quinta-feira, 24 de agosto de 2017

QUE É A PÁTRIA?


Um velho dicionário Francisco Torrinha, dos meus tempos de estudante, esclarece: “s. f. País em que nascemos; terra da naturalidade”. Conceito simples, mas só na aparência! Num País como o nosso, com fronteiras sem grandes alterações territoriais desde a sua Fundação, o imaginário colectivo vive povoado de Heróis e Mártires que tudo fizeram para nos garantirem este Legado. Não há aqui qualquer originalidade. Estamos, pelo contrário, na presença de um elemento comum a todas as Pátrias Europeias. Os heróis e mártires, resultantes do contubérnio entre Igreja e Poder Temporal, ganham maior fulgor naqueles casos em que as disputas territoriais se fizeram sentir com maior intensidade que em Portugal. Foi assim, desde o séc. XI, a vida colectiva na Europa.

A partir do sec. XV, nas disputas territoriais fora da Europa, implantou-se o modelo europeu como materialização dos apetites geo-estratégicos das Coroas do velho Continente. No sec. XIX com Napoleão e, mais tarde já no sec. XX, com a 1ª Guerra Mundial e a Revolução bolchevique na Rússia, o Mundo mudou. O “racismo” intrínseco ao sangue azul do passado, baia que garantira privilégios durante séculos, cedia o seu lugar a coisas tão simples como esta: Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.” Setecentos anos separam os heróis e mártires da frase acima transcrita dos Direitos do Homem e do Cidadão e, embora aos menos avisados escape, vivemos as sequelas deste confronto de ideias. É aqui que reside o nó górdio do nosso futuro colectivo.

O fio condutor que liga o passado ao presente, e à tentativa de perscrutar o futuro, encontramo-lo no modo como o Poder Político se organiza. Não sou consumidor de novelas, mas algumas vezes parei para apreciar algumas cenas da novela Portuguesa Madre Paula. Questionei-me onde andaria o espírito crítico das audiências ao verem tudo aquilo. Aos detentores do Poder Absoluto – O Sr. D. João V, no caso em apreço – não se lhes impõem limites morais, ao dicionário retira-se o vocábulo sacrilégio, e as populações submissas tudo isso suportaram naquele longínquo sec. XVIII. Infelizmente, em Portugal, ainda pior na Madeira, os apáticos cidadãos, frente ao ecrã da TV, acharão que sempre foi assim, de nada valendo lutar para que os poderosos nem sonhem julgar-se candidatos ao Poder Absoluto. Os candidatos ao exercício do Poder, não o afirmando, adoram não prestar contas a ninguém fazendo, tal qual D. João V, tudo que lhes vier à cabeça. É assim com Trump, Maduro, Putin, Eduardo dos Santos etc. Respeitar a Pessoa Humana é apenas coisa de comício eleitoral para esquecer, logo após a contagem dos votos. 

Pátria caiu em desuso! As interligações dos Estados no séc XXI confirmam-no de modo indelével. A velha desconfiança entre Estados Soberanos, cada um deles com seus heróis e mártires, foi substituída por juras de colaboração com vista à obtenção de benefícios comuns, passando a Pátria a posição secundária.

Aprendamos com o passado. Se em tempo de “sangue azul” tudo se impunha, não podemos reeditar, na versão sec. XXI, o “sangue dourado” dos “patriotas” que, substituindo a velha aristocracia, nos manipulam para nos sacarem os votos que os enriquecerão. Cada um de nós tem de pensar e agir renegando a velha condição de súbdito de qualquer Coroa do sec. XVIII.

Os eleitos são Cidadãos iguais a nós. Temos a obrigação de lhes impor leis, diferentes das leis do passado, que conferiam direitos, a quem mandava, ficando para “os outros” os deveres. Não os olhemos baixando a cabeça, respeitemo-los na exacta medida em que nos respeitarem. Os candidatos ao Poder Absoluto – estilo D. João V – são, nos nossos dias, todos iguais. Trump e Putin; Eduardo dos Santos e os Sauditas; Maduro e Temer estão todos de acordo quando chega a hora dos “negócios” ainda que daí resulte guerra fome e sofrimento para quem neles votou.    


  

terça-feira, 22 de agosto de 2017

SANTA BÁRBARA E OS TROVÕES


Na minha juventude era frequente ouvir-se: só se lembram de Santa Bárbara quando há trovoada. As trovoadas, quando acompanhadas por toneladas de água e raios, que fazem da noite dia, proporcionam algo que, sendo horrivelmente belo, atemoriza. O ribombar do trovão pode ser potenciado em situações de guerra. Vivi isso, na noite de 15/07/1968, em que perdi um amigo – o Juvenal Ávila Araújo.

Há riscos Naturais devastadores, como aquele que vivemos há pouco no Largo da Fonte, em dia de fortíssimo significado Católico. A 1 de Novembro – dia de Todos-os-Santos – de 1755, tivemos 10 mil mortos na orla costeira de Lisboa ao Algarve. Foram tantos quantos os ocorridos, nos treze anos de guerra colonial. O Marquês de Pombal perante o inevitável: e agora?!, consta que terá respondido: “enterram-se os mortos e cuidam-se dos vivos”. A morte é uma certeza para todos nós, cada um a encarará de acordo com os seus princípios religiosos e éticos. Respeitem os mortos e seus familiares, não empolem as emoções com retórica oca que, habilmente, ignorando os factos, visa exclusivamente objectivos eleitorais!

Há 262 anos, o Poder da Natureza, de uma só vez, arrebatou 10.000 vidas. Em treze anos de guerra colonial, perdemos o mesmo número de Cidadãos Aí morríamos por riscos imputáveis a humanos. Mas não assumíamos a distinção entre os Riscos Naturais e as tramóias que quem manda engendra para que, refugiando-se na Natureza, esconda as irresponsabilidades político-administrativas.

A retórica demagógica, permitindo urbanizações encosta acima, rendeu votos em catadupa ao Poder, entre 1978 e 2010. Nessa altura ninguém distinguia o Poder Local – Autarquias – do sufocante Poder Regional, detentor da chave do cofre, abrindo-o para a clientela, fechando-o para a oposição. O Funchal, pelo elevado número de votantes, foi beneficiado. A aluvião de 20 de Fevº, imune à demagogia eleitoral, fez-se sentir e, pela última vez, o Poder pôde esconder-se por detrás das Forças da Natureza, acusando de profetas da desgraça, quem alertara para incúria político-administrativa. Um exemplo, com pessoas reais, ajuda à compreensão.

Um casal, separado por um ribeiro da moradia com o nº 193 à Estª dos Marmeleiros, viu um espaço que lhe servia de horta destruído pela aluvião de 2010 ajudada pela incúria daquele  vizinho. A referida moradia foi transaccionada e, contra todas as expectativas, o novo proprietário com mais vigor, fez do ribeiro lixeira. A 14/02/2017 a Srª D. Maria Alzira G. S. Marques foi informada de que a sua reclamação registada sob o número 6132 junto da CMF, fora enviada pelo Sr. Vereador do Urbanismo, para a Dir. Reg. de Planeamento, Recursos e Gestão de Obras Públicas. Em Abril a queixosa também denunciou àquela Dir Reg que o Sr Carlos Jardim ocupara a linha de água e colocara uma vedação no ribeiro fronteiro à moradia 193 na Estª. dos Marmeleiros. Em Maio recebeu um ofício da Dir. Reg do Eq. Social e Conservação donde retirei:” 3 – Além disso adverte-se que, nos termos do disposto na alínea e) do ponto 2 e, da alínea f) do ponto 3 do artigo 81 do decreto-lei nº 226-A/2007 de 31 de Maio, a ocupação de um linha de água com prejuízo de conservação constitui contra-ordenação grave, sendo que lançar ou depositar em ambiente hídrico qualquer substância ou produto sólido, liquido ou gasoso potencialmente poluente constitui contra-ordenação ambiental muito grave, pelo que iremos solicitar o apoio dos serviços da CMF na identificação do presumível infractor, para efeitos de notificação dos trabalhos de reposição das condições normais de escoamento fluvial que o mesmo seja obrigado a realizar, por razões de segurança de pessoas e bens”.

As fotos abaixo, disponibilizadas pela queixosa, elucidam sobre o estado do ribeiro.











A um mês do fim do Verão, a CMF pouco ou nada informa sobre o andamento do processo. Este casal, como todos nós, gosta de viver. Tem lutado pela sua segurança até onde lhe é possível. Não sei se são Cristãos, Católicos ou não, ou professam qualquer outro credo. Dispensa o casal, aliás todos nós, as máscaras pesarosas de quem manda, quando participam em funerais, e outros actos públicos, em que se homenageiam os mortos. A segurança de pessoas e bens está muito para além da conquista de votos, a única coisa que faz mover os partidos. Vá lá, coloquem as pessoas primeiro. Assim parecem-se com o Maduro, uma vez chegados ao Poder, esquecem os interesses de quem vota e, tratam-nos a chicote.




            


 



quarta-feira, 9 de agosto de 2017

 21 DE AGOSTO, DIA DA CAROCHINHA


Esta data, no ano da graça de 2017, para os madeirenses em geral, e os Funchalenses em particular, é o dia da Carochinha. Ela encerra uma versão muito nossa da velha história da jovem que, tendo ido à missa, deixou o caldeirão ao lume e também um solene aviso ao glutão do seu príncipe encantado para que não lhe tocasse. Não resistiu o João. Tombou no caldeirão, como todos sabemos!

Este intróito provocará duas reacções nos leitores. Uns acharão uma perda de tempo prosseguir. Pois muito bem, parem a leitura. Outros, mais curiosos, gostarão de conhecer a fundamentação.

Consequência da “Revolução dos Militares Comunistas de 1974”, a Madeira teve uma cozinha colectiva totalmente nova. Maria “Vilhoa” que se habituara a cozinhar na “furna” a escassos metros do tugúrio que servia de habitação, ouve à exaustão que esse tempo de submissão e “Madeira Velha” não voltará. Um palavroso e bem preparado grupo de cozinheiros ficou à frente da “cozinha colectiva” – conceito que casa muito bem com comunismo – da “Madeira Nova”. Entre todos eles destacava-se o Chefe João. Tinha larga experiência anterior e conhecia, como ninguém, as desgraças da “Madeira Velha”. Era meio caminho andado para confeccionar os pratos bem ao paladar dos comensais.

O Grande Mestre da Culinária, cujos dotes foram várias vezes ratificados pela maioria dos comensais entre 1978 e 2015, enxotava a concorrência dos chefes menores cuja presença na elaboração das iguarias era imposição da malfadada “constituição comunista”. João, inicialmente, ignorou-os. O Mestre da Culinária, recorrendo aos assalariados que contratara directamente, confecciona manjares de deuses onde nem a quantidade de sal pode ficar à responsabilidade de gente menor. Boicotariam, podem crer, só pelo prazer de deixar mal quem mandava na cozinha.  

A roda da vida move-se. O Chefe, sempre pronto a servir ao Povo aquilo que de melhor havia na cozinha da “Madeira Nova”, não se poupou a esforços. Achava essencial o controlo total da cozinha. Tivemo-lo a chamar a si arruamentos e jardins para que um seu assalariado não ousasse levantar a crista. Esmagou como seu “poder regional”, tutelar do poder autárquico – com as consequências que se conhecem hoje, expressas nas litigâncias entre Câmaras e GR – para manter a sua hegemonia. Em 2005, com a voluntariosa participação do cozinheiro-chefe, inicia-se, finalmente, a confecção da Obra-prima da culinária político-administrativa-regional onde, livre da interferência de Lisboa, nem dinheiro foi pedido, a esplendorosa “Autonomia com todos” se mostrou. Iniciava-se a confecção do excelente prato: Savoy para Totós.

Um assalariado do poderoso Chefe João, sem que o dito invocasse o seu “poder de tutela”, recebeu na Câmara do Funchal o projecto de remodelação do Hotel Savoy, um ícone do Turismo da “Madeira Velha”. Sábios juristas, alguns acumulando com funções de vereadores, produziram pareceres na defesa dos interesses dos seus clientes. Mas, atentos ao Bem Comum, S. Exªs os seus Vereadores, e os partidos que a pertenciam, desdobravam-se em afirmações que nos sossegavam. Finalmente, a “cozinha colectiva”, com a participação dos cozinheiros que desde 1976 andam nisto – com excepção dos vermelhuscos amigos do Maduro – homenageia a Autonomia que, como sabemos, “é todos”.  

Dia 21 tem de ser o dia reconciliação dos Madeirense. Chefe João, pelo destaque que atingiu, deve presidir às cerimónias que não podem ficar aquém das Festas do PPD/PSD-M Partido da Autonomia Regional no Chão da Lagoa. Haverá foguetes e música a partir das oito da manhã, naquela obra-prima do Direito e da retórica política, não da arquitectura. À noite, com música clássica e fogo-de-artifício, e na presença de todos aqueles que contribuíram para isto, encerrar-se-ão as Festividades.

O João glutão da Carochinha, não resistiu à comida. Os nossos cozinheiros, gulosos por votos, criaram esta situação ridícula pela qual não querem responsabilizar-se. V. Exªs querem votos, querem? É pior engolir isto do que aquela do passarinho reencarnando Chávez. Tenham juízo, mas do bom. Do outro têm que sobra.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

QUANDO MADURO FICA “PODRE”



Chavez, com a Constituição de 1999, criou a República Bolivariana da Venezuela. O acrescento não foi ingénuo. Ele relembra a emancipação de Espanha, invocando a pessoa de Simón Bolivar.

George Washington e Simón Bolivar foram dois homens que marcaram a sedição das Colónias do Novo Mundo, contra os Impérios Europeus. Cavalgando o Iluminismo do sec. XVIII, as colónias britânicas separaram-se de Inglaterra. Simón Bolívar é considerado em alguns países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário, e libertador. Durante os seus 47 anos de vida, liderou a Bolívia, a Colombia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. É o “George Washington” da América do Sul.
George Washington foi anterior a Napoleão. Simón Bolivar, posterior ao “anti-Cristo”, já não assistiu à ratificação da Independência, em 1845. O período decorrido entre 1776 (Independência dos EUA) e 1845 foi suficiente para que na trilogia da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – surgisse a cizânia Republicana à volta do conceito de Igualdade.

No Novo Mundo, não eram aceites interferências das antigas potências coloniais nos seus assuntos. Recordavam o passado. Este princípio e a Doutrina Monroe (a América para os Americanos) suportou o expansionismo dos EUA sobre vastos territórios da Coroa Espanhola. Porém, os privilégios aristocráticos, abalados por Napoleão, só cessaram com a 1ª Guerra Mundial, onde os EUA participaram em nome da Liberdade. As jovens Nações Hispânicas ainda se debatiam com sérias dificuldades na criação das estruturas de Estado, nessa altura.

Muito pior que o ideário Republicano, foi a degenerescência da Igualdade para o Comunismo, na Rússia em 1917.

O Império Americano cujo expansionismo e controlo da “vizinhança” já vinha do passado, acautelou-se face à nova realidade. Os Somoza, na Nicarágua, entre 1936 e 1972; Rafael Trujillo, na Rep. Dominicana, de 1930 a 1961; Alfredo Stroessener no Paraguai, entre 1954 e 1989; Os Papa e Baby Doc, de 1957 a 1971, no Haiti, foram os “ditadores amigos” dos EUA. Todos eles eram Homens de Bem que repudiavam o comunismo e queriam o bem-estar do Povo Humilde. Fidel Castro, o comunista inveterado, também queria o Bem do Povo. Andamos nisto há cem anos!

Após a Independência a Venezuela passou por forte instabilidade. O fim do sec. XIX e os primeiros 20 anos do sec. XX, foram particularmente difíceis para o País, apesar de Venezuela, Brasil, Chile e Argentina terem tratamento diferenciado pela sua dimensão e importância estratégica no Continente Americano.

Em 1920, a Venezuela era o maior produtor de petróleo. Mas só em 1945 o Partido de Acção Democrática, com Rómulo Betancourt, trouxe estabilidade. Duraria até 1948. Os EUA, receando a acção do “perigoso comunista” Rómulo Gallegos, provocaram-lhe a queda, lançando Venezuela na confusão. A saga das receitas do petróleo, esconde muita porcaria, desde esses longínquos anos 50.

Em 1952, Perez Jimenez emerge em circunstâncias estranhas, arrebatando o Poder aos vencedores de eleições. Foi condecorado com a Legião de Mérito pelo embaixador dos EUA, em Caracas. Em 1958, na companhia da esposa e das filhas, fugiu para a Rep. Dominicana, do “amigo” Trujillo. Seguiram-se lideranças várias com o regressado Rómulo Betancourt, Raul Leoni e Rafael Caldera, até que Carlos Andrés Perez ganha eleições em 1973. Aproveitando um período de alta do petróleo e a boa relação com os EUA, Andrés Perez estabiliza a Venezuela. Porém, a riqueza findaria cinco anos depois. É este o drama venezuelano, viver em função da riqueza especulativa dos mercados. Em 1988, o mesmo Andrés Perez recorre ao FMI. O desemprego cresce, as greves também, e regressa a instabilidade. Perez é destituído num processo de corrupção. Neste ambiente social, chega ao poder Hugo Chávez. Saíam os “ditadores americanos e bons”, entravam os “comunistas e maus”.


Nos dias de hoje, isto não existe! Ditador é ditador, não os há bons e maus. As vítimas desta falsa dicotomia deixam-se embalar por uma imprensa que verbera os mortos e feridos, às mãos dos esbirros de Maduro, mas nada diz sobre os lobos com vestes de cordeiro, que alimentam a contestação na esperança de acenar com a falsa riqueza, da Goldman Sachs e afins. Precisamos de leis que nos protejam dos abutres que distribuem de forma desigual a riqueza gerada entre Trabalho e Capital. Já viram quais os amigos de Chávez no nosso País? Direita e esquerda apoiaram-no. Angola, com o seu MPLA da família Santos, contou com apoios de direita e esquerda. Hoje os tiranos bons e maus estão mancomunados para, através do sistema financeiro, nos fazerem escravos, de grupos bem pequenos, de gente muito rica.