. Dr. Paulo Fontes e a conversa a sós, na casa de banho, com o Sr. 1º Min. Tudo tão bem feito! Fossem doutros quaisquer estas afirmações, eu diria que mentiam, mas eles não. Eles não mentem!

Vou dedicar-me de alma e coração à Jota. Começarei pelos trabalhos mais humildes, sempre a pensar no melhor para o partido e para mim. Levantar-me-ei cedo, as vezes que forem necessárias, para acompanhar as pessoas nas concentrações determinadas pelo partido. O militante exemplar, para mim, é o Sr. Dr. Miguel Relvas. Aquele homem tem uma vida ao serviço dos outros. Desde os seus tempos de Jota que ele vem engrandecendo o partido, ao congregar à sua volta os militantes para garantirem apoio em votos aos chefes partidários. Num ápice chegou a Ministro, pois os dirigentes apoiados por ele não o esqueceram, quando foram eleitos para Funções de Estado. Esta lógica já eu percebi. “O meu avô é militante da primeira hora e o meu pai seguiu-lhe os passos”.

“Quero ser uma espécie de Isabel do Santos. O pai dela ajudou a Independência de Angola, o meu, a Autonomia da Madeira. Seduz-me ter um Banco! Estou ansiosa pelos próximos episódios da divulgação daquilo que foi a luta pela Autonomia, quero perceber muito bem as relações entre o Poder Político e o Poder Financeiro, já afloradas, mas ainda não totalmente explicadas. A minha ambição é grande, eu sei, mas vou lutar por ela. Confio totalmente na Autonomia e no estado a direito que a suporta.”

Restam-me duas dúvidas. Vou confessar-vos quais. Qual a diferença entre este estado a direito e o Estado de Direito de que, uns velhos, mais velhos que o meu avô, tanto falam? O que é o respeito pela Pessoa Humana? Porventura alguém é desrespeitado no estado a direito que a minha família ajudou a construir?