ENFRENTEMOS A REALIDADE
O 25 de Abril fez
despontar no espaço insular Português dois movimentos – a FLA e a FLAMA – que
incendiaram as cabeças. Por outro lado, o PREC foi um período que ninguém de
bom senso gostará de ver reeditado. Por fim, a acrimónia entre partidos e
militares cessou em 1982 tendo os poderes do Conselho da Revolução passado para
o Tribunal Constitucional e Conselho de Estado. O último resquício militar, o
PR, viu parte dos seus Poderes passarem para a AR. Finalmente eramos um Estado
sem tutelas!
A retórica dos
anos oitenta fez-se à volta da necessidade do Poder Regional conquistar o
espaço que, por um lado, a Constituição lhe reservava e, por outro, a procura
de financiamento urgia. Em Setembro de 1986, a propósito da revisão do Estatuto
vetado por Mário Soares na sequência da guerra das bandeiras desencadeada nos
Açores, gerou-se um conflito entre o Poder Central e o Regional. Tudo ficou
sanado com ida de Soares ao Parlamento Açoriano. Em Novembro do mesmo ano, na
Madeira, ocorria a visita dos Sul-Africanos Pieter e Pik Botha. Terá dito,
Cavaco Silva, então 1º Min: “os embaixadores
acreditados em Lisboa transmitiam para os respectivos governos todos os sinais
de divergências entre centros de poder sobre política externa” e esta “Tratava-se de uma competência
exclusiva do Governo da República”.
Os
conflitos financeiros com os Açores tiveram grande dimensão quando Portugal
abdicou de 30 milhões de dólares nas negociações com os EUA sobre a Base das
Lajes. Mota Amaral, conhecendo alguns protagonistas deste novo caso, desde o
tempo da guerra das bandeiras, mostrou desagrado. Porém, isso não o impediu de
receber este elogio do Sr. Embaixador Rosa Lã: “… ao longo da minha carreira
sempre recebi do Dr. Mota Amaral as melhores atenções…” Em Outubro de 1995 Mota
Amaral demite-se de Pres. do GR – não consta que tenha deixado dívidas – para prosseguir
a sua carreira política. A Madeira manteve no Poder, até 2015, o Dr. Alberto
João, a retórica à volta da Constituição e adjectivações pouco simpáticas a
quem questionava o endividamento, foram a regra.
A 29/04/2009, após
uma intervenção na TV, em que o Dr. Alberto João se vitimizou, eu escrevi, no
DN local, isto: “Mártir será o povo madeirense. Quão pesada será a pena, quando
tivermos de pagar os mil milhões reconhecidos como dívida da RAM, acrescidos
das dívidas da Via Litoral, “Sociedades de Endividamento”, Serviço de Saúde
etc. Estes sacrifícios, sim, garantem martírio. Aos filhos e netos das classes
mais desfavorecidas de hoje, que tantas vitórias eleitorais deram, tal como há
60 anos, faltarão sapatos e a roupa - já sem marca – trará remendos.”
A 1 de Fev. de
2012 assinou o Dr. Alberto João a capitulação perante o Poder Central ao
contrair uma dívida de 1.500 milhões de euros. Na mesma data através da
Resolução nº 43/2012 a resposta jurídico-política não se fez esperar. Reclamavam
6.300 milhões então nós reivindicamos 9.000 milhões ao Governo Central. Pois,
sem dúvida que: "importa saber, em toda
esta questão, qual o relacionamento que o Governo Regional terá com a
Assembleia Legislativa na fase de implementação do Programa de Ajustamento";
importa conseguir "reforço da unidade nacional"; importa aumentar
"laços de solidariedade entre todos os portugueses"; importa "exercer
poder tributário próprio ".
Esta
retórica, abandonada há 22 anos pelos dirigentes Açorianos, foi, por esta via,
prorrogada na Madeira e os partidos fazem dogma da Resolução. Acharão, os
filiados do PPD/PSD e seus governantes, que são levados a sério quando,
questionados sobre os subsídios de mobilidade, transportes, hospital etc dizem que
esperam soluções de Lisboa? Aqueles que são poder em Lisboa acham que ainda há
pachorra para ouvir queixas sobre os desvarios financeiros regionais? Tirem o
cavalinho da chuva, os eleitores querem são os problemas resolvidos e sem
retórica oca.
Sentem-se,
e conversem. Digam-nos a verdade sobre os 1.500 milhões que temos para pagar, imputem
a responsabilidade da dívida a quem a contraiu. Construam uma nova realidade
que nos permita olhar para o futuro apesar das dificuldades. Não fazer isso é
deixar terreno semeado para o reaparecimento de um Trump Salvador.
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