quinta-feira, 24 de agosto de 2017

QUE É A PÁTRIA?


Um velho dicionário Francisco Torrinha, dos meus tempos de estudante, esclarece: “s. f. País em que nascemos; terra da naturalidade”. Conceito simples, mas só na aparência! Num País como o nosso, com fronteiras sem grandes alterações territoriais desde a sua Fundação, o imaginário colectivo vive povoado de Heróis e Mártires que tudo fizeram para nos garantirem este Legado. Não há aqui qualquer originalidade. Estamos, pelo contrário, na presença de um elemento comum a todas as Pátrias Europeias. Os heróis e mártires, resultantes do contubérnio entre Igreja e Poder Temporal, ganham maior fulgor naqueles casos em que as disputas territoriais se fizeram sentir com maior intensidade que em Portugal. Foi assim, desde o séc. XI, a vida colectiva na Europa.

A partir do sec. XV, nas disputas territoriais fora da Europa, implantou-se o modelo europeu como materialização dos apetites geo-estratégicos das Coroas do velho Continente. No sec. XIX com Napoleão e, mais tarde já no sec. XX, com a 1ª Guerra Mundial e a Revolução bolchevique na Rússia, o Mundo mudou. O “racismo” intrínseco ao sangue azul do passado, baia que garantira privilégios durante séculos, cedia o seu lugar a coisas tão simples como esta: Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.” Setecentos anos separam os heróis e mártires da frase acima transcrita dos Direitos do Homem e do Cidadão e, embora aos menos avisados escape, vivemos as sequelas deste confronto de ideias. É aqui que reside o nó górdio do nosso futuro colectivo.

O fio condutor que liga o passado ao presente, e à tentativa de perscrutar o futuro, encontramo-lo no modo como o Poder Político se organiza. Não sou consumidor de novelas, mas algumas vezes parei para apreciar algumas cenas da novela Portuguesa Madre Paula. Questionei-me onde andaria o espírito crítico das audiências ao verem tudo aquilo. Aos detentores do Poder Absoluto – O Sr. D. João V, no caso em apreço – não se lhes impõem limites morais, ao dicionário retira-se o vocábulo sacrilégio, e as populações submissas tudo isso suportaram naquele longínquo sec. XVIII. Infelizmente, em Portugal, ainda pior na Madeira, os apáticos cidadãos, frente ao ecrã da TV, acharão que sempre foi assim, de nada valendo lutar para que os poderosos nem sonhem julgar-se candidatos ao Poder Absoluto. Os candidatos ao exercício do Poder, não o afirmando, adoram não prestar contas a ninguém fazendo, tal qual D. João V, tudo que lhes vier à cabeça. É assim com Trump, Maduro, Putin, Eduardo dos Santos etc. Respeitar a Pessoa Humana é apenas coisa de comício eleitoral para esquecer, logo após a contagem dos votos. 

Pátria caiu em desuso! As interligações dos Estados no séc XXI confirmam-no de modo indelével. A velha desconfiança entre Estados Soberanos, cada um deles com seus heróis e mártires, foi substituída por juras de colaboração com vista à obtenção de benefícios comuns, passando a Pátria a posição secundária.

Aprendamos com o passado. Se em tempo de “sangue azul” tudo se impunha, não podemos reeditar, na versão sec. XXI, o “sangue dourado” dos “patriotas” que, substituindo a velha aristocracia, nos manipulam para nos sacarem os votos que os enriquecerão. Cada um de nós tem de pensar e agir renegando a velha condição de súbdito de qualquer Coroa do sec. XVIII.

Os eleitos são Cidadãos iguais a nós. Temos a obrigação de lhes impor leis, diferentes das leis do passado, que conferiam direitos, a quem mandava, ficando para “os outros” os deveres. Não os olhemos baixando a cabeça, respeitemo-los na exacta medida em que nos respeitarem. Os candidatos ao Poder Absoluto – estilo D. João V – são, nos nossos dias, todos iguais. Trump e Putin; Eduardo dos Santos e os Sauditas; Maduro e Temer estão todos de acordo quando chega a hora dos “negócios” ainda que daí resulte guerra fome e sofrimento para quem neles votou.    


  

terça-feira, 22 de agosto de 2017

SANTA BÁRBARA E OS TROVÕES


Na minha juventude era frequente ouvir-se: só se lembram de Santa Bárbara quando há trovoada. As trovoadas, quando acompanhadas por toneladas de água e raios, que fazem da noite dia, proporcionam algo que, sendo horrivelmente belo, atemoriza. O ribombar do trovão pode ser potenciado em situações de guerra. Vivi isso, na noite de 15/07/1968, em que perdi um amigo – o Juvenal Ávila Araújo.

Há riscos Naturais devastadores, como aquele que vivemos há pouco no Largo da Fonte, em dia de fortíssimo significado Católico. A 1 de Novembro – dia de Todos-os-Santos – de 1755, tivemos 10 mil mortos na orla costeira de Lisboa ao Algarve. Foram tantos quantos os ocorridos, nos treze anos de guerra colonial. O Marquês de Pombal perante o inevitável: e agora?!, consta que terá respondido: “enterram-se os mortos e cuidam-se dos vivos”. A morte é uma certeza para todos nós, cada um a encarará de acordo com os seus princípios religiosos e éticos. Respeitem os mortos e seus familiares, não empolem as emoções com retórica oca que, habilmente, ignorando os factos, visa exclusivamente objectivos eleitorais!

Há 262 anos, o Poder da Natureza, de uma só vez, arrebatou 10.000 vidas. Em treze anos de guerra colonial, perdemos o mesmo número de Cidadãos Aí morríamos por riscos imputáveis a humanos. Mas não assumíamos a distinção entre os Riscos Naturais e as tramóias que quem manda engendra para que, refugiando-se na Natureza, esconda as irresponsabilidades político-administrativas.

A retórica demagógica, permitindo urbanizações encosta acima, rendeu votos em catadupa ao Poder, entre 1978 e 2010. Nessa altura ninguém distinguia o Poder Local – Autarquias – do sufocante Poder Regional, detentor da chave do cofre, abrindo-o para a clientela, fechando-o para a oposição. O Funchal, pelo elevado número de votantes, foi beneficiado. A aluvião de 20 de Fevº, imune à demagogia eleitoral, fez-se sentir e, pela última vez, o Poder pôde esconder-se por detrás das Forças da Natureza, acusando de profetas da desgraça, quem alertara para incúria político-administrativa. Um exemplo, com pessoas reais, ajuda à compreensão.

Um casal, separado por um ribeiro da moradia com o nº 193 à Estª dos Marmeleiros, viu um espaço que lhe servia de horta destruído pela aluvião de 2010 ajudada pela incúria daquele  vizinho. A referida moradia foi transaccionada e, contra todas as expectativas, o novo proprietário com mais vigor, fez do ribeiro lixeira. A 14/02/2017 a Srª D. Maria Alzira G. S. Marques foi informada de que a sua reclamação registada sob o número 6132 junto da CMF, fora enviada pelo Sr. Vereador do Urbanismo, para a Dir. Reg. de Planeamento, Recursos e Gestão de Obras Públicas. Em Abril a queixosa também denunciou àquela Dir Reg que o Sr Carlos Jardim ocupara a linha de água e colocara uma vedação no ribeiro fronteiro à moradia 193 na Estª. dos Marmeleiros. Em Maio recebeu um ofício da Dir. Reg do Eq. Social e Conservação donde retirei:” 3 – Além disso adverte-se que, nos termos do disposto na alínea e) do ponto 2 e, da alínea f) do ponto 3 do artigo 81 do decreto-lei nº 226-A/2007 de 31 de Maio, a ocupação de um linha de água com prejuízo de conservação constitui contra-ordenação grave, sendo que lançar ou depositar em ambiente hídrico qualquer substância ou produto sólido, liquido ou gasoso potencialmente poluente constitui contra-ordenação ambiental muito grave, pelo que iremos solicitar o apoio dos serviços da CMF na identificação do presumível infractor, para efeitos de notificação dos trabalhos de reposição das condições normais de escoamento fluvial que o mesmo seja obrigado a realizar, por razões de segurança de pessoas e bens”.

As fotos abaixo, disponibilizadas pela queixosa, elucidam sobre o estado do ribeiro.











A um mês do fim do Verão, a CMF pouco ou nada informa sobre o andamento do processo. Este casal, como todos nós, gosta de viver. Tem lutado pela sua segurança até onde lhe é possível. Não sei se são Cristãos, Católicos ou não, ou professam qualquer outro credo. Dispensa o casal, aliás todos nós, as máscaras pesarosas de quem manda, quando participam em funerais, e outros actos públicos, em que se homenageiam os mortos. A segurança de pessoas e bens está muito para além da conquista de votos, a única coisa que faz mover os partidos. Vá lá, coloquem as pessoas primeiro. Assim parecem-se com o Maduro, uma vez chegados ao Poder, esquecem os interesses de quem vota e, tratam-nos a chicote.




            


 



quarta-feira, 9 de agosto de 2017

 21 DE AGOSTO, DIA DA CAROCHINHA


Esta data, no ano da graça de 2017, para os madeirenses em geral, e os Funchalenses em particular, é o dia da Carochinha. Ela encerra uma versão muito nossa da velha história da jovem que, tendo ido à missa, deixou o caldeirão ao lume e também um solene aviso ao glutão do seu príncipe encantado para que não lhe tocasse. Não resistiu o João. Tombou no caldeirão, como todos sabemos!

Este intróito provocará duas reacções nos leitores. Uns acharão uma perda de tempo prosseguir. Pois muito bem, parem a leitura. Outros, mais curiosos, gostarão de conhecer a fundamentação.

Consequência da “Revolução dos Militares Comunistas de 1974”, a Madeira teve uma cozinha colectiva totalmente nova. Maria “Vilhoa” que se habituara a cozinhar na “furna” a escassos metros do tugúrio que servia de habitação, ouve à exaustão que esse tempo de submissão e “Madeira Velha” não voltará. Um palavroso e bem preparado grupo de cozinheiros ficou à frente da “cozinha colectiva” – conceito que casa muito bem com comunismo – da “Madeira Nova”. Entre todos eles destacava-se o Chefe João. Tinha larga experiência anterior e conhecia, como ninguém, as desgraças da “Madeira Velha”. Era meio caminho andado para confeccionar os pratos bem ao paladar dos comensais.

O Grande Mestre da Culinária, cujos dotes foram várias vezes ratificados pela maioria dos comensais entre 1978 e 2015, enxotava a concorrência dos chefes menores cuja presença na elaboração das iguarias era imposição da malfadada “constituição comunista”. João, inicialmente, ignorou-os. O Mestre da Culinária, recorrendo aos assalariados que contratara directamente, confecciona manjares de deuses onde nem a quantidade de sal pode ficar à responsabilidade de gente menor. Boicotariam, podem crer, só pelo prazer de deixar mal quem mandava na cozinha.  

A roda da vida move-se. O Chefe, sempre pronto a servir ao Povo aquilo que de melhor havia na cozinha da “Madeira Nova”, não se poupou a esforços. Achava essencial o controlo total da cozinha. Tivemo-lo a chamar a si arruamentos e jardins para que um seu assalariado não ousasse levantar a crista. Esmagou como seu “poder regional”, tutelar do poder autárquico – com as consequências que se conhecem hoje, expressas nas litigâncias entre Câmaras e GR – para manter a sua hegemonia. Em 2005, com a voluntariosa participação do cozinheiro-chefe, inicia-se, finalmente, a confecção da Obra-prima da culinária político-administrativa-regional onde, livre da interferência de Lisboa, nem dinheiro foi pedido, a esplendorosa “Autonomia com todos” se mostrou. Iniciava-se a confecção do excelente prato: Savoy para Totós.

Um assalariado do poderoso Chefe João, sem que o dito invocasse o seu “poder de tutela”, recebeu na Câmara do Funchal o projecto de remodelação do Hotel Savoy, um ícone do Turismo da “Madeira Velha”. Sábios juristas, alguns acumulando com funções de vereadores, produziram pareceres na defesa dos interesses dos seus clientes. Mas, atentos ao Bem Comum, S. Exªs os seus Vereadores, e os partidos que a pertenciam, desdobravam-se em afirmações que nos sossegavam. Finalmente, a “cozinha colectiva”, com a participação dos cozinheiros que desde 1976 andam nisto – com excepção dos vermelhuscos amigos do Maduro – homenageia a Autonomia que, como sabemos, “é todos”.  

Dia 21 tem de ser o dia reconciliação dos Madeirense. Chefe João, pelo destaque que atingiu, deve presidir às cerimónias que não podem ficar aquém das Festas do PPD/PSD-M Partido da Autonomia Regional no Chão da Lagoa. Haverá foguetes e música a partir das oito da manhã, naquela obra-prima do Direito e da retórica política, não da arquitectura. À noite, com música clássica e fogo-de-artifício, e na presença de todos aqueles que contribuíram para isto, encerrar-se-ão as Festividades.

O João glutão da Carochinha, não resistiu à comida. Os nossos cozinheiros, gulosos por votos, criaram esta situação ridícula pela qual não querem responsabilizar-se. V. Exªs querem votos, querem? É pior engolir isto do que aquela do passarinho reencarnando Chávez. Tenham juízo, mas do bom. Do outro têm que sobra.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

QUANDO MADURO FICA “PODRE”



Chavez, com a Constituição de 1999, criou a República Bolivariana da Venezuela. O acrescento não foi ingénuo. Ele relembra a emancipação de Espanha, invocando a pessoa de Simón Bolivar.

George Washington e Simón Bolivar foram dois homens que marcaram a sedição das Colónias do Novo Mundo, contra os Impérios Europeus. Cavalgando o Iluminismo do sec. XVIII, as colónias britânicas separaram-se de Inglaterra. Simón Bolívar é considerado em alguns países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário, e libertador. Durante os seus 47 anos de vida, liderou a Bolívia, a Colombia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. É o “George Washington” da América do Sul.
George Washington foi anterior a Napoleão. Simón Bolivar, posterior ao “anti-Cristo”, já não assistiu à ratificação da Independência, em 1845. O período decorrido entre 1776 (Independência dos EUA) e 1845 foi suficiente para que na trilogia da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – surgisse a cizânia Republicana à volta do conceito de Igualdade.

No Novo Mundo, não eram aceites interferências das antigas potências coloniais nos seus assuntos. Recordavam o passado. Este princípio e a Doutrina Monroe (a América para os Americanos) suportou o expansionismo dos EUA sobre vastos territórios da Coroa Espanhola. Porém, os privilégios aristocráticos, abalados por Napoleão, só cessaram com a 1ª Guerra Mundial, onde os EUA participaram em nome da Liberdade. As jovens Nações Hispânicas ainda se debatiam com sérias dificuldades na criação das estruturas de Estado, nessa altura.

Muito pior que o ideário Republicano, foi a degenerescência da Igualdade para o Comunismo, na Rússia em 1917.

O Império Americano cujo expansionismo e controlo da “vizinhança” já vinha do passado, acautelou-se face à nova realidade. Os Somoza, na Nicarágua, entre 1936 e 1972; Rafael Trujillo, na Rep. Dominicana, de 1930 a 1961; Alfredo Stroessener no Paraguai, entre 1954 e 1989; Os Papa e Baby Doc, de 1957 a 1971, no Haiti, foram os “ditadores amigos” dos EUA. Todos eles eram Homens de Bem que repudiavam o comunismo e queriam o bem-estar do Povo Humilde. Fidel Castro, o comunista inveterado, também queria o Bem do Povo. Andamos nisto há cem anos!

Após a Independência a Venezuela passou por forte instabilidade. O fim do sec. XIX e os primeiros 20 anos do sec. XX, foram particularmente difíceis para o País, apesar de Venezuela, Brasil, Chile e Argentina terem tratamento diferenciado pela sua dimensão e importância estratégica no Continente Americano.

Em 1920, a Venezuela era o maior produtor de petróleo. Mas só em 1945 o Partido de Acção Democrática, com Rómulo Betancourt, trouxe estabilidade. Duraria até 1948. Os EUA, receando a acção do “perigoso comunista” Rómulo Gallegos, provocaram-lhe a queda, lançando Venezuela na confusão. A saga das receitas do petróleo, esconde muita porcaria, desde esses longínquos anos 50.

Em 1952, Perez Jimenez emerge em circunstâncias estranhas, arrebatando o Poder aos vencedores de eleições. Foi condecorado com a Legião de Mérito pelo embaixador dos EUA, em Caracas. Em 1958, na companhia da esposa e das filhas, fugiu para a Rep. Dominicana, do “amigo” Trujillo. Seguiram-se lideranças várias com o regressado Rómulo Betancourt, Raul Leoni e Rafael Caldera, até que Carlos Andrés Perez ganha eleições em 1973. Aproveitando um período de alta do petróleo e a boa relação com os EUA, Andrés Perez estabiliza a Venezuela. Porém, a riqueza findaria cinco anos depois. É este o drama venezuelano, viver em função da riqueza especulativa dos mercados. Em 1988, o mesmo Andrés Perez recorre ao FMI. O desemprego cresce, as greves também, e regressa a instabilidade. Perez é destituído num processo de corrupção. Neste ambiente social, chega ao poder Hugo Chávez. Saíam os “ditadores americanos e bons”, entravam os “comunistas e maus”.


Nos dias de hoje, isto não existe! Ditador é ditador, não os há bons e maus. As vítimas desta falsa dicotomia deixam-se embalar por uma imprensa que verbera os mortos e feridos, às mãos dos esbirros de Maduro, mas nada diz sobre os lobos com vestes de cordeiro, que alimentam a contestação na esperança de acenar com a falsa riqueza, da Goldman Sachs e afins. Precisamos de leis que nos protejam dos abutres que distribuem de forma desigual a riqueza gerada entre Trabalho e Capital. Já viram quais os amigos de Chávez no nosso País? Direita e esquerda apoiaram-no. Angola, com o seu MPLA da família Santos, contou com apoios de direita e esquerda. Hoje os tiranos bons e maus estão mancomunados para, através do sistema financeiro, nos fazerem escravos, de grupos bem pequenos, de gente muito rica.               

sábado, 29 de julho de 2017

TRUMP, MADURO E OUTROS


O Poder oprime e coarcta a Liberdade. Trump, Maduro e outros são os dirigentes que nos couberam em rifa neste sec. XXI, que não é mais nem menos conturbado que aqueles que o antecederam.

Organismos pertencentes à espécie Homo sapiens, há cerca de 70.000 anos, deram início à História. Ela é, por isso, o repositório das venturas e desventuras dos Seres Humanos, em todo esse lapso de tempo. Ao citar estes dados procuro confrontar o leitor com a relatividade do factor tempo. O Império Romano – minutos nos 70.000 anos, se o quisermos avaliar em termos de vida Humana – marcou-nos o futuro. Os Impérios Europeus, a partir do sec. XV, – outros tantos minutos – levaram ao resto do Planeta a concepção Europeia de Organização da Vida Colectiva. O Homo sapiens que hoje conhecemos tem uma natureza única e sagrada, que é fundamentalmente diferente da natureza de todos os outros seres e fenómenos. O bem supremo é o bem da humanidade.

As três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) estiveram desde sempre envolvidas em forte conflitualidade. Os Europeus levaram para o Novo Mundo as suas normas aristocráticas e, ao mesmo tempo, muita gente à procura do sossego que a conflitualidade religiosa europeia não lhes garantia. A vida não pára, diz-se. Se os 2.0000 anos decorridos desde o Império Romano até aos nossos dias são minutos, os cerca de 250 anos de Independência dos EUA, seguindo-se as Independências das restantes ex-colónias do Novo Mundo, são segundos. Para nós, cidadãos cuja vida se fica pelos 70/80 anos, contentamo-nos em perscrutar estes dois secs. e meio a que, pomposamente, chamamos História.

A influência Cristã na Europa Aristocrática, em contubérnio com o Poder Temporal, não pode ser menosprezada. A dualidade entre o Bem e o Mal está sempre presente. A diferença entre quem serve a Humanidade e quem serve um déspota fica patente em dois exemplos bem Portugueses. O Padre António Vieira serviu a Humanidade! O facínora obscurantista, Teles Jordão, pelo contrário, torturou em nome de D. Miguel I, o “temente a Deus”. As convulsões sociais – Revolução Francesa e a 1ª guerra Mundial – ditaram o fim da aristocracia, repercutindo na Igreja a convivência próxima com o Poder.

Impregnando o pensamento colectivo, a prática de quem manda, desde os tempos de súbditos de S. Majestade, ao de cidadãos ditos livres, o medo impôs a sua “lei”. Não quero imaginar-me em 1943, numa cidade Holandesa, acordado, altas horas, pela voz chorosa de uma criança judia a pedir protecção. Pais e avós tinham sido levados “pelos homens maus”, mas ela conseguira escapar. Não sei qual seria a minha reacção, penso que o leitor me acompanha. Uma coisa vos garanto, o choro daquela criança acompanhar-me-ia o resto da vida.

Condenaram-se, bem, os totalitarismos nazis e comunistas. Mas se queremos caminhar em Liberdade rumo ao Bem da Humanidade, não podemos calar as formas de amedrontamento com que Trump, Maduro e outros procuram levar a água ao seu moinho. O Bem da Humanidade, para eles, é fazer negócios, atropelando as leis e levando na voragem quem lhas recorda.

Maduro, herdeiro do Chavismo, um sistema populista que cavalgou os erros e a corrupção de Adecos e Copeianos, ganhou ele próprio eleições em 2013. Nos EUA temos quezílias com o Poder Judicial e com altos funcionários. Em Venezuela a semelhança com o totalitarismo é bem mais evidente. As milícias, elemento importante para impor o terror, suportam o tirano e prestam-lhe todas as honrarias. É com farinha deste saco que surgem os guardas de Treblinka e que tiranos, Estaline é um caso, são dados como exemplo quando deixam o poder. Setenta anos de comunismo deram aquele resultado, mas trinta, prova-o a "Madeira Nova", obnubilam muita cabeça. Os prosélitos de Estaline achavam que o ditador lhes garantiu a vitória na 2ª Guerra, por cá acreditam que derrotaram a "Madeira Velha". Num caso e noutro estão sem futuro.   

Falei do comportamento de dirigentes que queremos respeitadores da Lei, mas que tentam subvertê-las. Hoje o contubérnio não é entre o sangue azul e o Cristianismo. Ele existe entre as elites financeiras (Maduro cairia se a Goldman Sachs não lhe comprasse dívida) e os políticos. Os ditos “mercados financeiros” – não são religião, pois os dogmas que nos querem impor nada têm de sagrado – usam linguagem hermética para a qual temos de estar atentos. Maduro e a Venezuela provam-no à exaustão. Maduro cairá, mas os Venezuelanos vão sofrer para pagarem a dívida contraída.        .

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O ”ÍNDIA” METIA ÁGUA


Há cerca de um sec. e meio, em tempo de monarquia, tinha o País quatro Partidos, Histórico, Regenerador, Reformista e Constituinte. Todos eles eram Católicos, Centralizadores, amavam a Liberdade e defendiam a Ordem e o Progresso. Organizavam-se a partir de galopins (homens cujo trabalho consistia em angariar votos a favor de um candidato) e caciques (os votos obtidos pelos galopins permitiam aos caciques garantir a vitória a um chefe partidário). Os Partidos, devidamente representados na Casa das Leis, o bom senso e a vontade de S. Alteza Real, no topo da pirâmide do Poder Político, garantiam a gestão dos Negócios do Estado.

Almeida Garret foi um cidadão comprometido com a causa do Sr. D. Pedro tendo arrostado as consequências dessa opção. É sobejamente conhecida a frase da sua autoria – «foge cão que te fazem barão! Mas para onde se me fazem Visconde?!» Discordava da atribuição de títulos nobiliárquicos a elementos da burguesia. Considerava mesmo que, antes os frades da velha monarquia do que os barões nascidos com o regime liberal. Esta sua opinião ficou bem expressa noutra frase célebre – «o barão mordeu o frade, devorou-o e escoiceou-nos depois!». Pela boca morre o peixe, diz o Povo. Foi isso que aconteceu ao nosso Garret. Morreu em 1854, com o título de Visconde e Par do Reino. Porém, a História não o repudiará!

Portugal, no fim do sec. XIX, atormentado por uma Europa em ebulição, precisava de galvanizar o Povo, envolvendo-o numa onda de forte Patriotismo. Episódio bem marcante foi a inauguração do navio “Índia” onde as “Forças Vivas” procuravam esse efeito. Na inauguração acotovelam-se os aristocráticos Marqueses, Condes, Viscondes e Barões com gente da burguesia que, adorando Títulos, os conseguira. Também lá estava representado “o barão que mordeu o frade”.

O barco fora comprado após profunda reflexão, obedecia aos mais avançados conhecimentos científicos da época. O “Índia”, custara muitos milhões, era a glória da nossa marinha e a imprensa exaltava-o. Ele era perfeito, apenas metia cinco polegadas de água por dia. Hoje, resta-nos agradecer ao inefável Eça de Queiroz que nos deixou a descrição dos factos que marcaram a Vida do Povo e nos trazem ensinamentos.

A Aristocracia com os seus marqueses, duques, condes e viscondes acabou. Restam-nos os partidos que parecem ter herdado os galopins e caciques vindos do passado. Basta ouvi-los ou lê-los a propagandear os respectivos interesses de grupo para nos interrogarmos: onde fica o Bem Comum neste arrazoado “clubístico”? Drs., Engºs., Prof., gente da imprensa e audiovisuais andam mortinhos por nos venderem gato por lebre. Se nos descuidamos enfiam-nos um Índia na propaganda. Queixam-se da Justiça? Alguém, quando quer votos, propõe alguma coisa de jeito sobre o assunto? Não são aristocratas, metam isso na cabeça! Quem vos garante o Poder é o Povo com os votos! Dão música, futebol e espectáculos vários. De coisas sérias nada! Não é, por isso, brilhante o panorama.

Porém, a realidade madeirense é bem pior. O “Índia” que temos à vista de todos chama-se Novo Savoy. Ostentam as obras em curso, uma importante diferença relativamente às polegadas de água que entravam no casco do barco. Todos vemos o monstro! Interessante é a retórica partidária com que cada partido tenta escapar às suas responsabilidades. Hábeis a usar a palavra, os Srs. Advogados assumem a defesa acérrima das “suas cores”. Herdeiros do velho amedrontamento das pessoas, é vê-los ameaçarem com Tribunal quem duvidar da Honra de S. Exªs. Ninguém duvida de vós. Sois Homens Públicos acima de qualquer suspeita! Quando invocais o dec. a alínea ou parágrafo tudo é pensado e repensado como, aliás, acontecera com a aquisição do velho “Índia”. É obra perfeita! Apenas precisamos entender porque fogem da única Obra gerada na Autonomia. Lisboa não foi tida nem achada para isto, o PPD/PSD-M Partido da Autonomia, o PS e o CDS, sempre no respeito pela lei, oferecem-nos esta “prenda” serôdia ao estilo do “Índia”. Terão honrado a Autonomia que tantas loas vos merece?


Já agora, digam-nos, como vão pôr cobro à crescente conflitualidade entre Câmaras e GR? O recurso a Tribunal com os advogados pagos pelo dinheiro dos impostos é uma constante. Há, na comunicação social, referência a uma possível maioria absoluta no Funchal. Acham que foram vantajosas para o Povo as maiorias de Cavaco Silva, José Sócrates ou Alberto João? Gostaram? Votem maioria absoluta! Mas se não gostaram e, ainda assim, votam maioria, não se queixem depois.  

terça-feira, 18 de julho de 2017

“PARTIDARITE” A MAIS INCOMODA



Há 35 anos que Portugal vive em Democracia sob a égide dos partidos (excluí o período de 1974 a 1982 em que houve tutela militar), tempo suficiente para uma análise.

A confiança dos eleitores nas elites, elemento essencial num regime de partidos, anda hoje pelas ruas da amargura. Terão razão os eleitores? Creio que têm muitas e sólidas razões para desconfiarem de quem, alimentando a luta política na dicotomia direita esquerda, esqueceu os cidadãos em benefício dos militantes. Tivemos deputados e governantes que se esconderam por detrás dos Tribunais, apresentando-os como entraves à vivência democrática. Deputados houve ainda, que perante leis que limitavam o exercício da advocacia, não hesitaram em subvertê-la. Angariavam processos no âmbito da actividade partidária e, despudoradamente, afirmavam aos eleitores incautos, que eram da sociedade de advogados e não pessoais. Ninguém colocou os cidadãos, preto no branco, perante esta dura realidade. Direita e esquerda foram cúmplices!  

A quebra de confiança acentuou-se ainda mais, com a ruptura do sistema financeiro. Foi o pânico geral. Todos os órgãos de Fiscalização do Estado falharam e a malvada retórica esquerda-direita lançou cortinas de fumo atribuindo-se, mutuamente, a responsabilidade pela desgraça que, sem sermos tidos nem achados, nos caiu nos bolsos. Há acusações em Tribunal e ninguém nos pode levar a mal que, perante certas riquezas repentinas, nos mostremos incrédulos. Apetece-nos seguir o exemplo daquele procurador que, nos EUA em 1936, interrogando Lucky Luciano sobre como conseguia viver num hotel tão caro com os baixos rendimentos que declarara, obteve como resposta: "fiz um bom negócio". Nem o procurador nem nós cidadãos, para quem tudo sobra quando toca a pagar, acreditamos em certas inocências.

Há um mês, ficou à vista de todos os Portugueses nova fragilidade do Estado. Os fogos de Verão causaram perdas incomensuráveis em Pessoas e Bens. Tal como acontecera com os vários “fogos financeiros”, a catástrofe de Pedrógão logo foi apropriada para a refrega direita-esquerda. Servirá para alguma coisa? Os incêndios não são de direita nem esquerda. São apenas incêndios.

Porém, a “partidarite aguda” que, como vimos acima, há anos nos aflige, surgiu em todo o seu esplendor no caso dos paióis de Tancos. A Instituição Militar saiu muito mal tratada de tudo aquilo. Causa asco ouvirmos comentadores, como Marques Mendes, dizerem que os Militares podem ser criticados pelas falhas, quando o seu objectivo era cavalgar a onda – como acontecera com Pedrógão – do roubo de direita contra o roubo de esquerda.

Hoje, face a tudo aquilo que se lê, vê e ouve na comunicação social, este episódio tem características de “inventona” – repesquei o termo aos idos de 1975. Naqueles tempos difíceis, criavam-se casos na comunicação social que justificavam, na opinião pública, determinados comportamentos. Caberia aos militares fazer frente à conflitualidade emergente. Foram os custos que a Instituição Militar suportou durante oito anos, por ter ousado substituir um poder político incapaz de descolonizar, seguindo o exemplo de outros Impérios Europeus. Quase meio século depois, há novamente dificuldades. Direita e esquerda combatem-se ferozmente, mas convinha que deixassem as casernas em paz. Definam-lhes a missão e deixem que FA´s a executem, castigando nos casos em que isso se justifique.

Falando sobre o incêndio, após ter dito em cima do acontecimento, que tudo aquilo que fora possível se fizera, o Pres. da Rep., afirmou: “Todos os que assumimos, de uma forma ou de outra, poderes públicos, com humildade temos de reconhecer que aquilo que é uma das funções dos poderes públicos, de segurança das populações, não foi possível garantir cabalmente nestas circunstâncias” . Foi mais longe o Prof. Marcelo. São suas estas palavras: “Lançaria daqui um apelo, uma sugestão que é um apelo, de uma trégua eleitoral e um pacto eleitoral naquelas áreas atingidas. Para que se esqueça a campanha eleitoral. Ou se não for possível esquecer a campanha eleitoral, que se não use na campanha eleitoral esta tragédia em nenhum título, directa ou indirectamente. E que estes meses até Outubro sejam vividos em conjugação de esforços” 

Tem razão o Presidente da República. A diferenciação entre direita esquerda não pode assentar na mera retórica que já nos maça. A instrumentalização do Estado, FA´s incluídas, em circunstância alguma deve ocorrer.

Aplauda-se o comportamento do Presidente da República em exercício de funções. Nem em sonhos quero imaginar qual seria o “Estado da Nação”, se ainda tivéssemos em funções o Prof. Alm. Dr. Aníbal Américo António de Deus Cavaco Rodrigues Silva Thomáz.