AUTONOMIA,
ÉTICA, FUTEBOL E OFFSHORES
Os
mitos com que hoje se motivam os cidadãos, são vários. O futebol é um deles, pois
não deixa neurónios disponíveis àqueles que têm a infelicidade de colocar
futebol e cidadania no mesmo patamar de importância. Esses cidadãos, por um
lado, ficam vulneráveis à propaganda de políticos cujo objectivo não é a
procura do Bem Comum, mas apenas perpetuarem-se no poder ganhando eleições e,
por outro, na sua ingenuidade, não vislumbram a parceria político-futebolística
que os prejudica ao gerar negócios que, não respeitando a ética, nos lesam a
todos.
Na
edição do dia 2 de Março, o DN dava-nos conta de um litígio entre a SAD do CSM
e a AFAVIAS, envolvendo 3,5 milhões, relativos a obras que o anterior GR assumira
financiar. Dia 22 o Marítimo da Madeira Futebol SAD, é de novo notícia. Desta
vez ela é bem mais explosiva pelos mitos com que buliu. Na Madeira mandam os
madeirenses, consta da cartilha autonómica. Inspecções vindas de Lisboa, há 10
anos, que credibilidade podem ter para determinar dívidas fiscais geradas na
RAM? Quando isso ocorreu, disseram-nos logo: já viram a lata? Estava ali uma
falta de respeito pela “nossa” Autonomia. Assim seria, se naquela altura os que
mandavam – coisa diferente de governavam – fossem homens responsáveis pelos
seus actos. Mas não. Eles não passavam de inimputáveis, que só quiseram ganhar
eleições, deixando, como se viu, os calotes para o Povo.
À
autonomia juntam-se novos mitos. As SAD’s surgiram envoltas num discurso de
transparência, por ficarem sujeitas às regras da economia como qualquer outra
unidade empresarial, daquelas que pagam salários a quem trabalha. A malvada
Administração Fiscal de Lisboa reclama impostos sobre 1,8 milhões de euros
pagos a partir de um offshore Londrino a profissionais da SAD do CSM. Ninguém
nos perdoa um cêntimo no IRS, mas estes receberam através de offshore para
fugirem ao imposto!
Os
desatentos cidadãos, confiando na palavra dos Homens Públicos, não se apercebem
das mentiras que estes lhes impingem. A saga dos offshores e o encobrimento dos
negócios obscuros do futebol continuou. Uma mentira propalada à exaustão, de
que as SAD’s, ao entregarem os impostos, como faz qualquer outra empresa, dão
“lucro”, por aquele valor superar as ajudas recebidas do GR cala fundo em
muitas cabeças. Porém, os offshores continuam a fazer das suas. Um dirigente do
CDN, exercendo o cargo de Director Regional de Finanças, teve uma acção no
Tribunal, no valor € 91.716.79. Foi absolvido. Não me cabe “julgar” o Tribunal,
penso que tudo decorreu dentro na legalidade.
A Ética, essa, andou
arredada de tudo isto. Ao ter-se congratulado com a absolvição do seu Director Regional, o Sr. Presidente do GR, prestou um mau serviço à democracia. Ele
aprovou a falta de Ética. Por um lado, conhecia, muito bem, os dois pesos e
duas medidas com que o IRS era cobrado na RAM; por ou outro, avalizou num cargo
público, alguém que, sendo sério, não parecia. S. Exª. sabia, sabe, que em
política aquilo que parece, é.