PORQUÊ ZANGARMO-NOS?
Com demasiada frequência vemos, lemos e ouvimos
notícias de distúrbios envolvendo o futebol. Às vezes há necessidade de
intervenções policiais musculadas. A partir daqui a atenção das pessoas
centra-se na actuação da polícia. Uns dirão que separar contendores desarmados
não justificava tanta força. Outros acham que as polícias devem agir antes da
fase dos confrontos. Preocupados com os efeitos, esquecemo-nos das causas. Os dirigentes
dos clubes de futebol recorrem a TV’s, rádios e jornais exacerbando paixões.
Porquê? Para quê? Eles, desvalorizando o racional, impedem os “apaixonados” de
se questionarem sobre a opacidade financeira do sistema com pagamentos
pornográficos a dirigentes e jogadores. Sensatez, devia o Estado, em nosso
nome, pedir a quem dirige este enigmático negócio dito “desportivo”, capaz de
gerar violência.
A História narra-nos casos de violência em vários
graus e formas. Deparamo-nos com um desfile ininterrupto de conflitos, seja
entre tribos, povos, países ou impérios, conflitos quase sempre decididos pelo
sacrifício das suas forças, ao longo de uma guerra. Essas guerras saldam-se na
glorificação dos vencedores e a submissão dos vencidos. O nosso ego incha,
quando recordamos o “bárbaro” Viriato que desafiou as poderosas Forças
Imperiais Romanas. No séc. XXI, os nossos concidadãos, psicologicamente
preparados pelos dirigentes dos vários “exércitos beligerantes”, partem para a refrega
munidos de vários talismãs legais, uns, outros nem por isso. Aí vão eles,
destemidos, enfrentar a Força Bruta.
O enquadramento legal da violência – ainda não totalmente
conseguido neste séc. XXI – concilia a renúncia de uma quota-parte da Liberdade
de cada indivíduo, face ao colectivo, para que a vida se desenrole em
segurança. O Estado garante a segurança a todos os seus cidadãos. É por isso
que criticamos as polícias, quando, se abríssemos os olhos, devíamos criticar
os endeusados dirigentes. Saindo do âmbito do Estado Soberano o uso da força,
põe-se com maior acuidade. A ambição de alguns pelo Poder levou a que, para
além da violência intrínseca à guerra, se instalassem Poderes Totalitários
desrespeitadores da Pessoa Humana.
Dispondo, inicialmente, de armas pouco sofisticadas,
o Homem aperfeiçoou-as. No séc. XX, com sofisticados equipamentos militares, a
Humanidade viveu a barbárie das 1ª e 2ª guerras. Do cinema à literatura, em
proporções nunca vistas, à violência da Guerra acresceu o extermínio premeditado
de Seres Humanos. Os Judeus, Nação sem Estado, foram as vítimas. Os humilhados
Judeus, aproveitando aquele momento histórico, procuraram um território para
nele criarem o “SEU” Estado de Israel. Não tendo esquecido certos personagens
ligados à “solução final”, capturaram, na Argentina nos anos 60, e trouxeram
para Israel Adolf Eichmann. Uma opinião pública e publicada, nada favorável aos
nazis, viu, com agrado, Eichmann ser condenado à pena capital. Uma Judia – Hannah
Arendt – traidora na opinião dos maniqueístas da informação sionista da altura,
teve uma leitura diferente do julgamento. Estudiosa dos comportamentos humanos
nos regimes totalitários, ela achou que Eichmann e muitos outros, apenas cumpriram
ordens não passando de pobres diabos que renunciaram a pensar para salvarem a
pele. Na sociedade ideal, onde não se governará pelo medo, o Poder –
fundamentado em leis que respeita – não dará ordens prepotentes e ilegítimas.
As ideias de Hannah Arendt impuseram-se. Crimes de
guerra e outros conceitos fizeram o seu caminho. Estando controlado, bem ou
mal, o uso da violência no interior do território de cada Estado, a Humanidade
anseia pelo momento em que o recurso à violência inter-Estados, aceite também subordinar-se
ao Direito, garantindo assim o respeito da Pessoa Humana enquanto habitante do
Planeta.
Em Portugal e Israel, os Tribunais e a opinião
pública preocupam-se com o uso da violência no seu território. Entre nós,
apenas as paixões geradas pelos negócios desportivos levam a Tribunal homens,
legalmente mandatados para usar a força. A opinião pública, normalmente, “aprova”
as sentenças condenatórias de quem, em nosso nome, usa a força. Falando de
Israel, erigido sobre os escombros do holocausto, Moshe Dayan disse: “Já que
temos de viver pela espada, que ao menos a saibamos manter limpa”. Num tribunal
israelita, em Janeiro p.p., um sargento acabou condenado por homicídio
involuntário, ao abater um Palestiniano. Foi uma vitória para a causa dos
direitos humanos, distinguir-se entre um assassino e um militar.
As cortinas de fumo da propaganda escondem os reais
interesses por detrás do futebol. Em Israel, a propaganda denegrindo o Tribunal,
procura garantir a supremacia judaica sobre os Palestinianos. Um novo
totalitarismo virá se não formos capazes de criar Tribunais independentes,
fundamentados em leis providas de ética. A ética é a garantia da igualdade de
tratamentos a todos os Seres Humanos, pois, infelizmente, ainda é muito grande
o número dos que querem salvar a pele e, Chefes que, a coberto da propaganda a
todos ludibriam.
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