LIBERDADE
E CIDADANIA
Galopins e Caciques são figuras que parasitam a
nossa vida colectiva desde o séc. XIX. Galopins eram aventureiros que
executavam os planos dos Caciques angariando votos, mesmo por métodos nada
suasórios. Os caciques, homens da técnica eleitoral, marcavam listas,
falsificavam cadernos eleitorais e praticavam as chapeladas. O Regenerador –
Hintze Ribeiro – e o Progressista – José Luciano – cujo poder advinha desta
transigência ética lá iam tratando dos Negócios de Estado. Caída a Monarquia,
galopins e caciques medraram e, no Estado Novo também lhes encomendaram os serviços.
Hoje, na vigência da Constituição de 1976, galopins e caciques anulam-se uns
aos outros em lutas fratricidas no interior dos nossos dois principais partidos.
O respeito pela LEI – única ditadura aceitável num Estado de Direito – no
interior dos dois partidos é garantido por pusilânimes com pouca ou nenhuma
ética, sempre de acordo com quem detém o poder. As lutas entre Caim e Abel,
analisadas pelos órgãos de justiça dos partidos, muitas vezes não provocam
decisões consensuais para os litigantes. Os tribunais dos conflitos entre
militantes são os caminhos ínvios para a conquista do Poder. Esta pandemia alastrou
dos partidos para as Instituições do Estado, com a conivência de jornais e
jornalistas que, dissertando sobre fait divers, esquecem o essencial. O País
não pode ter um sistema Judicial que decida – como fazem os conselhos
jurisdicionais dos partidos – em função dos interesses do Poder Executivo.
Sendo
o Poder Judicial um dos tripés dos Estados de Direito, assentes na Liberdade
Individual e respeito pela LEI, ele – Poder Judicial – tem de ser respeitado
não se permitindo dúvidas sobre as suas decisões. Não é a isto que assistimos.
Vou tentar escalpelizar dois casos, um em cada partido, onde o Poder Judicial
foi chamado a intervir.
O ex-PM José Sócrates, queixa-se – acho que tem razão -
de que a Justiça está levando tempo a mais para decidir pela acusação ou
arquivamento do processo que lhe instaurou. Enquanto PM assumiu comportamentos
indiciadores de apetites de controlo da Comunicação Social usando para isso alguns
galopins e caciques espalhados por toda a comunicação social. Passados anos
alguns Jornais e Jornalistas garantem-lhe cobertura mediática transmitindo as
mensagens que lhe interessam, em prejuízo da imagem da Justiça. Ao Cidadão Comum
embota-se-lhe o raciocínio – trabalho de amigos de Sócrates – construindo textos
onde a partir do atraso da Justiça tudo se apresenta como se estivéssemos
perante um pobre perseguido por forças ocultas.
No outro partido temos, na
pessoa de um cidadão que podemos caracterizar como actor, - assumia, para os
incautos, a roupagem da social-democracia - canastrão – provou-o com o
desempenho de trinta e sete anos de governo - e cobarde – foge a assumir a
responsabilidade daquilo que fez. Falo de Alberto João Jardim. Usou, galopins e
caciques, que o suportaram no Poder. Criou a sua própria central de propaganda,
insultou quem muito bem quis e entendeu, a coberto da imunidade inerente ao
cargo que exercia, pairando no ar a eventualidade de ser constituído arguido
por má gestão de dinheiro público enquanto governante.
Sócrates usa os midia à exaustão, zurzindo o
MP pela demora. Alberto João, afastando-se dos Jornais e TV’s, capitaliza a seu
favor a demora com manobras dilatórias. A nós, Cidadãos Comuns, interessam-nos
Tribunais respeitados, com profissionais respeitáveis que em circunstância alguma
nos deixem a ideia de estarem a soldo do Poder Executivo. Jornais e jornalistas
não nos ajudam a trazer para discussão pública estas questões essenciais. Nós não
elegemos Juízes, nem fazemos a lei por que se regem. É vergonhoso vermos
Governantes e Deputados escondidos por detrás dos Tribunais como demasiadas
vezes já vimos.
Assim sendo, este “inconseguimento” só cessará quando em
eleições legislativas, os votos nulos forem tidos como expressão do
descontentamento de quem paga e assiste à permanente degradação do Estado por
extrapolação das práticas dos partidos.
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