segunda-feira, 27 de março de 2017

O TEXTO DE JEROEM DIJSSELBLOEM
(18 anos com o euro)


O Min. das Finanças Holandês, e Pres. do Eurogrupo disse: “O pacto na zona euro baseia-se na confiança. Com a crise do euro, os países do norte da zona euro mostraram a sua solidariedade para com os países em crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige, também tem obrigações. Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda. Este princípio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e, inclusivamente europeu.” A linguagem com que os Homens Públicos se exprimem tem de ser sopesada. Cada Povo tem o seu ADN, com defeitos e qualidades. O projecto Europeu junta Povos com um passado feito de conflitos. Logo, lembrar defeitos, não une, separa quando nos queremos juntar à volta de uma moeda comum.

Imaginemos que um Holandês, povo em luta permanente com o mar, visitou a Madeira em 2012. Percorreu a ilha de lés a lés, viu os escombros da Marina do Lugar de Baixo e as obras de “modernização” do Porto do Funchal. Voltou em 2016, admirado assistiu às ondas a baterem forte naquilo que, supusera ele em 2012, seria um cais de acostagem. Incrédulo, não se conteve e procurou explicação. Ficou a saber que o mesmo Governo que, gastando milhões, falhara no Lugar da Baixo voltara a falhar, acompanhado pelos mesmos projectistas responsáveis pelo fracasso anterior. A tudo isto acresce que, os cidadãos eleitores, deram duas maiorias absolutas ao partido do Governo, premiando-o pelo “êxito”. Como avaliará ele, eleitores e eleitos capazes desta proeza? Se narrassem, a um madeirense, estes factos, como tendo ocorrido em África, a sentença seria célere: coisas de pretos. O “povo superior” não é parco na ofensa.

Porém, aquilo que interessa é o futuro. A coesão económica, com maior ou menor dificuldade, lá foi acontecendo. A Europa dos seis, em 1973 já ia nos nove, e em 1986 eram 12. Três “ricos-novos” – a Grécia entrara em 1981 – entram no grupo. Eles, mais tarde, incorporando a Irlanda chegada em 1973, receberão o nada simpático epíteto de PIGS, à conta do euro e das obrigações que não satisfizeram. A ideia de uma moeda única ganhou vida em 1999. Um pequeno grupo de Países, onde estavam Portugal Irlanda e Espanha, mas não a Grécia, iniciou a via-sacra dos sacrifícios impostos em prol de uma moeda comum.

A partir daqui, as coisas complicaram-se e muito. No caso Português, os “patriotas da banca”, em conúbio com o poder político, emprestaram à tripa forra a particulares e entidades públicas, para rentabilizarem o negócio. A coisa foi de tal ordem que, por duas vezes, (governavam Durão Barroso e Pedro Santana Lopes) os interesses particulares dos nossos banqueiros se sobrepuseram ao interesse colectivo. Precisámos de dinheiro, mas uns quantos – banqueiros orgulhosos do seu passaporte – levavam e traziam dinheiro, ao sabor dos perdões fiscais. Sabem como tudo isto vai acabar? Ninguém duvida, pois o equilíbrio do sistema financeiro é feito à nossa custa.

A Letónia, última a entrar, fê-lo em 2014. Disse o Pres. da Comissão Europeia, Durão Barroso, na altura: “ Graças a esses esforços a Letónia vai entrar mais forte que nunca na zona do euro, enviando assim uma mensagem encorajadora para outros Países que enfrentam um difícil ajuste económico”. Dos nossos sacrifícios falei no parágrafo anterior. Os letões, também os tiveram e, apesar das belas palavras de Durão Barroso, há efeitos comuns cá e lá, para os quais convém estar atento.


O crescimento económico foi a base com que no Sul nos acenaram em 1986. Caída a URSS, a Letónia também acreditou nesse crescimento e sofreu para aderir. Hoje estamos no mesmo barco, sem crescimento económico e embalados por um discurso, ao gosto do nosso Durão Barroso, onde os donos do poder financeiro põem e dispõem como se fossem donos de todos nós. Eles financiam negócios, com base em leis destituídas de ética e, recusam explicar-nos esses dogmas. 

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