PLANOS HÁ MUITOS
Planos terríveis são aqueles que, aparentando uma coisa, acabam na sua contrária.
Durante muitos anos, a Madeira foi capaz de produzir bens
agrícolas que abasteciam a ilha. No Funchal, maior aglomerado populacional, em
Novº. de 1940, surgiu o Mercado dos Lavradores.
No fim dos anos 70, na eminência de se
perderem umas toneladas de “semilha” e cebola, exportámo-las, suportando com
dinheiro dos impostos a diferença entre o preço internacional dos bens e um
preço mínimo que compensasse os lavradores. Por essa altura os produtores de
banana, com Angola já independente, ressarciam-se dos baixos preços a que
Lisboa os obrigara anos antes.
Dez anos depois, com a entrada na Europa, preços
mínimos à produção e adaptação aos preços internacionais, entram no nosso
quotidiano. Chegou dinheiro a rodos. Houve dinheiro das várias torneiras da PAC,
para a “Europeização da agricultura madeirense”. Houve dinheiro para modernizar
as plantações fazer caminhos agrícolas e melhorar o regadio. Representantes dos
Produtores de banana viajaram para regiões produtoras. Procuravam informação para
reduzirem custos de produção e transporte bem como associarem-se. Tudo parecia
garantir o sucesso desta “europeização agrícola”.
Bruxelas não extinguiu a
pecuária. Eles até pagaram um Centro de Abate. Quantos animais, hoje, lá são
abatidos por ano? Por que desapareceram? Não venham com a treta do relevo pois
a Suíça também o tem e cria animais. Não é que agora se culpa Bruxelas por não
haver gado. Trinta anos depois, continuamos a ouvir o Sr. Pres. do GR apelar ao
associativismo. Os Srs produtores de banana, em associações do sector, já
viveram trapalhadas com dinheiro, envolvendo tribunais e até um suicídio
ocorreu. Houve mão de Bruxelas nisto? Não, não houve. Foi tudo “made in
Madeira”.
A perversão vem do início. A escassez de água é uma realidade. Mas,
no papel, ela era inesgotável. Mirra a exploração à sede? Paciência, acontece...
A irresponsabilidade máxima aconteceu com a reactivação da produção sacarina depois
do episódio grotesco de tomateiros, em Câmara de Lobos, em Agosto, a serem
regados por autotanque, tal qual Porto Santo! Doses de propaganda e o dinheiro
da PAC (torneiras como lhe chamo no princípio) anestesiaram as vítimas. Porém,
a aluvião vinha a caminho.
Chegado o dinheiro para a alimentar a riqueza
pletórica, cansados de “acenar ao diabo”, falhada a promessa vital da água, muitos
“emigraram” para a construção civil. Assim as produções reduziram-se quase a
zero, nalguns bens. A CMF veio ajudar à Festa, reduzindo o espaço para a
comercialização dos produtos regionais, com a complacência do poder regional,
naquele que foi o Mercado dos Lavradores. Com amigos destes, a Agricultura não
precisa de inimigos.
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