terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

TRUMP AO FIM DE UM MÊS


Tendo ganhado as eleições Mr Trump achou que governar era coisa simples. Tudo, em sua opinião, se resumia a duas coisas: dar ordens; manter os eleitores galvanizados pelo discurso, como se a campanha eleitoral se mantivesse durante todo o mandato. Se mal pensou, pior executou.

Veio da área privada, onde ele dava uma ordem e a hierarquia da empresa levava-a por diante, sem preocupações com conflitos de Poder. Na esfera Pública não é rigorosamente assim. Constituir o Governo, para Trump, foi o cabo dos trabalhos. O mundo assistiu à novela, em vários episódios, do nomeia-não-nomeia o responsável pela Segurança do Estado. Desistências, também as houve.

Trump, um demagogo, populista inveterado, governando para o “seu Povo” – o povo que facilmente engole a retórica imbecil que lhe servem - cedo mostrou àquilo que vinha. Ignorante, desconhece os mais de duzentos anos de história dos EUA, e querendo mandar, julgando isso possível, iniciou o seu quero, posso e mando. Leis, limitando Poderes, compatibilizando-os tendo em vista a prossecução do Bem Comum, - aqui cabe quem votou e quem não votou no avejão - só atrapalham, logo, mandem-se essas retrógradas leis às malvas.  

Porém, o novo chefe de Estado não contava com a suspensão judicial da medida com que pretendia barrar a entrada de estrangeiros. No cumprimento da lei, dentro dos limites impostos à autoridade do Pres. dos EUA, o Tribunal suspendeu a medida com que Trump pretendia punir sete Países de maioria muçulmana ainda antes de completar quatro semanas no cargo. Viu também o primeiro membro da alta cúpula da Casa Branca – Michael Flynn, conselheiro de Segurança Nacional – cair por causa do relacionamento com a Rússia.  

Contestado, dentro e fora dos EUA, o bom senso aconselharia que parasse para pensar. Mas há egos onde isso não colhe. Humanos desta índole só conhecem a linguagem do medo. As ameaças aos juízes avançaram de imediato “comiciando” para o “seu Bom Povo” de que estavam ali os seus Inimigos. Convém que o “bom Povo” acorde depressa pois, caso demore, pode ser tarde de mais, dado que a lei, a partir de certa altura, pode ser unicamente a que for gerada por debaixo daquele penteado laranja.

No crescendo do autoritarismo seguiram-se as ameaças aos jornais e jornalistas. As “inventonas” baseadas em factos falsos, potenciadas numa governação sem GPS – o homem não sabe para que lado fica o Norte – feita no Twitter não augura nada de bom. Aos prosélitos aconselha-se mais prudência nas manifestações de fé à criatura.     

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O ALEMÃO EMBUSTEIRO


Transcrevo, do JM, edição de 13 de Fev. 2012 - Coluna do Cidadão – o texto abaixo:

“Indignação pelas declarações da Chanceler Merkel
Como cidadão alemão, vivendo na Madeira há 43 anos (hoje, mais português do que alemão), não posso deixar de expressar a minha indignação e repugnância pelas declarações proferidas pela Chanceler Ângela Merkel acerca da majestosa obra que foi feita nesta ilha maravilhosa.
São declarações absurdas, abusivas e sem sentido, feitas levianamente, pois não conhece, nem nada sabe o que era esta ilha quando aqui vim pela primeira vez e naquilo em que ela se tornou, graças a um homem que teve a coragem de, contra tudo e contra todos, transformar a vida dos madeirenses os quais defende intransigentemente e que pela Madeira é capaz de dar a sua vida.
Merkel e Sarkozy pretendem dominar e fazer prevalecer a sua supremacia sobe os restantes países europeus, pelo que fico estupefacto como é possível que os restantes 25 países admitam ser comandados e manipulados com as suas ideias e as opções do referido duo, que tanto têm prejudicado o caminho europeu.
Hoje, já há muito descontentamento no meu país com as políticas merkelianas e esperam, e desejam, a sua derrota nas próximas eleições que terão lugar a curto prazo.
Para terminar, convido a Sr.ª Merkel a visitar a Madeira e ver in loco a obra grandiosa que aqui se fez. Klauss Friedrich”

O JM, nascido como jornal da Igreja a meio do séc. XX, trazendo, no Séc. XXI, diariamente no seu cabeçalho: JM SÓ DEFENDE O POVO MADEIRENSE implica que não possamos ler, como inócuo, o seu conteúdo.

O nosso “meio-alemão-meio-madeirense” revelou-se-nos desastrado em previsões. Ele foi catastrofista em relação à Srª Merkel. Esperava a derrota dela em breve. Merkel, contra as suas expectativas, ganhou as eleições e não só conseguiu isso, como, cinco anos depois, já neste tresloucado “Mundo Trumpiano”, recebeu de Obama a esperança de que ela venha a ser capaz de defender os valores Ocidentais. Um falhanço total as afirmações da criatura, relativas à Chanceler da sua Alemanha natal.

Tratada a vertente Alemã, vamos à Madeirense. Dia 1 de Fevereiro de 2012 o Governo, presidido pelo Sr. Dr. Alberto João, contraiu uma dívida de 1.500 milhões de euros. A 13, o “meio-alemão-meio-madeirense” brindou-nos com a sua carta-reflexão. Quanto aos elogios à gestão do Governo Regional que estava em funções, mostrei publicamente a minha discordância, logo em 2012. Entre Março e Setembro, pedi encarecidamente que nos fosse revelada a identidade daquela pessoa que trazia a Madeira no Coração e, convictamente, convidara Merkel a visitar-nos.

Desfeita, já há algum tempo, a sociedade por quotas que durante anos geriu, sem pudor, os créditos informativos do ex-jornal Católico, e o novo JM – a Fénix saída das cinzas que, há dias, nos levou mais 300 mil dos impostos – se prepara para mudar de dono, nós ainda não conhecemos o Klauss Friedrich. Já passaram cinco anos, quem diria! Ele deve viver angustiado perante o seu rotundo falhanço, quanto à previsão do futuro da Chanceler. E, infelizmente, para ele e para os Madeirenses, a realidade que, insensatamente, não previra no caso da gestão do Dr. Alberto João não foi melhor. A angústia deste Sr. é, forçosamente, grande!

O elogiado – Dr. Alberto João – e o elogiador – Klauss Friedrich – merecem uma atenção conjunta. Este “meio-alemão-meio-madeirense” sai de cena, sem que o conheçamos. Alguém irresponsável, incapaz de assumir os seus actos – Alberto João – e um ser desconhecido – Klauss Friedrich – parecem viver em “comunhão de adquiridos”, desde 2012. É estranho não acham?


Ai propaganda, propaganda… os teus pezinhos de barro!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

INFORMAÇÃO E PROPAGANDA

Por favor, leia o resumo de um texto publicado no Económico Madeira

Luis Filipe Malheiro / 27 Jan 2017
As contas dos maiores clubes mostram que o Governo Regional consegue lucrar. […]
Os próprios clubes que […] não têm uma grande relação institucional entre eles, unem-se em torno do tema, por que há a consciência generalizada de que sem esse apoio oficial do Governo Regional dificilmente o futebol madeirense teria condições para continuar ao mais alto nível competitivo nacional. […]
Ao apresentar recentemente os resultados do exercício da época desportiva 2015/2016, a SAD do Marítimo confirmou um resultado líquido positivo de 5,7 milhões de euros. Explica o clube que pagou ao erário público naquele exercício, 4,6 milhões de euros em impostos variados, tendo a região celebrado com o clube um contrato-programa com um apoio financeiro de 1,6 milhões de euros para toda a época.
Nuno Teixeira, dirigente maritimista, realçou o facto de a Madeira ter lucrado três milhões de euros com o Marítimo. […]
Nos indicadores facultados ao Económico Madeira, o Marítimo mostra que a Madeira lucra com o apoio ao futebol profissional. Por exemplo, na época 2013/2014 o clube recebeu 2 milhões de euros em subsídios oficiais mas pagou 2,4 milhões em impostos. Na época seguinte, foram atribuídos 1,995 milhões de euros em subsídios e o clube pagou 2,4 milhões de euros em impostos. Na época 2015/2016, a SAD do Marítimo pagou quase 4,7 milhões de euros em impostos diversos, tendo recebido apoio oficial de 1,6 milhões de euros.      
Já o Nacional refere que o futebol profissional do clube “dá 1 milhão de euros de lucro ao Governo Regional”. […] estas “são contas que deveriam sofrer mais atenção da opinião pública, mas não só”. […] “entre 1 de Janeiro de 2014 e 30 de Junho de 2016 o Nacional Futebol SAD pagou, em impostos 5.167.496,63 euros, assim distribuídos: IRC – 106.026,63, IRS – 3.325.408,89 euros, IVA – 662.672,57 euros e Segurança Social – 1.073.388,64 euros”.
“Atendendo a que durante esse período o contrato programa de desenvolvimento desportivo assinado com o Governo Regional permitiu ao Nacional receber 4,1 milhões de euros, facilmente se constata que o lucro (sim LUCRO) do Governo Regional com o Nacional Futebol SAD foi de cerca de um milhão de euros”.  
“De todas as actividades subsidiadas, apoiadas e promovidas pelo Governo Regional, haverá mais alguma a gerar tanto lucro?”, questiona o Nacional.
No caso do União, as contas indicam que na época 2015/2016 – em que foi despromovido ao segundo escalão – recebeu em apoios financeiros oficiais um total de 1,186 milhões de euros, tendo pago 1,786 milhões de euros […], propiciando deste modo aos cofres da Região cerca de 600 mil euros de lucro. […] entre os impostos pagos naquela época desportiva o IRS e o IVA, com valores quase semelhantes, próximos dos 740 mil euros, foram os mais significativos, seguidos da Segurança Social com mais de 320 mil euros.  

Tratando-se de um Jornal Económico tive a esperança de que, finalmente, leria o apregoado estudo que, diziam, garantia que as despesas com o futebol eram rentáveis.
Foi uma desilusão. A afirmação do Sr. Nuno Teixeira, dirigente do Marítimo é uma de três coisas: ignorância do Sr., que afirma um disparate; a outra, ainda pior, sabe a verdade e quer enganar-nos; ou o Sr. jornalista não percebeu aquilo que ouvira. Quem falou em nome do Nacional e do União ridicularizou o Sr. Nuno Teixeira, ao mencionarem os impostos que entregam ao fisco. Então as centenas de empresas que nesta terra entregam (IVA, IRS e SEG SOCIAL) e pagam (IRC e SEG. SOCIAL) como as SAD’s, também podem pedir dinheiro dos impostos, como elas?
A explicação deste dogma está contida nos juízos de valor de natureza política, retirados por mim, e constantes do texto. Reproduzo: “O apoio financeiro aos clubes de futebol foi instituído há cerca de três décadas, pelo governo de Alberto João Jardim […] que justificou a opção pelo facto dos clubes serem instituições de utilidade pública, por promoverem a Madeira no exterior e constituírem, em termos sociais, uma alternativa para a juventude madeirense, fomentando a prática desportiva e impedindo deste modo que os jovens optem por outros caminhos socialmente problemáticos”. “Durante anos […] tinha também a ver com a dúvida sobre se essa opção renderia mais-valias eleitorais teoria que ao longo dos anos se foi esbatendo, já que várias medidas tomadas, nomeadamente de redução dos montantes atribuídos ao futebol profissional […]”.
Só não vê quem não quer a ligação entre votos e política. A redução dos montantes tem que ver com o descalabro financeiro que criaram, e ninguém assume. O projecto político faliu. Tenham a coragem de reconhecer o facto e dêem-nos um futuro. Disso não falam, mas enchem-nos de propaganda.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

 A ENERGIA E OS HOMENS


Há cerca de um milhão de anos, o Homem friccionou duas pedras fazendo-as faiscar. Acabara de descobrir a forma mais elementar de energia. Mais tarde, domesticando animais, usou a sua força como fonte de energia no trabalho agrícola e, nos transportes. O vento foi a forma de energia que a seguir aprendemos a manusear. À máquina a vapor e à electricidade, duas invenções do séc. XVIII, juntou-se-lhes, no séc. XIX, o motor de explosão. O avanço científico do séc. XIX mudou o Mundo e garantiu uma notável melhoria das condições de vida dos Humanos. Descobriu-se a utilidade de um bem conhecido desde a pré-história, o petróleo. Nunca tivera “mercado”, aquele líquido negro e viscoso. Como acontecera com os animais domesticados – cavalos em particular – que ajudavam em tempo de Paz e iam à Guerra, os motores de combustão também substituíram os animais nas duas vertentes.  

Barato e abundante, o petróleo foi, face ao incipiente consumo inicial, tido por bem inesgotável, mas desde logo foi encarado como bem estratégico para os poderosos que, imediatamente, trataram de apoderar-se dos territórios onde ele abundava. O consumo disparou. As duas Guerras Mundiais no séc. XX, mostraram à exaustão a importância desta fonte de energia. A ambição Humana é legítima, mas tal como o petróleo, não é (não pode) ser ilimitada. A ciência é amiga, mas nós Humanos, como fizemos com os cavalos, pomo-la ao “serviço do mal”. Lise Meitner encontrou explicação física para fissão/fusão nuclear no seu laboratório de Berlim, em 1939, resultado do seu trabalho conjunto com Otto Hahn. A fissão/fusão nuclear pode merecer aplauso ou repúdio, depende da utilização e, também das suas consequências. Feitas experiências em Almogordo, os EUA usaram a nova arma – e que arma – contra o Japão em 1946.     

Nova forma de energia estava encontrada e experimentada, com sucesso militar e muito sofrimento Humano. Se o Homem, na sua aventura planetária, se habituara a formas de energia – força dos animais que domesticara, e vento – começa agora a sentir a necessidade de parar para pensar. Os recursos energéticos, por um lado, não são ilimitados e, por outro, trazem riscos nada despiciendos. Finda a guerra, em 1951, os EUA efectuaram explosões nucleares no Nevada, com consequências sobre as populações que, só há pouco foram tornadas públicas. A 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, uma central nuclear destinada a produzir electricidade, explodiu. Em Março de 2011, em Fukushima no Japão registou-se o maior desastre nuclear até ao momento. O Japão já lhe conhecia os efeitos, mas desta vez houve um contributo externo não dependente dos Homens. O terramoto, escala 9, seguido de tsunami, substituíra o Enola Gay – nome do avião – que fizera cair a little boy – o nome americano para bomba – sobre Hiroshima. Estes brinquedos dos poderosos não podem ficar-lhes entregues, como se nada fosse connosco. Finda a 2ª guerra Mundial EUA e URSS dividiram-se quanto ao uso da nova arma, tendo os Russos, durante anos, na guerra da propaganda, chamado assassinos aos Americanos. A mesma energia, despida da componente bélica, provocou duas explosões, uma – Chernobyl, 1986 – ainda em tempo de URSS e no seu território, outra – Fukushima, 2011 – no Japão, fez sofrer os Seres Humanos. Os efeitos devastadores, sejam bélicos ou não, impõem-se-nos sempre. Vá lá saber-se porquê, a comunicação social liga pouco a estes temas mas, erradamente, nós também preferimos não ligar nem interiorizar estas agruras da vida, preferindo as frivolidades intrínsecas à propaganda dos Poderosos sob a forma de futebol e/ou novelas.

A Ciência avançou, mas não nos garante o domínio absoluto sobre o Planeta como insinuam os que mandam. Recurso que inicialmente tinha baixo custo de exploração, o petróleo, foi apesar de tudo, sempre usado como arma política, tendo o seu preço um grande peso nas oscilações do sistema financeiro. Hoje, o sistema financeiro manda em tudo e, começa a ser excessivamente perigoso. A energia continua essencial, mas certas técnicas de extracção de petróleo não colhem apoio na Ciência pelos danos que causam ao Planeta. Ao nuclear, apesar de cientificamente aceite, já lhe vimos as consequências em Paz e em Guerra. Não podemos confiar nos poderosos que, no alto da sua ambição, colocam os negócios muito à frente do sofrimento Humano.


Avisados andam Portugueses e Espanhóis, juntos a propósito de Almaraz. França teve um acidente numa Central Nuclear. Pergunto: Na Madeira, face à sensação de que algumas normas de segurança – falo pelos jornais – estão a sofrer “interpretações hábeis” na Medicina Nuclear, em caso de acidente, haverá alguém responsável? 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

 ENFRENTEMOS A REALIDADE


O 25 de Abril fez despontar no espaço insular Português dois movimentos – a FLA e a FLAMA – que incendiaram as cabeças. Por outro lado, o PREC foi um período que ninguém de bom senso gostará de ver reeditado. Por fim, a acrimónia entre partidos e militares cessou em 1982 tendo os poderes do Conselho da Revolução passado para o Tribunal Constitucional e Conselho de Estado. O último resquício militar, o PR, viu parte dos seus Poderes passarem para a AR. Finalmente eramos um Estado sem tutelas!

A retórica dos anos oitenta fez-se à volta da necessidade do Poder Regional conquistar o espaço que, por um lado, a Constituição lhe reservava e, por outro, a procura de financiamento urgia. Em Setembro de 1986, a propósito da revisão do Estatuto vetado por Mário Soares na sequência da guerra das bandeiras desencadeada nos Açores, gerou-se um conflito entre o Poder Central e o Regional. Tudo ficou sanado com ida de Soares ao Parlamento Açoriano. Em Novembro do mesmo ano, na Madeira, ocorria a visita dos Sul-Africanos Pieter e Pik Botha. Terá dito, Cavaco Silva, então 1º Min: “os embaixadores acreditados em Lisboa transmitiam para os respectivos governos todos os sinais de divergências entre centros de poder sobre política externa” e esta  “Tratava-se de uma competência exclusiva do Governo da República”.
Os conflitos financeiros com os Açores tiveram grande dimensão quando Portugal abdicou de 30 milhões de dólares nas negociações com os EUA sobre a Base das Lajes. Mota Amaral, conhecendo alguns protagonistas deste novo caso, desde o tempo da guerra das bandeiras, mostrou desagrado. Porém, isso não o impediu de receber este elogio do Sr. Embaixador Rosa Lã: “… ao longo da minha carreira sempre recebi do Dr. Mota Amaral as melhores atenções…” Em Outubro de 1995 Mota Amaral demite-se de Pres. do GR – não consta que tenha deixado dívidas – para prosseguir a sua carreira política. A Madeira manteve no Poder, até 2015, o Dr. Alberto João, a retórica à volta da Constituição e adjectivações pouco simpáticas a quem questionava o endividamento, foram a regra.

A 29/04/2009, após uma intervenção na TV, em que o Dr. Alberto João se vitimizou, eu escrevi, no DN local, isto: “Mártir será o povo madeirense. Quão pesada será a pena, quando tivermos de pagar os mil milhões reconhecidos como dívida da RAM, acrescidos das dívidas da Via Litoral, “Sociedades de Endividamento”, Serviço de Saúde etc. Estes sacrifícios, sim, garantem martírio. Aos filhos e netos das classes mais desfavorecidas de hoje, que tantas vitórias eleitorais deram, tal como há 60 anos, faltarão sapatos e a roupa - já sem marca – trará remendos.”

A 1 de Fev. de 2012 assinou o Dr. Alberto João a capitulação perante o Poder Central ao contrair uma dívida de 1.500 milhões de euros. Na mesma data através da Resolução nº 43/2012 a resposta jurídico-política não se fez esperar. Reclamavam 6.300 milhões então nós reivindicamos 9.000 milhões ao Governo Central. Pois, sem dúvida que: "importa saber, em toda esta questão, qual o relacionamento que o Governo Regional terá com a Assembleia Legislativa na fase de implementação do Programa de Ajustamento"; importa conseguir "reforço da unidade nacional"; importa aumentar "laços de solidariedade entre todos os portugueses"; importa "exercer poder tributário próprio ".

Esta retórica, abandonada há 22 anos pelos dirigentes Açorianos, foi, por esta via, prorrogada na Madeira e os partidos fazem dogma da Resolução. Acharão, os filiados do PPD/PSD e seus governantes, que são levados a sério quando, questionados sobre os subsídios de mobilidade, transportes, hospital etc dizem que esperam soluções de Lisboa? Aqueles que são poder em Lisboa acham que ainda há pachorra para ouvir queixas sobre os desvarios financeiros regionais? Tirem o cavalinho da chuva, os eleitores querem são os problemas resolvidos e sem retórica oca.

Sentem-se, e conversem. Digam-nos a verdade sobre os 1.500 milhões que temos para pagar, imputem a responsabilidade da dívida a quem a contraiu. Construam uma nova realidade que nos permita olhar para o futuro apesar das dificuldades. Não fazer isso é deixar terreno semeado para o reaparecimento de um Trump Salvador. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O DESASTRE POPULISTA


A meses das eleições autárquicas assistimos a uma grande desorientação nas várias forças partidárias que procuram, na propaganda, o remédio para todos os males. Isso foi chão que deu uvas. As pessoas, cansadas de 40 anos de algazarra política, têm dificuldade em distinguir o Poder Autárquico do Super-Poder Local, também conhecido por Poder Regional, exactamente pelo recurso desenfreado e continuado à propaganda e ao populismo.

O populismo levou a que, em momento de zanga de compadres, se tenha dito, para achincalhar, que às Câmaras cabe tratar de galinheiros e apaziguar brigas de vizinhos. Avocando um duvidoso poder de tutela, o Super-Poder impôs a sua vontade, sacrificando a racionalidade económico-financeira à procura de votos. Ficou com a chave do cofre, abria-o, discricionariamente, em função dos seus objectivos políticos que, durante anos, coincidiram com os das Câmaras. Os populistas adoram o Povo, mas depois fazem-lhe a cama pela calada. Morrem pessoas à fome, suicidam-se ou ficam a dormir pelos cantos das ruas? Isso não é problema deles.

Confundindo competências, Super-Poder e Autarquias autorizaram e fomentaram a construção de “casas para o povo” encosta acima, sendo, luz, água, arruamentos e viaturas especiais – os declives impunham – investimento público. A “Madeira Velha” era inimiga do Povo não queria dar-lhe habitação “estilo lapinha”, afirmou a propaganda populista. O 20 de Fevereiro mostrou a irresponsabilidade, e realçou o bom senso anterior ao limitar a construção nas zonas altas. Um populista de há 25 anos escreveu recentemente: “Um verdadeiro autarca, não deve ter problemas em estar perto dos seus, deve lutar pelo bom saneamento básico na sua terra, por uma boa distribuição de água, e luz eléctrica nos lugares públicos e nas casas dos seus conterrâneos, por transportes públicos eficazes, vias de circulação em bom estado e com a sua manutenção regular, incentivar a construção de caminhos e ruas pedonais cuidados e seguros ter na sua terra bons equipamentos na aérea da saúde, da educação, cultura e desporto”. Já não trata só de galinheiros e brigas de vizinhos.

Usando as suas competências, o Poder Regional brindou-nos com o prolongamento do aeroporto. Daí em diante foi um susto. Felizmente a “Sociedade de Endividamento” da Zona Oeste – de tão má memória – não levou por diante aquele hotel na foz da Ribª da Madalena, seria mais um menir a pesar nos nossos depauperados bolsos. Porém, falta-me falar no verdadeiro hino à demagogia de que o “oculto” não fala, ou se fala é pela rama, para zurzir A ou B.

Em 2001, é idealizado para Stª Rita um hospital. Tem projecto em 2003. Seguem-se as expropriações que se concluem em 2005. A 23 de Abril de 2007, o então candidato a novo mandato comprometeu-se a que teríamos os Barreiros e o novo hospital até 2011. A 22 de Maio, porque a situação “das finanças públicas não é desafogada” avançou com mais uma das suas muitas “engenhocas financeiras” para que se concretizassem aqueles dois investimentos. A 6/11/2011 Jardim Ramos anunciou, na ALM, que o GR desistia do Novo Hospital por falta de financiamento. A 01/01/2012 as vítimas da “urgência populista”, mostram-se desagradadas pelo modo tresloucado como haviam corrido as expropriações. Em Dezº de 2012, o TdC diz que teriam sido gastos 5 milhões em projectos que iam direitinhos para a Meia Serra.  

A Resolução n.º 43/2012, publicada no Jornal Oficial da Região, a 1 de Fevereiro, contém a reacção política ao empréstimo de 1.500 milhões que, nessa data o GR fora obrigado a contrair, para nós pagarmos. Não perderam tempo, o GR e o PPD/PSD-M, e de repente surgiu uma “dívida política” de 9 mil milhões do Governo Central ao GR. Era o contraponto aos 6,3 mil milhões de “dívida escondida”. A dívida da RAM levou o Estado a instaurar um processo de averiguações – o “Cuba Livre” – do qual duvidamos que surja acusação.


Porém, politicamente, temos o dever de exigir aos partidos que, credibilizando-se, assumam as suas responsabilidades. Os eleitores assistem a esta novela do Hospital desde 2001, já não acreditam nas palavras bonitas da propaganda caça votos. Não vale a pena o PSD insurgir-se contra os anónimos, nem o PS apresentar-se como interlocutor do Governo Central. Porque, 1.500 milhões não se pagam em quatro anos e, pensem no futuro desta terra, que é bem negro. A responsabilidade, não podendo ser a criminal, seja pelo menos a política. Assim como estão, PSD e PS, trarão de volta, em breve, o “populista oculto”.