sexta-feira, 2 de junho de 2017

VENEZUELA DO NOSSO DESCONTENTAMENTO


Andamos todos indignados com aquilo que lemos, vemos e ouvimos sobre a Venezuela. A indignação de que falo – ao contrário daquilo que pensarão – não abrange apenas os Madeirenses, nem sequer o grupo mais vasto dos Portugueses. Todos os Homens de bem têm o dever de solidarizar-se com quem sofre, às mãos de tiranos para quem o sofrimento humano não conta, desde que eles detenham o Poder. Enriquecendo, como contrapartida ao empobrecimento da maioria, aqueles que mandam distribuem generosas mordomias aos seus apoiantes que, em situações extremas, degeneram em milícias. É assim com Maduro, e com Eduardo Santos. Eles em nada diferem de Fidel, Trujillo ou Papa Doc, o criador dos tonton macoute. Os “titios do saco” fizeram altas e poderosas, no Haiti, ao serviço de François Duvalier, desde 1957. Tendo ficado sob o comando do filho – Jean Claude -  de 1971 até 1986, os haitianos sentiram, durante quase 30 anos, a blandícia das criaturas. Falo de “rapazes” que estiveram na moda há 50/60 anos, mas que convém recordar. Coevos de Fidel Castro não lograram a sua notoriedade. Ele é, de longe, na opinião pública, o mais referido como o “assassino exterminador” de adversários políticos. Escusam recordar-me, pois conheço alguma coisa das suas tropelias. Não conhecerei tudo, mas conheço o suficiente para dizer: por aqui não, obrigado. Também não esqueço o suficiente de Trujillo ou Papa Doc, para em relação a eles dizer o mesmo, não os branqueando em circunstância alguma.

Em 1946, destruído o totalitarismo nazi, restou o “Mundo Livre” e o Comunismo. Trujillo, Papa Doc e mais alguns – por exemplo Fulgêncio Baptista, Somoza e Ströessner – na América Central e do Sul, para a propaganda Ocidental, apesar de ditadores, eram os “ditadores bons”, em contraponto a Fidel, o ditador “mau”. Não sendo um “menino do coro”, também não era pior que os outros, mas as centrais de propaganda ocidentais não pouparam esforços na diabolização de Fidel, referindo os outros apenas em notícias esconsas para garantia da “liberdade de expressão”.  

Hoje tudo mudou. Ditador, definido como aquele que não respeita leis e manipula a vontade dos cidadãos para lhes roubar o voto, é sempre mau. Na Venezuela, Chávez, tal qual Hitler na Alemanha dos anos 30, foi legitimado pelo voto. O seu “herdeiro” Maduro também já ganhou eleições. Logo, formalmente, temos uma democracia em Venezuela. Porém, conquistado o poder, Maduro não hesitou em lançar o poder coercivo do Estado – Polícias, FA’s a que juntou milícias tipo Tonton Macoute – para impor aos cidadãos o total desrespeito pela Pessoa Humana. Nesta situação, há 50 anos, sendo Maduro de esquerda e amigo de Fidel, os EUA para “libertarem as pessoas das garras do déspota comunista” – ditador “mau” – já teriam agido. No séc. XXI todos os tiranos são maus. Maduro está prestes a lançar o País numa guerra civil, mas a intervenção armada Americana, inevitável em 1950, hoje não ocorre. O perigo é outro.

A Goldman Sachs comprou dívida pública venezuelana, garantindo novo fôlego a Maduro. Aquele dinheiro fresco manterá os fiéis de Maduro bem pagos e, assim pouco propensos à dissidência para assumirem a defesa dos interesses colectivos. A desculpa esfarrapada do banco aos manifestantes venezuelanos que, em território dos EUA, se insurgiram contra aquele negócio, fala por si.

Está em gestação a pior das tiranias, para a qual urge alertar as pessoas. Apoiemos, sacrificando-nos, pois, vai ser necessário, – sem invectivarmos quem é vítima dos poderosos e não contribuiu em nada para a aflição em que está – mas, não dando ouvidos a certa comunicação social que aborda a situação em Venezuela, apenas acirrando contra Maduro que, não sendo flor que cheire, não é o único neste Mundo atribulado a “alimentar-se” do sofrimento Humano.

Esforcemo-nos por abortar a pior das tiranias, que é imporem-nos a  “religião dos mercados”. Este exemplo da Goldman Sachs a fazer negócio com a desgraça da população Venezuelana é igual ao Mr. Trump a vender armas a uma das facções religiosas – sunitas – islâmicas em disputa com os xiitas. A cegueira moral está transformada em pandemia nas elites mundiais.

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