quinta-feira, 29 de junho de 2017

HÁ PÚSTULAS NO PODER DO ESTADO


A Segurança de Pessoas e Bens é um dos principais deveres do Estado. O cumprimento dessa função implica por vezes o uso da Força. Nesse caso o Estado não pode vacilar. Fazendo-o, descredibiliza-se. As Polícias e os Tribunais são as Instituições com que o Estado Democrático conta para nos defender; cabendo às polícias a actuação sobre os prevaricadores, e a punição aos Tribunais.

Ao Estado Novo, respeitando a Revolução Francesa, a Igualdade causava-lhe mal-estar. Assumia-se, por isso, como o defensor do Povo impedindo que fosse contaminado pelos ideais igualitários do “comunismo”. O conceito de comunismo era amplo e lá cabia tudo aquilo de que o regime não gostasse. Nesse tempo, tribunais e polícia, por vezes, confundiam-se.
As dúvidas do Estado Novo caíram com a aprovação da Constituição de 1976 e confirmaram-se nas sete revisões que já leva. Hoje vivemos num País que aceita, na plenitude, os três Poderes Independentes, herdados da Rev. Francesa, e assentes na Vontade Popular expressa pelo Voto.

Em 1982, coincidindo com o fim do nosso Conselho da Revolução, Helmut Koll chega à liderança Alemã, mantendo-a até 1998. Apoiado pelos EUA, o homem meteu ombros à reunificação do seu Pais. A ideia desagradava a Franceses e Ingleses, que tinham razão. A prova de que estavam certos, tiveram nuns acertos de contas, vindos da 2ª guerra, que anteciparam a Independência da Croácia seguindo-se-lhe a guerra nos Balcãs. Koll, acompanhado pela “rapariga”, Frau Merkel, – expressão dele – vinda da Alemanha de Leste, criava uma Europa Alemã, impondo o euro. Helmut Koll foi um Chanceler notável para os Alemães, e deixou à “rapariga” a possibilidade de emendar a mão construindo uma Alemanha Europeia.

Na Ocidental Praia Lusitana, por esta altura, começava a acontecer o tenebroso divórcio entre eleitores e eleitos que, quebrando a confiança entre eles, pode levar à destruição do Estado Democrático.

Os governantes eleitos nunca nos consultaram sobre as negociações que mantinham para que Portugal aderisse à moeda única. Foi assim em muitos Países. Mas aos neófitos Portugueses, Gregos e Espanhóis, saídos há pouco dos “ideológicos” anos 30, as elites deveriam adoptar comportamentos que criassem nas populações hábitos de respeito pelo direito/dever de votar, a essência da democracia. Não foi isso que aconteceu. O dinheiro abundante criou um optimismo exagerado nos eleitores e, os eleitos, incumbidos de defenderem o Bem Comum, rapidamente apareceram ligados ao mundo dos negócios. Criava-se assim uma teia muito pouco transparente que, a prazo, traria consequências funestas.

Seres amorfos venderam-nos a retórica das poderosas máquinas de propaganda partidária. Exploraram a emotividade para conseguirem os votos que lhes garantiam o Poder. Os pusilânimes que elegemos abastardaram os Poderes do Estado! Polícia e Tribunais, até 1974, garantiam-nos, com as limitações conhecidas, a segurança de pessoas e bens. Hoje sentimo-nos inseguros. Por tudo isto, não admira que muitos Portugueses suspirem por Salazar. Compreende-se quem assim pensa.

O sistema financeiro foi abaladíssimo num processo estranho, em que ninguém acautelou os nossos interesses. Alijando responsabilidade e acenando-nos com o Estado de Direito, assente na Lei, tudo foi parar a Tribunal. Ao “incêndio” bancário, que nos queimou a todos, junta-se toda uma série de falências estranhas. Os eleitos criticam, mas não mexem uma palha! Os nossos eleitos são tão lerdos quanto os partidos que os “empregam”!

As pústulas começam a apresentar características preocupantes. Avessos à decisão, no âmbito das suas competências, calam e consentem que as Instituições – GNR, PSP e PJ – que defendem vidas e bens, sejam vilipendiadas bem como aos Tribunais que os próprios criticam e acham que não funcionam. Habituados a mobilizar as emoções do futebol, para as transformarem em votos, pactuam com todas as “máquinas de propaganda” dos clubes, por medo de afrontarem quem tem de prestar contas aos tribunais. Isto é: as claques. Ficam os eleitores entretidos a discutir os efeitos, porque abordar as causas obrigá-los-ia a decidir poria em causa a opacidade do negócio futebol, deixando a nu a promiscuidade com a política. A inoperância dos eleitos gera falsa conflitualidade que entope os Tribunais.

O Poder Judicial foi tomado de assalto. Resta-nos dizer aos eleitos que nos sentimos profundamente inseguros, porque nos destruíram a confiança.


sábado, 24 de junho de 2017

QUE FUTURO TEREMOS?

Tendes, logo abaixo, parte substancial de um texto da autoria de Roberto Loja, publicado no DN local no dia 19 p. p.  

“Para bem e para mal, o modelo de desenvolvimento turístico implementado na Madeira traz turismo em grupos (leia-se autocarros), e traz sazonalidade. Até que este paradigma seja mudado, convém que os administradores percebam várias coisas.
Que os turistas compram. […] e que às vezes os que compram nos surpreende.
Que o turismo mantém o pequeno comércio a funcionar. E isto é principalmente verdade nos meios menos urbanos. E sendo verdade, faz-me muita confusão a incapacidade dos administradores perceberem que é preciso que haja onde parar carros e autocarros. Nem que seja um espaço de carga e descarga, desde que seja possível “esconder” um veículo de 12 metros […].
Que o turismo procura conforto e segurança. Isto é, o lugar a visitar até pode nem estar junto ao local de paragem do autocarro, mas tem de ser um percurso relativamente curto, e tem de ser exequível, e seguro – principalmente em termos de trânsito. […]
Nas últimas semanas tenho assistido a dias de caos, em locais como Arieiro, Ribeiro Frio, Cabo Girão, Porto Moniz, na zona hoteleira do Funchal e no aeroporto. Em Santana, as novas regras parecem apontar para a vontade de deixar de ter autocarros na área da camara municipal. No Arieiro, a rotunda junto à base parece um parque de estacionamento – e quem lá para são sempre os mesmos. O Ribeiro Frio é um desastre à espera de acontecer, muito por culpa do estacionamento desordenado por falta de alternativas. No Porto Moniz, as docas de cargas e descargas parecem estacionamentos. No Cabo Girão, idem. Na zona hoteleira, há sistematicamente ligeiros estacionados em docas de autocarros, bem como na rotunda entre o Melia e o Porto Mare. A doca junto ao Monumental Lido é estacionamento a qualquer hora...”

Ficou aqui o retrato do quotidiano atribulado dos transportes de turismo. Aqueles larguíssimos metros cúbicos de construção na Avenida do Infante, destinados a manter o progresso da RAM, vão juntar mais autocarros àqueles que já temos. Alegrai-vos corações, pois o lobby do cimento, que acha importante o novo Savoy pelo emprego que criou, já está a fazer planos para “obrar” nos estacionamentos necessários por toda a ilha face ao acréscimo de turistas. Impávidos e serenos os madeirenses discutem a descida do CDN e a subida do CSM ao estatuto Europeu. A destruição do futuro desta terra, iniciado em 1978, nem sequer agora, com a desgraça bem à frente dos olhos, os incomoda.

A ocupação do território foi pervertida com dinheiro abundante e fácil. Salários principescos retiraram à agricultura – ela garantia, com a inteligente ocupação do território visando a sobrevivência da população, a manutenção de uma bela paisagem – mão-de-obra. A propaganda escondeu a desgraça com mais facilidade com que, hoje, esconde um autocarro. As inaugurações, baseadas nesta estratégia, sucederam-se e o circo eleitoral até teve direito a elefante com cornaca empoleirado e tudo.

Mas vão continuar nessa senda. O próximo sacrifício ao progresso será o Rib. Frio.


Um décimo da população já saiu do Norte, mas o êxodo vai continuar por muito que vendam a treta de que, acabadas as estradas inacabadas pela falência, as populações voltarão.  

domingo, 18 de junho de 2017

PAREMOS PARA PENSAR


A última noite foi um pesadelo. Não gosto quando o tempo de antena de vários canais é ocupado com eloquentes explicações sobre os meandros do grande desígnio nacional – o futebol – onde campeia a pusilanimidade de quem manda, associada ao dinheiro descontrolado que suporta o mito aplaudido, quase em uníssono, pelos cidadãos. Nesta noite seria um bálsamo ter havido apenas futebol nos vários canais. Era sinal de que a tragédia não ocorrera!

O cenário de destruição, desde vidas humanas a património, é chocante. Estamos constituídos no dever de respeitar os mortos. Não nos cabe distinguir entre mortos civis e não civis. Todos eles, são Mortos Portugueses! Uns, os civis, não preparados e sem meios adequados para o combate, procuraram segurança. Estavam no sítio errado na hora errada e o fogo roubou-lhes a vida. Homens e Mulheres com preparação específica para lidar com o perigo e a violência, com os bombeiros à frente de todos, estiveram envolvidos nos fogos. Porém, a dimensão da ocorrência levou à intervenção de outras Forças em que o Estado delega a segurança dos cidadãos. A GNR esteve presente nas funções que lhe estavam cometidas, o próprio Exército foi chamado a intervir. Respeitemos e honremos a memória daqueles que partiram, sejam Portugueses fardados ou não, a vida é, para todos eles, uma só!

Escolhi para título: Paremos para pensar. Acho que isso é dever de todos nós, nestes tempos conturbados em que os tribunais abarrotam em casos pouco ou nada dignificantes para as nossas elites. As interligações entre o poder político e o poder financeiro não nos sossegam. Vivem-se tempos estranhos onde nos inculcam a ideia de que havendo milhões de euros tudo se resolve. Assim geram-se negócios, interessantes para alguns, em sectores impensáveis, ainda que prejudiciais à maioria.
Leiam a opinião de quem sabe:
CORONEL DIZ QUE O FOGO É UM “NEGÓCIO” E QUE O GOVERNO RECUSOU AJUDA DA FORÇA AÉREA
É escandaloso o que os nossos governantes fazem para nos roubar, Lê e partilha o máximo possível antes que seja apagado! Mais de UM MILHÃO E CEM MIL Portugueses já tiveram acesso a esta publicação tendo a mesma originado, o que se saúda, um forte interesse dos Órgãos de Comunicação Social
O que permitiu à AOFA, adicionalmente, 

esclarecer certamente muitas mais 

centenas de milhares de Portugueses, via 

Televisões, Rádios e Jornais nas 

múltiplas entrevistas já dadas.
FOGOS / FORÇA AÉREA
Parece impossível… No final do século passado, enquanto o combate aos incêndios florestais foi uma “Missão”, a Força Aérea Portuguesa operava os meios aéreos em Portugal, mas quando esse combate passou a ser um “Negócio” arrumaram-se os C-130, os kit MAFFS para os equiparem ficaram a apodrecer, os bombeiros exaustos, os meios de substituição não aparecem e….o flagelo continua.
Quais as vantagens? A centralização dos meios aéreos na Força Aérea com custos reduzidos para o erário público, bem como a poupança em termos de manutenção (dado o background existente) e uma logística dos meios incomensuravelmente mais rápida e operacional.
Parece que, conforme noticiado em 09jun2016, o MAI recusou entregar à Força Aérea, a gestão e operação dos meios aéreos de combate a incêndios, bem como os de emergência médica, optando por manter o actual estado de coisas, com várias entidades, várias frotas, cada uma no seu “interesse” e custos acumulados para todos, incluindo contratação dentro e fora do país.
Espanha, EUA, Grécia, Croácia, Marrocos, são exemplos de países onde os meios aéreos de combate a incêndios são operados pela Força Aérea local. Parece impossível…
Coronel João Marquito (Vogal do Conselho Nacional da AOFA)”
Somos seres emotivos, propensos a facilmente nos deixarmos envolver em retórica que, secundarizando o essencial, nos “alimenta” no acessório. Emocionados, mas atentos às habilidades da propaganda, aguardemos que um Macron nos liberte da “partidocracia” instalada. Sejamos exigentes para que não nos saia um populista contumaz em vez de um Homem Público.           

terça-feira, 13 de junho de 2017

LOUCO TRUMPISTÃO


Apurado o vencedor das eleições Americanas, a euforia instalou-se entre os seus apoiantes internos e, muitos outros, repartidos pelo Mundo. Surgiu também, em contraponto, um clima generalizado de suspeição pela insanidade das propostas eleitorais que, dividindo as pessoas, auguravam “tempestade”. Mandava o bom senso que não fervêssemos em água fria, pois uma coisa é campanha eleitoral, outra, bem diferente, é o exercício de funções após a tomada de posse. Empossado, em Janeiro, para o cargo mais poderoso do Trumpistão – nada mais nada menos que o Planeta Terra – é legítimo um juízo de valor sobre os méritos e deméritos deste “Chefe”.

Internamente, os insucessos acumulam-se. Ele não entende a diferença entre dirigir uma empresa e um Estado. Deixa-nos a sensação de que o Estado, para ele, apenas serve para promover os negócios familiares. As coisas pioram quando o Estado Americano e a família Trump confundem tudo em negócios com outros Estados. Passados seis meses, sendo Trump Sagitário, depois do depoimento Comey, subscrevo a opinião de uma astróloga: "Vai continuar a ser queimado em lume brando, por culpa própria ou por incompetência, mas não tem motivos para fazer as malas e sair da Casa Branca pelo menos até 2019."

O principal aliado dos EUA na Europa – Reino Unido – viu na vitória de Trump um forte encorajamento ao Brexit. Trump também não hesitou em declarar apoio a Marine Le Pen, dividindo a União Europeia. A sua primeira saída dos EUA fez cair todas as dúvidas que restassem sobre o personagem. Ignorante, desconhece que as lutas religiosas na Europa levaram a que muitos “refugiados” tivessem procurado o Novo Mundo, do séc. XVI ao XIX. Vender armas a sunitas, facção religiosa em litígio armado com os xiitas, diabolizando os segundos, não é de quem procura a Paz. É sim, de quem quer a Guerra. Oportunamente, o PAPA Francisco afrontou-o a propósito do muro mexicano. Falando como cristão, ripostou ao Chefe da Igreja. Terá sobrado pedra no sapato, mas, apesar disso, os EUA pediram que o Pres., fosse recebido pelo Chefe do Estado do Vaticano, o PAPA. O entusiasmo vivido no encontro ficou bem expresso nos rostos onde só Trump sorria com expressão própria de um pivot de notícias na hora de sair do ecrã. A cereja no topo do bolo foi o discurso da NATO. Fez acordar os Europeus para a realidade de estarem sós na resolução dos seus graves problemas de segurança.

Crítico, usando um termo brando dos valores Ocidentais onde o Cristianismo pontifica, não hesitou Trump em mostrar todo o seu apoio à Arábia Saudita, “professando” a facção sunita do Islão. Coincidência ou não, elencarei factos em que as causas sunitas, afrontando aquilo em que acreditamos, foram protegidas pelos EUA, no pós-Trump.

As súbditas do Reino Saudita, estão sujeitas à lei wali al-amr – “guardião masculino” – que vai do pai ao marido, passando por irmão, tio, primo até filho de menor idade. As mulheres insurgem-se contra isto dentro e fora do País. Há mulheres que lutam a partir do estrangeiro. Foi o caso de uma jovem, Dina Ali, que ao pretender o estatuto de refugiada na Austrália, foi detida em Manila pela sua embaixada. A última frase que gravou foi “se voltar à Arábia Saudita morro”, a embaixada apenas disse “uma questão meramente privada”. No Verão de 2016, uma jovem de 29 anos lançou a campanha “Abaixo o sistema do wali al-amr” e arranjou um sarilho com o pai e irmãos, acabando detida em Abril. Em 2013, pressionada pela opinião pública, a Arábia Saudita criminalizou a violência doméstica. Recebeu, em três meses, 1890 queixas. Porém, o homicida de uma cidadã, após quatro dias de detenção, foi libertado, sem julgamento ou qualquer outra punição.

A Arábia Saudita, a 19 de Abril, foi eleita como um dos 45 Estados membros da Comissão da ONU de Direitos das Mulheres. “Foi como se um pirómano tivesse sido nomeado chefe dos bombeiros”, criticou, bem, a organização não governamental UN Watch.

Em Inglaterra o Guardian considerou “absurdo que um país onde as mulheres apenas têm o direito de ser submissas […] possa ser eleito para esta Comissão.” Na Bélgica, votara a favor da entrada da Arábia Saudita para a Comissão, o Governo, pressionado pela opinião pública, emitiu um pedido de desculpas sob a forma de acusação à política americana. Leiam: “Havia 12 candidatos 12 lugares e, neste caso, não deveria ter havido votação mas os EUA precipitaram-na […] numa estratégia deliberada para descredibilizar a ONU”

Aliados destes dispensam-se. Difícil é termos de esperar dois anos para que se concretize a previsão da astróloga. Aguentará o Trumpistão tanto tempo?

terça-feira, 6 de junho de 2017

É UM SUSTO O NOSSO QUOTIDIANO


Nos tempos que correm, quando a moral está morta e enterrada, mercê dos muitos casos protagonizados por eleitos para a AR ou autarquias, ainda nos conseguimos chocar com certas notícias! Tomar conhecimento de decisões da Comissão de Ética da AR, acrescendo-lhe os negócios que, na esfera privada, envolviam Homens Públicos foram, há anos, as primeiras notícias chocantes. Face àquela realidade, eu achei que o País – Portugal, um vetusto Estado-Nação – deveria mudar de nome. Assentava-lhe muito bem: Centro Angariador de Negócios Obscuros, CANO. Há eleitos impunes que, por fraca formação cívica dos eleitores, acabam reeleitos deputados ou autarcas, quando já haviam dado provas de falta de ética. Alguns casos, sobretudo autarcas, acabaram mesmo condenados em Tribunal por práticas criminosas.

No pós-Abril, o debate de ideias fez-se numa comunicação social cuja isenção deixava muito a desejar. Ela abordava pela rama questões essenciais, sempre impregnadas de doses intoleráveis de propaganda, visando caçar votos para uma determinada facção. Jornalismo de investigação, procurando o essencial dos factos, acabava, no mínimo, em amedrontamento. O chamado “contencioso da autonomia” viveu disto. A retórica Madeirense tinha duas vertentes: éramos um bom exemplo para o País, quem não se lembra do sistema de Saúde?; trapalhadas de negócios pouco ou nada transparentes, logo diziam “lá” é pior.      

Ouvi da boca do Prof. Jacinto Nunes, – fiz com ele o exame da minha penúltima cadeira, Economia Portuguesa – a descrição da sua experiência na nacionalização da banca. Foi hilariante ouvi-lo dissertar sobre a insistência na nacionalização da CGD, instituição pública há muito. O Estado Novo era “amigo” muito próximo do Poder Financeiro, mas também partidário do princípio: “amigos, amigos negócios à parte”; controlava as finanças públicas através da “nossa” CGD. Dava prejuízo manter a agência de “Cebolais de Cima”? Pois que desse, a população precisava da agência, e ela lá estava.

O descontrolo e a falta de ética das elites geraram o impensável. A propaganda assente numa forte componente anti-comunista, diabolizou a nacionalização da banca. A Madeira, com créditos firmados na captação das remessas de emigrantes, ainda por cima fixados em zonas sensíveis ao “comunismo” – Venezuela e África do Sul – beneficiou do facto de ter no seu território uma Instituição com características de Banco Privado, a Caixa Económica do Funchal. Com a banca nacionalizada, preocupado com o controlo da despesa pública e com a falta de meios de pagamento sobre o exterior – lembram-se de exportarmos banana de avião? Foi por falta de dólares que “os cubanos” suportaram aqueles preços – o “tecnocrático” Min. das Finanças de Sá Carneiro admitiu a prisão de um Pres. Câmara despesista. 

Os grupos financeiros regressam lentamente a Portugal. O GES retoma actividade em 1986. O Totta em 1989. Em 1996, na sequência de várias negociações surgiu o BCP. O Gov Regional da Madeira, durante dez anos, em manifesto abuso de poder, aproveitou os depósitos em moeda estrangeira feitos na CEF, financiando-se com esse dinheiro. Residia nisso o milagre que se exibia ao País. Falida a CEF, em Janeiro de 1988, com o beneplácito de Cavaco Silva surgiu o BANIF inserido na privatização da banca. Consta que terá custado 3 milhões de contos. Não servimos de exemplo mas, infelizmente, o tempo comprovaria que “lá foi pior”.

Fica-nos a sensação de que neste festim, pós-privatizações, entre eleitos e donos do capital, os eleitos apenas querem de nós os votos e os impostos e os Capitalistas, ditos portugueses, têm por pátria a Goldman Sachs. É uma vergonha vermos as posições de homens como Ricardo Salgado, nas audições na AR, a entrevista de Jardim Gonçalves ao Público, ou a afirmação de Miguel Sousa, Pres. da Assembleia Geral do BANIF, em que disse desconhecer a venda de produtos tóxicos pelo banco. Jardim Gonçalves, nas suas negociatas em Espanha, com o argumento de que a CGD era banco público, impediu um negócio útil à Economia Portuguesa. A CGD, jóia da coroa do sistema financeiro, perdia posição e seria tomada de assalto. Em nome da rentabilidade “Cebolais de Cima” perderia mais tarde o balcão.


Porém, à Madeira cabe o prémio “guiness da asneira”. Qual o grau de credibilidade que pode ter uma Administração Pública, que pactua com um peditório para promover a restituição de uma verba exigida, pelo Tribunal, a três dirigentes da UM’a? Já nada me admira mas acho que não vai ser possível afirmar aos quatro ventos: “lá é pior”.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

VENEZUELA DO NOSSO DESCONTENTAMENTO


Andamos todos indignados com aquilo que lemos, vemos e ouvimos sobre a Venezuela. A indignação de que falo – ao contrário daquilo que pensarão – não abrange apenas os Madeirenses, nem sequer o grupo mais vasto dos Portugueses. Todos os Homens de bem têm o dever de solidarizar-se com quem sofre, às mãos de tiranos para quem o sofrimento humano não conta, desde que eles detenham o Poder. Enriquecendo, como contrapartida ao empobrecimento da maioria, aqueles que mandam distribuem generosas mordomias aos seus apoiantes que, em situações extremas, degeneram em milícias. É assim com Maduro, e com Eduardo Santos. Eles em nada diferem de Fidel, Trujillo ou Papa Doc, o criador dos tonton macoute. Os “titios do saco” fizeram altas e poderosas, no Haiti, ao serviço de François Duvalier, desde 1957. Tendo ficado sob o comando do filho – Jean Claude -  de 1971 até 1986, os haitianos sentiram, durante quase 30 anos, a blandícia das criaturas. Falo de “rapazes” que estiveram na moda há 50/60 anos, mas que convém recordar. Coevos de Fidel Castro não lograram a sua notoriedade. Ele é, de longe, na opinião pública, o mais referido como o “assassino exterminador” de adversários políticos. Escusam recordar-me, pois conheço alguma coisa das suas tropelias. Não conhecerei tudo, mas conheço o suficiente para dizer: por aqui não, obrigado. Também não esqueço o suficiente de Trujillo ou Papa Doc, para em relação a eles dizer o mesmo, não os branqueando em circunstância alguma.

Em 1946, destruído o totalitarismo nazi, restou o “Mundo Livre” e o Comunismo. Trujillo, Papa Doc e mais alguns – por exemplo Fulgêncio Baptista, Somoza e Ströessner – na América Central e do Sul, para a propaganda Ocidental, apesar de ditadores, eram os “ditadores bons”, em contraponto a Fidel, o ditador “mau”. Não sendo um “menino do coro”, também não era pior que os outros, mas as centrais de propaganda ocidentais não pouparam esforços na diabolização de Fidel, referindo os outros apenas em notícias esconsas para garantia da “liberdade de expressão”.  

Hoje tudo mudou. Ditador, definido como aquele que não respeita leis e manipula a vontade dos cidadãos para lhes roubar o voto, é sempre mau. Na Venezuela, Chávez, tal qual Hitler na Alemanha dos anos 30, foi legitimado pelo voto. O seu “herdeiro” Maduro também já ganhou eleições. Logo, formalmente, temos uma democracia em Venezuela. Porém, conquistado o poder, Maduro não hesitou em lançar o poder coercivo do Estado – Polícias, FA’s a que juntou milícias tipo Tonton Macoute – para impor aos cidadãos o total desrespeito pela Pessoa Humana. Nesta situação, há 50 anos, sendo Maduro de esquerda e amigo de Fidel, os EUA para “libertarem as pessoas das garras do déspota comunista” – ditador “mau” – já teriam agido. No séc. XXI todos os tiranos são maus. Maduro está prestes a lançar o País numa guerra civil, mas a intervenção armada Americana, inevitável em 1950, hoje não ocorre. O perigo é outro.

A Goldman Sachs comprou dívida pública venezuelana, garantindo novo fôlego a Maduro. Aquele dinheiro fresco manterá os fiéis de Maduro bem pagos e, assim pouco propensos à dissidência para assumirem a defesa dos interesses colectivos. A desculpa esfarrapada do banco aos manifestantes venezuelanos que, em território dos EUA, se insurgiram contra aquele negócio, fala por si.

Está em gestação a pior das tiranias, para a qual urge alertar as pessoas. Apoiemos, sacrificando-nos, pois, vai ser necessário, – sem invectivarmos quem é vítima dos poderosos e não contribuiu em nada para a aflição em que está – mas, não dando ouvidos a certa comunicação social que aborda a situação em Venezuela, apenas acirrando contra Maduro que, não sendo flor que cheire, não é o único neste Mundo atribulado a “alimentar-se” do sofrimento Humano.

Esforcemo-nos por abortar a pior das tiranias, que é imporem-nos a  “religião dos mercados”. Este exemplo da Goldman Sachs a fazer negócio com a desgraça da população Venezuelana é igual ao Mr. Trump a vender armas a uma das facções religiosas – sunitas – islâmicas em disputa com os xiitas. A cegueira moral está transformada em pandemia nas elites mundiais.