O
TEXTO DE JEROEM DIJSSELBLOEM
(18 anos
com o euro)
O
Min. das Finanças Holandês, e Pres. do Eurogrupo disse: “O pacto na zona euro
baseia-se na confiança. Com a crise do euro, os países do norte da zona euro
mostraram a sua solidariedade para com os países em crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente
importante. Mas quem a exige, também tem obrigações. Não posso gastar todo o
meu dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda. Este
princípio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e, inclusivamente europeu.”
A linguagem com que os Homens Públicos se exprimem tem de ser sopesada. Cada
Povo tem o seu ADN, com defeitos e qualidades. O projecto Europeu junta Povos
com um passado feito de conflitos. Logo, lembrar defeitos, não une, separa quando
nos queremos juntar à volta de uma moeda comum.
Imaginemos
que um Holandês, povo em luta permanente com o mar, visitou a Madeira em 2012.
Percorreu a ilha de lés a lés, viu os escombros da Marina do Lugar de Baixo e
as obras de “modernização” do Porto do Funchal. Voltou em 2016, admirado
assistiu às ondas a baterem forte naquilo que, supusera ele em 2012, seria um
cais de acostagem. Incrédulo, não se conteve e procurou explicação. Ficou a
saber que o mesmo Governo que, gastando milhões, falhara no Lugar da Baixo
voltara a falhar, acompanhado pelos mesmos projectistas responsáveis pelo
fracasso anterior. A tudo isto acresce que, os cidadãos eleitores, deram duas
maiorias absolutas ao partido do Governo, premiando-o pelo “êxito”. Como
avaliará ele, eleitores e eleitos capazes desta proeza? Se narrassem, a um
madeirense, estes factos, como tendo ocorrido em África, a sentença seria
célere: coisas de pretos. O “povo superior” não é parco na ofensa.
Porém,
aquilo que interessa é o futuro. A coesão económica, com maior ou menor
dificuldade, lá foi acontecendo. A Europa dos seis, em 1973 já ia nos nove, e
em 1986 eram 12. Três “ricos-novos” – a Grécia entrara em 1981 – entram no
grupo. Eles, mais tarde, incorporando a Irlanda chegada em 1973, receberão o
nada simpático epíteto de PIGS, à conta do euro e das obrigações que não satisfizeram.
A ideia de uma moeda única ganhou vida em 1999. Um pequeno grupo de Países,
onde estavam Portugal Irlanda e Espanha, mas não a Grécia, iniciou a
via-sacra dos sacrifícios impostos em prol de uma moeda comum.
A
partir daqui, as coisas complicaram-se e muito. No caso Português, os “patriotas
da banca”, em conúbio com o poder político, emprestaram à tripa forra a
particulares e entidades públicas, para rentabilizarem o negócio. A coisa foi
de tal ordem que, por duas vezes, (governavam Durão Barroso e Pedro Santana
Lopes) os interesses particulares dos nossos banqueiros se sobrepuseram ao
interesse colectivo. Precisámos de dinheiro, mas uns quantos – banqueiros
orgulhosos do seu passaporte – levavam e traziam dinheiro, ao sabor dos perdões
fiscais. Sabem como tudo isto vai acabar? Ninguém duvida, pois o equilíbrio do
sistema financeiro é feito à nossa custa.
A
Letónia, última a entrar, fê-lo em 2014. Disse o Pres. da Comissão Europeia,
Durão Barroso, na altura: “ Graças a esses esforços a Letónia vai entrar mais
forte que nunca na zona do euro, enviando assim uma mensagem encorajadora para
outros Países que enfrentam um difícil ajuste económico”. Dos nossos
sacrifícios falei no parágrafo anterior. Os letões, também os tiveram e, apesar
das belas palavras de Durão Barroso, há efeitos comuns cá e lá, para os quais
convém estar atento.
O
crescimento económico foi a base com que no Sul nos acenaram em 1986. Caída a
URSS, a Letónia também acreditou nesse crescimento e sofreu para aderir. Hoje
estamos no mesmo barco, sem crescimento económico e embalados por um discurso,
ao gosto do nosso Durão Barroso, onde os donos do poder financeiro põem e
dispõem como se fossem donos de todos nós. Eles financiam negócios, com base em
leis destituídas de ética e, recusam explicar-nos esses dogmas.
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